Compositor. Cantor. Poeta. Violeiro (viola de arame).
Nasceu, muito provavelmente, no Rio de Janeiro, por volta de 1738 (assim afirma Câmara Cascudo). Há, no entanto, dúvidas a respeito. Ary Vasconcelos acredita que o compositor nasceu em 1740, e nos oferece em ” Raízes na música popular brasileira” uma versão de um sobrinho do próprio Caldas Barbosa: a de que o compositor tenha nascido ainda a caminho do Rio de Janeiro, em navio vindo de Angola. É certo que era filho de um comerciante português com uma negra angolana (não há referências a respeito de seus nomes). O pai, depois de longo período na colônia africana, veio para o Brasil trazendo a negra grávida do compositor. Este estudou, por desejo do pai, no Colégio dos Jesuítas. Por volta de 1760, foi mandado à Colônia do Sacramento (extremo sul do Brasil hoje parte do Uruguai). Sabe-se que seu recrutamento foi um castigo por conta de versos satíricos seus, criticando os portugueses. Retornou ao Rio de Janeiro em 1762, dando baixa logo depois. Em 1775, chegou a Portugal sob a proteção dos irmãos do Vice-rei do Brasil, José e Luís de Vasconcelos e Sousa. Tornou-se capelão da Casa de Suplicação, por influência de seus protetores. Essa parece ter sido a solução encontrada para superar as dificuldades de inserção social motivada por sua condição de mestiço de origem humilde. De fato, a partir de então, o compositor ingressa na sociedade lisboeta. Aos 60 anos, faleceu em Lisboa. Foi sepultado na Igreja Paroquial de Nossa Senhora dos Anjos.
Considerado por todos como o responsável pela fixação do gênero “modinha” na Lisboa da 2ª metade do século XVIII. Foi a partir de 1775 que o compositor passou a fazer sucesso na Corte portuguesa, cantando versos satíricos e maliciosos (dirigidos principalmente às mulheres), acompanhado pelo ponteio de sua viola de arame. Curiosamente, apresentava-se de batina, sendo disputado pelas famílias nobres de Lisboa, ávidas de tê-lo em seus saraus. Em 1790, fundou, juntamente com outros poetas (dentre os quais Curvo Semedo e Bocage), a “Nova Arcádia” de Lisboa. Adotou o pseudônimo de Lereno Selinuntino. É esse o nome que usou para dar título à sua coleção de poemas, sobre os quais compôs modinhas e lundus: a “Viola de Lereno” (Lisboa, vol. 1, 1798; vol. 2, 1826). Segundo Mozart de Araújo, apesar de todos os poemas da coleção terem sido musicados, somente uma das obras nos chegou até hoje com melodia: “Ora, a Deos Senhora Ulina”. A modinha está publicada nas páginas 98 e 99 do livro “A modinha e o lundu no século XVIII” deste autor. Mário de Andrade afirmou o seguinte em “Modinhas imperiais”: “a proveniência erudita européia das modinhas é incontestável”. Hoje, muitos estudiosos consideram tal suposição incorreta, justamente por levarem em conta a vida e a obra de Caldas Barbosa. Segundo Tinhorão, em sua “Pequena história da música popular brasileira”, todos os contatos do compositor “terão sido com mestiços, negros, pândegos em geral e tocadores de viola, e nunca com mestres de música eruditos”. Assim sendo, a importância do compositor mestiço se fez no trabalho de transpor a distância entre a cultura popular e a cultura erudita, levando para os salões aristrocáticos o produto artístico popular da colônia do além-mar: a “Modinha” brasileira.
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