Poeta. Letrista. Filósofo. Escritor.
Filho do economista Evaldo Correia Lima, um dos fundadores do Instituto de Estudos Brasileiros e diretor do BID (Banco Internacional de Desenvolvimento). Por conta da atividade de seu pai, morou em Washington na adolescência.
Irmão da cantora e compositora Marina Lima.
Formado em Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, continuou seus estudos no exterior, tendo feito cursos de pós-graduação na University College London, em Londres, e na Georgetown University, nos Estados Unidos, onde estuou grego e latim.
Em 1982 particpou como ator, contracenando com Caetano Veloso, do filme “Tabu”, de Júlio Bressamne.
Entre os anos de 1991 e 1992, em colaboração com o poeta e professor de filosofia Alex Varella, coordenou os cursos de Estética e Teoria das Artes do Galpão do Museu de Artes Moderna (MAM) do Rio de Janeiro.
No ano de 1993 com Wally Salomão concebeu e dirigiu o projeto “Banco Nacional de Ideias” recebendo intelectuais brasileiros e estrangeiros, entre os quais João Cabral de Mello Neto, Caetano Veloso, Haroldo de Campos, John Ashbery, Derk Walcott, Richard Rorty, Tzvetan Todorov, Hans Magnus Enzensbergr, Peter Sloterdijk, Ernest Gellner, Bento Prado Júnior e Carcy Ribeiro.
Em 1994, em parceria com o poeta Wally Salomão, lançou o livro “O Relativismo Enquanto Visão do Mundo” (Editora Francisco Alves).
No ano de 1995 publicou pela editora carioca Francisco Alves “O mundo desde o fim”, seu único livro de filosofia no qual discutia o conceito de modernidade.
Em 1996 lançou o volume de poesias “Guardar” (Editora Record). No ano seguinte venceu o “Prêmio Nestlé de Literatura” na categoria “Estreante” com o livro.
Em 2001 teve poemas incluídos na antologia “Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século XX”, organizada por Ítalo Moriconi, publicada pela Editora Objetiva.
No ano de 2002 publicou o livro de poemas “A cidade e os livros” (Editora Record). No ano seguinte, em colaboração com o poeta Eucanãa Ferraz, a “Nova Antologia Poética de Vinicius de Moraes”, pela Editora Companhia das Letras.
Em 2005 publicou o livro de ensaios sobre poesia e artes “Finalidades sem fim” (Editora Companhia das Letras), participou, como palestrante, de vários ciclos de conferências organizados por Adauto Novaes, publicadas nos livros “Holderlin: O destino do homem” (Editora Companhia de Letras, 2005) e “O Silêncio dos Intelectuais”, editada pela Companhia de Letras no ano de 2006.
Em 2007 apresentou-se em Lisboa (Portugal) na palestra “Da Atualidade do Conceito de Civilização”, no encontro “O Estado do Mundo”, organizado pela Fundação Gulbenkian. Sua palestra foi publicada neste mesmo ano em Lisboa e na Inglaterra. No ano seguinte pronunciou palestra no “Congresso Internacional Fernando Pessoa”, em Lisboa, também publicada em Portugal.
Em 2009 sua palestra “O Ser Humano e o Pós-Humano” foi publicada pela Editora Agir no livro “Mutações: A Condição Humana”, organizado por Adauto Novaes.
Em 2010 ministrou o curso “Poesia e Letra de Música”. Publicou em parceria com o artista plástico Luciano Figueiredo o livro “Sombras: pintura, cinema e poesia” (+ 2 Editora). Neste mesmo ano seu texto “A Razão Niilista” integrou a coletânea de texto intitulada “Mutações: A Experiência do Pensamento”, organizada por Adauto Novaes e publicada pelo SESC São Paulo.
No ano de 2011 fez a curadoria do ciclo de palestras “Forma e Sentido Contemporâneo”, no Centro Cultural Ôi Futuro, no Rio de Janeiro, no qual recebeu José Miguel Wisnik (Doutor em Literatura Portuguesa e ensaísta paulista), Tzvetan Todorov (Linguísta e ensaísta bulgaro), Michel Degug (poeta francês) e Marjorie Perloff (crítica literária norte-americana). Neste mesmo ano foi entrevistado por Ricardo Cravo Albin no programa “Agora no Ar!”, da Rádio Roquette Pinto 94.1 FM, falando sobre sua vida e obra literária.
Sobre sua obra foram publicadas várias dissertações de mestrado e teses de doutorados, entre as quais “Do Princípio às Criaturas” (Noemi Jaffe – USP/2008) e “Antonio Cícero”, de Alberto Pucheu (UFRJ/ 2010).
Em 2012 lançou o livro “Poesia e Filosofia”, pela Coleção Contemporânea, da Editora Civilização Brasileira, na Livraria Argumento, no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro. Na ocasião, foi um dos debatedores sobre o tema, ao lado de Caetano Veloso e Francisco Bosco. Neste mesmo ano, na Livraria Travessa, em Ipanema, Zona Sul do Rio de janeiro, lançou o livro de poemas “Porventura”.
Teve poemas publicados em antologias em Portugal, Espanha e México.
No ano de 2017 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras (com 30 votos dos 39 possíveis) na vaga de Eduardo Portella, Cadeira 27, que teve como primeiro ocupante e fundador da instituição Joaquim Nabuco. No ano seguinte, em 2018, tomou posse da Cadeira, com um discurso do qual destacamos o seguinte trecho:
“Um poeta que acredita que todos os poemas ou todos os textos se equivalem – por exemplo, que tudo é relativo ao gosto da pessoa que julga – não tem porque produzir uma obra nova. Pois bem, o cânone pretende ser o conjunto das obras modelares, exemplares, imortais. Ele é tanto mais perfeito quanto mais perto disso chegar.”
Entre seus livros mais conhecidos estão “O mundo desde o fim” e “A poesia e a crítica”.
No ano de 2019 finalizou, em parceria com Geraldo Carneiro, um volume com diálogos entre ambos sobre poesia engajada, poesia e poema, tradução e poesia e letra de música, encomendado pela Editora Agir.
Sobre a questão o que é letra e o que é poesia, declarou em 21 de dezembro de 1996 ao jornal O Estado de São Paulo, em entrevista a José Castello:
“Nunca achei que o fato de ser letrista me atrapalhasse o percurso de poeta. Há uma diferença básica: para escrever letras eu dependo sempre de outras pessoas. Eu não faço música, não componho, não sei cantar. A música, para mim, envolve muitas outras pessoas, não é uma atividade solitária como a poesia. Há algo de vulgar, sim, na música, pois ela é uma atividade ligada à indústria. Isto não quer dizer, no entanto, que seja melhor o poema que eu escrevo sozinho do que a letra que no embate com o mundo real.”
O escritor faleceu na Suíça, após ser submetido a um procedimento de morte assistida, deixando uma carta explicando a decisão:
“Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.
Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.
Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.
Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.
Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.
Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.
A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.
Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.
Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!”
Sua primeira composição intitulavasse “Alma caiada” poema musicado pela irmão Marina quando ambos estudavam em Nova York, gravada em 1977 por Maria Bethânia.
No ano de 1979, no disco “Simples como fogo”, de estreia de Marina, foram incluídas várias parcerias da dupla, tais como “Transas de amor” e “Tão fácil”. Neste memso ano Zizi Possi regravou “Alma caiada”.
No ano de 1983 sua composição “Dono do pedaço” (c/ Gilberto Gil e Wally Salomão) foi incluída no LP “Extra”, de Gilberto Gil. NO ano seguinte, em 1984, Marina fez suceso com a composição “Fullgás”, parceria de ambos.
No ano de 1986 a irmão voltria às paradas de sucesso, desta vez com a composição “Pra começar”, parceria de ambos.
Outro êxito seu também gravado pela irmã foi “À francesa”, parceria com Cláudio Zoli, no ano de 1989.
Em 1991 João Bosco lançou o CD “Zona de fronteira”, no qual interpretou parceria com Wally Salomão e Antonio Cícero, entre as quais “A travessia Parte I” (c/ Wally Salomão e João Bosco), “Assim sem mais” (c/ Wally Salomão e João Bosco), “Holofotes” (c/ Wally Salomão e João Bosco), “Ladrão de fogo” (c/ Wally Salomão e João Bosco), “Maio maio maio” (c/ Wally Salomão e João Bosco), “Misteriosamente” (c/ Wally Salomão e João Bosco), “Paranoia” (c/ Wally Salomão e João Bosco), “Sábios costumam mentir” (c/ Wally Salomão e João Bosco), “Saída de emergência” (c/ Wally Salomão e João Bosco), “Trem-bala” (c/ Wally Salomão e João Bosco), “Zona de fronteira” (c/ Wally Salomão e João Bosco) e “Granito” (c/ João Bosco).
No ano de 1996 lançou o CD “Antonio Cícero por Antonio Cícero”, no qual recitou poemas de sua autoria.
No ano de 2002, ao lado de Chico Buarque, Abel Silva, Elisa Lucinda, Paulinho Lima, Ana Terra, Alcione, Leila Coelho Frota, Adélia Prado, Afonso Romano de SantAnna, Ritchie, Ronaldo Bastos, Fernando Brant, Gabriel, O Pensador, José Carlos Capinan e Murilo Antunes, entre outros, num total de 149 pessoas, participou do álbum com quatro CDs em homenagem ao poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade. O álbum intitulado “Reunião – O Brasil dizendo Drummond” foi lançado pelo selo Luz da Cidade.
Parceiro de João Bosco e Wally Salomão em várias composições que integram o disco “Zona de fronteira”, de João Bosco, e ainda de Adriana Calcanhoto com quem compôs o sucesso “Inverno”.
Em 2006 sua composição “Três”, em parceria com Marina Lima foi incluída no CD da cantora. Neste mesmo ano João Bosco no CD e DVD “Obrigado, gente!”, gravado ao vivo no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo, incluiu a composição “Saída de emergência”, na qual contou com a participação especial de cantor e violonista Guinga.
No ano de 2011 foi capa da revista “Carioquice”, publicação do Instituto Cultural Cravo Albin. Na matéria “Um grão de poesia nas dunas da MPB”, assinada pela jornalista Mônica Sinelli, falou de sua carreira como letrista, poeta e filósofo.
Entre seus parceiros constam Adriana Calcanhoto com quem compôs “Inverno”, João Bosco em “Misteriosamente” (composta em parceria com João Bosco e Wally Salomão) e Cláudio Zoli em “À francesa”, Lulu Santos e Sérgio Souza na música “O último romântico”.
Entre seus intérpretes destacam-se Zizi Possi “Alma caiada” (c/ Marina); Marina “Maresia” (c/ Paulo Machado); “Virgem”, “Três” e “Este ano”, todas com Marina; Adriana Calcanhoto “Noite” (c/ Orlando Moraes) e “Maresia” (c/ Paulo Machado); Daúde em “Quase” (c/ Caetano Veloso); Maria Bethânia “Logrador” (c/ Orlando Moraes) e “Dita” (c/ Orlando Moraes) e José Miguel Wisnik em “Os ilhéus”, parceria de ambos.
No ano de 2020 o parceiro Frejat lançou o CD “Ao redor do precipício”, no qual foi incluída a sua composição “Todo que eu consegui” (c/ Frejat e Mauro Santa Cecília).
(Artur Nogueira)
(vários)
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
ALBIN, Ricardo Cravo. MPB – A História de Um Século. 2ª ed. Revista e ampliada, Rio de Janeiro: MEC/Funarte/Instituto Cultural Cravo Albin, 2012.
AMARAL, Euclides. A Letra & a Poesia na MPB: Semelhanças & Diferenças. Rio de Janeiro: EAS Editora, 2019.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2009. 3ª ed. EAS Editora, 2014.
BRITO, José Domingos de. (Org.). Mistérios da Criação Literária: Literatura e Música. São Paulo: Editora Tiro de Letra, 2015.
COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.