
Cantor. Compositor. Teatrólogo. Poeta.
Ficou conhecido com dois pseudônimos: Jocanfer, do início da carreira, e De Cocolat, depois de temporada em Paris. O público parisiense lhe conferiu o apelido por ele ser mulato. Quando voltou ao Brasil, adotou esse pseudônimo.
A Revista do Teatro, publicada pela SBAT, em seu número de fevereiro de 1957, dedicou-lhe uma reportagem, por ocasião de sua morte, onde se lê: “Com a morte de De Chocolat perdeu o Rio de Janeiro um dos seus expoentes artísticos da Velha Guarda. Boêmio até a raiz dos cabelos, De Chocolat, cujo verdadeiro nome era João Cândido Ferreira, foi um artista completo de variedades: repentista, improvisador e imitador, que cantava com muita graça e dizia versos como pouca gente, com uma simplicidade de espantar.”
Nos primeiros anos de sua carreira apresentava-se em cabarés e teatros de variedade do Rio de Janeiro usando o pseudônimo de Jocanfer. No final de 1909, seu nome era citado no programa de filmes e variedades do Cinematógrafo Santana, localizado na Rua de Santana. Era então apontado como grande sucesso do Cinema Éden Cosmopolita de Buenos Aires, Argentina. Ainda em 1909, trabalhou para o Cine-teatro da Rua Visconde do Rio Branco.
Em 1910, apresentou-se no Chope Palácio Popular, conhecido como ABC, juntamente com a famosa cantora espanhola Lola Móntez. No mesmo ano passou a atuar no Teatrinho do Passeio Público, do Rio de Janeiro, fazendo duetos com o cantor Boneco. Excursionou por vários países da Europa, dentre eles, França, Portugal e Espanha. Em Paris, trabalhou em vários cabarés e ficou conhecido como Monsieur De Chocolat. Ao retornar ao Brasil, meses depois, passou a usar o pseudônimo De Chocolat.
Em 1920 atuou no cabaré High-Life, de Porto Alegre. De volta ao Rio de Janeiro, trabalhou, com sucesso, em temporadas nos cine-teatros Íris e Central. Foi ele quem lançou no Brasil o charleston. Fundou, em 1926, a Companhia Negra de Revistas, convidando Jaime Silva (único branco), para sócio. A Companhia Negra de Revistas, experiência pioneira, estreou no dia 31 de julho de 1926 com a revista “Tudo preto”, de sua autoria, no Teatro Rialto. A direção era sua e de Alexandre Montenegro. Trabalhou também no elenco, fazendo o papel de compère, ou seja, o papel principal, no elenco estavam também Jandira Aimoré (futura esposa de Pixinguinha), Rosa Negra, Osvaldo Viana, Dalva Espínola (irmã de Aracy Cortes), Mingote e Guilherme Flores. Até a orquestra do espetáculo era composta de negros. Pixinguinha era o regente e Sebastião Cirino assinou a autoria das músicas. A peça lançou inclusive a música “Cristo nasceu na Bahia”, um maxixe composto por Duque e Sebastião Cirino, que fez grande sucesso no carnaval de 1927 e foi gravado na Odeon por Artur Castro. Com o espetáculo a Companhia excursionou por Minas Gerais e São Paulo, obtendo muito sucesso. No mesmo ano, desligou-se da Companhia Negra de Revistas e fundou a “Ba ta clan preta”, nova companhia com a qual passou a atuar. A primeira revista de sua nova companhia de revistas foi “Na penumbra”, escrito por ele em parceria com Lamartine Babo e Gonçalves Oliveira. A nova companhia estreou em São Paulo, no Teatro Santa Helena, com direção de orquestra a cargo de Pixinguinha e Bonfíglio de Oliveira.
Em 1929, Francisco Alves gravou o seu samba “Mulata”, pela Odeon e Sílvio Caldas, sua “Modinha brasileira”, na Parlophon. No mesmo ano, a cantora Laís Areda lançou, também na Odeon, o maxixe “Baianinha”. Em 1932, Castro Barbosa lançou sua versão para o foxtrote “Boa-noite, querida”. Ainda nesse ano, o grupo vocal As Três Marquesas gravou para a Victor sua versão para a valsa “Guarde a última valsa para mim”, de Hirsch, Moacir Bueno da Costa gravou o fox canção “Olhos passionais”, parceria com Gastão Bueno Silva, na Columbia, e Jorge Fernandes gravou na Victor a valsa “Aventuras de um beijo”, com Guilherme Pereira. Ainda no mesmo ano, compôs com Oscar Mota o samba “Baianinha”, gravado por Aracy Cortes na Parlophon e o fox-canção “Três horas da manhã”, parceria com Manoel Pereira Franco, gravado por Moacir Bueno Rocha na Columbia.
Em 1933, compôs com Caruzinho e Sílvio Caldas o samba “Na aldeia”, gravado por Sílvio Caldas na Victor. Em 1934, sua marcha “Negra também é gente”, parceria com Ary Barroso, foi gravada por Francisco Alves na Odeon. Em 1935, Augusto Calheiros gravou a valsa canção “Falando ao teu retrato”, parceria com Meira e Aurora Miranda o samba canção “Meu branco”, com Benedito Lacerda, ambas as gravações na Odeon. Em 1937, Gastão Formenti gravou pela Odeon a canção “Felicidade”, com J. C. Rondon.
Escreveu ainda a burleta “Por que bebes tanto assim?”, “Ritmos do Brasil”, show em parceria com Maurício Santhos, com quem fez a revista “Bazar de brinquedos”. Lançou posteriormente a revista “Deixe o velho trabalhar”, escrita com Roberto Ruiz. Autor teatral de sucesso, escreveu comédias, sketches e revistas como “O petróleo do Lobato”; “Flor do mato”; “Ao rufar dos tambores”; Deixa eu morar com ela”; “Preto não é bom” e “Algemas quebradas” entre outras. Escreveu diversos shows, especialmente para a boate “Night and day”. Foi fundador, juntamente com o dançarino Duque, da “Casa de Caboclo”, de muita popularidade na época em que foi criada, nos anos 1930.
O último espetáculo que produziu foi “Artigo do dia”, apresentado na boate Cinelândia, centro do Rio de Janeiro.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
VASCONCELOS, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira – 2º volume. Editora: Martins. São Paulo, 1965.