Compositora. Regente. Pianista.
Considerada por críticos como uma das fundadoras da MPB. Nasceu no dia 17 de outubro de 1847, possivelmente na Rua Nova do Príncipe, atual Senador Pompeu, freguesia de Santana no Rio de Janeiro, onde passou a infância. Filha da mulata e mãe solteira Rosa Maria de Lima com o futuro marechal-de-campo José Basileu Neves Gonzaga. O pai era parente do Duque de Caxias e sua família teve dificuldades para aceitar sua união com d. Rosa. Mesmo assim, José Basileu a reconheceu, como filha legítima, e ainda teve com d. Rosa mais três filhos: José Basileu Filho (que viria a tornar-se o conhecido médico e escritor Gonzaga Filho), José Carlos e Feliciano.
Começou no estudo de piano com o maestro Lobo, possivelmente Elias Álvares Lobo (1834-1901). Casou-se com apenas 16 anos, no dia 5 de novembro de 1863, por ordem de seu pai, com o oficial da marinha mercante Jacinto Ribeiro do Amaral, oito anos mais velho. Com este teve três filhos: João Gualberto, nascido a 12 de julho de 1864; Maria do Patrocínio, nascida a 12 de novembro de 1865, e Hilário, nascido provavelmente em 1868. Nessa época, decide romper seu casamento, depois de uma difícil viagem acompanhando o marido à região da Guerra do Paraguai. Sai de casa levando o filho João Gualberto. O pai deserda-a, considerando-a morta. O rigor de José Basileu obriga a compositora a abandonar a filha e o filho mais novo. Nunca mais pode visitar a mãe em sua casa. A filha Maria é criada por seus pais e Hilário por tios, sem saberem que são filhos dela. Resolveu viver com o engenheiro e apreciador de música João Batista de Carvalho Júnior, possivelmente uma antiga paixão. Com ele teve uma filha, Alice, que ficou com o pai quando ela resolveu romper também este relacionamento. Passa a viver modestamente, sem ajuda da família, no bairro de São Cristóvão, na Rua da Aurora, hoje General Bruce. Consegue sobreviver lecionando piano e tocando em bailes. Aos poucos, torna-se reconhecida como compositora, trabalhando ativamente para o teatro musical, no Rio de Janeiro. Era ferrenha abolicionista e republicana, tendo participado ativamente do movimento pela libertação dos escravos e depois pela Proclamação da República.
Viajou diversas vezes à Europa entre os anos de 1902 e 1910, passando temporadas principalmente em Portugal, onde obteve reconhecimento por suas operetas. Passou seus últimos anos de vida ao lado de Joãozinho Gonzaga, a quem adotou oficialmente como filho a fim de calar os maliciosos rumores sobre sua relação com o jovem companheiro português. Faleceu no Rio de Janeiro, no dia 28 de fevereiro de 1935, em seu apartamento no Edifício Segreto, na Praça Tiradentes. Eram 18 horas de uma quinta-feira, antevéspera de carnaval.
Considerada por todos os historiadores como o maior nome feminino da música popular brasileira. Autora de uma obra imensa. Participou intensamente da implantação do “choro” no Rio de Janeiro dos últimos 20 anos do Império. Contemporânea de Joaquim Antônio Calado, seu grande amigo e admirador, participou de grupos com os principais chorões de então. Fez sua primeira composição, “Canção dos pastores”, com letra de seu irmão Juca, aos 11 anos. Seu primeiro sucesso foi a polca “Atraente”, de 1877, composta ao piano, de improviso, durante festa em homenagem a Henrique Alves de Mesquita, realizada na então Rua Formosa, hoje General Caldwel. A composição foi publicada pelo Imperial Estabelecimento de Pianos e Música, de Artur Napoleão e Leopoldo Miguez. Fez muito sucesso (15 edições), sendo vendida nas ruas e chegando a ganhar uma letra anônima, que fazia referências ferinas ao estilo de vida da compositora. Recebeu nas ruas o apelido de “Chica Polca”, acompanhada de quadrinhas maliciosas. Aperfeiçoou-se nessa época com Artur Napoleão. Em 1878, lançou com sucesso a polca “Sultana”, editada pela loja da Viúva Canongia, tendo os dois mil exemplares esgotados. Em 1879, teve editada por Artur Napoleão e Leopoldo Miguez a polca “Camila”. Mesmo assim, continuou em dificuldades financeiras. É de 12 de janeiro de 1880 o seguinte anúncio na Gazeta de Notícias: “Francisca Gonzaga leciona em casas particulares e colégios piano, canto, francês, geografia, história e português. Pode ser procurada em casa dos Srs. Artur Napoleão & Miguez, à Rua do Ouvidor nº 89.”
A partir da década de 1880, vislumbrou uma nova oportunidade profissional com o sucesso do teatro musical no Brasil. Em 1859, fora fundado o Alcazar Lírico, inaugurando as famosas temporadas de operetas e abrindo espaço para os compositores e músicos de então. Em 1880, escreveu um libreto em um ato e dois quadros e põe-se a musicá-lo. Foi uma peça de costumes chamada “Festa de São João”, que ficou inédita por quatro anos. Em 1883, chegou a musicar “Viagem ao Parnaso”, com texto de Artur Azevedo, seu amigo e incentivador. O trabalho não foi à frente, pois o preconceito social da época não aceitava uma peça teatral musicada por uma mulher. Em 1885, conseguiu levar à cena “A Corte na Roça” a “primeira, peça posta em música por uma mulher!”, segundo jornal da época. “A corte na roça” era uma opereta de costumes e foi apresentada no então Teatro Príncipe Imperial (depoisTeatro São José), pela Companhia Portuguesa Souza Bastos com grande sucesso. A autora chegou a ser chamada de “Offenbach de saias”. A partir de então, conseguiu impor-se no meio teatral. Ainda em 1885, foi apresentado no Teatro Recreio Dramático pela Companhia Dias Braga a peça “A filha do Guedes”, com partitura integralmente sua, ficando ainda com ela a responsabilidade de reger a orquestra, que estava acrescida da Banda da Polícia Militar, tornando-se a primeira mulher a perpetrar tal feito no Brasil. Ainda no mesmo ano, compôs as músicas para o espetáculo “A mulher homem”, de Valentim Magalhães e Filinto de Almeida, que recebeu reconhecimento da crítica e de público. Essa peça foi a primeira a mostrar nos palcos maxixes, polcas e outros ritmos, pois os teatros até então, estavam destinados à ópera e a opereta, segundo a pesquisadora Carla Aranha, no livro “Chorinho brasileiro – Onde tudo começou”. Segundo a autora, “Embora as canções do espetáculo ainda não se classificassem como choro, a composição “Um maxixe na Cidade Nova” apresentava pela primeira vez no teatro o maxixe (ritmo e dança primos do gênero). A partir daí, o caminho ficou aberto para a ascensão do chorinho”.
Em 1886, começou a mobilizar uma campanha pela revitalização do violão promovendo reuniões de violonistas de diferentes bairros cariocas. Por essa época, promoveu no Teatro São Pedro (Atual João Caetano), um concerto para cem violões para o qual compôs especialmente o choro “Sabiá na mata”. Este concerto constituiu-se em retumbante sucesso.
Em 1888, com o dinheiro da venda das partituras de sua obra “Caramuru”, comprou a alforria do escravo músico Zé Flauta. Nessa época, empenhou-se apaixonadamente na campanha abolicionista ao lado de nomes como Lopes Trovão, Quintino Bocaiúva, José do Patrocínio e outros, assim como na campanha republicana. Participou da “Campanha do vintém”, que visava arrecadar fundos para a libertação de escravos, para a qual escreveu e editou a música “Faceira”, sendo inclusive ameaçada de prisão por sua participação em tal campanha. Em 1897, compôs um de seus grandes sucessos, o tango “Gaúcho”, conhecido alguns anos depois como “Corta-jaca”. A obra foi lançada na peça “Zizinha Maxixe”. Em uma cena, Machado Careca fazia grande sucesso dançando o tango “Gaúcho”.
Segundo Roberto Ruiz, na obra “O teatro de revista no Brasil”: “O realce da peça foi um número especial, feito sob encomenda a Chiquinha Gonzaga, o “tanguinho” “O gaúcho”, dançado em estilo “corta-jaca” e que seria sucesso absoluto com o correr dos anos, “vestido” de “letras” diversas, e ser repetido em muitas revistas, denominado simplesmente “Corta jaca” e dançado como maxixe sofisticado”. Em 1899, compôs, dedicando ao Cordão Rosa de Ouro, a primeira marcha de carnaval: “Ó Abre Alas”, tornando-se pioneira na produção carnavalesca e antecipando-se em 20 anos à fixação do gênero. Na época, a maestrina morava no Andaraí e, segundo Geysa Bóscoli no livro “A pioneira Chiquinha Gonzaga”, “…foi procurada pela comissão de uma sociedade dançante e recreativa, o cordão Rosa de Ouro”, que lhe “encomendou” um hino próprio para a passeata que seria feita no tríduo de Momo. Simples e amiga da gente humilde, a popularíssima compositora não se fez de rogada: no dia seguinte estava o cordão carnavalesco com a sua música. (…) Este, sem dúvida, foi o mais forte motivo para que o “Cordão Rosa de Ouro” vencesse, como de fato venceu, o desfile carnavalesco de 1899″. A marcha foi sucesso entre os foliões entre os anos de 1901 e 1910, permanecendo até hoje como símbolo e referência do carnaval carioca.
Entre 1902 e 1910, fez várias viagens à Europa, percorrendo na primeira delas Portugal, Espanha, Itália, França, Alemanha, Bélgica, Inglaterra e Escócia. Em 1904, apresentou-se no Salão Neuparth, de Lisboa, e na Igreja de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica. Nesse ano, seu tango “O gaúcho” ou “Corta jaca”, foi apresentado na revista “Cá e lá”, de Tito Martins e Bandeira Gouveia com músicas suas. Nessa época, foi apresentada em diversos espetáculos, chamados de variedades, sendo interpretados por famosos duetistas como Duque e Gaby, Os Geraldos e Os Jércolis, entre outros. Em 1906, em sua terceira viagem à Portugal, tornou-se bastante conhecida do público ao musicar várias peças portuguesas, dentre as quais “As três graças”, com Luís Galhardo, e “A bota do diabo”, com Avelino Andrade. O ano de 1912 trouxe muito sucesso à compositora. O maior deles foi com “Forrobodó”, opereta em três atos, escrita pelos então iniciantes Luís Peixoto e Carlos Bittencourt, que já eram conhecidos como jornalistas, mas que estreavam como autores teatrais. A peça foi inicialmente rejeitada por todos os teatros. A esse respeito nos conta Geysa Boscoli: “Escrita, toda ela, em calão, com a agravante de ser a primeira burleta que apresentava em seus diálogos o inesgotável manancial da gíria carioca, foi esse trabalho rejeitado por todas as empresas teatrais…”. Os autores procuraram então a maestrina, conhecida como “Madrinha de todos os valores novos”. Ainda segundo Geysa Boscoli: “Aquele “Forrobodó” ainda não tinha partitura. Chiquinha prometeu ampará-los e aceitou a incumbência de musicar a obra, desde que a peça tivesse alguma coisa de aproveitável. Na mesma noite, sozinha, cheia de curiosidade, leu atentamente o trabalho e deu gostosas gargalhadas (…) de tal forma Chiquinha se entusiasmou com a sua originalidade e com a sua curiosa urdidura, que, no mesmo momento começou a trabalhar, e, em 48 horas, preparou-lhe toda a partitura. (…)”. Os próprios autores duvidavam do sucesso da revista e nem quiseram assistir à estréia no Teatro São José, na Praça Tiradentes, centro do Rio de Janeiro. O sucesso foi total e os dois autores, que estavam próximos ao teatro, voltaram ao fim do primeiro ato, a tempo de verem o entusiasmo popular: “Gargalhadas ininterruptas, estrepitosos aplausos e um invulgar entusiasmo, coroaram definitivamente aquele grande, se não o maior, sucesso do nosso teatro popular, — esse sempre lembrado “Forrobodó” — que hoje já conta com a consagração de mais de duas mil apresentações, em todo o Brasil”. Apesar disso, a compositora ainda se encontrava em dificuldades financeiras. Sabe-se que “Forrobodó” rendeu à empresa de Paschoal Segreto 97 mil contos de réis. Os autores do libreto receberam apenas 600 mil-réis, quantia esta absurdamente negada à compositora. Por essa época, foi feita a primeira gravação da marcha “Abre alas”, pela Banda da Casa Faulhaber & Cia na Favorite Records. Ainda em 1912, gravou com seu Grupo Chiquinha Gonzaga, geralmente composto de flauta, cavaquinho, violão e piano a polca “Atraente”, de sua autoria. Segundo o livro “Discografia brasileira em 78 rpm”, havia no catálogo da gravadora naquele ano o seguinte texto, colocado abaixo do retrato da compositora: “Francisca Gonzaga – quase com toda a certeza é a mais grande compositora do mundo; creadora do verdadeiro tango brasileiro e compositora das composições de maior venda no Brazil e Portugal”.
Por volta de 1913, Mário Pinheiro gravou seu tango “Menina faceira”, a cançoneta “Dona Adelaide” e a modinha “Cora”. Também em 1913, gravou acompanhada do Grupo Chiquinha Gonzaga registrando na Odeon a polca-tango “Pudesse essa paixão”, de sua autoria e as polcas “Juju”, de Antônio Maria Passos, e “Sultana”, de sua autoria. Em 1914, seu tango “Gaúcho” foi pivô de uma crise ministerial quando a então primeira-dama Nair de Tefé, esposa do presidente da República Hermes da Fonseca, o executou em uma recepção no Palácio do Catete, “dando entrada assim nos salões, pela primeira vez, a uma melodia genuinamente popular brasileira”, no dizer de Roberto Ruiz, que afirma ainda que “O assunto rendeu nas colunas dos jornais e serviu a Rui Barbosa para se manifestar da Tribuna do Parlamento…”. No mesmo ano, gravou uma série de 16 discos com seu grupo na Odeon, registrando, entre outras, as valsa “Plangente” e “Falena”, as polcas “Catita” e “Atraente” e os tangos “Bione” e “O diabinho”, todas de sua autoria, além do xote “Elaíde”, de Casemiro Rocha. Também nesse ano, teve a serenata “A bota do diabo”, com letra de Avelino de Andrade, e a canção “Colégio de senhoritas”, com letra de Cardoso de Menezes, gravadas por Fernando de Azevedo e o “Tango da guarda-noturna”, da revista “Forrobodó”, gravado pelo cantor Bahiano. Em 1917, no dia 27 de setembro, fundou juntamente com Viriato Correia, Raul Pederneiras e outros, a SBAT, Sociedade Brasileira de Autores Teatrais.
Seu último trabalho é de 1933. Neste ano, compôs a música da peça “Maria”, de Viriato Correia. Entre 1885 e 1933, a compositora musicou 77 peças teatrais, das quais cinco ficaram inéditas. Sua obra conta mais de 250 títulos, reunindo composições nos mais variados gêneros: valsas, polcas, tangos, maxixes, lundus, quadrilhas, fados, habaneras, gavotas, mazurcas, barcarolas, serenatas e algumas músicas sacras. Recebeu, depois de sua morte, muitas homenagens. Em 1974, o crítico Ricardo Cravo Albin homenageou-a na série radiofônica “MPB-100 ao vivo”, transmitida pelo projeto Minerva (Rádio MEC) para todo o país da qual resultaram oito LPs do mesmo título. Neste mesmo ano, o crítico escreveu a monografia “De Chiquinha Gonzaga a Paulinho da Viola”, que viraria uma série de palestras (mesmo título), com as quais Albin correria todo o país, dedicando à maestrina toda a abertura do ciclo. Foram lançadas biografias (das quais a de Edinha Diniz se destaca). Muitos intérpretes gravaram LPs e CDs, dentre os quais: “Chiquinha Gonzaga. Evocação”, Estúdio Eldorado, São Paulo, 1979, LP; “O piano de Chiquinha Gonzaga por Clara Sverner, volume 1 e 2. EMI- Angel, Rio de Janeiro, 1980, LP; “Chiquinha Gonzaga”, Maria Tereza Madeira ao piano-série Mestres Brasileiros vol. 1. Sonhos e Sons, 1999, CD. Foi tema de enredo da Escola de Samba Imperatriz Leopoldina, do Rio de Janeiro, em 1997. Além disso, inspirou algumas peças musicais no teatro: a do SESC de São Paulo em 1983, com direção de Maria Adelaide Amaral, uma outra estrelada pela atriz Eva Todor e uma terceira, liderada pela atriz Rosamaria Murtinho sob o título “Ó abre alas”, em 1999. Teve sua vida contada em documentário da série “500 anos de História do Brasil”, com o título: “Chiquinha Gonzaga, a primeira maestrina brasileira”, produzido pela GF Filmes, com roteiro de Fernando Morais. Uma mini-série foi produzida pela TV Globo no ano de 1999, escrita por Lauro Cesar Muniz e estrelada por Regina Duarte, que viveu o papel de Chiquinha Gonzaga na idade madura, e também Gabriela Duarte (atriz filha de Regina Duarte na vida real) que interpretou Chiquinha Gonzaga quando jovem. No mesmo ano, a pianista Maria Teresa Madeira lançou dois CDs inteiramente dedicados à obra da autora de “Abre Alas”. O primeiro deles foi gravado em duo com o violinista e arranjador Marcus Vianna e, o segundo, gravado digitalmente na Sala Cecília Meireles, traz 21 músicas, como “Lua Branca”e “Gaúcho” (Corta-Jaca), algumas das quais apresentadas pela pianista em espetáculo para o público infantil no Teatro Carlos Gomes, em 2001. Este CD inaugurou a coleção Mestres Brasileiros, do Estúdio Sonhos e Sons, de Belo Horizonte. A mesma Maria Teresa Madeira abriu em sua homenagem o ciclo “História da MPB”, inaugurando com quatro espetáculos no CCBB, Rio, roteirizados e dirigidos pelo crítico Ricardo Cravo Albin, como os primeiros shows históricos a celebrar os 500 anos do Brasil, em janeiro de 2000. Em 2003, seu choro “Água Do Vintém”, recebeu letra de Paulo César Pinheiro, e foi gravado por Olívia Hime, em CD lançado por ela pelo selo Biscoito Fino. Em 2009, a historiadora Edinha Diniz relançou a biografia da compositora: “Chiquinha Gonzaga, uma história de vida” pela Zahar Editora com revelações inéditas descobertas no acervo da artista quando este foi transferido da Sbat para o Instituto Moreira Salles. Entre os documentos pesquisados pela historiadora está o processo no Tribunal Eclesiástico movido pelo marido da autora de “Abre alas!”, em 1877, que resultou na condenação dela à separação perpétua por abandono do lar e adultério culpável. Também foi descoberto o documento de casamento dos pais dela após 17 anos de concubinato, assim como a origem de sua mãe, uma filha de escrava alforriada na pia batismal. A primeira edição do livro motivou a minissérie da Rede Globo, assim como os enredos das escolas de samba Mangueira e Imperatriz Leopoldinense sobre a compositora e maestrina. No meamo ano, foi homenageada pela Academia Brasileira de Letras no projeto “MPB na ABL” apresentado no Teatro R. Magalhães Jr., daquela entidade, com o show “Leandro Braga e a corte de Chiquinha Gonzaga” apresentado por Leandro Braga. Em 2010, foi produzido pelos instrumentistas Ana Friedman, pianista, e Gilberto Assis, baixista, o CD “Chiquinha em revista”, lançado pelo selo Sesc-SP e que contou com as participações dos cantores Ná Ozzetti, Suzana Salles, Carlos Careqa, Vange Milliet e Rita Maria interpretando canções da compositora além de temas instrumentais. Em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin a caixa “100 anos de música popular brasileira” com a reedição em 4 CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. No volume 1 desses CDs estão incluídas sua canção “Lua branca”, na interpretação de Paulo Tapajós, e o tango “Corta jaca” na interpretação de Altamiro Carrilho e conjunto. No mesmo ano, foi lançado o site com o Acervo Chiquinha Gonzaga com mais de 300 obras da compositora, muitas delas inéditas. O site foi idealizado pelos pianistas Alexandre Dias e Wandrei Braga. As partituras foram revisadas e digitalizadas a partir de pesquisa realizada em coleções particulares e no acervo da compositora sob a guarda do Instituto Moreira Sales. Ao contrário de muitos autores, seu acervo foi preservado intacto na Sbat (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais). Segundo o pianista Alexandre Braga, “Antes, apenas 5% de sua obra estava disponível. Com o site reunindo todos os trabalhos avulsos (a pesquisa não cobre sua produção de operetas) prevemos um renascimento de Chiquinha”. Em 2013, teve quatro composições gravadas pelo pianista Luiz Eduardo Domingues, no CD “Pianeiros”, o primeiro do pianista: a polca “Atraente”; os maxixes “Maxixe de carrapatoso” e “Zé Povinho”; a valsa sentimental “Plangente” e o tango brasileiro “Gaúcho”. No mesmo ano, foi apresentado o musical “Forrobodó”, de Carlos Bettencourt e Luiz Peixoto, com músicas suas, entre as quais, o tango “Forrobodó”, gravado pelo cantor Bahiano, e a canção cômica “Siá Zeferina”, posteriormente transformada na modinha “Lua Branca”, segundo a pesquisadora Solange Pereira de Abreu, da UFRJ, no texto “Chiquinha Gonzaga e a burleta Forrobodó”. O musical estreou no Teatro Sesc Ginástico e contou com as participações de Érico Brás, Flávio Burlamarqui, Juliana Alves, Marcos Sacramento e Pedro Miranda, e teve direção de André Paes Leme, e direção musical de Maria Teresa Madeira.
(Grupo Chiquinha Gonzaga)
(Grupo Chiquinha Gonzaga)
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ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB. Rio de Janeiro:Ediouro, 2003.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
BOSCOLI, Geysa. A pioneira Chiquinha Gonzaga. Rio de Janeiro: Edição do autor, s/d.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
RUIZ, Roberto. O teatro de revista no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Artes Cênicas, 1988.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. São Paulo: Editora: 34, 1999.
Chiquinha Gonzaga foi a primeira grande compositora que o Brasil produziu. Sua atividade era extraordinária em todos os setores. Basta dizer que só para o teatro escreveu nada menos de 77 partituras, quase todas encenadas e muitas delas com bastante sucesso. Chiquinha dedicou-se exclusivamente à música: passava o dia em casa das alunas e à noite ainda saía para integrar um choro, tocar em um baile e ganhar dez mil réis pelos acompanhamentos ao piano. Freqüentava as rodas boêmias, onde fez amigos sinceros e acompanhou de perto a evolução de nossa música popular.
Teve atuação política na libertação dos escravos e nos dias agitados de 1893. Sua cançoneta “Aperte o botão” foi considerada subversiva, Chiquinha teve ordem de prisão e as músicas apreendidas. Perseguida, viu crescer sua popularidade. Em 1899, ela morava no Andaraí, perto da sede do cordão carnavalesco “Rosa de ouro”, que lhe pediu uma marchinha para o carnaval próximo. Chiquinha aproveitou as sonoridades dos instrumentos de percussão, seu ritmo buliçoso, e escreveu uma música simples e curtinha, com versos de fácil memorização. Assim nasceu “O abre alas!”, que durou vários anos em cartaz e até hoje continua no repertório. Deve ser considerada a mais antiga música de carnaval ainda em voga.
Outro êxito de Chiquinha Gonzaga foi o “Corta jaca”, da peça teatral “Zizinha maxixe”, que em 1914 causou escândalo nas rodas elegantes do Rio, pois a esposa do presidente Hermes da Fonseca incluiu-a em um sarau do Palácio do Catete, interpretando-a ela mesma ao violão. Lembro também o imenso sucesso da burleta de costumes cariocas “Forrobodó”, de Luís Peixoto, e dela guardamos até hoje a bela canção “Lua branca”.
Chiquinha Gonzaga foi compositora de boa formação técnica e de notável inspiração. Ela merece respeito como uma precursora de nossa música popular, mas esteve longe da genialidade de seu contemporâneo Ernesto Nazareth.
Vasco Mariz