4.502
©
Nome Artístico
Blecaute
Nome verdadeiro
Otávio Henrique de Oliveira
Data de nascimento
5/12/1919
Local de nascimento
Espírito Santo do Pinhal, SP
Data de morte
9/2/1983
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Cantor. Compositor.

Órfão de pai e mãe, foi levado para São Paulo aos seis anos de idade. Lá trabalhou como engraxate e entregador de jornais. Em 1933, apresentou-se no programa de calouros “A peneira de ouro”, da Rádio Tupi. Chegou a ser uma figura muito popular no carnaval, entre os anos 1960 e 1980, incorporando a figura “General da Banda”, fantasia que ele impunhava e com a qual percorria desfiles e bailes de carnaval.

Dados artísticos

Iniciou sua carreira artística em 1941, atuando na Rádio Difusora.  Nessa época, por sugestão do Capitão Furtado, adotou o nome de Black-out, composto inglês que significa “preto por fora”, abrasileirado pela imprensa para Blecaute. Transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1942, tendo sido contratado pela Rádio Tamoio, atuando ainda  nas Rádios Mauá e Nacional. Em 1944, gravou seu primeiro disco, na Continental, registrando os sambas “Minha Tereza” de Roberto Roberti, Raul Marques e Mário Rodrigues, e “Eu agora sou casado”,  de Cristóvão de Alencar e Alcebíades Nogueira, com acompanhamento de Benedito Lacerda e seu conjunto regional. Nesse mesmo ano, participou do filme “Tristezas não pagam dívidas”, dirigido por José Carlos Burle e J. Rui.

Em 1947, gravou as marchas “Ôpa…Ôpa…, de Cristóvão de Alencar e Paulo Barbosa, e “Dona Maria”, de João Paulo e Pedro Afonso, com acompanhamento de Severino Araújo e sua orquestra Tabajara. Em 1948, gravou a primeira composição de sua autoria, o samba “Carioca bonita”, parceria com Zé Maria. Nesse ano, gravou os sambas “Chegou a bonitona”, de Geraldo Pereira e José Batista, “Zing-zing-bum”, de sua autoria e Zé Maria, “Que samba bom”, de Arnaldo Passos e Geraldo Pereira, e “Desce favela”, de Alcebíades Barcelos e Sebastião Gomes, e a marcha “Vote! Que mulher bonita !”, de João de Barro e Antônio Almeida. No carnaval  de 1949, obteve grande sucesso com a marcha “O pedreiro Valdemar”, de Wilson Batista e Roberto Martins, gravada em outubro do ano anterior com acompanhamento de Severino Araújo e Orquestra Tabajara, considerada desde logo uma música de forte conotação social. Nesse ano, gravou a toada “Moreninha, moreninha”, de Antônio Almeida e Pedro Caetano, e o samba “Meu guarda-chuva”, de Ubenor Santos e Amâncio Moraes, com acompanhamento de Severino Araújo e seu conjunto.

No final de 1949, gravou aquele que seria o grande êxito de sua carreira, sucesso  no ano seguinte, o samba “General da banda”, de Tancredo Silva, Sátiro de Melo e José Alcides, inspirado num ponto de macumba, gravado também por Linda Batista. Identificou-se  com a composição a ponto de, a partir de então, utilizar em suas apresentações uma colorida fantasia de “General da banda”, cheia de alamares e dragonas. Em 1950, gravou os sambas “Ave-Maria”, de Sinval Silva, e “Joãozinho boa pinta”, de Haroldo Barbosa e Geraldo Jacques, a marcha “Rosinha, vem cá”, de Hervê Cordovil, e o maxixe “Meu doce de coco”, de Humberto Teixeira e Carlos Barroso, este último, gravado com o grupo vocal Os Boêmios.

Já consagrado como cantor de sucessos carnavalescos, destacou-se em 1951, com a marcha “Papai Adão”, de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, e o samba “Ai cachaça”, de Manezinho Araújo e Fernando Lobo. No mesmo ano, gravou com acompanhamento de Abel Ferreira e seu conjunto os baiões “Dia dos namorados” e “O delegado quer prender o Antônio”, da dupla Haroldo Lobo e Milton de Oliveira. Em 1952, conheceu mais um grande sucesso com a gravação da marcha “Maria Candelária”, de Klécius Caldas e Armando Cavalcânti, sátira  bem-humorada às funcionárias “empistoladas” que impunemente abusavam de regalias no serviço público. Nesse ano, gravou o baião “Santo Antônio não gosta”, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, e os sambas “Pedido à São João”, de sua autoria e Gildásio Ferreira, e “Calvário do amor”, de Jorge de Castro e Gastão Viana. No mesmo período, Isaura Garcia gravou os sambas “O morro silenciou” e “Quem é você”, parcerias com Newton Teixeira.

Em 1953, gravou as marchas “Dona cegonha”, de Klécius Caldas e Armando Cavalcânti, e “Não aguento essa mulher”, de David Raw e Manezinho Araújo, a batucada “Rico vai na chuva”, de sua autoria, e o samba “A banca do guarda”, parceria com Milton Vilela. Nesse ano, teve as marchas “Índia morena”, com Osvaldo França, gravada por Rubens Peniche e “Eh! Eh! Paisano”, com Grande Otelo e Osvaldo França, gravada por Isaura Garcia e o samba “Eu sou mais eu”, com Raul Sampaio, gravada por Alcides Gerardi. Também nesse ano, transferiu-se para a RCA Victor e lançou os baiões “Santo Antonio sabe”, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, e “Tim tim o lá lá”, de Henrique de Almeida e Rômulo Paes.

Em 1954, mais um grande sucesso carnavalesco com a marcha “Piada de salão”, de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti. Nesse ano, gravou o baião “Marina sapeca”, de Sebastião Gomes, Rubens Ferreira e Jair Gonçalves, e a valsa “Primeira valsa”, parceria com Nicola Bruni. Também nesse ano, transferiu-se para a gravadora Copacabana e gravou os sambas “Caridade”, de Nelson Cavaquinho e Ermínio Vale, e “Cabrocha”, de João Bené e Amado Régis. Ainda no mesmo ano, teve gravadas na RCA Victor o samba “Última homenagem”, com Herivelto Martins, pelo Trio de Ouro e a toada “Quem bom seria”, com Newton Teixeira, por Isaura Garcia. Em 1955, fez com Herivelto Martins a marcha “Linda romana” gravada por Nelson Gonçalves e o samba “Maria do Socorro”, pelo Trio de Ouro, as duas na RCA Victor. Nesse ano, obteve novo êxito no carvaval com a marcha “Maria escandalosa” , da dupla Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, e que dava sequência natural ao sucesso anterior “Maria Candelária”, e que foi escolhida por um júri reunido no Teatro João Caetano como uma das dez mais marchas mais populares do carnaval de 1955. O mesmo juri considerou seu samba “Lágrimas” como um dos mais populares daquele carnaval. Também no mesmo ano, gravou o samba-choro “Torcedor do “Mengo”, de sua autoria e Luiz Dantas, em disco que trazia no lado A o cantor Jorge Veiga interpretando  o “Hino da torcida do Flamengo”, numa homenagem ao time do Flamengo campeão carioca daquele ano. Ainda nesse ano, lançou a valsa “Natal das crianças”, de sua autoria, que se tornou um clássico dos festejos natalinos gravada entre outros por Carlos Galhardo e Luis Bordon, além da sua própria e bem sucedida gravação.

Em 1956, gravou o samba “Ressurreição”, de sua autoria, as marchas “Maria champanhota”, de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, e “Marcha das fãs”, de Wilson Batista e Jorge de Castro; a batucada “Mulher é aquela”, de Paquito, Romeu Gentil e Jorge Gonçalves, e o samba-maxixe “A mulher do palhaço”, parceria com Jadir Ambrósio e Jair Silva. Nesse ano, o Trio de Ouro gravou outra de suas composições com Herivelto Martins, a toada “Rancho da serra”. Em 1957, gravou os sambas “Aquele amor”, parceria com Elias Cortes e Arnô Canegal, e “Meu coração soluçou”, com Raguinho, e as marchas “Lavadeira”, com Henrique de Almeida e Rômulo Paes, e “Inventor da mulata”, com Manoel Rosa e Nilton Ribeiro. Nesse ano, Ruth Amaral gravou seu samba “Já fui feliz”, com Boexi, e Heleninha Costa o samba “Cinzas do amor”, com Mary Monteiro. Em 1958, gravou a marcha “Tô de prontidão”, com Nilo Silva e Osvaldo França, e a batucada “Serenou, serenou”, com Laurindo Correia e Alfredo Godinho. Em 1959, destacou-se com o samba “Chora doutor”, de J. Piedade, Orlando Guzzano e J. Campos, gravado em fins do ano anterior, um dos mais cantados do ano, também com forte apelo social. Nesse ano, transferiu-se para a Odeon e gravou as marcha “Um romance em Brasília”, “Natal de Jesus” e o lamento “Feliz ano novo”, de sua autoria, e o “Samba do play-boy”, de José Roberto Kelly. Em 1959, foi o terceiro colocado no concurso de músicas carnavalescas do Distrito Federal com o samba “Chora, doutor”, de sua autoria e por ele mesmo defendido na final realizada com grande público no Teatro João Caetano.

Em 1960, gravou as marchas “Banho diferente”, de Antônio Bruno e Marli de Oliveira, e “A sogra vem aí”, parceria com Haroldo Lobo e Milton de Oliveira. Nesse ano, fez sucesso com o samba “Quero morrer no Rio”, de sua autoria. Em 1961, gravou os sambas “Acabou a sopa”, de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, e “Direitos iguais”, de sua parceria com Valdemar Silva.

Em 1969, lançou  “Bloco de banana”, composição de sua autoria. Gravou dois LPs.  A partir de 1968, colheu grande sucesso com o show “Carnavália”, de P. A. Grisolli e S. Miller, encenado durante meses a fio na Boate Casa Grande, atual teatro do mesmo nome, na zona sul do Rio e do qual participaram Marlene e Nuno Roland, liderados  pela cronista  Eneida, que narrava a história do carnaval carioca. O espetáculo foi gravado ao vivo pelo M.I.S., de que resultaram dois LPs, com capas especiais do pintor Luiz Jasmin, produzidos ambos por Ricardo Cravo Albin.  Em 1982, teve a toada “Rancho da serra”, com Herivelto Martins, gravado por Rolando Boldrin, no LP “Violeiro”, da Som Livre.

Discografias
1994 Revivendo CD Carnaval-Sua história e sua glória, vol nº 11
1993 Revivendo CD Carnaval-Sua história e sua glória, vol nº 9
1968 Museu da Imagem e do som LP Carnavália
1962 Polydor LP Na boca do povo
1961 Copacabana 78 Acabou a sopa/Direitos iguais
1961 Carnaval 78 Maria Brasília
1961 Copacabana 78 Mulher toda hora/A casa oficial
1961 Copacabana 78 Samba da cor
1960 Copacabana 78 Banho diferente/A sogra vem aí
1960 Polydor 78 Rosa errante/Quero morrer no Rio
1960 Polydor 78 Sem mulata é fogo/Balançou, balançou
1959 Odeon 78 Natal de Jesus/Feliz Ano Novo
1959 Odeon 78 Um romance em Brasília/Samba do play-boy
1959 Odeon LP É pra todo muno cantar
1958 Copacabana 78 Chora, doutor/Volta Redonda
1958 Copacabana 78 Está chegando o General/Rebola Feola
1958 Copacabana 78 Tô de prontidão/Serenou, serenou
1957 Copacabana 78 Ambição/Lá vem ela
1957 Copacabana 78 Aquele amor/Lavadeira
1957 Copacabana 78 Canção da mamãe
1957 Copacabana 78 Decisão amarga/Rei dos reis
1957 Copacabana 78 Inventor da mulata/Meu coração soluçou
1957 Copacabana 78 Mambo carioca/Triste recordação
1957 Copacabana 78 Se papai fosse eleito/História de sempre
1956 Copacabana 78 Baião de Minas Gerais/A mulher do palhaço
1956 Copacabana 78 Mambo bacana/Carla
1956 Copacabana 78 Mulher é aquela/Maria Champanhota
1956 Copacabana 78 Ressurreição/Marcha das fãs
1956 Copacabana 78 Vou-me embora Sá Dona/A vez do bobo
1955 Copacabana 78 Linguagem do povo/Use a cabeça
1955 Copacabana 78 Lágrimas/Maria Escandalosa
1955 Copacabana 78 Minha senhora/Ingrata Rosinha
1955 Copacabana 78 Napoleão boa boca/Velha guarda
1955 Copacabana 78 Natal das crianças/Noiva querida
1955 Copacabana 78 Quem será?/Agarradinho
1955 Copacabana 78 Torcedor do Mengo
1954 Copacabana 78 Batuque dos meninos/Samambaia pegou fogo
1954 Copacabana 78 Caridade/Cabrocha
1954 RCA Victor 78 Marina sapeca/Primeira valsa
1953 Continental 78 A banca do guarda/Não agüento essa mulher
1953 RCA Victor 78 A dor que mais dói/Primeiro eu
1953 RCA Victor 78 Ai meu senhor/Piada de salão
1953 Continental 78 Dona cegonha/Rico vai na chuva
1953 RCA Victor 78 Escravo da obrigação/Papagaio falador
1953 RCA Victor 78 Santo Antonio sabe/Tim tim o lá lá
1952 Continental 78 Pedido à São João/Calvário do amor
1952 Continental 78 Santo Antônio não gosta
1951 Continental 78 Ai cachaça/Papai Adão
1951 Continental 78 Borboleta dourada/Que coisa boa!
1951 Continental 78 Borocochô/Onda vai, onda vem
1951 Continental 78 Dia dos namorados/O delegado quer prender o Antônio
1951 Continental 78 Mambo no samba/Fã número 1
1951 Continental 78 Maria Candelária/Não dou cartaz
1951 Continental 78 Sujeito sem jeito/Televisão
1950 Continental 78 Ave-Maria/Rosinha, vem cá
1950 Continental 78 Joãozinho boa-pinta/Meu doce de coco
1949 Continental 78 General da banda/Marcha do "O"
1949 Continental 78 Leilão de Ali Babá/Salve Mangueira
1949 Continental 78 Moreninha, moreninha/Meu guarda-chuva
1949 Continental 78 Oito mulheres/Baiana Tereza
1949 Continental 78 Rei Zulu/O presidente chegou
1948 Continental 78 Chegou a bonitona/Zing-zing-bum
1948 Continental 78 O Biriba esteve aqui/Carioca bonita
1948 Continental 78 Pedreiro Waldemar/Desce, favela
1948 Continental 78 Vote! Que mulher bonita!/Que samba bom
1947 Continental 78 Ôpa.. Ôpa.../Dona Maria
1944 Continental 78 Minha Tereza/Eu agora sou casado
Obras
A banca do guarda (c/ Milton Vilela)
A casa oficial (c/ Newton Teixeira)
A mulher do palhaço (c/ Jadir Ambrósio e Jair Silva)
A sogra vem aí (c/ Haroldo Lobo e Milton de Oliveira)
Agarradinho (c/ Vicente Amar)
Aquele amor (c/ Elias Cortes e Arnô Canegal)
Balançou, balançou (c/ Newton Teixeira)
Carioca bonita (c/ Zé Maria)
Cinzas do amor (c/ Mary Monteiro)
Direitos iguais (c/ Valdemar Silva)
Eh! Eh! Paisano (c/ Grande Otelo e Osvaldo França)
Eu sou mais eu (c/ Raul Sampaio)
Inventor da mulata (c/ Manoel Rosa e Nilton Ribeiro)
Já fui feliz (c/ Boexi)
Lavadeira (c/ Henrique de Almeida e Rômulo Paes)
Linda romana (c/ Herivelto Martins)
Lágrimas
Mambo no samba
Maria do Socorro (c/ Herivelto Martins)
Natal das crianças
O morro silenciou (c/ Newton Teixeira)
Pedido à São João (c/ Gildásio Ferreira)
Primeira valsa (c/ Nicola Bruni)
Quem bom seria (c/ Newton Teixeira)
Quem é você (c/ Newton Teixeira)
Quero morrer no Rio
Rancho da serra (c/ Herivelto Martins)
Ressurreição
Rico vai na chuva
Samambaia pegou fogo (c/ Jesuína Rosa de Oliveira, Antônio Pinto Braga e José Menezes de Santana)
Serenou, serenou (c/ Laurindo Correia e Alfredo Godinho)
Sujeito sem jeito (c/ Julinho)
Torcedor do "Mengo" (c/ Luiz Dantas)
Tô de prontidão (c/ Nilo Silva e Osvaldo França)
Velha guarda (c/ Américo Santos e Amaral)
Vou-me embora Sá Dona
Zing-zing-bum (c/ Zé Maria)
Índia morena (c/ Osvaldo França)
Última homenagem (c/ Herivelto Martins)
Bibliografia Crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. MPB – A História de um século. Rio de Janeiro: Funarte, 1998.

AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.

CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário biográfico da música popular. Rio de Janeiro: Editora: do autor, 1965.

MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.

SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. São Paulo: Editora: 34, 1999.

Crítica

Mesmo em inglês, a expressão “black-out” sintetiza hoje um dos mais abomináveis preconceitos raciais, travestido de piedosa concessão. “Black-out” significa preto por fora, mas branco – em alma, é claro – por dentro.

Quando, contudo, o cantor paulista Otávio Henrique adotou o nome artístico de Blecaute

(já abrasileirando o termo), o nome não parecia ter essa carga tão virulenta de achincalhe. Fosse assim, o preto retinto Otávio Henrique teria recusado o pseudônimo, sugerido pelo célebre Capitão Furtado, em seu ouvidíssimo programa radiofônico na Difusora paulistana.

Pelo sim, pelo não, Blecaute acautelou-se contra achincalhes futuros e logo se promoveria a General (da Banda e do Carnaval), a partir do sucesso triunfal que foi o samba “General da Banda” (de Sátiro de Mello e Tancredo Silva) no carnaval de 1949.

O título acabaria-se incorporando a ele de tal modo, que Blecaute não só envergaria a vistosa fantasia de General da Banda nos carnavais sub seqüentes como chegaria até a desfilar, antes do começo dos saudosos desfiles das escolas de samba na Presidente Vargas, como uma “persona” do carnaval carioca. Ele integrava, a cada ano, a patusca corte da folia, lado a lado do Rei Momo, Rainha Moma, suas Princesas e do Cidadão Samba.

Fiz-me amigo do Blecaute através da cronista Eneida, quando gravei para o MIS a íntegra do show “Carnavália” (dois elepês, que este ano sairão em CD). O espetáculo ficou quase um ano em cartaz (1968) no Café Teatro Casa Grande e ali, apresentados pela insuperável dignidade de Eneida, os cantores Marlene (que voltava à cena artística), Nuno Roland e Blecaute fizeram o melhor show de carnaval a que o Rio jamais assistiu. Eneida não escondia seu carinho por Blecaute e, entre suas falas, muitas vezes me confidenciava: “Olha que elegância de porte e que charme de sorriso.” E para o público vociferava: “Observem como Blecaute representa a autêntica alma do povo, quando canta esse hino de protesto que é o ‘Pedreiro Waldemar’”. A cronista referia-se ao samba antológico de Roberto Martins e Wilson Batista, que disparava: “Você conhece o Pedreiro Waldemar/ Não conhece, pois eu vou lhe apresentar/ De manhã cedo pega o bonde Circular/ Faz tanta casa e não tem casa pra morar.”

Blecaute criou o “Pedreiro” no mesmo ano de 1949, quando triunfou com o General. Ou seja, uma no cravo e outra na ferradura. Daí, até a sua morte (1983), o Monsieur Blecaute — assim também era chamado nos anos 50 pelo César de Alencar, na Rádio Nacional — colecionou sucessos e mergulhou fundo no espírito popular. Quem não lembra da vigarice sempre atual da “Maria Candelária” (“É alta funcionária/Saltou de pára-quedas/ Caiu na letra O”) ou da “Maria escandalosa” (“Desde criança sempre deu alteração/ Na escola não dava bola/ Só aprendia o que não era da lição”). Dos mesmos autores, Klecius Caldas e A. Cavalcanti, Blecaute fez o Brasil cantar e rir com “Piada de salão” (“É ou não é piada de salão/ Se acham que não é / Então não conto não”) ou “Papai Adão” (“É que é o tal/ Hoje é Eva quem manobra / E a culpada foi a cobra”).

Ricardo Cravo Albin