Cantora. Atriz. Dançarina.
Nasceu em Portugal, na pequena aldeia de Marco de Canavezes, Distrito do Porto, vindo para o Brasil com apenas 18 meses. Seu pai, José Maria Pinto da Cunha, que exercia a profissão de barbeiro, imigrou para o Brasil primeiro. A mãe, Maria Emília Miranda da Cunha, veio em seguida, trazendo a pequena Carmen e a outra filha mais velha, Olinda. A família cresceu no Brasil com o nascimento de mais quatro irmãos, Amaro, Cecília, Aurora e Oscar. Moraram inicialmente em um quarto de aluguel na Rua da Candelária; depois transferiram-se para a Rua Joaquim Silva, na Lapa, até resolver abrir uma pensão. Encontraram uma grande casa na Travessa do Comércio, nº 13, na Praça XV, e para lá se mudaram. A mãe assumiu a direção da pensão que fornecia refeições a empregados do comércio e ainda aceitava hóspedes. O estabelecimento logo passou a ser freqüentado por músicos da época, como Pixinguinha e seu grupo que eram assíduos. Ainda menina, estudou alguns anos num colégio de freiras, a Escola Santa Tereza, que atendia a crianças humildes, situado no bairro da Lapa, Centro do Rio. Na infância era chamada pelos apelidos de Bituca e de Carmen por seus familiares. Ainda adolescente aprendeu a costurar com a irmã Olinda.
Com apenas 15 anos começou a trabalhar como balconista de lojas de roupas femininas, de chapéus e gravatas. Na Maison Marigny, aprendeu a decorar chapéus femininos e logo depois já estava empregada como aprendiz na loja La Femme Chic, no Centro do Rio, onde passou a confeccionar chapéus orientada por Madame Boss. Desde menina demonstrou inclinação para a música, cantando para os amigos em festas, acompanhando os programas radiofônicos de então e imitando as cantoras que faziam sucesso na época, como Araci Cortes. Na década de 1930, teve um namorado, que ela declarou ter sido o grande amor de sua vida, o remador do Flamengo Mário Cunha. Em 1938, quando estava em excursão na Argentina com Aurora, recebeu a notícia do falecimento de seu pai. Foi para os Estados Unidos em 1939, contratada para alguns “shows” em Nova York, na Broadway, onde acabou permanecendo por um ano. Em 1940 retornou ao Brasil, a fim de rever os amigos e para o casamento de sua irmã Aurora, retornando meses depois para cumprir novo contrato nos Estados Unidos, levando D. Maria. Um ano depois, Aurora transferiu-se com o marido, e a família passou a viver junta.
Em 1943, submeteu-se a uma operação plástica no nariz, fato que quase lhe impediu a vida artística, pois o médico era um charlatão. Foi obrigada a refazer a operação com um especialista e, no pós-operatório, foi constatada uma infecção no fígado, que se espalhou e quase lhe tirou a vida. Em 1947, casou-se com David Sebastian, um assistente de produção norte-americano, com o qual viveu em meio a desentendimentos, fato que, segundo seus biógrafos, foi um dos motivos da forte depressão que a acometeu na época de seu retorno temporário ao Brasil, em 1954. Em 1948, a imprensa anunciou sua gravidez, confirmada por ela e por seu marido, que declarou que, se nascesse menino, eles o batizariam de Robert, e ela anunciou que, se fosse menina, chamar-se-ia Maria Carmen. Muitos afirmam que a gravidez não ocorreu de fato, tratando-se, antes, de estratégia de “marketing” para justificar seu impedimento de viajar ao Brasil para receber uma condecoração oferecida pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro. De qualquer forma, pouco tempo depois, num dia de trabalho exaustivo, foi internada às pressas e, segundo a imprensa, perdeu a criança que nasceria em março de 1949.
Faleceu em sua residência, em Beverly Hills, Los Angeles, em 5 de agosto de 1955, com apenas 46 anos. A família decidiu sepultá-la no Brasil, onde foi velada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. O cortejo saiu no Aeroporto do Galeão, às 10:30h da manhã do dia 12 de agosto, quando seu corpo chegou ao Brasil, e foi acompanhado por uma multidão de fãs calculada em cerca de meio milhão de pessoas. Ao passar pela Avenida Rio Branco, uma chuva de papel picado deu à cena mais emoção, reforçada pelos carrilhões da Mesbla, que executavam o refrão de “Adeus batucada”, de Synval Silva, grande sucesso na voz dela. Milhares de lenços brancos foram agitados pela multidão ao longo do trajeto até a Câmara Municipal, onde seu corpo recebeu a visitação de centenas de milhares de fãs.
Mito maior da música popular no Brasil, foi a artista brasileira que mais sucesso e prestígio alcançou na indústria do entretenimento dos Estados Unidos, para onde imigrou. Primeira artista a decolar para o sucesso por meio dos discos foi também a cantora de Rádio mais cara do Brasil. Chamada de “A Pequena do It na Voz e no Gesto”, “Rainha do Samba” e “Ditadora Risonha do Samba”, a partir de 1935, ganhou seu “slogan” definitivo: “A Pequena Notável”, que lhe foi dado pelo célebre cantor-apresentador César Ladeira. Nos Estados Unidos, ficou conhecida como “Brazilian Bombshell”.
Iniciou a carreira artística em 1928, quando conheceu o compositor e violonista Josué de Barros em um festival com fins filantrópicos realizado no Instituto Nacional de Música, no Rio de Janeiro. Na ocasião, foi levada por Aníbal Duarte, um deputado que freqüentava a pensão de sua mãe, para se apresentar, e, depois de cantar alguns tangos, interpretou “Chora, violão”, de autoria de Josué de Barros. A partir desse dia, o violonista e compositor abriu-lhe as portas para a carreira artística. O próprio Josué declararia que sua biografia poderia ser resumida em três palavras: “Eu descobri Carmen”. De fato, seu incentivo foi fundamental para que a jovem cantora, ainda conhecida como Maria do Carmo, começasse a se apresentar em recitais e nas Rádios Sociedade e Educadora. Num desses programas, realizado no dia 5 de março de 1929, apresentou-se pela primeira vez com o nome de Carmen Miranda, na tentativa de enganar o pai, que não queria que uma filha sua seguisse carreira de cantora.
No final do ano de 1929, Josué de Barros levou-a para a gravadora Brunswick, onde a cantora gravou o primeiro disco com duas músicas do amigo Josué de Barros: o samba “Não vá simbora” e o choro “Se o samba é moda” com acompanhamento do Trio Barros de violões. Ainda naquele ano, Josué de Barros apresentou-a a Rogério Guimarães, então diretor da RCA Victor, que tratou de contratá-la. A partir de então, começou a se apresentar em espetáculos nos teatros cariocas, em saraus e festas. Estreou, a convite de Francisco Alves, no Teatro República, em abril de 1930. Logo depois, em 19 de julho, estreou seu próprio “show”, o “Festival Carmen Miranda”, realizado no Teatro Lírico, com a participação de inúmeros artistas de então, Raul Roulien, Alda Garrido, Patrício Teixeira, Josué de Barros, Rogério Guimarães e muitos outros. Ainda naquele ano, participou da revista “Vai dar o que falar”, de Luiz Peixoto e Marques Porto, com músicas de Ary Barroso e Augusto Vasseur. A peça terminou em vaias e até tiros, pois incluía um quadro sobre a prostituição no Mangue, que foi considerado imoral. Participou de um único número, cantando “O nego no samba”, que acabou sendo gravado por ela, ainda em 1930.
Também em 1930, lançou seu primeiro disco pela Victor, gravado no final do ano anterior, cantando a canção-toada “Triste jandaia” e o samba “Dona Balbina”, as duas de Josué de Barros, com acompanhamento de violões de Josué de Barros e Rogério Guimarães. Nesse ano, gravou a marcha “Iaiá, Ioiô”, de Josué de Barros, e o samba “Burucutum”, de Sinhô, que assinou a composição com o pseudônimo de J. Curanji, com acompanhamento da Orquestra Victor. Ainda nesse ano, conheceu seu primeiro grande sucesso, a marcha “Pra você gostar de mim (Taí)”, de Joubert de Carvalho. O disco vendeu 35 mil cópias, fato inédito até então. Essa marcha seria o grande sucesso do carnaval. Tal êxito lhe valeu um contrato de dois anos com a RCA Victor. Em seguida, gravou o samba “O meu amor tem” e a marcha “Eu quero casar com você”, ambas de André Filho. No ano de 1930, gravou 40 músicas pela Victor, entre as quais as canções “Gostinho diferente” e “Neguinho”, de Joubert de Carvalho; os sambas “Pra judiá de você”, de Oscar Codrona e Carlos Medina, e “Feitiço gorado”, de Sinhô; as marchas “Eu sou do barulho” e “Quero ver você chorar”, de Joubert de Carvalho, e duas composições nas quais aparece como parceira, o samba “Os home implica comigo”, com Pixinguinha, samba satírico, bem ao gosto do teatro de revista, e a marcha “Por ti estou presa”, com Josué de Barros.
Em 1931, gravou entre outras composições, as marchas “Absolutamente”, de Joubert de Carvalho e Olegário Mariano e “Foi ele…foi ela”, de Joubert de Carvalho e Paulo Roberto, e os sambas “Não tens razão” e “E depois”, de Jonjoca; os sambas “Sonhei que era feliz” e “Nosso amô veio dum sonho” e a marcha “Isto é xodó”, de Ary Barroso, e os sambas “Quando me lembro” e “Por causa de você”, de André Filho. Nesse ano, embarcou para uma temporada em Buenos Aires ao lado de Francisco Alves. Na ocasião foi acompanhada por grandes nomes do cenário musical brasileiro, como Mário Reis, Luperce Miranda, Tute e outros. Na volta, trabalhou na Rádio Mayrink Veiga e depois assinou um ótimo contrato com a Rádio Tupi. Em 1932, além de participar do filme semidocumentário “Carnaval cantado em 1932 no Rio”, exibiu-se ao lado de Donga no Fluminense Futebol Clube, com orquestra de astros com Radamés Gnattali, Luís Americano e Eleazar de Carvalho sob a batuta de Pixinguinha. Gravou em 1932, aquele que seria o único samba de Cartola interpretado por ela, “Tenho um novo amor”, gravação acompanhada pela orquestra de Harry Kossarin e seus almirantes. Nesse ano, fez as primeiras gravações de composições de Assis Valente de quem se tornou grande intérprete, a marcha “Good-bye” e o samba “Etc…”. Também em 1932, fez “shows” no Cine-Teatro Eldorado ao lado de Almirante, Lamartine Babo e outros. Em seguida participou do 2º Broadway Cocktail, promovido por uma empresa proprietária do Cine-Teatro Broadway. Fez ainda excursão à Bahia e a Pernambuco, acompanhada de Josué de Barros e seu filho Betinho.
Em 1933, fez sucesso no carnaval com a marcha “Moleque indigesto”, de Lamartine Babo, gravada em dueto com o próprio Lamartine Babo com acompanhamento do Grupo da Guarda Velha. Gravou também nesse ano os sambas “Quando você morrer”, de Donga e Aldo Taranto, e “Vou navegar” e “Nosso amor vai morrendo”, de André Filho. Ainda no mesmo ano, gravou com Mário Reis a marcha-junina “Chegou a hora da fogueira”, de grande sucesso, e o samba “Tarde na serra”, ambos de Lamartine Babo. Participou do filme “A voz do carnaval”, com direção de Adhemar Gonzaga e Humberto Mauro, interpretando as músicas “Moleque indigesto”, de Lamartine Babo, e “Good-Bye”, de Assis Valente. Também nesse ano, fez nova excursão à capital argentina, ao lado de Betinho e J. Medina.
Em 1934, gravou em dueto com mais quatro artistas: com Patrício Teixeira o samba “Perdi minha mascote”, de João da Bahiana; com Lamartine Babo as marchas “Dois a dois” e “Eu também”, do próprio Lamartine Babo, e “O . K…”, de Jurandir Santos; com Mário Reis os sambas “Me respeite…ouviu?”, de Valfrido Silva, e “Alô?…Alô?…”, de André Filho, e a marcha “Isto é lá com Santo Antônio”, de Lamartine Babo, e, com Almirante o samba “Pra que amar”, de Assis Valente. Gravou sozinha as marchas “Eu quero te dar um beijo” e “Uma vezinha só”, de Joubert de Carvalho; “Tenho raiva do luar” e “Acorda São João”, de Assis Valente, e “Balão que muito sobe”, de Ary Barroso e Osvaldo Santiago, além do samba-canção “Na batucada da vida”, de Ary Barroso e Luiz Peixoto. Gravou também os primeiros sambas de Sinval Silva, “Ao voltar do samba” e “Alvorada”. Ainda nesse ano, fez grande sucesso com o samba “Minha embaixada chegou”, de Assis Valente, com acompanhamento do Grupo do Canhoto. Ainda em 1934, perfeitamente consciente dos limites de sua extensão vocal, comprou um microfone e dois alto-falantes importados da Alemanha. A partir dessa época, passou a escolher seus músicos. Em outubro de 1934 voltou a Buenos Aires para várias apresentações.
Em janeiro de 1935, lançou com sucesso o samba “Por causa de você, ioiô”, de Assis Valente. Nesse período gravou as marchas “Moreno”, de Alcebíades Barcelos e Dan Malio Carneiro; “Entre outras coisas”, de Alcebíades Barcelos e Valfrido Silva; “Seu Abóbora”, de Lamartine Babo e Hervê Cordovil, e “Sorrisos”, de Hervê Codovil e João de Barro. Nesse ano, participou do filme “Alô, alô, Brasil!”, com direção de Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro interpretando “Primavera no Rio”, de João de Barro, com acompanhada ao piano de Muraro, número de encerramento do filme, privilégio normalmente concedido aos maiores astros. Também nesse ano, foi contratada pela Odeon onde estreou cantando a marcha “Foi numa noite assim” e o samba “Queixas de colombina”, da dupla Arlindo Marques Jr e Roberto Roberti. Ainda nesse ano, fez sucesso com outro samba de Assis Valente, “E bateu-se a chapa”. Outros sucessos desse ano foram os sambas “Tic-tac do meu coração”, de Valfrido Silva e Alcyr Pires Vermelho, e “Adeus batucada”, de Synval Silva. Outro filme do qual participou nesse ano foi “Estudantes”, com direção de Wallace Downey, interpretando a marcha “Sonho de papel”, de Alberto Ribeiro, e o samba “E bateu-se a chapa”, de Assis Valente.
Para o carnaval de 1936, lançou as marchas “O que é que você fazia?”, de Noel Rosa e Hervê Cordovil, único registro seu do “Poeta da Vila”, e “Alô, alô carnaval”, de Hervê Cordovil e Lamartine Babo. Nesse ano, gravou com a irmã Aurora Miranda e com acompanhamento da Orquestra Odeon aquele que seria um dos maiores sucesso de sua carreira, a marcha “Cantoras do Rádio”, de João de Barro, Alberto Ribeiro e Lamartine Babo. Também em 1936, apresentou-se em São Paulo, no Cine República e na Rádio Record. Em julho desse ano embarcou novamente para Buenos Aires, a fim de se apresentar na Rádio Belgrano, ao lado da irmã Aurora, Laurindo de Almeida, Sut, Zé Carioca e outros. Recusou, na ocasião, um convite para participar de um filme, além de um contrato na Rádio El Mundo. A constante ida à capital argentina criou uma legião de fãs, incluindo uma que acabaria sendo a primeira dama do país. O episódio do assédio de Eva Duarte, futura Sra. Perón, quando ela se encontrava em um hotel de Buenos Aires, é contado com detalhes por Cássio Barsante em seu livro “Carmen Miranda”. Em dezembro de 1936 apresentou-se pela primeira vez no Cassino da Urca, ao lado da irmã Aurora. Nesse ano, atuou no filme “Alô, alô, carnaval!”, com direção de Adhemar Gonzaga, filme no qual interpretou as músicas “Querido Adão” e, com a irmã Aurora Miranda, “Cantores de rádio”. Nos anos seguintes fez excursões à Argentina e a várias cidades paulistas. Fez nesse ano uma série de novas gravações, entre as quais os sambas “Cuíca, pandeiro, tamborim…”, de Custódio Mesquita, e “Sambista da Cinelândia”, de Custódio Mesquita e Mário Lago; as marchas “Ninguém tem um amor igual ao meu” e “Terra morena”, de Joubert de Carvalho, e o grande sucesso que foi a batucada “No tabuleiro da baiana”, de Ary Barroso, cantada em dueto com Luiz Barbosa com acompanhamento do Grupo regional de Pixinguinha e Luperce Miranda.
Em janeiro de 1937, lançou para o carnaval as marchas “Minha terra tem palmeiras” e “Balancê”, de João de Barro e Alberto Ribeiro, alcançando sucesso com essa última. Ainda nesse ano, gravou os sambas “Saudade de você” e “Gente bamba”, de Synval Silva; “Canjiquinha quente”, de Roberto Martins, e “Cabaré no morro”, de Herivelto Martins, e o samba-choro “Me dá, me dá”, de Portelo Juno e Cícero Nunes. Da dupla Paulo Barbosa e Osvaldo Santiago, registrou a marcha “Dona Gueixa” e a marcha-frevo “No frevo do amor”. Com Sílvio Caldas gravou o samba-jongo “Quando eu penso na Bahia”, de Ary Barroso e Luiz Peixoto. Seu grande sucesso neste ano, entretanto, foi o samba-choro “Camisa listrada”, de Assis Valente.
Teve grande êxito em 1938 com o samba-choro “E o mundo não se acabou”, de Assis Valente, e com o samba-jongo “Na baixa do sapateiro”, de Ary Barroso. Gravou também nesse ano os sambas “Foi embora pra Europa” e “Quem condena a batucada”, de Nelson Peterson; a rumba “Sai da toca Brasil”, de Joubert de Carvalho; a marcha “Endereço errado”, de Paulo Carvalho; o choro “Meu rádio e meu mulato”, de Herivelto Martins, e, com o Trio de Ouro, o samba-jongo “Na Bahia”, de Herivelto Martins e Humberto Porto. Duas gravações se destacaram nesse ano, uma pela raridade, o samba “Deixa falar”, de Nelson Peterson, em dueto com Ary Barroso e, outra pelo sucesso, a cena-carioca “Boneca de pixe”, de Ary Barroso e Luiz Iglésias, em dueto com Almirante. Em dezembro de 1938, o ator Tyrone Power, vendo-a em “show” no Cassino da Urca, entusiasmou-se com seu talento.
Em janeiro de 1939 foi ovacionada por cerca de 200 mil pessoas em um concurso promovido pela Prefeitura do então Distrito Federal, quando cantou “Boneca de piche”, de Ary Barroso e Luiz Iglésias, um de seus grandes sucessos. Foi ainda nesse ano que ocorreu o incidente que uniria definitivamente o compositor Dorival Caymmi à história do “mito Carmen”. A cantora estava gravando cenas do filme “Banana da terra” e, numa delas, interpretaria duas músicas de Ary Barroso, “Na Baixa do Sapateiro” e “Boneca de piche”. Como o compositor exigiu um preço altíssimo por sua inclusão no filme, o diretor Wallace Downey pediu a ela e a João de Barro que arranjassem outro compositor que tivesse composições com temática baiana. A cantora lembrou-se de um jovem que lhe mostrara uma música que registrava as belezas da Bahia. Era Dorival Caymmi, e a música em questão, “O que é que a baiana tem?”. Assim, “A pequena notável” apareceu pela primeira vez com o traje de baiana que a imortalizaria, cantando, ao lado de Dorival Caymmi, a música no filme “Banana da terra”. Nesse ano, lançou o disco no qual aparece cantando em dueto com Dorival Caymmi duas obras do compositor baiano, o samba “O que é que é que a baiana tem?” e a cena-típica “A preta do acarajé”. Gravou duas novas composições de Synval Silva, o samba “Amor ideal” e a marcha “Nosso amor não foi assim” e, dois sambas de Laurindo de Almeida, “Mulato antimetropolitano” e “Você nasceu pra ser granfina”. Em fevereiro de 1939, em uma apresentação no Cassino da Urca, foi vista pelo empresário Lee Schubert, que acabou contratando-a para uma temporada na Broadway. Embarcou para os Estados Unidos ao lado de quatro integrantes do Bando da Lua, conjunto liderado por Aloysio de Oliveira, que fez absoluta questão que a acompanhasse para os shows na Broadway. Além de participar da revista “Ruas de Paris”, fez vários “shows”, participou da Feira Mundial e do filme “Down Argentine Way” (Serenata Tropical).
De volta ao Brasil, em julho de 1940, aceitou convite para cantar no Cassino da Urca, sendo então recebida com frieza por uma platéia seleta. O episódio marcou profundamente a cantora, que dois meses depois voltou ao Cassino para show em que apresentou com êxito “Disseram que eu voltei americanizada”, uma das últimas músicas que gravou no Brasil, além de “Voltei pro morro”, “Diz que tem” e “Disso é que eu gosto”, todas com a mesma temática, ou seja, reafirmar o espírito nacionalista da cantora. Meses depois, embarcou novamente para os Estados Unidos, levando a mãe. Vencendo a barreira da língua com talento e criatividade, participou de várias produções cinematográficas. Antes de voltar aos Estados Unidos, gravou os sambas “Voltei pro morro”, de Vicente Paiva e Luiz Peixoto; “Diz que tem…”, de Vicente Paiva e Haníbal Cruz. Gravou também, da dupla Vicente Paiva e Luiz Peixoto, o choro “Disso é que eu gosto” e o samba “Disseram que eu voltei americanizada”. Lançou ainda os sambas “Recenseamento”, de Assis Valente, e, em dueto com Almirante, “Bruxinha de pano”, de Vicente Paiva e Luiz Peixoto. Os contratos com as grandes produtoras de Hollywood não a impediam de fazer “shows”. Criou fama de competência, pois dificilmente os diretores pediam que suas cenas fossem repetidas, tendo até recebido o apelido de “one take girl”, pela facilidade com que se entregava às cenas.
Em 1941, na ocasião do lançamento de “Uma noite no Rio”, foi eleita a melhor atriz do ano pela revista “Photoplay”. Ainda em 1941, foi convidada a deixar a impressão de suas mãos e de seus famosos tamancos na calçada da fama do Teatro Chinês, em Los Angeles, onde foi a única artista sul-americana a ter suas marcas. Nesse ano, atuou na revista “Sons OFun” na Broadway, ao lado de vários artistas. O teatro Winter Garden ficou pequeno para receber a multidão que compareceu a sua estréia. Nessa época recebeu convite da Decca Records para gravar alguns discos. Ainda em 1941, foi lançado o disco com sua última gravação no Brasil, feita em setembro do ano anterior, disco no qual cantou em dueto com Barbosa Júnior os choros “Blaque-blaque” e “Ginga-ginga”, da dupla Gomes Filho e Juraci de Araújo, e que não obtiveram grande sucesso.
Em 1942, estreou com sucesso um “show” no Roxy Theatre, cuja temporada se estendeu até 1943. Na época da Segunda Guerra Mundial fez inúmeros “shows” para os operários da indústria bélica. Em 1945, segundo lista fornecida pelo Tesouro Americano, foi a artista mais bem paga dos EUA. Em 1948, fez excursão com o Bando da Lua, pela primeira vez, à Europa, onde se apresentou no Palladium, de Londres. Na década de 1950 já era notório o fato de que sua vida profissional atingira um ritmo alucinante. Em 1953, fez longa excursão à Europa. Na época declararia aos jornais: “Se me perguntarem o que achei de Roma, Milão, Bruxelas, de Oslo, Helsinque, Copenhague ou Estocolmo, não saberei responder”. E falando sobre a excursão às pequenas cidades européias: “… Adorei tudo isso, esforcei-me ainda mais para agradar a esse público assim tão sincero, mas acabei esgotada. Fiz o resto da viagem, e das minhas apresentações, já fortemente abalada”. Na volta aos EUA, seu médico a aconselhou a tirar férias por três meses. Apesar do alerta, assinou contrato para 12 “shows” no Shamrock Hotel de Houston.
No início de 1954, depois de outras temporadas de “shows”, teve um colapso nervoso e foi internada no Hospital Saint Jones, em Palm Springs. Na época, submeteu-se a tratamento psiquiátrico, incluindo choques elétricos, que acabaram por abatê-la psicologicamente ainda mais. Como os tratamentos não surtiram efeito, os médicos aconselharam uma viagem ao Brasil. Depois de relutar, ela chegou ao Brasil em 3 de dezembro de 1954, recebida por amigos e público com muito carinho. Passou semanas longe das badalações. Aos poucos, começou a aceitar convites para festas e para assistir a espetáculos. Num show de Grande Otelo na boate Casablanca, chegou a subir ao palco com o amigo e cantar, em meio às lágrimas, a célebre “Taí”. Compareceu a vários shows, sempre sendo homenageada por todos, mas também homenageando talentos novos que a haviam impressionado, como Ângela Maria e Elizeth Cardoso. Apesar de seu desejo de permanecer no Brasil, telefonemas de David Sebastian instigaram a cantora a voltar para a América. Ao se despedir, declarou: “Quando vocês menos esperarem, mais depressa do que pensam, estou dando as caras – e então para ficar”. Ninguém esperava, entretanto, que sua volta fosse tão rápida e tão tragicamente definitiva. Ao retornar aos EUA, voltou aos poucos a assumir compromissos. Fez shows em Las Vegas e viajou a Cuba, para uma temporada no famoso Tropicana. Voltou aos EUA com forte bronquite e nem teve tempo de curar-se para os ensaios de um show televisivo que faria. No último dia de filmagem do show de Jimmy Durante para a TV americana, sentiu-se mal, sussurrando baixinho: “Jimmy, estou com falta de ar”. Depois da gravação, a cantora saiu com um grupo de amigos para uma esticada. Depois de irem à inauguração do primeiro restaurante brasileiro nos EUA, a Casa do Brasil, assistiram à dublagem do filme “A Dama e o vagabundo”, de Walt Disney. Chegando em casa, o grupo ainda conversou um pouco. Por volta de duas e meia da manhã, recolheu-se a seu quarto. Às 10 horas do dia seguinte foi encontrada morta pela governanta. Nos EUA, gravou 16 discos pela Decca Records e trabalhou em 14 produções cinematográficas. Depois de sua morte, em 5 de dezembro de 1956, foi criado o Museu Carmen Miranda, por decreto do Prefeito Negrão de Lima. O museu, no entanto, não saiu do papel.
Em 1960, foi inaugurado busto de bronze em sua homenagem, no Largo da Carioca, posteriormente transferido para a Praia da Bica, na Ilha do Governador. Em 1968, todo o seu acervo, contido em 12 malas, ficou sob a guarda do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, cujo diretor Ricardo Cravo Albin montou uma primeira exposição do que seria o futuro Museu Carmen Miranda que finalmente foi inaugurado no Parque do Flamengo. O MIS ainda a homenagearia com o 1º LP pelo selo MIS editado com matrizes Odeon (1965) e com uma gravação realizada por amigos por seus 30 anos de morte.
Em 1969, Adhemar Gonzaga dirigiu o documentário “Carmen Miranda”, produzido pelo INC. Em 1972 recebeu homenagem da Escola de Samba Império Serrano, com o tema “Alô, alô, taí Carmen Miranda”, que rendeu um belo samba-enredo, até hoje muito cantado nos carnavais. Em 1978, o pesquisador Abel Cardoso Júnior realizou estudo biográfico com o título “Carmen Miranda – a cantora do Brasil”. Em 1985, recebeu biografia ilustrada de Cássio Emmanuel Barsante intitulada “Carmen Miranda”.
Em 1994, Helena Solberg lançou o documentário “Carmen Miranda – banana is my business”, reunindo importantes depoimentos sobre cantora, como os de Aloysio de Oliveira, Aurora Miranda e Lauren Bacal, entre muitos outros. Em 2001, a atriz e cantora Stella Miranda estrelou o musical “South American Way”, escrito e dirigido por Miguel Fallabela. No mesmo ano, o cantor e compositor Eduardo Dussek estreou um show inteiramente dedicado ao repertório dela, lançando um CD e um songbook em homenagem à cantora. Ainda em 2001, foi homenageada pelo grupo Cantoras do Rádio no show “Estão voltando as flores”, escrito e dirigido por Ricardo Cravo Albin quando ela e Aurora eram revividas por Ellen de Lima e Carminha Mascarenhas, envergando réplicas dos casacos de scola que ambas cantavam “Cantoras do rádio” no filme “Alô, alô Carnaval”. O show virou CD pela Som Livre com o mesmo título “Estão voltando as flores”.
Em 2003, o espetáculo “”South American Way”, escrito e dirigido por Miguel Fallabela voltou ao cartaz com sucesso no Teatro João Caetano, centro do Rio de Janeiro. Ao todo, gravou pela RCA Victor, entre 1929 e 1935, 77 discos com 150 músicas e mais 65 disco com 130 músicas pela Odeon. Só no Brasil gravou ao todo 280 músicas. Sua trajetória sempre foi marcada pelo sucesso, alcançado pelo enorme carisma, personalidade, profissionalismo e por forte investimento da então indústria cultural, tanto no Brasil como no exterior, que soube aproveitar todo o seu potencial. A cantora foi a primeira artista a alcançar sucesso por meio do disco elétrico no Brasil. Em 2004, seus duetos com Mário Reis nas marchas juninas “Chegou a hora da fogueira” e “Isto é lá com Santo Antônio”, ambas de Lamartine Babo, foram incluídos na caixa de três CDs “Um cantor moderno” lançada pela BMG com a obra do cantor Mário Reis. Em 2005, por ocasião dos 50 anos de seu falecimento, recebeu diversas homenagens, entre as quais, o espetáculo “Yes, nós temos Pêra – Marília Pêra canta Carmen Miranda”, musical de Maurício Sherman que contou com a participação especial do dançarino Carlinhos de Jesus, apresentado no Teatro João Caetano. No mesmo ano, foi homenageada com uma exposição sobre sua vida e obra no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Segundo os organizadores da exposição, a mostra “Carmen Miranda para sempre” , é a maior e mais completa exposição já dedicada à mais célebre estrela internacional brasileira do século 20″. Dividida em duas fases, a americana e a brasileira, a exposição reuniu cerca de 700 peças de acervos da família da cantora, de colecionadores e do Museu Carmen Miranda. Foram expostos trajes, jóias, partituras, discos, artigos de jornal, e capas de revistas, além de uma série de 30 fotos inéditas realizadas em 1931, em Buenos Aires, pela fotógrafa alemã Annemarie Heinrich, durante a primeira apresentação da cantora na capital argentina. No mesmo ano, foi lançado o livro “Carmen: uma biografia”, de autoria do jornalista Rui Castro, após cinco anos de pesquisas. Em 2009, por ocasião das comemorações do centenário de seu nascimento recebeu diversas homenagens. No Sesc Ipiranga, em São Paulo aconteceu o projeto “Entre Babados e Balangandãs” no qual se apresentou a cantora Ná Ozzetti, com o show “Balangandãs”, acompanhada dos músicos Dante Ozzetti, no violão, Mário Manga, na guitarra, violão e violoncelo, Zé Alexandre Carvalho, no contrabaixo acústico, e Sérgio Reze, na bateria e percussão. Ná Ozzeti interpretou clássicos de Carmen. Também no mesmo projeto se apresentaram o trio Revista do Samba, tendo a cantora Letícia Coura entre as integrantes, a Sapo Banjo Orquestra, e a cantora Yvette Matos com sua banda que se apresentou intercalando histórias e clássicos de Carmen Miranda interpretando marchinhas e sambas clássicos de Dorival Caymmi, Assis Valente, Lamartine Babo e Ary Barroso, entre outros. Ainda por conta das homenagens ao seu centenário de nascimento, foi realizado um ciclo de palestras e apresentação de filmes nos quais ela atuou no Museu Carmen Miranda, no Rio de Janeiro, e o lançamento de medalhas comemorativas de ouro, prata e bronze pela Casa da Moeda. Ainda no mesmo ano, foi homenageada pelo Grêmio Recreativo Escola de Samba Sereno de Campo Grande que desfilou no grupo de acesso B no carnaval carioca na Marquês de Sapucaí com o enredo “Eu fiz tudo pra você não esquecer de mim “Ta í” 100 anos de Carmen Miranda”. Foi também organizada pela Secretaria Estadual de Cultura a “Semana Carmen Miranda” com atividades gratuitas que incluíram palestras do escritor Ruy Castro, filmes, shows, apresentação da Escola de Samba Império Serrano, retrospectiva da carreira da cantora e uma intervenção do artista plástico Luiz Stein que projetou imagens da cantora dançando na parte externa do Museu Carmen Miranda. Foi doado ao acervo do museu pelo artista plástico Ulysses Rabelo uma escultura de resina em tamanho natural da cantora vestida com uma réplica do traje usado por ela no filme “Uma noite no Rio”. Também em 2009, foi homenageada no Museu Carmen Miranda com a série de shows “Alô alô: 100 anos de Carmen Miranda”. Foram realizados quatro espetáculos: Roberta Sá e Pedro Luís fizeram um panorama da obra da cantora, Beatriz Faria e Marcos Sacramento mostraram canções gravadas na fase americana, Verônica Ferriani e Pedro Miranda interpretaram as músicas menos conhecidas, e Eduardo Dussek e Rita Benedito cantaram os grandes sucessos. Ainda nesse ano, foi também homenageada pela Academia Brasileira de Letras no projeto “MPB na ABL” apresentado no Teatro R. Magalhães Jr., daquela entidade, com o show “Na batucada da vida” apresentado por Clara Sandroni e Marcos Sacramento. Ainda nesse ano, foi lançado pela Sony BMG o CD dupla “Carmen Miranda – 100 Anos: Duetos e Outras Carmens”. O primeiro CD apresenta duetos da cantora com diferentes intérpretes: “Alô alô”; “Chegou a hora da fogueira”; “Isto é lá com Santo Antônio” e “Tarde na serra”, todas em dueto com Mário Reis; “Moleque indigesto”; “Dois a dois” e “Eu também”, as três com Lamartine Babo; “Gira!”, com Silvio Caldas; “Retiro da saudade”, com a participação especial de Francisco Alves; “Pra quem sabe dar valor”, com Carlos Galhardo; “Perdi minha mascote”, com Patrício Teixeira; “Isola! Isola!”, com Murilo Caldas, e “Vou espalhando por ai…” com a dupla Jonjoca & Castro Barbosa. Já o CD dois apresentou músicas gravadas por ela e atualizadas na voz de diferentes interpretes, tais como, “Camisa listrada”, em gravação inédita de Elza Soares; “Cachorro vira lata” com Baby do Brasil; “E o mundo não se acabou” com Adriana Calcanhoto; “Fon-fon” com Gal Costa; “Eu dei” com Marília Barbosa; “Disseram que eu voltei americanizada” com Caetano Veloso; “No tabuleiro da baiana” com João Bosco e Daniela Mercury; “Uva de caminhão” com Olyvia Byngton & João Carlos Assis Brasil; “Na Baixa do Sapateiro” com Evinha; “Quando eu penso na Bahia” com Maria Bethânia e Chico Buarque; “O que é que a baiana tem?” com Rita Lee; “Paris” com Elba Ramalho; “Cozinheira granfina” com Daltony e Maria Alcina, o pot-pourri de marchas carnavalescas “Tico tico no fubá/ Diz que tem / Mamãe eu quero” com Maria Alcina e DJ Zé Pedro, esta também uma gravação inédita. Outro evento ligado ao centenário de seu nascimento foi a reestréia do espetáculo musical “Carmen, o it brasileiro” no Teatro João Caetano, com texto de Fátima Valença, direção de Antonio DeBonis e direção musical de Alexandre Elias, e com a atriz Andrea Veiga no papel da cantora, a peça mostra o início da trajetória até a formação do mito em torno da cantora. Em 2019, um turbante seu, cedido pelo Museu Carmen Miranda, no Rio de Janeiro, foi colocado na muito divulgada exposição de moda do Metropolitan Museum of Art, de Nona York ao lado de criações de estilistas como Paul Gaultier, Marc Jacobs e Gianni Versace. Em contrapartida pela exposição do turbante, o Metropolitan Museum restaurou uma saia e um spencer da cantora. No mesmo ano, o jornal O Globo publicou uma polêmica levantada pelo pesquisador Vagner Fernandes do bloco Timoneiros da Viola que afirmou que a cantora não quis gravar o samba “Brasil pandeiro”, de Assis Valente, pois a letra ironizava os Estados Unidos. Mas, segundo o biógrafo da artista, Ruy Castro, autor do livro “Carmen – Uma biografia”, na realidade, segundo depoimento ao jornal, porque “a letra dizia “O Tio Sam está querendo conhecer a nossa feijoada/Está dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato/Vai entrar no cuzcuz, acarajé e abará/Na Casa Branca já dançou a batucada com ioiô e iaiá”, referências a ela própria, que cantara de baiana na Casa Branca no ano anterior, 1939. Carmen, em sua modéstia, achava que não ficaria bem ela própria cantar um samba que a glorificava – disse Ruy”.
(Com Almirante)
(Com Aurora Miranda)
(Com Mário Reis)
(Com Castro Barbosa)
(Com Lamartine Babo, Almirante e Mário Reis)
(Com Mário Reis)
(Com Carlos Galhardo)
(Com Mário Reis)
(Com Patrício Teixeira)
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Carmen Miranda também vem merecendo citações, livros e artigos em praticamente todo o mundo, que a incensam como um ícone do exagero tropicalista brasileiro, da luxuriante “extravaganza” musical de Hollywood nos anos 40 e até da alegria desenfreada que sua figura emitia. Figura que era uma rara conjugação de olhos, mãos e corpo inteiro ondulante, cujo ponto culminante estava não só nos turbantes recheados com frutas dos trópicos, como nas frases metralhadas em português dentro do seu inglês de forte sotaque latino-americano. Mas quem foi, lá no fundo da alma, essa portuguesa de nascimento (Marco de Canavezes, vila de colhedores de nobre vinhedo, perto do Porto), que veio morar no Rio com apenas um ano de idade?
Vale dizer que Carmen Miranda foi: 1 — a rainha absoluta da época de ouro da MPB no Brasil (1930-1940), gravando dezenas de sucessos. Um filete de voz projetado com tal charme e “swing”, que logo conquistaria o país e deixaria no chinelo sua inspiradora, a supervedete Aracy Cortes; 2 — a rainha absoluta de Hollywood entre 1941 e 1949, quando chegou a ser a estrela de cinema mais bem paga do mundo, estrelando filmes de qualidade até duvidosa (reconheço), mas iluminados por sua personalidade magnética. Quem duvidar que faça um exercício: veja no vídeo qualquer filme da Carmen e tente tirar os olhos dela quando aparece em cena. Como resistir a um ser quase de um outro planeta?
Carmen foi, sim, um ser especialíssimo e iluminado: bem-humorada e feliz, era capaz de dizer palavrões com uma graça tal, que ninguém se dava conta dos ditos cabeludos, insuportáveis em qualquer outra mulher de sua época.
Só que, mesmo cercada pelo namorado Aluysio de Oliveira (do Bando da Lua), teve que curvar-se ao catolicismo de sua mãe. E, para satisfazê-la, casou-se. Com o homem errado, o produtor David Sebastian. Data daí, do casamento, seu infortúnio e sua perdição. O marido, quase um rufião, explorava-lhe como empresário e a torturava como homem, chegando ao desatino de lhe aplicar pancadas em público. O que a levou quase à loucura e ao trágico fim, provocado pela ingestão de excitantes (bolinhas) para acordar, dormir e até se alimentar.
Ou seja, vivendo nas telas a “féerie” do samba saltitante, vivia em casa o drama soturno do bolero mexicano mais chinfrim. Não poderia dar bom resultado. Por isso tudo, Carmen sucumbiu aos 46 anos. Morte prematura que ajudou, a meu ver, a preservar o mito e a “persona” que ela representava com frescor e vivacidade.
Ricardo Cravo Albin