5.001
Nome Artístico
Caninha
Nome verdadeiro
José Luiz de Morais
Data de nascimento
6/7/1883
Local de nascimento
Rio de Janeiro, RJ
Data de morte
16/6/1961
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Compositor.

Considerado um dos pioneiros do início do samba sendo amigo de Donga, Pixinguinha, João da Bahiana e Heitor dos Prazeres, entre outros. Nasceu no bairro carioca de Jacarepaguá. Era filho de um carpinteiro e um de seus avós era violonista. Ainda criança mudou-se para a Cidade Nova. Ficou órfão com cerca de oito anos. Foi então morar com uma prima de seu pai e fugiu de casa aos 12 anos. Trabalhou numa padaria no Méier e posteriormente passou a vender roletes de cana o que lhe valeu o apelido de “Caninha Doce” e depois simplesmente “Caninha”. Trabalhou ainda como pedreiro, ajudante de mecânico na Marinha Mercante e foi dono de pontos de venda de jornais na Central do Brasil. Ingressou posteriormente como na Alfândega do Rio de Janeiro como operário de carpintaria. Trabalhou também no guichê de venda de selos de imposto. Ainda jovem começou a freqüentar as casas das tias baianas da Cidade Nova, entre as quais a casa da famosa Tia Ciata. Estudou cavaquinho com Adolfo Freire.

Casou-se em 1942, mas não teve filhos. Em 1945, aposentou-se após trabalhar 20 anos na Alfândega e mais 21 na Recebedoria do Distrito Federal. Faleceu em casa, ás vésperas de completar 78 anos de idade em sua casa no bairro carioca de Olaria. Um ano antes, havia sido dado como morto pela prefeitura do Distrito Federal que colocara seu nome junto ao de compositores desaparecidos como Sinhô e Noel Rosa a título de homenagem.

Dados artísticos

Na década de 1920 foi o principal rival do compositor Sinhô na disputa pelo título de “Rei do samba”. Foi um dos fundadores do Rancho “Dois de Ouro”, do bairro carioca da Saúde. Fez parte também dos ranchos “Balão de Rosa” e “Rosa Branca”. Ajudou a fundar os ranchos “União dos Amores” e “Reinado das Fadas”. Foi diretor de canto do rancho “Recreio das Flores”. Em 1918, participou com sucesso da Festa da Penha com o maxixe “Gripe espanhola”. Atuou nas festas da Penha com os grupos Grupo Sou Brasileiro e Grupo da Cidade Nova, do qual fazia parte Pixinguinha.

Em 1919, seus sambas-carnavalescos “Ninguém escapa do feitiço”, seu primeiro grande sucesso, e “Até parece coisa feita”, foram gravados na Odeon respectivamente pelo Grupo dos Oito Emissários e pelo Grupo do Além. No mesmo ano, o samba-carnavalesco “Quem vem atrás feche a porta” recebeu três gravações diferentes na Odeon: em dueto, por Bahiano e Izaltina; pelo Grupo do Além e pela Banda da Casa Edson. Em 1920, os sambas-carnavalescos “Que vizinha danada” e “Essa nega que me dá” foram gravados na Odeon pelo Grupo do Moringa, e também pelo cantor Bahiano.

Em 1921, a Banda do Corpo de Bombeiros regravou o samba “Essa nega qué me dá”, que fez bastante sucesso. Nesse ano, seu samba “Domingo eu vou lá” foi gravado pelo Grupo do Pixinguinha, e logo depois regravado pelo cantor Bahiano, que gravou também o samba “Onde está o dinheiro?”. Em 1922, venceu o concurso carnavalesco da Festa da Penha com a marcha rag-time “Me sinto mal”, que fez estrondoso sucesso popular sendo gravado na Odeon pelo cantor Bahiano. No ano seguinte, a marcha “Meu amor qué me batê” foi gravado por Bahiano. Em 1924, teve gravados pela Orquestra Brasil-América o maxixe “Sai azar” e a marcha “Isto não é vida”. Nesse ano, seu maxixe “Na Bahia” foi lançado pelo cantor Fernando, que no ano seguinte, gravou o maxixe-carnavalesco “Amor”, e o samba “Está na hora”, que fez bastante sucesso. Ainda em 1925, o samba “Está na hora” foi regravado pela Jazz Band Sul Americana. Em 1926, Fernando gravou o samba “Vou morar no Estácio” e o maxixe “Se a moda pega!…”. Nesse ano, fez sucesso com o samba-carnavalesco “Rosinha”, gravado na Odeon por Artur Castro. No mesmo ano, Frederico Rocha gravou a marcha-carnavalesca “Já quebrou”. Em 1927, obteve o primeiro lugar no concurso “O que é nosso” promovido pelo Jornal “O Correio da Manhã” com o samba “O que é nosso”, também conhecido como “Eu sou brasileiro”, gravado com sucesso por Francisco Alves na Odeon. No mesmo concurso foi premiado também com o samba “Rosinha”, vencedor do quesito de músicas já divulgadas ou publicadas. Por ocasião das apresentações do concurso, assim referiu-se a ele o jornal “Correio da Manhã”: “Caninha (José Luiz de Moraes) – Eis um nome popularíssimo entre os mais queridos compositores que divertem a população carioca com seus sambas de arrelia, lindas canções e marchas, apresentando-se com seu conjunto”.

Em 1928, teve os sambas “Nega no fogão” e “Deixa ela”, e o maxixe “Não quero saber mais deles”, gravados por Francisco Alves, na Odeon. Nesse ano, o choro “Que ursada”, foi gravado ao bandolim por João Martins, e o samba “Vou me vingar” foi lançado por Mário Reis, também na Odeon, e o samba “Curuqueré”, foi lançado por Artur Castro na Parlophon. Em 1929, Francisco Alves gravou o samba “Quando a mulher não quer”. Em 1930, seu samba “Não fui eu!” foi gravado por Jonjoca, na Odeon, e a canção “Sinhá” foi registrada por Floriano Belham na Victor. No mesmo ano, o grupo Choro Odeon gravou o choro “Antigamente”. Em 1931, teve os sambas “Quando der uma hora!” e “Não há nada” gravados pelo Trio TBT. Nessa época começou a se afastar da carreira artística, em parte, segundo o pesquisador Ary Vasconcelos, devido à morte do rival e amigo Sinhô, com quem tivera grandes disputas carnavalescas, tendo ficado desestimulado com o desaparecimento do concorrente. Em 1933, no entanto, teve um retorno que pode ser chamado de triunfal. Teria ouvido na Casa Mangione, na Rua Gonçalves Dias, no centro do Rio de Janeiro, local de reunião de compositores, alguém referir-se a ele da seguinte maneira: “Aquilo é bananeira que já deu cacho”. Compôs então com o jornalista Visconde de Bicoíba o samba “É batucada”. Inscreveu de pronto o samba no primeiro concurso de sambas e marchas carnavalescas instituído naquele ano pela prefeitura do então Distrito Federal. No dia do concurso, seu samba foi recebido com entusiasmo pelo prefeito Pedro Ernesto e, aclamado pela multidão, acabou vencendo o concurso. Foi carregado triunfalmente pela multidão até Copacabana e recebeu do prefeito Pedro Ernesto o “Diploma de sambista”, que terminou sendo o único outorgado. No mesmo ano, o samba “É batucada” foi gravado com sucesso por Moreira da Silva na Columbia com acompanhamento do grupo Gente do Morro, de Benedito Lacerda.

Em 1954, participou juntamente com Pixinguinha, Donga, João da Bahiana, Alfredinho Flautim e outros, do Festival da Velha Guarda organizado por Almirante. Em 1955, no LP “A Velha Guarda”, lançada pela Sinter com músicas extraídas do show organizado por Almirante, foram gravadas suas composições “Essa nega qué me dá” e “Me leva, me leva seu Rafael”. Essas músicas também seriam incluídas na série de shows sobre os 100 anos da MPB, criado pelo produtor Ricardo Cravo Albin em 1975, sendo então interpretadas por Altamiro Carrilho e Paulo Tapajós no espetáculo intitulado “Do chorinho ao samba”. Participaram ambos do LP nº 1 da série de oito sob o nome geral de “MPB ao vivo”, do selo Tapecar, gravadas nos estúdios da Rádio MEC, pelo mesmo produtor um ano antes. Em 1958, o samba “É batucada” foi regravado por Aracy de Almeida no LP “O samba em pessoa”, lançado pela gravadora Polydor. Em 1966, seu samba “Essa nega quer me dar” foi relançado por Aracy de Almeida no LP “Sergio Porto, Aracy de Almeida e Billy Blanco no zum-zum” gravado ao vivo na boata Zum Zum em 1966 e lançado pelo selo Elenco.

Um dos maiores nomes do período anterior à Era do Rádio, teve mais de trinta músicas gravadas e deixou inéditas, entre outras, os sambas “Estrela matutina”; “Rainha do Brasil”; “Quando Deus me ajudar”; “Não fui eu”; “Carnaval” e “Eu vou chorar”; a marcha-junina”Meu carneiro”; a marcha “Na hora” e o maxixe “Me diga o que há”. Teve músicas gravadas por Francisco Alves, Mário Reis; Moreira da Silva; Bahiano e Artur Castro, entre outros. Seus maiores sucessos foram os sambas “O que é nosso”, “Rosinha” e “Está na hora”.

Em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin a caixa “100 anos de música popular brasileira” com a reedição em 4 CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. No volume 1 estão incluídas as gravações de seus sambas “Essa nega que me dá” e “Me leva, seu Rafael” na voz de Paulo Tapajós.

Obras
Amor
Antigamente
Até parece coisa feita
Curuqueré
Deixa ela
Domingo eu vou lá
Essa nega que me dá
Está na hora
Isto não é vida
Já quebrou
Me leva, me leva, Seu Rafael
Meu amor qué me batê
Na Bahia
Nega no fogão
Ninguém escapa do feitiço
Não fui eu!
Não há nada
Não quero saber mais deles
Não se ganha pra comer
Não é conversa
Onde está o dinheiro?
Onde o Brasil chegar
Quando a mulher não quer
Quando der uma hora
Que ursada
Que vizinha danada
Quem será
Quem vem atrás feche a porta
Rosinha
Sai azar
Se a moda pega!...
Sinhá
Teu olhar é da pontinha
Vem, vem amorzinho
Vou me vingar
Vou morar no Estácio
Vou morar no Estácio
É batucada
Bibliografia Crítica

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.

AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.

CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.

MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.

VASCONCELLO, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira – volume 2. Rio de Janeiro: Martins, 1965.