
Compositor. Instrumentista.
Era filho único de modestos lavradores. Em 1894, seus pais mudaram-se para Botucatu. Autodidata, aprendeu a tocar vários instrumentos. Realizou curso de dentista prático em Ribeirão Preto. Retornou a Botucatu, onde abriu uma loja de instrumentos musicais. Foi chamado de “O Catulo de Botucatu”, numa alusão ao poeta e compositor Catulo da Paixão Cearense.
Tocou violão, guitarra portuguesa e violino na Orquestra do Gabinete Literário e Recreativo em Botucatu(SP). Tocou trombone na Banda de Música São Benedito. Formou com José Maria Perez, da cidade de São Manuel, o Duo Vigui, no qual tocava violão e José Maria guitarra. Em 1917, a dupla formou com o pianista Luís Batista Carvalho de Cardoso o Trio Viguipi. Apresentaram-se em São Paulo, Santos e outras cidades do interior paulista. Trabalhou na PRF-8 Rádio Emissora de Botucatu, tornando-se seu primeiro diretor artístico. Em 1918, apresentou, tocando violão, a primeira audição pública de seu maior sucesso e um dos maiores clássicos, não apenas da música sertaneja, mas da música popular brasileira: “Tristezas do jeca”. Em 1924, a Orquestra Brasil-América gravou pela primeira vez de forma apenas orquestral, na Odeon, a toada “Tristezas do Jeca”. Em 1926, também pela Odeon, Patrício Teixeira gravou com grande êxito a referida toada. Além dessas, diversas outras gravações da composição foram realizadas ao longo dos anos, tais como as de Paraguaçu, em 1937, Poly e Seus Havaianos em 1945, Tonico e Tinoco em clássica gravação de 1947, Chiquinho do Acordeon, em 1953, André Penazzi ao órgão, em 1959, e Renato Andrade nos anos 1980, entre outros. Em 1930, sua composição “A incruziada” foi gravada por Paraguaçu, que utilizou o nome de Maracajá, no selo vermelho de Cornélio Pires. Paraguaçu gravou também “Cantando o aboio” e o Trio Ortega gravou “Cabocla do sertão”. No mesmo ano, Paraguaçu gravou a canção “Lua cheia”. Em 1931, Paraguaçu gravou a canção toada “Tenha pena de meus olhos”, que apareceu também no filme “O campeão do futebol”, do mesmo ano. Em 1936, Paraguaçu registrou em disco “Lua cheia”. Em 1942, Cobrinha e Piracicaba gravaram “Caboclo velho” e “Saudades de Botucatu”. Em 1995, no CD “Clássicos sertanejos”, Chitãozinho e Xororó regravaram com Crysthian e Ralf a toada “Tristeza do jeca”. Não se sabe ao certo o número de suas composições pois era boêmio inveterado e nunca se preocupou em guardar suas composições. Seus amigos conseguiram reunir cerca de 80. Em 1996, teve sua vida contada no livro “Eu nasci naquela serra”, do violeiro e compositor Paulo Freire. Em 1997, o violeiro santista Passoca regravou sua “Moda de Botucatu”, parceria com Chico de Paula. Em 2005, o clássico “Tristeza do Jeca”, de sua autoria, foi incluído na trilha sonora do filme “2 Filhos de Francisco- A história de Zezé di Camargo e Luciano”, de Breno Silveira, na voz de Caetano Veloso e também da própria dupla.
Em 2007, teve a música de sua autoria “Tristeza do Jeca” gravada no CD ao vivo “Coração Caipira” que foi lançado numa parceria entre o cantor e compositor Tinoco, da dupla Tonico e Tinoco e o cantor e violeiro Mazinho Quevedo. O disco do selo Som Livre, foi produzido por Mazinho Quevedo, Tinoco e José Carlos Perez. Em 2008, teve a sua música “Tristeza do Jeca” lançada por Roberta Miranda no CD “Senhora Raiz”, do selo Sky Blue Music e Canto Livre. Em 2010, seu clássico “Tristeza do Jeca” foi incluído no projeto MPB na Escolas, realizado pelo Instituto Cultural Cravo Albin, em parceria com a Secretaria Estadual de Educação, sob produção e supervisão de Ricardo Cravo Albin. O projeto teve por objetivo fornecer instrumental a professores das escolas públicas do Rio de Janeiro, para a inclusão da música popular brasileira nos currículos escolares, enquanto elemento importante de nossa história cultural. Em 2017, teve sua composição “Tristeza do Jeca”, considerada clássica, incluída no repertório da peça teatral “Bem sertanejo – O Musical”, estrelada por Michel Teló e dirigida por Gustavo Gasparani. O espetáculo esteve em cartaz em diversas cidades brasileiras, entre elas São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Ribeirão Preto.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
FREIRE, Paulo. Eu nasci naquela serra. São Paulo: Paulicéia, 1996.
LUNA, Paulo. “Dos braços dessa viola à dissonância de uma guitarra: A tensão entre tradição e modernidade na música caipira e sertaneja”. Dissertação de Mestrado, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2005.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
NEPOMUCENO, Rosa. Música Caipira – Da roça ao rodeio. São Paulo: Editora 34, 1999.