4.502
Nome Artístico
Clementina de Jesus
Nome verdadeiro
Clementina de Jesus da Silva
Data de nascimento
7/2/1902
Local de nascimento
Valença, RJ
Data de morte
19/7/1987
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Cantora. Compositora.

Seu pai, Paulo Batista dos Santos, foi mestre de capoeira, violeiro e estucador. Com a mãe, Amélia de Jesus dos Santos, parteira, aprendeu os cantos de trabalho, partido-alto, ladainhas e jongos, assim como corimás e ponto de candomblé.

A família residia na Rua Carambita e depois se transferiu para o bairro de Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio de Janeiro, quando Clementina tinha entre oito e dez anos de idade, onde ganhou o apelido de “Quelé”.

A família mudou-se para o bairro de Oswaldo Cruz, subúrbio do Rio de Janeiro. 

Residiu, ainda criança, no bairro da Praça Seca.

Ainda menina, aos 12 anos, desfilava no Bloco Moreninhas das Campinas. Três anos depois, já cantava no coro de uma das muitas igrejas do bairro de Oswaldo Cruz. Por essa época, frequentava as rodas de samba na casa de Dona Maria Nenê. Mais tarde, foi para o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Portela.

Foi diretora da Unidos do Riachuelo e do Unidos de Engenho Velho.

Ensaiou por várias vezes as “Pastoras de Heitor dos Prazeres”

No ano de 1940 casou-se com Albino Pé Grande e foi morar no morro da Mangueira, onde passou a ser a Oradora Oficial da Ala da Velha-Guarda e integrante da Ala das Baianas Velhas, que desfilava nas segundas-feiras de carnaval.

Trabalhou muitos anos como empregada doméstica e somente aos 63 anos começou a carreira artística, lançada pelo letrista e produtor Hermínio Bello de Carvalho.

Durante sua vida, recebeu várias homenagens, entre elas a do então Secretário de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, Darcy Ribeiro, no Teatro Municipal, do Rio de Janeiro, em agosto de 1983. O evento contou com a presença de várias personalidades e artistas, como João Nogueira, Beth Carvalho, Paulinho da Viola, Elizete Cardoso, Orquestra Sinfônica Brasileira, Ala das Baianas de várias escolas de samba, Gilberto Gil, Dona Zica, Dona Neuma, mestres-salas e portas-bandeiras, acompanhados pela bateria da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. E abriu, pela primeira vez, o Teatro Municipal do Rio de Janeiro para o samba.

Em 1985, recebeu do governo francês, através do Ministro da Cultura Jack Lang, a “Comenda da Ordem das Artes e Letras”, com a presença de Jorge Amado, Caetano Veloso e Milton Nascimento.

Ficou conhecida como a “Rainha Ginga” ou “Quelé”. A primeira homenagem foi dada devido a sua importância e grandeza na música popular, e a segunda devido à corruptela carinhosa de seu nome.

No ano de 2017 os pesquisadores Felipe Castro, Janaína Marquesini, Luana Costa e Raquel Munhoz lançaram o livro “Quelé, a voz da cor – A biografia de Clementina de Jesus” (Selo Civilização Brasileira, do Grupo Editorial Record), com depoimentos de vários amigos da cantora, entre os quais Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Caetano Veloso, Hermínio Bello de Carvalho, Turíbio Santos e Beth Carvalho, fruto de um trabalho de mais de seis anos de pesquisa.

 

Da orelha do volume, escrita pelo historiador, escritor e professor carioca Luiz Antonio Simas, destacamos o seguinte trecho:

 

“Mais do que contar a vida fascinante de Clementina, o que temos aqui é um minucioso relato que acerta em cheio ao cruzar a vida da biografada com a conjuntura em que essa trajetória foi traçada. A lição das grandes biografias foi cumprida com competência: as circunstâncias iluminam a vida de Quelé e a vida da mãe do canto ancestral ilumina as circunstâncias”. 

 

O lançamento ocorreu na Livraria e Edições Folha Seca, na Rua do Ouvidor, Centro do Rio de Janeiro.

 

No ano de 2019 a escritora Janaína Marquesini fez o lançamento do livro “Quelé, a voz da cor: Biografia de Clementina de Jesus” (Editora Civilização Brasileira), no Shopping Pier 21, em Brasília, integrando o evento “5ª Edição do Prêmio Profissionais da Música de 2019”.

Dados artísticos

Apareceu inicialmente para o grande público no ano de 1964, quando, a convite de Hermínio Bello de Carvalho participou do show “O menestrel” (c/ Turíbio Santos). No ano seguinte, integrou o musical “Rosa de Ouro”, apresentado no Teatro Jovem do Rio de Janeiro e dirigido por Hermínio Bello de Carvalho e Kleber Santos, que contou também com as participações de Anescarzinho do Salgueiro, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Araci Cortes e Nelson Sargento. Do show foram editados os  LPs “Rosa de Ouro” e “Rosa de Ouro Volume II”, em 1965 e 1967, respectivamente e nos quais interpretou lundus, jongos e sambas: “Benguelê” (Pixinguinha e Gastão Vianna), “Boi não berra” (domínio público), “Sementes do samba” (Hélio Cabral), “Nasceste de uma semente” (José Ramos) e “Bate canela”. Elton Medeiros compôs em sua homenagem o partido-alto “Clementina, cadê você?”. O show seguiu em turnê pela Bahia e em teatros São Paulo.

Viajou para Dacar e Senegal, representando o Brasil no “Festival de Arte Negra”, acompanhada de Elizeth Cardoso, Elton Medeiros e Paulinho da Viola no ano de 1966. Nesta mesma época, participou de concertos na Aldeia de Arcozelo e em dueto com Helcio Milito, apresentou na Sala Cecília Meirelles, do Rio de Janeiro, a “Missa de São Benedito” de autoria de José Maria Neves. No ano seguinte, em 1967, prestou seu histórico depoimento para o MIS (Museu da Imagem e do Som), no qual foi entrevistada por Hermínio Bello de Carvalho e Ricardo Cravo Albin. 

Em 1968, com João da Baiana e Pixinguinha gravou o disco “Gente da antiga”, lançado pela Odeon. Neste mesmo ano, ao lado de Nora Ney, Cyro Monteiro e o conjunto Rosa de Ouro, lançou o LP “Mudando de conversa”, gravação do show homônimo, realizado no Teatro Santa Rosa, no Rio de Janeiro, com roteiro e direção de Hermínio Bello de Carvalho, disco no qual interpretou “Sabiá” (Maurício Tapajós e Joaquim Cardoso) e “Mulato bamba”, de autoria de Noel Rosa.

No ano de 1970 gravou o primeiro disco solo,  “Clementina, cadê você?”, lançado pelo MIS (Museu da Imagem e do Som) do Rio de Janeiro. Neste disco interpretou, entre outras, “Sei lá, Mangueira” de autoria de Paulinho da Vila e Hermínio Bello de Carvalho e ainda “Vai de saudade” (Candeia e Davi do Pandeiro).

No ano de 1973, após ter se recuperado de uma trombose, lançou pela Odeon o LP “Marinheiro só”. Produzido por Caetano Veloso, o disco trouxe do folclore popular a faixa “Marinheiro só”, com adaptação de Caetano Veloso. Ainda neste mesmo disco, foram incluídas duas composições de Paulinho da Viola: “Na linha do mar” e “Essa nega pede demais”. A própria Clementina fez três adaptações de cantos populares: “Fui pedir às almas santas”, “Atraca, atraca” e “Incelença”. Neste mesmo ano de 1973, Milton Nascimento a convidou para gravar a faixa “Escravo de Jó” (Milton Nascimento e Fernando Brant) no disco  “Milagre dos peixes”. Dois anos depois, foi homenageada outra vez por Milton Nascimento e Fernando Brat na música “Raça”, faixa que deu título ao disco de Milton Nascimento lançado nos Estados Unidos.

No ano de 1976 lançou o LP “Clementina de Jesus – convida Carlos Cachaça”. No ano seguinte, em 1977, participou como convidada de Clara Nunes no LP “As forças da natureza”, no qual interpretou em dueto com a anfitriã a faixa “PCJ-Partido da Clementina de Jesus” de autoria de Candeia.

No ano de 1982 a Escola de Samba Lins Imperial  apresentou-se com enredo em sua homenagem,  “Clementina – Uma Rainha Negra”. Neste mesmo ano, gravou o LP “Canto dos escravos”, com Tia Doca e Geraldo Filme, disco no qual interpertaram cânticos dos escravos de Minas Gerais, recolhidos pelo pesquisador Aires da Mata Machado Filho e lançado pela gravadora Eldorado.

No ano de 1984 participou do disco “Partido alto nota 10”, de Aniceto do Império, no qual interpretaram em dueto a faixa “Dona Maria Luiza”, de autoria de Aniceto do Império.

Em 1985, gravou pela EMI Music o disco “Clementina e convidados”. O LP contou com a participação de Clara Nunes na faixa “Embala eu” (Albaléria), de Cristina Buarque, em “Tantas você fez” (Candeia), de João Bosco em “Boca de sapo” (João Bosco e Aldir Blanc), além de participações de Roberto Ribeiro na música “Cocorocó”, de Paulo da Portela e ainda de Martinho da Vila na faixa “Assim não, Zambi” (Martinho da Vila). Outros convidados importantes foram Dona Ivone Lara, Adoniram Barbosa e Carlinhos Vergueiro. Neste mesmo disco, figurou também como compositora ao lado de Catoni na faixa “Laçador” e ainda fez diversas adaptações de jongos, corimás, batucadas e partidos-altos para as faixas “Lapa”, “Carreiro bebe”, “Pica-pau”, “Atraca, atraca” e “Fui pedir às almas santas”, entre outras.

Apresentou-se com Nelson Cavaquinho em vários show, em turnê por Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo.

Seu último show foi no mês de maio no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro, no ano de 1987, vindo a falecer em julho deste mesmo ano.

No ano 2000, às vésperas da comemoração de aniversário de 100 anos de nascimento, foi produzida por Hermínio Bello de Carvalho e João Carlos Carino uma caixa com nove CDs reunindo quase toda a obra gravada em LPs na Odeon, com exceção do disco produzido no MIS (Museu da Imagem e do Som). A caixa, patrocinada pela Petrobras, ainda contou com um livreto com textos de Lena Frias, Luiz Antônio Viana e Hermínio Bello de Carvalho, além de pesquisa feita por Paulo César de Andrade.

No ano 2002 foi lançado o livro “Velhas Histórias, memórias futuras” (Editora Uerj) de Eduardo Granja Coutinho, no qual o autor faz  várias referências à cantora.

Em 2012 o texto “Clementina, cadê você?”, de Pedro Murad, ganhou o “Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2012”.

Em 2013 a cantora foi homenageada com o musical “Clementina, cadê você?”, em temporada na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, bairro da Zona Sul Carioca. O espetáculo, com texto de Pedro Murad e direção Duda Maia, foi estrelado por Ana Carbatti, no papel de Clementina e ainda contou com os músicos-atores Bruno Barreto, Bruno Quixotte, Sergio Kauffmann, Vidal Assis e Wendell Bendelack, além da direção musical Pedro Miranda.

Discografias
1993 EMI-Odeon CD Rosa de ouro - Volumes I e II

(Série dois em um)

1989 EMI LP Clementina de Jesus

(relançamento)

1989 EMI-Odeon LP Gente da antiga
1989 EMI-Odeon LP Marinheiro só
1984 CID LP Partido alto nota 10

(participação)

1982 Eldorado LP O canto dos escravos

(c/ Tia Doca e Geraldo Filme)

1979 EMI LP Clementina e convidados
1977 Encarte com as letras cifradas das músicas LP As forças da natureza

(participação)

1976 Odeon LP Clementina de Jesus

(convidado Carlos Cachaça)

1973 EMI LP Marinheiro só
1973 Odeon LP Milagre dos peixes

(participação)

1970 Gravadora Museu da Imagem e do Som LP Clementina, cadê você?
1968 Odeon LP Fala Mangueira

(c/ Cartola, Nelson Cavaquinho e Carlos Cachaça)

1968 Odeon LP Gente da antiga

(c/ Pixinguinha e João da Baiana)

1968 Gravadora Imperial/Odeon LP Mudando de conversa

(c/ Cyro Monteiro, Nora Ney e Conjunto Rosa de Ouro)

1967 Odeon LP Rosa de ouro

(vol. II)

1965 Odeon LP Rosa de ouro

(vários)

Obras
Coleção de passarinhos (c/ Paulo da Portela e Hermínio Bello de Carvalho)
Laçador (c/ Catoni)
Orgulho, hipocrisia (c/ Paulo da Portela e Hermínio Bello de Carvalho)
Shows
Espetáculo O Menestrel (c/ Turíbio Santos). Teatro Jovem, RJ,
Mudando de Conversa. (c/ Elton Medeiros, Nora Ney, Cyro Monteiro, Jair do Cavaquinho e Mauro Duarte). Teatro Santa Rosa, RJ,.
Música Popular Brasileira de Inspiração Religiosa. Sala Cecília Meirelles, RJ,
Noitada de Samba. Teatro Opinião, RJ.
Rosa de Ouro. (c/ Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Aracy Cortes). Teatro Jovem do Rio de Janeiro. RJ,
Show em Homenagem a João da Baiana. Teatro da Praia, RJ,
Zicartola 2. Teatro Opinião, RJ,
Bibliografia Crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

ALBIN, Ricardo Cravo. O Livro de Ouro da MPB. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações S.A., 2003.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014

CABRAL, Sérgio. Elisete Cardoso – Uma vida. Rio de Janeiro: Lumiar Editora, S/D.

CASTRO, Ruy. Hermínio Bello de Carvalho – Taberna da Glória e outras glórias – Mil vidas entre os heróis da música brasileira. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2015.

COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.

COUTINHO, Eduardo Granja. Velhas histórias, memórias futuras. Rio de Janeiro: Editora Uerj, 2002.

MARCONDES, Marcos Antônio. (Ed.). Enciclopédia da música Brasileira – erudita, folclórica e popular. 3. ed. São Paulo: Arte Editora/Itaú Cultural/Publifolha, 1998.

MARCONDES, Marcos Antônio. (Ed.). Enciclopédia da música brasileira – erudita, folclórica e popular. 1 v. São Paulo: Arte Editora/Itaú Cultural, 1977.

PASCHOAL, Marcio. Pisa na fulô mas não maltrata o carcará. Vida e obra do compositor João do Vale, o poeta do povo. Rio de Janeiro: Lumiar Editora, 2000.

PAVAN, Alexandre. Timoneiro – Perfil biográfico de Hermínio Bello de Carvalho. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2006.