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Nome Artístico
Catulo da Paixão Cearense
Nome verdadeiro
Catulo da Paixão Cearense
Data de nascimento
8/10/1863
Local de nascimento
São Luís, MA
Data de morte
10/5/1946
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Poeta. Compositor. Cantor. Teatrólogo.

Apesar do nome, nasceu no Maranhão. Equivocadamente, a data de seu nascimento foi considerada por muito tempo como sendo 31 de janeiro de 1866. A data original foi alterada para que ele pudesse ser nomeado para o serviço público.

Com 10 anos mudou-se com a família para o interior do Ceará. Em 1880, quando contava 17 anos, sua família mudou-se para o Rio de Janeiro indo residir à Rua São Clemente, 37, onde passaria a funcionar a relojoaria e ourivesaria de seu pai. No Rio de Janeiro, começou a freqüentar uma República de Estudantes na Rua do Barroso, em Copacabana, da qual faziam parte os flautistas Joaquim Calado e Viriato, o estudante de música Anacleto de Medeiros, o violonista Quincas Laranjeiras, o cantor Cadete e um estudante de Medicina que o ensinou a tocar violão, fazendo com que abandonasse a antiga paixão pela flauta. Era autodidata. Aprendeu português e matemática e, posteriormente, o francês, chegando a fazer traduções de poetas franceses famosos na época como Lamartine. Recebeu grande influência dos cantadores do Nordeste com quem conviveu durante parte de sua juventude, chegando, inclusive, a produzir literatura de cordel. Os primeiros anos de Rio de Janeiro foram bastante difíceis para o poeta já que, muito pobre, morava num dos bairros mais distantes do Rio à época, o balneário de Copacabana, um lugar quase deserto e ermo. Em pouco tempo, morreu sua mãe, Maria Celestina Braga da Paixão. O pai morreria três anos depois.

Dados artísticos

Sua primeira composição foi “Ao luar”, apresentada numa seresta na República de Estudantes. Na mesma noite, seu pai, Amâncio José da Paixão Cearense quebrou-lhe um violão na cabeça, pois seguira o filho e não o queria envolvido com boêmios. Após a morte do pai, passou a trabalhar como estivador no Cais do Porto. De dia usava tamancos nos pés e à noite colocava as calças listradas e o fraque forrado de seda e ia para as serestas. Certa feita, convidado para uma festa na casa do Senador Gaspar da Silveira Martins, conselheiro do Império, acabou por tornar-se o centro da festa. A mulher do senador acabou por contratá-lo como professor para os filhos e dessa forma, mudou-se para a casa do senador. Pouco depois, viu-se envolvido numa trama que resultaria num casamento, sob a acusação de ter violentado sua futura mulher. Considerado como grande mulherengo, envolveu-se ao longo de sua vida com diversas mulheres, tendo dedicado a algumas delas várias de suas obras. Para a atriz Apolônia Pinto dedicou a canção “Os olhos dela”. Apaixonado pela filha do senador goiano Hermenegildo de Morais, de quem somente se conhece o apelido de “Coleira”, devido a um adorno que usava no pescoço. Mas não teve o amor correspondido. Por isso, abandonou o trabalho na casa do senador Gaspar da Silveira e foi refugiar-se em Piedade, subúrbio do Rio de Janeiro, onde fundou um colégio e passou a lecionar, criando novos métodos que tornassem o ensino mais agradável. Paralelamente, continuou a participar de serestas e recitais.
Em 1906, o cantor Mário Pinheiro gravou pela Casa Edson as canções “Talento e formosura” e “Resposta ao talento e formosura”. Em 1907, o mesmo cantor gravou “O que tu és”, “Até as flores mentem” e “Clélia”. E, com grande sucesso, a canção “Rasga coração”, novo nome dado pelo poeta a partir da letra que colocou no xote “Iara”, composto por Anacleto de Medeiros em 1896 e repertório obrigatório das bandas desde então.
Em 1908, conseguiu o que para muitos parecia impossível: levar o violão, instrumento até então considerado maldito, para um salão de elite. Por intermédio do maestro Alberto Nepomuceno, conseguiu realizar um recital no Instituto Nacional de Música, onde, nas suas próprias palavras, “Músicos, literatos, médicos, jornalistas, advogados, engenheiros, professores, diplomatas, misturaram-se a populares”. O recital foi um enorme sucesso, fazendo crescer ainda mais a fama do cantor e poeta nordestino. Em 1909, o cantor Mário Pinheiro gravou mais duas composições de sua autoria: “Choça ao monte” e “Cabocla bonita”. Em 1910, o mesmo cantor gravou “Adeus da manhã”.
Em 1913, obteve grande sucesso no carnaval  com a composição “Cabocla di Caxangá”. Sobre essa composição, informam os pesquisadores Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello: “… Entrou para a história apenas assinada pelo poeta. Inspirado numa toada que João Pernambuco lhe mostrara e que teria melodia do violonista, composta sobre versos populares, Catulo escreveu extensa letra, impregnada de nomes de árvores (taquara, oiticica, imbiruçu…), animais (urutau, coivara, jaçanã…), localidades (Jatobá, Cariri, Caxangá, Jaboatão…) e gírias do sertão nordestino, daí nascendo em 1913 a embolada “Caboca de Caxangá”, classificada no disco como batuque sertanejo). E nasceu para o sucesso, que se estenderia ao carnaval de 1914, para desgosto de Catulo, que achava depreciativo o uso da composição pelos foliões”.
Em 1914, foi convidado pela mulher do então Presidente da República Hermes da Fonseca, a senhora Nair de Teffé, a caricaturista Rian,  para um recital no Palácio do Catete, onde obteve um dos seus momentos de maior glória, sendo aplaudido de pé pela assistência, ao término de cada apresentação. Alguns setores mais conservadores da imprensa, contudo, registraram críticas e comentários maldosos. Pouco depois, foi nomeado pelo presidente para um cargo na Imprensa Nacional. Ligou-se ao proprietário da Livraria do Povo, e por ela editou diversos folhetos de cordel com o repertório de modinhas, lundus e cançonetas que faziam sucesso. Para a mesma livraria editou as coletâneas “O cantor fluminense” e “O cancioneiro popular”. Em seguida, publicou diversos trabalhos de sua autoria, “Lira dos salões”, “Novos cantares”,  “Lira brasileira”, “Canções da madrugada”, “Trovas e canções” e “Choros ao violão”.
No mesmo ano, o cantor Eduardo das Neves, acompanhado de coro, gravou na Odeon aquele que se tornaria o maior sucesso do poeta, e um dos maiores clássicos da Música Popular Brasileira, consagrada popularmente como um segundo Hino Nacional: a toada sertaneja “Luar do sertão”, regravado dezenas de vezes ao longo da história da MPB. E que também lhe rendeu a célebre polêmica com João Pernambuco sobre a autoria da música, chegando à barra dos tribunais, que decidiu a favor de João Pernambuco, reconhecido assim como autor da melodia, que segundo alguns, seria provavelmente um tema folclórico, ficando a dúvida entre o coco “É do Maitá” e “Meu Engenho é de Humaitá”.
Também no mesmo ano, o cantor Bahiano gravou a modinha “Fascinação por teus olhos”, parceria com Cupertino de Menezes, Eduardo das Neves gravou a modinha “Eulina” e a Banda da Casa Edison regravou “Cabocla de Caxangá”, como tango, todos na Odeon.
Ainda na mesma época, colocou versos serenata “Lolita” e na valsa “Adoráveis tormentos”, ambas de Fernando de Azevedo.
Um de seus principais parceiros foi Anacleto de Medeiros, com quem compôs, entre outras, “Rasga o coração”, “Por um beijo”, “Palma de martírio”, “O que tu és”, “Perdoa”, “Nasci para te amar”, “O boêmio” e “Coração oculto”. Em 1918, editou “Meu sertão”. No mesmo ano, o cantor Vicente Celestino gravou na Odeon uma série de canções suas com diferentes parceiros, entre as quais, “”Porque sorris” e “Porque fui poeta”, com Juca Kalut e “Aos pés da cruz”, com Cremieux. No mesmo período, Mário Pinheiro gravou uma série de modinhas, entre as quais “Pastor peregrino”, “Não partas”, “Cabocla bonita” e “Lágrimas sonoras”.
Em 1919, publicou “Sertão em flor”. Em 1921, “Poemas em bravios”. Em 1926, participou da “Tarde Brasileira”, no Teatro Lírico no Rio de Janeiro, apresentando-se ao lado de João Pernambuco e Patrício Teixeira. Na ocasião, lançou o poema “Maria Cabocla”, que recebeu calorosos aplausos fazendo-o retornar várias vezes ao palco. No mesmo ano, Patrício Teixeira gravou sua canção “Magnólia”, amodinha “Canção do cego” e a modinha cateretê “Bem-te-vi”.
Em 1928, publicou “Mata iluminada”, “Meu Brasil”, “Um boêmio no céu” e “Alma do sertão”. Nos últimos anos de sua vida, viveu num barracão na Rua Francisco Méier, nº 21, depois transformada em Rua Catulo da Paixão Cearense. Lá recebia diversas figuras da vida pública e intelectual do Rio, do Brasil e de outros países, como o escritor Monteiro Lobato, o poeta espanhol Salvador Rueda ou o médico e tenor mexicano Alfonso Ortiz Tirado, conhecido como a “Voz Romântica do México”. Lá recebia as visitas de chinelo e pijama.
Em 1939, encontrando-se em situação financeira delicada, pediu ajuda ao cantor paulista Paraguaçu, que organizou para ele uma série de recitais, com apresentações na Rádio Cosmos, atual Rádio América e também no Palácio dos Campos Elíseos, sendo convidado do governador Ademar de Barros. O sucesso foi absoluto, com os recitais totalmente concorridos e com seus livros esgotados pelo público ávido por autógrafos do grande poeta. Mesmo assim, o poeta morreu pobre.Antes de seu sepultamento, o escultor Flory Gama fez sua máscara mortuária. Seu corpo foi levado para o saguão do edifício  da Associação Brasileira de Imprensa, depois para a Capela de Santa Teresinha, na Praça da República e finalmente levado a pé até o Cemitério de São Francisco de Paula. Conforme o enterro passava, acompanhado por uma multidão e pela Banda do Corpo de Bombeiros entoando a “Marcha fúnebre”, o comércio fechava as portas.
No cemitério, uma multidão aguardava a chegada do féretro. Sucederam-se diversos discursos que fizeram a cerimônia estender-se até à noite.Quando escureceu, uma imensa lua cheia apareceu no céu e o tenor mexicano Alfonso Ortiz começou a cantar “Luar do sertão”. Pouco a pouco um coro de milhares de vozes o acompanhou numa homenagem espontânea ao poeta morto.
Ainda nos anos de 1950, o tenor Vicente Celestino gravou pela RCA Victor um LP com obras do poeta, entre outras, as composições, “Rasga o coração”, “O meu ideal”, “Por um beijo”, “Ontem ao luar” e “Luar do sertão”.  Em 1957, foi homenageado pela gravadora Sinter com o LP “Catulo o poeta do sertão”, na voz de Paulo Tapajós, com as composições: “Vai o Meu Amor ao Campo Santo”, com Irineu de Almeida, “Sertaneja”, com Ernesto Nazareth, ”    Clélia (Ao Desfraldar da Vela)”, com Luis de Souza, “Poeta Do Sertão”, com João Pernambuco, “O Meu Ideal”, com Irineu de Almeida, “Tu Passaste Por Este Jardim”, com Alfredo Dutra, ”    Talento e Formosura”, com Edmundo Octávio Ferreira, “Os Olhos Dela”, com Irineu de Almeida, “Rasga o Coração” e “Implorando”, com Anacleto de Medeiros, “Templo Ideal”, com Albertino Pimentel, e “Recorda-te de Mim    “, só de sua autoria. Em 1962, as canções “Tu passaste por este jardim”, com Alfredo Dutra e “Por que sorris?, com Juca Kalut foram relançadas por Gilberto Alves no LP “Gilberto Alves de sempre” lançado pela gravadora Copacabana.
Em 1994, o selo Revivendo lançou o CD “Catulo da Paixão Cearense na voz de Vicente Celestino e Paulo Tapajós”. Em 2000 o selo EMI/Copacabana lançou o CD duplo “Cantores do Rádio – volume 1”, no qual consta a canção “Ontem ao luar”, parceria com Pedro de Alcântara na interpretação de Vicente Celestino. Em 2007, estreou no Teatro Villa-Lobos no Rio de Janeiro sua peça inédita “Um boêmio no céu”, escrita em 1945. Com direção de Amir Haddad, figurinos de Biza Vianna e direção musical de José Maria Braga e com José Mayer no pepel do poeta. Durante o espetáculo são interpretadas algumas de suas canções mais famosas como “Ontem ao luar” e “Luar do sertão”. No mesmo ano, a toada “Luar do sertão”, com João Pernambuco, foi gravada por Tinoco e Mazinho Quevedo no CD “Coração caipira – ao vivo” da Som Livre. Em 2009, foi lançado no Museu da República pelo pesquisador Haroldo Costa o livro “Catulo da Paixão – Vida e obra”, no qual o autor fala da vida e da obra do grande seresteiro e poeta. Em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin a caixa “100 anos de música popular brasileira” com a reedição em 4 CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. No volume 1 desses CDs estão incluídas suas modinhas “Terna saudade”, com Anacleto de Medeiros, “Luar do sertão”, com João Pernambuco, e “Cabocla bonita” na interpretação de Paulo Tapajós, e “Flor amorosa”, com Joaquim da Silva Calado, na interpretação de Altamiro Carrilho e seu conjunto.

Discografias
[ant. 1960] RCA Victor 33/10 pol. Catullo

"Na contra-capa, histórico do compositor."

[195?] Sinter LP "Catullo, o poeta do sertão"

"Na contra-capa, texto de Paulo Tapajós"

[195?] Sinter 33/10 pol. Luar do Serão
1978 Abril Cultural 33/10 pol. Catulo da Paixão - Cândido das Neves (Índio)

"Este disco faz parte da coleção 'História da Música Popular Brasileira'. Vem acompanhado de um fascículo com a história dos compositores, fotos dos músicos e as letras das música."

1971 RCA/Abril Cultural 33/10 pol. Cândido das Neves - Catulo da Paixão Cearense

"Este disco faz parte da coleção 'Nova História da Música Popular Brasileira' . Vem acompanhado de um fascículo com biografias, fotos, caricaturas e as letras das músicas"

Obras
A choça do monte
Adeus da manhã
Adoráveis tormentos (c/ Fernando de Azevedo)
Ainda assim (c/ José Belisário Santana)
Ao desfraldar da vela (c/ Luís de Souza)
Ao luar
Aos pé da cruz (c/ Cremieux)
Arrufos
Até as flores mentem
Aventura caipora
Bem-te-vi
Cabocla bonita
Cabôcla di Caxangá (c/ João Pernambuco)
Canção do cego
Chico Mironga no casamento do seu Zé Pinhê
Choça ao monte
Clélia (c/ Luís de Souza)
Como eu te amo
Efeito do maxixe
Elegia (c/ Villa-Lobos)
Eulina
Fascinação por teus olhos (c/ Cupertino de Menezes)
Fechei meu jardim
Flor amorosa (c/ Joaquim Antônio da Silva Calado)
Horas melancólicas (c/ Bonfíglio de Oliveira)
Improviso
Lolita (c/ Fernando de Azevedo)
Luar do sertão (c/ João Pernambuco)
Lágrimas sonoras
Magnólia (c/ Waldteufel)
Maria cabocla
No sertão
Não partas
O adeus da manhã (c/ Emili Pessard)
O boêmio (c/ Anacleto de Medeiros)
O eco
O marroeiro
O meu ideal (c/ Irineu de Almeida)
O que tu és (c/ Anacleto de Medeiros)
O sertanejo enamorado
O teu pé
Ondas
Ontem, ao luar (c/ Pedro de Alcântara)
Os dois violeiros
Os olhos dela (c/ Irineu de Almeida)
Ouvindo as ondas (c/ Feire Júnior)
Palma de martírio (c/ Anacleto de Medeiros)
Pastor peregrino
Por que eu fui poeta (c/ juca Kalut)
Por um beijo (c/ Anacleto de Medeiros)
Porque sorris Sorrir dormindo (c/ Juca Kalut)
Quebrei a jura (c/ P. Guerra)
Quem foi meu pai
Rasga o coração (c/ Anacleto de Medeiros)
Recorda-te de mim
Sertaneja
Sobre uma campa
Talento e formosura (c/ Edmundo Octavio Ferreira)
Templo ideal
Tu passaste por este jardim
Tu és o meu penar
Um poeta do sertão
Vai, ó meu amor, ao campo santo (c/ Irineu de Almeida)
Você não me dá
Bibliografia Crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. M.P.B. – A história de um século. Rio de Janeiro: Funarte, 1997.

AMARAL, Euclides. A Letra & a Poesia na MPB: Semelhanças & Diferenças. Rio de Janeiro: EAS Editora, 2019.

AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.

CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da Música Popular. Edição do autor. Rio de Janeiro, 1965.

EPAMINONDAS, Antônio. Brasil brasileirinho. Editora: Instituto Nacional do Livro. Rio de Janeiro, 1982.

MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.

SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Editora: 34. São Paulo, 1997.

VASCOCELOS, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira – volume 1. Editora: Martins. Rio de Janeiro, 1965.