3.002
Nome Artístico
Aniceto do Império
Nome verdadeiro
Aniceto de Menezes e Silva Júnior
Data de nascimento
11/3/1912
Local de nascimento
Rio de Janeiro, RJ
Data de morte
19/7/1993
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Filho de Aniceto de Menezes e Silva e de Crispiniana Braga de Menezes da Silva. Nasceu no Estácio e, como os pais separaram-se logo, foi criado inicialmente por Odete Pinheiro, na rua Maia de Lacerda, no mesmo bairro. Logo depois, passou a morar com dona Risoleta Arlói Vieira e mudou-se do Estácio, passando a residir sucessivamente em Encantado, Engenho de Dentro, Piedade etc. Não foi por intermédio do pai e nem de Hilário Jovino Ferreira, a quem chamava de tio, que ingressou no samba. Como o progenitor fosse muito rígido, Aniceto aproximou-se da mãe, com quem passou a viver. Esta, sim, era carnavalesca, tendo até formado uma escola de samba em sua casa, na Rua Grão Pará – a Escola de Samba Capricho do Engenho Novo, da qual Aniceto era diretor de harmonia.

Ao ajudar a fundar o Império Serrano, em 1947, ganhou o cargo de Orador Oficial da escola.

Sobre ele declarou Dona Ivone Lara – na capa do disco Partido alto nota 10:

 

 

“Quem ouve Aniceto cantar um partido alto, não esquece sua raiz. É nosso professor. Pra mim ele é um parente”. E no mesmo disco, Clementina de Jesus disse: “Partideiro pra cantar de improviso com ele, tem que rebolar. Ele tem uma voz de garoto”.

No final da vida residia na Rua Margarida Apolônia, 83, em Nova Iguaçu, onde promovia rodas de partido-alto frequentadas por Marília Trindade Barbosa, Martinho da Vila, Hilton do Candongueiro, Artur L. de Oliveria Filho, Nei Lopes, Wilson Moreira, Nélson Sargento, Guezinha (filha de Dona Neuma), entre outros.

Ao lado de Silas de Oliveira, Mulequinho, Mestre Fuleiro, Mano Décio da Viola, Tio Hélio, entre outros, foi um dos fundadores do Império Serrano em 1947.

Dados artísticos

Começou a vida de sambista no Bloco Mama na Burra e nas escolas Unidos de Rocha Miranda, Na Hora É Que Se Vê, Rainha das Pretas, União do Sampaio e Unidos do Riachuelo.

Por volta de 1935/1936 ingressou na Escola de Samba Prazer da Serrinha e passou a ficar, como ele disse, “albergado” na casa de Sebastião de Oliveira, o famoso Mulequinho, que viria a ser o primeiro presidente da Escola de Samba Império Serrano, quando esta foi criada em 1947. Embora fosse um dos fundadores do Império Serrano, transitava por outras escolas, especialmente a Mangueira. Era grande amigo de Carlos Cachaça e de Cartola. Este último, inclusive, construiu a casa em que passou a residir, na Rua Margarida Apolônio, em Nova Iguaçu.

Embora não tocasse instrumentos de sopro e nem de corda e não chegasse a ser um percussionista, era capaz de fazer ritmo no pandeiro para se acompanhar. Sua grande qualidade consistia em coreografar o jongo e em improvisar versos de partido-alto, apesar de não se julgar um bom jongueiro. Em compensação, tinha consciência de ser partideiro imbatível, considerado como tal por todos. Inspirado nos pontos de demanda do jongo desenvolveu um tipo especial de partido-alto, dialogado entre o solista e a roda – provavelmente criação sua, já que não se tem notícia da existência de outros exemplos que não os cantados por ele. Há, pelo menos, duas descrições desse tipo de partido. A primeira, transcrita por Sérgio Cabral (O Globo – 12/02/1979):

 

“Fiz um samba chamado ‘Inteligência’ que é um teste para improvisadores. O samba faz perguntas e o pessoal tem que responder na rima. O refrão é assim:

Se os bichos são inteligentes

Por que não as criaturas?

Aí eu faço os pedidos e os outros vão respondendo:

– Me digam qual é

A pedra mais dura?

– Rapadura.

– Qual a defesa 

Do banguela?

– Dentadura.

– Cite uma cidade

Lá no Oriente.

– Cingapura.

– Chegou a invernada de Olaria.

– É cana dura.

– Quando o malandro

Perde o conceito?

– Quando dedura.

– Quando a mulher

Engana o homem?

– Quando ela jura.

– A nossa mãe

Jurou ao nosso pai.

– Entretanto é uma boa criatura.

– Não me fale mal

Das mulheres.

– Fico invocado

E ninguém me segura.”.

A segunda, descrita por Marília Barboza da Silva e Arthur Loureiro de Oliveira Filho, no livro “Cartola, os tempos idos”: “O negro velho, carapinha branca, bigodões de algodão doce na cara de chocolate, ia só embalando a turma na magia das rimas:

Eu vou cantar agora

Porque já está…

Aniceto parava e repetia, pedindo resposta:

Porque já está?

Aí o pessoal atinava e respondia, completando a melodia e a rima intuitivas:

Na hora!

Aniceto, então, continuava:

Que o homem que é homem

Não?…

O coro, já agora alerta, ia só respondendo:

Não chora.

Aniceto começava a dialogar com o grupo, que até parecia coisa ensaiada, mas era improviso puro mesmo:

Ela se chama Aurora

E diz que já vai…

Todos emendavam logo:

Embora.

O negro velho ria satisfeito e ia em frente:

Urubu pra cantar…

E a resposta estava na cara:

Demora.

O partideiro então, com toda a malícia da raça estampada nas feições fortes, perguntava:

E a mulher do meu filho

É a …

Metade dizia:

Aurora.

E o resto cantava:

Dora.

Aniceto agora se esbaldava. Sacudia severamente a cabeçorra numa negativa enérgica:

Não senhor, não e não

É a minha nora.

Tinha gente que chorava de tanto rir. O velho ia em frente, trinta, quarenta minutos, improvisando sem parar. Referia-se ao que estava acontecendo no momento, com versos criados no momento.”.

Em 1977 foi desafiado por um jovem sambista para uma disputa em improviso de versos de partido alto. A “porfia”, como a denominava, teve lugar no Maracanã. Na quadra do Bloco Carnavalesco Cara de Boi, o rapaz contou com a ajuda da própria mãe. Ainda assim, a peleja não durou dez minutos e Aniceto passou o resto da noite improvisando sobre temas fornecidos pela plateia. Neste mesmo ano lançou o primeiro disco “Quem samba fica”, no qual interpretou “Dora”, composição do folclore carioca. Ainda em 1977 o Museu da Imagem e do Som lançou seu LP “O Partido-Alto de Aniceto & Campolino”, feito em parceria com Nilton Campolino e produzido por Élton Medeiros, no qual interpretou diversas composições de sua autoria, entre elas “Segredo de Tia Romana”, “Um bocadinho só”, “Zé ciumento”, “Quem tem, tem”, “Na volta do novelo” (c/ Bijuzinho) e “Raízes da África”, composição na qual enumera e faz referência a vários rezadores como João Alabá e Assumano.

No ano de 1978, ao lado de Luiz Grande, Baiano do Cabral, Nelson Cebola, Arielson da Bahia, Preto Rico e Dedé da Portela, participou do LP “Os bambas do partido alto”, no qual interpretou de sua autoria “Beberrão” (c/ Mulequinho) e “Apesar dos meus sessenta”.

Em 1984, pela gravadora CID, lançou o LP “Partido alto nota 10”, no qual contou com as participações especial de João Nogueira na faixa “Entrevista”; Dona Ivone Lara em “Quem é teu pai”; Clementina de Jesus na música “Dona Maria Luiza”; Martinho da Vila em “Desaforo”, Roberto Ribeiro na faixa “Chega devagar” e Zezé Motta na música “Ginga de Yayá”, todas de sua autoria. No disco interpretou, também de sua autoria, “Partido alto”, “É fogo”, “Difícil”, “Quando louvar partideiro”, “És partideiro” e “Mulher na presidência”. Na capa do disco João Nogueira declarou:

 

“Aniceto é a memória brilhante, viva e atuante da música popular brasileira”.

No ano de 1988, quando estava hospitalizado, foi homenageado no evento no Circo Voador, no Rio de Janeiro. Neste mesmo ano Beth Carvalho, no LP “Alma do Brasil”, regravou “Beberrão” (c/ Mulequinho).

No ano de 2002 foi lançado o livro “Velhas Histórias, memórias futuras” (Editora Uerj) de Eduardo Granja Coutinho, livro no qual há várias referências ao compositor.

No ano de 2004 a cantora Tereza Gama lançou o CD “Aos mestres com carinho” (Selo Rio Fonográfico), no qual interpretou de sua autoria “Maria Madalena da Portela”.

Sobre ele declarou Martinho da Vila:

 

 

“Quando eu vejo Aniceto, sinto que estou olhando para a cultura negra do Brasil”.

Discografias
1984 CID LP Partido alto nota 10
1978 Soma/Sigla LP Os bambas do partido alto

(vários)

1977 Femurj/MIS LP O partido-alto de Aniceto & Campolino
1977 LP Quem samba fica
Obras
Apesar dos meus sessenta
Beberrão (c/ Mulequinho)
Chega devagar
Desaforo
Difícil
Dona Maria Luiza
Entrevista
Ginga de Yayá
Inteligência
João do Rosário
Maria Madalena da Portela
Mulher na presidência
Na volta do novelo (c/ Bijuzinho)
O namoro de Maria (c/ Xangô da Mangueira)
Partido alto
Quando louvar partideiro
Quem tem, tem
Quem é teu pai
Raízes da África
Segredo da Tia Romana
Um bocadinho só
Vacilação não dá pé
Zé ciumento
É fogo
És partideiro
Bibliografia Crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2009.

COUTINHO, Eduardo Granja. Velhas histórias, memórias futuras. Rio de Janeiro: Editora Uerj, 2002.

FERNANDES, Otair e SILVA, Edna Inácio da Silva (Organizadores). Frutos da Terra: Sambas e Compositores Iguaçuanos. Rio de Janeiro: Núcleo LEAFRO (Laboratório de Estudos Afro-brasileiro e Indígenas), da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), 2013.

FILHO, Arthur L. de Oliveira e BARBOSA, Marília T. Silas de Oliveira – do jongo ao samba-enredo. Rio de Janeiro: Editora MEC/Funarte, 1981.

GRANDA, Edir. Jongo da Serrinha – do terreiro aos palcos. Rio de Janeiro: CGE Giorgio Gráfica e Editora, 1995.

MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da Música Brasileira – Erudita, Folclórica e Popular. São Paulo: Arte Editora/Itaú Cultural, 1977.

MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da Música Brasileira – Erudita, folclórica e popular. São Paulo: Arte Editora/Itaú Cultural/Publifolha – 2ª edição, 1998.