
Embolador. Coqueiro. Cantador.
Nasceu em Cortes, nas cercanias de Pedro Velho, cidade que fica a sudeste do Rio Grande do Norte, na fronteira com a Paraíba no começo do século. Há controvérsias quanto a sua real idade. Na certidão de casamento, consta o ano de 1904, e numa carteira de trabalho, tirada no Rio de Janeiro, consta o ano de 1908. Assim como os pais, sempre trabalhou na roça. Embora tenha freqüentado seis anos de escola, acabou não se alfabetizando. Começou a cantar com cerca de 12 anos.
Ainda jovem e contrariando a vontade do pai, que não o achava bom cantor, foi prosseguindo na lida de embolador. Passa a vencer desafios com famosos cantadores de coco de sua região como Zé Fulô, Mané Matias, Cícero Matias, Antônio Matias, o preto João Perigoso, Domingos Gregório e outros. Seu trabalho passa a ser então uma referência para outros cantadores. Em janeiro de 1929 estava trabalhando no Engenho Bom Jardim, quando foi levado a cantar para o poeta e escritor modernista Mário de Andrade, que estava de visita naquele lugar. O encontro entre os dois foi registrado por Mário de Andrade no livro “O turista aprendiz”. Anos mais tarde, Chico Antônio foi tentar a vida no Rio de Janeiro, onde trabalhou em Bonsucesso, Botafogo e Jacarepaguá. Em seguida, retornou, para sua cidade natal, voltando a trabalhar na roça e a cantar cocos nos finais de semana. Embora sua arte continuasse a ser apreciada em sua região, caiu no esquecimento do resto do país. Em 1979, o estudioso do folclore brasileiro Deífilo Gurgel, em viagem ao Rio Grande do Norte, em pesquisa para a Fundação José Augusto, tomou conhecimento da existência de um cantador de cocos que parecia ser o lendário Chico Antônio, registrado por Mário de Andrade. Foi então até Porto Velho e confirmou a informação. Levou então o cantador para Natal, onde este se apresentou em congressos e festivais, além de conceder entrevistas para diversos jornalistas e estudiosos. Em 1982, um convênio entre o Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro e a Funarte, possibilitou a gravação do único registro fonográfico do mestre coqueiro. A gravação ocorreu nos dias 26 e 28 de agosto daquele mesmo ano, na casa de Chico Antônio e na do seu filho. Foram registradas nove composições, todas de autoria de Chico Antônio e Paulírio, entre as quais “Boi tungão”, “Onde vais, Helena”, “Curió da beira-mar” e “Vou no mar”. Em 1983 apresentou-se no programa “Som Brasil”, da TV Globo, apresentado por Rolando Boldrin. Um dos mais ilustres representantes do coco foi o único que recebeu um estudo pormenorizado de sua obra, chegando a ser personagem de dois textos ficcionais de Mário de Andrade. Em 1995 teve o coco “Usina (tango no mango)”, parceria com Paulírio, gravado pelo grupo pernambucano Mestre Ambrósio. Em 1997 foi homenageado pelo cantor e compositor pernambucano Antônio Nóbrega no show “Na pancada do ganzá”. Em 1999, o Acervo Funarte lançou o CD “No balanço do ganzá”, com interpretações de Chico Antônio feitas 54 anos depois de seu encontro com Mário de Andrade. No mesmo ano, teve a música “Eu vou, você não vai”, foi gravado no CD “Nação Potiguar”, lançado em homenagem aos 400 anos da cidade de Natal.
CÂMARA, Leide. Dicionário da Música do Rio Grande do Norte. Natal: Acervo da Música Potiguar, 2001.