1.002
Nome Artístico
Canhoto
Nome verdadeiro
Américo Jacomino
Data de nascimento
12/2/1889
Local de nascimento
São Paulo, SP
Data de morte
7/9/1928
Local de morte
São Paulo, SP
Dados biográficos

Compositor. Violonista e cavaquinista.

Primeiro filho do casal de imigrantes napolitanos Crescêncio Jacomino e Vicência Gargiula Jacomino. Aprendeu a ler e escrever com seu pai e seu irmão Ernesto, não havendo jamais freqüentado qualquer colégio. Sua primeira profissão foi a de pintor de painéis, onde a princípio fazia apenas traços e letras. Com o domínio da profissão, chegou a realizar trabalhos de maior envergadura como paisagens, que eram muito utilizadas nas paredes das residências elegantes de São Paulo. Consta que seu primeiro instrumento tenha sido o cavaquinho, que dominava desde os 16 anos de idade, e no qual foi autodidata. Em 1922, casou-se com Maria Vieira de Moraes, quem conheceu por ocasião de um recital no Cinema São José, em Itapetininga. Tiveram dois filhos, Maria Aparecida, a quem dedicou a valsa “Manhãs de sol”, e Luís Américo, que também se tornaria violonista. Passaram a residir na cidade de São Carlos, onde Canhoto abriu uma loja de música e instrumentos musicais chamada “Casa Carlos Gomes”. Posteriormente, de volta a São Paulo, o violonista passou a viver de seus concertos e dos alunos, muitos dos quais pertencentes às mais distintas e tradicionais famílias daquele tempo. Em 1928, empregou-se no funcionalismo público, como lançador da Prefeitura.

Dados artísticos

Foi denominado Canhoto pelo curioso fato de tocar o violão com a mão esquerda, sem inverter as cordas. Diferentemente da técnica tradicional, o violonista feria as cordas agudas do instrumento com o polegar da mão esquerda e as graves com os dedos anular, médio e indicador. Em 1907, iniciou-se, profissionalmente, como integrante de um trio, atuando ao lado de Glicério na flauta e Zezinho, o futuro Zé Carioca no cavaquinho, apresentamdo-se em bares e modestos restaurantes de São Paulo. Em 1909, quando se apresentava no bar Cascata, conhece o cantor Roque Ricciardi, posteriormente célebre com o nome de Paraguaçu e passaram a se apresentar em cinemas como o Brás-Bijou, o Éden-Teatro, e em diversos restaurantes e circos.

Por volta de 1911, participou de um festival no Cine Bresser, junto com Caramuru, o violonista José Sampaio e Paraguaçu. Em 1912, já era bastante conhecido como violonista em São Paulo, tocando profissionalmente, participando de serenatas e fazendo memoráveis desafios ao violão. No ano seguinte, recebeu convite para gravar na Phoenix seu primeiro disco, onde lançou as valsas “Saudade de minha aurora” e “Belo Horizonte”, de sua autoria, em solos de violão . Ainda nesta época, formou o “Grupo do Canhoto”, um quarteto com trombone (ou flauta), clarineta, violão e cavaquinho, realizando gravações para o selo Odeon, entre as quais, a polca “Saci” e a valsa “Saudades de Iguape”, de João Batista do Nascimento e a mazurca “Amores noturnos”, de autor desconhecido.

A partir de 1914, passou a gravar regularmente para a Odeon, como solista ou com seu grupo. Ainda em 1914, gravou com seu grupo a valsa “Tuim-tuim”, a mazurca “Amores noturnos” e “Adeus Helena”, todas de autores desconhecidos. Em 1917, gravou a valsa “Acordes do violão”, que regravará em 1925 com o título de “Abismo de rosas”, sua obra-prima, que se tornou um clássico do violão brasileiro. No mesmo ano, gravou “O Frederico no choro”, de Fred del Ré; a valsa “Amores na praia” e xote “Depois do beijo”, essas duas de sua autoria, entre outras. Ainda no mesmo ano, o Grupo dos Chorosos gravou sua valsa “Olhos que falam”, que foi regravada no mesmo período por Vicente Celestino com o título de “Samaritana”, recebendo versos de Inácio Raposo. Por ocasião da Primeira Guerra Mundial compôs a “Marcha triunfal brasileira”, na qual procurava expressar o entusiamo de nosso povo pelas vitórias das forças aliadas.

Em 1919, foi convidado a integrar um trio para fazer apresentações teatrais, ao lado de Viterbo Azevedo (este representava o Jeca Tatu, célebre personagem de Monteiro Lobato), e de uma menina de 10 anos de idade, Abgail Gonçalves, mais tarde a conhecida cantora lírica Abgail Alessio. O trio estreou em São Paulo, mas pouco depois, o assasinato de Viterbo em Poços de Caldas interrompeu a carreira do grupo. No ano seguinte, compôs para o carnaval paulista entre outras peças “Ai Balbina”, com letra de Arlindo Leal e, para o carnaval seguinte, escreveu com o mesmo poeta a obra “Já se acabô”.

Em 1925, inaugurou com Paraguaçu a Rádio Educadora Paulista, hoje Rádio Gazeta. No mesmo ano, gravou solando ao violão, o tango “Porque te vuelve a mi” e o maxixe “Uma noite em Copacabana”, de sua autoria. No ano seguinte, gravou como cantor para a Odeon o samba de sua autoria “Só na Bahia é que tem”, único registro existente de sua voz. No mesmo ano, gravou acompanhamento para o cantor Paraguaçu nas modinhas “Morrer de amor” e “Ingrato amor”, de Paraguaçu; na modinha nortista “Mágoas”, de A . Pontes e na valsa “Amor que finda”, de João Portaro e Paraguaçu. Ainda neste ano, passou uma temporada em Avaré (SP), na Fazenda Santa Rosa, quando conheceu o compositor Joubert de Carvalho, que então estudava Medicina no Rio de Janeiro. Tornaram-se amigos e pouco depois, Joubert dedico-lhe a canção “Os teus olhos”, que o violonista gravou no ano seguinte.

Em fevereiro de 1927, participou do concurso “O que é nosso”, patrocinado pelo jornal Correio da Manhã, realizado no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, o qual foi vencedor por unanimidade do concurso de violonistas, executando suas obras “Marcha triunfal brasileira”; “Viola, minha viola” e “Abismo de rosas”. O julgamento deu-se em cena aberta, e o violonista foi intensamente aplaudido com quase todo o público de pé. Além dele, outros violonistas de prestígio participaram do concurso, como Ivone Rabello, João Pernambuco e Manoelito, violonista cego, integrante do grupo “Turunas de Mauricéia”, entre outros. Recebeu o título de “Rei do violão brasileiro”. De volta a São Paulo, realizou duas “Noites brasileiras”, uma no Teatro Boa Vista, e outra no Municipal onde apresentou também o grupo “Turunas paulistas”, conjunto que organizou, composto de quatro violões, flauta, saxofone, dois cavaquinhos, reco-reco, maracaxá e pandeiro. Ainda em 1927, gravou pela terceira vez a valsa “Abismo de Rosas”, além de outras obras de sua autoria como o tango “Olhos feiticeiros”, a valsa lenta “Burgueta” e a “Marcha dos marinheiros”.

Fez, ainda no mesmo ano, acompanhamento de violão para o cantor Francisco Alves na gravação da toada sertaneja “Dengosa” e da modinha “Reflexos de minha alma”, ambas de Francisco Alves. No ano seguinte, no Rio de Janeiro, gravou diversas composições suas em solos de violão e cavaquinho como a valsa “Pensamento”, o fox trote “Quando os corações se querem” e o tango-maxixe “Niterói”. Numa dessas sessões, na Odeon, sentiu-se mal, sendo atendido pelo já então médico Joubert de Carvalho.

Um último disco seu reuniu a valsa “Mexicana” e o cateretê “Uma noite na roça”, ambos de sua autoria. Pouco tempo depois, fez seu último registro fonográfico, o choro “Niterói” e a valsa “Escuta, minhalma”, gravação que não chegou a ver lançada. O coração voltou a lhe trazer problemas, sendo aconselhado pelos médicos a tratar-se no Rio de Janeiro. Chegou à então Capital Federal, mas com o agravamento de seu estado de saúde, voltou a São Paulo, onde veio a falecer. Em 1953, sua valsa “Abismo de rosas” foi regravada em interpretação de cítara por Avena de Castro em disco Copacabana, e também pelo cantor Jaime Silva pela mesma gravadora.

Em 1978, por ocasião dos 50 anos de seu falecimento, foi lançado pela Continental o LP “Homenagem a Américo Jacomino”, com a participação de diversos violonistas, entre os quais, seu filho Luís Américo Jacomino, que utilizou o violão que lhe pertencera.

Discografias
1928 Odeon 78 Amor de Argentina/Arrependida
1928 Odeon 78 Delírios/Quando os corações se querem
1928 Odeon 78 Lamentos/Mentiroso
1928 Odeon 78 Mexicana/Uma noite na roça
1928 Odeon 78 Niterói/Escuta, minh'alma
1928 Odeon 78 Os teus olhos/Pensamento
1927 Odeon 78 Abismo de rosas/Marcha dos marinheiros
1927 Odeon 78 Araci
1927 Odeon 78 Bebê
1927 Odeon 78 Brasileirita/Caprichoso
1927 Odeon 78 Dengoso
1927 Odeon 78 Em pleno mar
1927 Odeon 78 Fantasia sobre o tango "A media luz"
1927 Odeon 78 Fluminense-tango
1927 Odeon 78 Guitarra de mi tierra
1927 Odeon 78 Invejoso
1927 Odeon 78 Luizinha
1927 Odeon 78 Mamãe, eu vou com ele!
1927 Odeon 78 Marcha triunfal brasileira/Reminiscências
1927 Odeon 78 Melancolia
1927 Odeon 78 Olhos feiticeiros/Burgueta
1927 Odeon 78 Rosas desfolhadas
1927 Odeon 78 Rosas desfolhadas/Viola, minha viola
1927 Odeon 78 Santa Terezinha
1927 Odeon 78 Sonsa
1927 Odeon 78 Só na Bahia é que tem
1927 Odeon 78 Tico-tico no farelo
1927 Odeon 78 Uma noite em Ipanema
1927 Odeon 78 Uma noite em Ipanema/Tico tico no farelo
1927 Odeon 78 Viola, minha viola
1926 Odeon 78 A menina do sorriso triste
1926 Odeon 78 Alvorada de estrelas
1926 Odeon 78 Marcha dos marinheiros
1926 Odeon 78 O Guarani
1926 Odeon 78 Reminiscências
1925 Odeon 78 Abismo de rosas
1925 Odeon 78 Marcha triunfal brasileira
1925 Odeon 78 Porque te vuelve a mi
1925 Odeon 78 Uma noite em Copacabana
1917 Odeon 78 Acordes do violão
1917 Odeon 78 Amores na praia

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Angústias de amor

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Beijar, depois morrer

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Beijo e lágrimas
1917 Odeon 78 Ciúmes de amor

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Deixe de luxo

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Depois do beijo

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Ida

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Lembranças de Nina

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Longe de ti

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Madrugando
1917 Odeon 78 Nas asas de um anjo

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Noites de farra

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 O Frederico no choro

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 O paulista

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Odeon

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Pensando em ti

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Recordações de Cotinha
1917 Odeon 78 Sudan

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Suplicando amor

(Grupo do Canhoto)

1917 78 Suspirando

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Tudo mexe

(Grupo do Canhoto)

1917 Odeon 78 Último sorriso

(Grupo do Canhoto)

1913 Odeon 78 Adeus Helena

(Grupo do Canhoto)

1913 Phoenix 78 Alda

(Grupo do Canhoto)

1913 Phoenix 78 Amor constante
1913 Odeon 78 Amores noturnos

(Grupo do Canhoto)

1913 Odeon 78 Belo Horizonte
1913 Phoenix 78 Belo Horizonte
1913 Odeon 78 Campos Salles
1913 Odeon 78 Devaneio
1913 Phoenix 78 Devaneio
1913 Phoenix 78 Nas asas de um anjo

(Grupo do Canhoto)

1913 Phoenix 78 Não se impressiona
1913 Phoenix 78 Onde está Idalina
1913 Phoenix 78 Pierrata
1913 Odeon 78 Pisando na mala
1913 Phoenix 78 Saci
1913 Odeon 78 Saci

(Grupo do Canhoto)

1913 Phoenix 78 Saudade de minha aurora
1913 Odeon 78 Saudades de Iguape

(Grupo do Canhoto)

1913 Phoenix 78 Saudades de São Bernardo

(Grupo do Canhoto)

1913 Odeon 78 Seiscentos e vinte e três

(Grupo do Canhoto)

1913 Phoenix 78 Sempre feliz a teu lado

(Grupo do Canhoto)

1913 Phoenix 78 Sempre teu
1913 Odeon 78 Suplication

(Grupo do Canhoto)

1913 Phoenix 78 Tenho pressa

(Grupo do Canhoto)

1913 Phoenix 78 Tuim, tuim, tuim
1913 Odeon 78 Tuim-tuim

(Grupo do Canhoto)

1913 Phoenix 78 Uiára
Obras
A gente se defende
A menina do sorriso triste
Abismo de rosas
Acordes do coração
Ai Margarida (c/ Juca Meu Nego)
Ai momo
Ai! Balbina (c/ Arlindo Leal)
Alvorada de estrelas
Amor de Argentina
Amorosa (c/ Luis de Freitas)
Aracy
Argentina
Arrependida
Beijos e lágrimas
Belo Horizonte
Berço de lágrimas
Berço e túmulo
Brasileirita
Burgueta
Campos Salles
Caprichoso
Carnaval à noite
Chuva de pérolas
Club de Jaboticabal
Da Bahia eu quero o coco
De quem são os seus olhos
Delírios
Dengoso
Devaneio
Dia de folia
Em pleno mar
Entre duas almas
Escuta minh'alma
Essa cachorro só falta falar
Flor paulista (c/ L. Rinaldo e Arlindo Leal)
Fluminense
Foi-se embora... Maria
Guitarra de mi tierra
Invejoso
Já se acabou (c/ Arlindo Leal)
Lamentos
Lembranças de Lina
Luizinha
Lábios roxos
Lágrimas de pérola
Madrugando
Mamãe me leve
Manhã fatal
Manhãs de sol
Marcha dos marinheiros
Marcha triunfal brasileira
Melancolia
Mentiroso
Mexicana
Método prático de violão
Nas asas de um anjo
Nhá Maruca foi s'imbora
Niterói
O beijinho que te dei
O coco de Iaiá
O gato comeu o pato
Olhos feiticeiros
Olhos que falam
Ondas desertas
Pagando dívidas
Pensamento
Pisando na mala
Porque te vuelves a mi
Primeiras rosas (c/ Roque Ricciardi)
Quando os corações se querem A menina do sorriso triste
Queixumes de amor
Recordações de Cotinha
Recordações de Dalva
Reminiscências
Rosas desfolhadas
Saci
Santa Teresinha
Saudades de minha aurora
Se o telefone falasse
Sempre teu
Sombras que vivem
Sonhei, sorri, amei, descri
Sudan (A menina do sorriso triste)
Suplicando amor
Só na Bahia é que tem
Tempo antigo
Triste Pierrot (c/ Roque Ricciardi)
Triste carnaval (Sonho de pierrot)
Tudo mexe
Bibliografia Crítica

AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.

MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.

VASCONCELOS, Ary. A nova música da República Velha. Edição do autor. Rio de Janeiro, 1985.

VASCONCELOS, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira. Editora: Martins. Rio de Janeiro, 1965.