Cantora.
Nascida em Conceição de Macabu, distrito de Macaé, RJ, filha do reverendo Albertino Coutinho da Cunha. Começou a cantar ainda adolescente no coro da Igreja Batista do bairro carioca do Estácio, onde seu pai era pastor. Na verdade, todos os seus irmãos cantavam durante os cultos religiosos. Sua voz, porém, era a mais apreciada. Já nessa época, trabalhava como inspetora em uma fábrica de lâmpadas, a General Eletric, onde soltava sua potente voz para encanto dos operários e desespero dos chefes. O sonho de ser cantora de rádio impulsionou sua decisão de participar de programas de calouros, o que causou um transtorno familiar. Segundo declaração da própria cantora, ao Jornal O Pasquim em 1976, “…levei muitas surras de minha mãe porque ela não queria de jeito nenhum. Eu fugia de casa para participar de programas de calouros”.
O pai não admitia que sua filha desejasse a carreira artística, coisa malvista na época. Mas a jovem estava decidida a ser cantora de rádio e fazer sucesso. Por ser ardorosa fã de Dalva de Oliveira, então no auge da carreira, passou a imitá-la, arrebatando assim todos os concursos de calouros em que se inscrevia. O problema estava no fato de que ninguém a queria contratar, já que era quase cópia de Dalva de Oliveira. Decidida a abraçar a vida artística, largou escola, fábrica, igreja e foi morar com uma irmã no bairro carioca de Bonsucesso. Anos depois, recebeu de Getúlio Vargas o apelido de “Sapoti”. Um dia, ao encontrá-la, o então presidente da República lhe disse: “Menina, você tem a voz doce e a cor do sapoti”. Sua vida pessoal, sempre muito atribulada e freqüentemente rastreada pela imprensa, foi marcada por muitos casamentos. Apesar de não ter tido filhos, adotou algumas crianças, as quais sempre considerou como filhos legítimos. Faleceu aos 89 anos, em São Paulo, onde estava internada há 34 dias no Hospital Sancta Maggiore, em decorrência de um quadro de infecção.
O Instituto Cultural Cravo Albin promoveu em sua sede um Requiem de 7º dia assumindo a acriação do Troféu Angela Maria de Ouro, dedicado a descobrir e premiar a melhor cantora iniciante a cada ano.
Em 1948, saiu de casa aos vinte anos para cantar no Dancing Avenida. Foi descoberta pelos compositores Erasmo Silva e Jaime Moreira que a levaram para a Rádio Mayrink Veiga. Iniciou sua carreira profissional cantando em diversos programas radiofônicos com o pseudônimo de Ângela Maria, para que a família não descobrisse. Participou de vários deles, entre os quais “Pescando estrelas”, de Arnaldo Amaral, na Rádio Clube do Brasil; “Hora do pato”, de Jorge Curi, na Rádio Nacional; “Trem da alegria”, dirigido pelo Trio de Osso – Iara Sales, Lamartine Babo e Héber de Bôscoli -, na Rádio Nacional, e “Papel carbono”, de Renato Murce, na Rádio Nacional, além do famoso programa de Ary Barroso, na Rádio Tupi. Em sua primeira apresentação na rádio, esqueceu a letra, saiu do ritmo e, quase aos prantos, cantou o samba-canção “Fuga”, de Renato de Oliveira. Pensou que perderia o emprego, mas a produção lhe deu o prazo de uma semana para criar um repertório próprio e deixar de imitar Dalva de Oliveira. Daí em diante, começou a revelar seu talento e originalidade.
Estreou em discos em 1951, gravando pela RCA Victor os sambas “Sou feliz”, de Augusto Mesquita e Ari Monteiro, e “Quando alguém vai embora”, de Cyro Monteiro e Dias da Cruz. No mesmo ano, gravou os boleros “Sabes mentir”, de Oton Russo, e “Recusa”, de Herivelto Martins, e os sambas “Segue”, de Paulo Marques e Ailce Chaves; “Meu coração”, de Augusto Mesquita e Jaime Florence, e “Meu dono, meu rei”, de Cyro Monteiro e Cândido Dias da Cruz. Nesse ano, sua gravação do samba “Não tenho você”, de Paulo Marques e Ari Monteiro, bateu recordes de vendagem e lhe valeu o início de uma fase de grande sucesso.
No ano seguinte gravou os sambas “Mestre da Vila”, de Paulo Marques e Oton Russo, e “Tenha pena de mim”, de Aldacir Louro e Anísio Bichara. Ainda em 1952, atuou no filme “Com o diabo no corpo”. Em 1953, lançou os sambas-canção “Nem eu”, de Dorival Caymmi, e “Só vives pra lua”, de Ricardo Galeno e Othon Russo. Nesse ano, transferiu-se para a gravadora Copacabana e fez sucesso com os sambas-canção “Fósforo queimado”, de Paulo Menezes, Milton Legey e Roberto Lamego, e “Orgulho”, de Valdir Rocha e Nelson Wadekind. Obteve outro grande sucesso no mesmo ano com o samba-canção “Vida de bailarina”, de Chocolate e Américo Seixas. Nesse mesma época apresentou show com Dorival Caymmi na Boate Casablanca, na Praia Vermelha, RJ.
Em 1954, conseguiu outro sucesso com o bolero “Recusa”, de Herivelto Martins. Gravou também nesse ano os sambas “Rio é amor”, de Bruno Marnet, e “Acordes que choram”, de Othon Russo e Nazareno de Brito. No mesmo ano, participou do filme “Rua sem sol”, de Alex Viany, interpretando as músicas “Vida de bailarina” e “Rua sem sol”. Foi escolhida como a “Melhor cantora do ano”. Também nesse ano, foi eleita “Rainha do Rádio”, pela primeira vez, chegando a obter o total de 1.464.906 votos. Na ocasião, assim noticiou o jornal O Globo: “Ângela Maria assinalando uma apuração recorde de mais de um milhão de votos, inegavelmente a mais popular cantora do nosso broadcasting neste último ano, sagrou-se a Rainha do Rádio de 1954. A coroação da soberana terá lugar na próxima terça-feira, por ocasião do Baile do Rádio, a ser realizado no Teatro João Caetano”.
Em 1955, gravou três sucessos: “Adeus querido”, tango de Eduardo Patané e Floriano Faissal, “Escuta”, samba-canção de Ivon Curi, e “Lábios de mel”, toada de Valdir Rocha. Nesse ano, foi escolhida “Rainha dos músicos” e participou do filme “O Rei do movimento” no qual cantou as músicas “Escuta” e “Francisco Alves”. Também nesse ano, o samba “Minha vez chegou!”, de José Batista, Manoel Pinto e Noel Rosa de Oliveira, lançado na sua voz foi escolhido por um júri reunido no Teatro João Caetano como um dos dez mais populares do carnaval daquele ano. Ainda em 1955, foi escolhida pelo crítico Silvio Túlio Cardoso através da coluna “Discos populares” escrita por ele para o jornal O Globo como a “melhor cantora do ano” recebendo como prêmio um “disco de ouro” entregue em cerimônia no Goldem Room do Copacabana Palace.
Gravou em 1956 três discos em dueto com o cantor João Dias interpretando as valsas “Serenta à Virgem Maria”; “Mamãe” e “Deus te abençoe”; as toadas “Papai Noel esqueceu” e “Não te esqueças” e o samba-canção “É quase certo”, todas da dupla David Nasser e Herivelto Martins. Nesse ano, obteve um novo sucesso no carnaval, com a gravação de “Fala Mangueira”, samba de carnaval da dupla Mirabeau e Milton de Oliveira. Também no mesmo ano, lançou dois LPs, “Ângela Maria apresenta”, cujo destaque foi “Eu fui ver”, de Ary Barroso, e, “Sucessos de ontem na voz de hoje” no qual interpretou clássicos como “João Valentão”, de Dorival Caymmi; “Lábios que beijei”, de J. Cascata e Leonel Azevedo; “Linda flor”, de Henrique Vogeler, Marques Porto e Luiz Peixoto; “Ave Maria no morro”, de Herivelto Martis; “Vingança”, de Lupicínio Rodrigues; “Da cor do pecado”, de Bororó; “Feitiço da Vila”, de Vadico e Noel Rosa, e “Terra seca”, de Ary Barroso. Ainda em 1956, atuou nos filmes “O feijão é nosso”, “Tira a mão daí”; “Fuzileiro do amo”, no qual cantou “Mentindo”; “Fugitivos da vida” e “Com água na boca”. Nesse ano, foi escolhida pela revista “Radiolândia”, em votação que reuniu toda a equipe de redatores e repórteres, como a “melhor cantora do ano”.
Gravou no ano seguinte o LP “Quando os maestros de encontram”, nome de um programa de sucesso da Ráio Nacional no qual três maestros se revezavam na orquestração de sucessos. Fizeram parte desse disco, em que ela atuava ao lado dos grandes maestros da época as músicas “Dora”, de Dorival Caymmi; “Aos pés da cruz”, de José Gonçalves e Marino Pinto; “Adeus…cinco letras que choram”, de Silvino Neto; “Saia do caminho” e “Promessa”, de Evaldo Rui e Custódio Mesquita; “Carinhoso”; de Pixinguinha e João de Barro; “Caminhemos”, de Herivelto Martins, e “Canta Brasil”, de David Nasser e Alcyr Pires Vermelho. Ainda em 1957, ganhou o prêmio Roquete Pinto escolhida como “Melhor cantora do ano”. Atuou nesse ano em cinco filmes: “Rio fantasia”; “O negócio foi assim”; “Metido à bacana”, interpretando “Rainha da cor”; “Samba na Vila” e “Rio Zona Norte”, filme de grande sucesso de crítica e de público no qual interpretou “Pretexto” e “Malvadeza Durão”.
Em 1958, gravou com Waldir Calmon o LP “Quando os astros se encontram – Ângela Maria e Waldir Calmon”, disco no qual interpretou com o acompanhamento da orquestra de Waldir Calmon, músicas de maior sucesso à época, como “Na Baixa do Sapateiro” e “Risque”, de Ary Barroso; “Vamos Maria vamos” e “Briga de amor”, de Antônio Almeida; “Travesso”, de Sylvio Mazzucca, e “Babalú”, de Margarita Lecuona, um de seus maiores sucessos. Também nesse ano, gravou o LP “Para você ouvir e dançar” no qual interpretou “Salve a cabrocha”, de Zé Kéti; “Duas contas”, de Garoto; “Nunca mais”, de Dorival Caymmi; “Por causa de você”, de Dolores Duran e Tom Jobim; “Se todos fossem iguais a você”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, e “Balada triste”, de Esdras Silva e Dalton Vogeler, com a qual obteve enorme êxito e que seria gravada meses depois por Agostinho dos Santos. Ainda no mesmo ano, fez uma temporada em Buenos Aires ao lado do violonista Manuel da Conceição, apelidado de “Mão-de-vaca”, e de quem gravou as músicas “Baião diferente” e “Deus me perdoe”, parcerias com Augusto Mesquita.
Em 1959, a Copacabana lançou o LP “Ângela Maria e orquestra” reunindo músicas gravadas por ela em discos de78 rpm como “Ontem e hoje” e “Voltei”, de Irani de Oliveira; “Flor de Madri”, de Eduardo Patané; “Pretexto”, de Horondino Silva e Augusto Mesquita; “Tédio”, de Fernando César e Nazareno de Brito, e “Intenção” e “Apaixonada”, de Lourival Faissal. Ainda nesse ano, gravou o LP “Ângela Maria canta sucessos de David Nasser”, no qual interpretou sucessos do jornalista e compositor como “Atiraste uma pedra”; “Carlos Gardel”; “Francisco Alves” e “Mamãe”, com Herivelto Martins; “Canta, Brasil” e “Esmagando rosas”, com Alcyr Pires Vermelho; “Mãe Maria” e “Algodão”, com Custódio Mesquita, e “Silêncio do cantor”, com Joubert de Carvalho. Também em 1959, atuou nos filmes “Dorinha no society” e “Quem roubou meu samba”, no qual cantou “Poesia das favelas”. Ainda em 1959, sagrou-se campeã do carnaval carioca com o samba “Rolei, rolei”, de Milton Legey e Edu Rocha. Na ocasião, assim reportou o jornal O Globo datado de 24 de fevereiro: “Com a aprovação do público que se comprimiu ontem nas dependências do Teatro João Caetano, foram dadas a conhecer as músicas campeãs do carnaval. A multidão aplaudiu a decisão do juri, que proclamou vencedores do carnaval o samba “Rolei, rolei”, criação de Angela Maria, e a marcha “Peço a palavra” defendida por Mário Tupinambá.”
No ano seguinte, gravou o LP “Ângela Maria apresenta Fernando César e seus amigos” no qual cantou músicas do compositor Fernando César como “Se tem que ser”; “Amar e sofrer” e “Quando eu tiver uma estrela”, e dele com parceiros como “Noite chuvosa”, com Britinho, e “Outro amor para toda vida”, com Baden Powell. Gravou em 1961 o LP “Quando a noite vem – Ângela Maria uma voz para milhões” cujo destaque foi “Os olhinhos do menino”, de Luiz Vieira. Nesse ano lançou também o LP “Não tenho você”, música de Ary Monteiro e Paulo Marques, seu primeiro grande sucesso e que trazia um compilação de músicas já lançadas anteriormente em discos de 78 rpm. Participou também dos filmes “América de noite” e “Rumo à Brasília ou o caminho da esperança” cantando “Os olhinhos do menino”. No ano de 1962, retornou para a gravadora RCA Victor e lançou dois LPs, “Incomparável” e “Ângela Maria canta para o mundo”. O segundo, disco de repertório romântico com composições como “Eu não disse”, “Beijo roubado” e “Até breve”, de Adelino Moreira, e “Já era tempo”, de Ary Barroso e Vinícius de Moraes. O destaque desse LP ficou por conta da marcha “A lua é camarada”, de Armando Cavalcânti e Klécius Caldas, e que foi um dos maiores sucessos do carnaval do ano seguinte.
Em 1963, lançou os LPs “Presença de Ângela Maria” e “Ângela Maria canta para o mundo – Vol. 2”. No primeiro gravou “Prelúdio pra ninar gente grande”, de Luiz Vieira; “O menino e o alçapão” e “Sempre o luar”, de Armando Cavalcânti e Klécius Caldas, e “Sabes mentir”, de Othon Russo. No segundo, cantou duas músicas do cancioneiro latino-americano, “Sin palabras”, de Discépolo e Moraes, e “Los piconeros”, de Mostazo, Parelló e Molleda.
O título do LP “Ângela, a maior Maria”, lançado em 1964, mostra um pouco do sucesso popular que ela era na época. Desse disco fazem parte “Esta noite não”; “Estereofonia” e “O amor mais belo”, de Hélio Justo; “A felicidade virá”, de Orlandivo e Roberto Jorge; “Clarinada”, de Armando Cavalcânti, e “Poeira do caminho”, de João Roberto Kelly e David Nasser. No ano seguinte, alcançou outro grande êxito com o samba-canção “Boneca”, de Celso Clóvis, gravado em LP de mesmo nome que marcou seu retorno para a gravadora Copacabana. Em 1966, gravou “O samba vem lá de cima”, disco em que cantou sambas como “Fogo no morro”, de José Batista e Monsueto; “Madrugada”, de Zé Kéti; “Aquele meu lugar”, de Raul Marques, Estanislau Silva e Monsueto, e “Minha saudade”, de Benil Santos e Raul Sampaio. Ainda nesse ano, gravou o LP “Ângela Maria interpreta boleros” com clássicos do gênero como “Cu-cu-rru-cu Paloma”, de Tomás Mendes; “Nunca jamais”, de Lalo Guerrero; “Tu, só tu”, de Felipe Valdez, e “Vereda tropical”, de Gonzalo Curiel. Ainda no mesmo ano participou do filme “Sete e meio no carnaval” interpretando a marchinha “Juvenal do Municipal”.
Também em 1966, conheceu outro grande sucesso com o samba-canção “Cinderela”, de Adelino Moreira, lançado no LP “A brasileiríssima”.
Em 1967, fez sucesso com a marcha-rancho “Rancho de Lalá”, do LP “Meu amor é uma canção” e atuou no filme “Carnaval barra limpa”. Dois anos depois, lançou o LP “Ângela em tempo jovem”, no qual gravou músicas de composirtores ligados à Jovem Guarda: “Somos Apaixonados”, de Martinha; “Ali Na Rua Mesmo Tive Que Chorar” e, de Nelson Ned; “Se”, de Antônio Marcos e Mário Lúcio; “Volte”, de Marcos Roberto e Dori Edson; “Só Por Você”, de Portinho e Alexandre Cirus; “Você Não Me Ama”, de Agnaldo Timóteo; “Faça o Que Quiser de Mim”, de Sérgio Reis; “O Brinquedo”, de Carlos César; “Agora Logo Agora”, de Monny; “Destinos Iguais”, de Geraldo Nunes e Lino Reis, e “Você Sabia Amor?”, de Roberto Rei. Em 1970, lançou o LP “Ângela de todos os temas”, no qual interpretou um repertório variado que teve como grande sucesso “Gente humilde”, canção composta nos anos 1940 pelo violonista Garoto, nome artístico de Aníbal Augusto Sardinha, que recebeu letra de Vinícius de Moraes e Chico Buarque. Faziam parte do disco também “Último desejo”, de Noel Rosa; “Viola enluarada”, de Paulo Sérgio Valle e Marcos Valle; “Noite de temporal”, de Dorival Caymmi; “Pra dizer adeus”, de Edu Lobo e Torquato Neto; “Tardes em Lisboa”, de Pinto Martins e Zequinha de Abreu; “Estou procurando uma rima”, de Martinha, e “Os argonautas”, de Caetano Veloso.
Entre 1971 e 1976 gravou quatro LPs tendo seu nome como título e nos quais gravou músicas como: “Meu tolo coração”, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia; “Velha amiga”, de Vinícius e Toquinho; “Valsinha”, de Chico Buarque e Vinícius de Moraes; “Violão de pobre”, de Lydia Pesce e Lina Pesce; “Pérola negra”, de Luiz Melodia, música da qual foi uma das primeiras a gravar; “Luzes”, de Taiguara; “Encabulada”, de Antônio Carlos e Jocafi; “Pequeno concerto para um grande amor”, de Tabú e Benito di Paula; “Velho palhaço”, de Fred Jorge; “Marina”, de Dorival Caymmi; “Vá mas volte”, de Wando, e “Nunca mais”, de Isolda e Milton Carlos.
Em 1973, participou do filme “Portugal…minha saudade”, de Mazzaropi, interpretando a canção “Fim de ano”. O grande sucesso dessa fase foi o “Tango pra Teresa”, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, gravado em 1975 e que se tornou um clássico tanto do seu repertório quanto no dos compositores desse tango.
Em 1977, gravou os LPs “Os mais famosos tangos” e “Os mais famosos fados”. No primeiro registrou, entre outras, “Ouvindo-te”, de Vicente Celestino; “Fumando espero”, de Viladomat, F. Garso e Eugênio Paes; “Madresselva”, de Amaori, Amarilda e F. Canaro, e “Don estás corazon”, de P. Berto, L. M. Serrano e Ubirajara Silva. No segundo, fados como “Lisboa antiga”, de Vale, Galhardo e R. Portela; “Foi Deus”, de Alberto Janes; “Tudo isso é fado”, de Carvalho e Nazaré, e “Nem às paredes confesso”, de Trindade e Antônio Ribeiro. Ainda nesse ano, fez o primeiro dos encontros em shows com Cauby Peixoto, uma sugestão do crítico R. C. Albin ao diretor Augusto César Vannucci e do qual, após grande sucesso resultou em disco lançado logo em seguida. No ano seguinte, transferiu-se para a gravadora EMI/Odeon e lançou o LP “Com amor e carinho”.
Gravou com o cantor Agnaldo Timóteo em 1979 o LP “Ângela e Timóteo, juntos” que teve como destaques as canções “Meu primeiro amor”, de José Fortuna, Pinheirinho Jr e H. Gimenes; “Meu nome é ninguém”, de Luiz Reis e Haroldo Barbosa; “Canção da criança”, de René Bittencourt e Francisco Alves; “Brigas”, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, e a clássica guarânia “Cabecinha no ombro”, de Paulo Borges, em gravação de destaque na carreira artística dos dois. No ano seguinte, gravou o LP “Apenas mulher”, faixa título de Gonzaguinha, e que tinha ainda, entre outras, “Tributo à Maysa”, de José Messias; “Mormaço”, de João Roberto kelly; “Que será”, de Mário Rossi e Marino Pinto, e “O rei de Ramos”, de Chico Buarque e Francis Hime. Ainda em 1980, participou do especial “Grande nomes” apresentado pela TV Globo e produzido por Daniel Filho. Na ocasião cantou acompanhada por uma orquestra com 30 músicos regida pelo maestro Cipó. No especial cantou clássicos de seu repertório como “Orgulho”, de Nelson Wedekind e Waldir Rocha; “Fósforo queimado”, de Paulo Menezes, Milton Legey e Roberto Lamego; “Recusa”, de Herivelto Martins, e “Vida de bailarina”, de Chocolate e Américo Seixas, canções novas naquela época como “Grito de alerta” e “Apenas uma mulher”, de Gonzaguinha, e “Miss suéter”, de João Bosco e Aldir Blanc.
Dois anos depois,gravou com o cantor Cauby Peixoto o LP “Angela e Cauby”, disco no qual cantaram entre outas, “Começaria tudo outra vez”, de Gonzaguinha; “Eu não existo sem você”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes; “Matriz ou filial”, de Lúcio Cardim; “Meu bem querer”, de Djavan, e “Boa noite amor”, de Francisco Mattoso e José Maria de Abreu. Nesse ano, lançou outro LP, “Estrela da canção”, onde cantou “Alma de criança”, de Paulo César Pinheiro e Mauro Duarte; “Exemplo”, de Lupicínio Rodrigues; “Depois de ti”, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, e “Serenata suburbana”, de Capiba. Gravou “Sempre Ângela”, música título, de Paulo Leminski, Fred Góes e Moraes Moreira, em LP lançado em 1983 e que tinha ainda as músicas “A noite do meu bem”, de Dolores Duran; “Ronda”, de Paulo Vanzolini, duas das interpretações mais marcantes desses dois clássicos; “Não haverá mais uma vez”, de Paulo Massadas e Michael Sullivan, e “Horizontes”, de Mário Marcos e Antônio Marcos.
Em 1985 e 1987, lançou pela RGE dois LPs que traziam apenas seu nome como título nos quais deixou regisros de canções como “A grande verdade”, de Luiz Bittencourt e Marlene; “Até parece um sonho”, Maxine e Oldair José; “Trocando venenos”, de Ivor Lancellotti; “Tapas na cara”, de Cazuza; “Velhos tempos”, de Paulo Massadas e Michael Sullivan; “O bilhete”, de Ivan Lins e Vitor Martins; “Passado e futuro”, de Sílvio César, e “Mais um cabelo branco”, de Erasmo Carlos. Lançou em 1992, agora na gravadora BMG Ariola, o CD “Ângela e Cauby ao vivo”, o terceiro dela e Cauby Peixoto juntos no qual interpretaram, entre outras, “Ave Maria no morro”, de Herivelto Martins; “Onde anda você”, de Hermano Silva e Vinícius de Moraes; “Canta Brasil”, de David Nasser e Alcyr Pires Vermelho, e “Nem eu”, de Dorival Caymmi, além de clássicos da carreira de cada um como “Babalú”, de Margarida Lecuona, e “Conceição”, de Dunga e Jair Amorim. Em 1994, foi a homenageada do ano do Prêmio Sharp. Ainda nesse ano foi enredo da Escola de samba “Rosa de Ouro”, de São Paulo.
A partir de 1995, fez diversos “shows” no Rio, acompanhada pelo conjunto Opus 5, apesar de seu forte ser mesmo espetáculos em casas mais populares, como churrascarias e boates. Em 1996, lançou o álbum “Amigos”, cantando com grandes nomes da MPB os maiores sucessos de sua carreira. O álbum, apresentado por Ricardo Cravo Albin, recuperou seu prestígio junto aos críticos mais rigorosos e vendeu mais de 500 mil cópias e recebeu o Prêmio Sharp na categoria “Melhor cantora popular”. Esse CD incluiu músicas como “Desabafo”, de Erasmo Carlos e Roberto Carlos; “Lábios de mel”, de Waldir Rocha; “Noite chuvosa”, de Britinho, e clássicos como “Balada triste”, de Dalton Vogeler e Esdras Silva; “Kalu”, de Humberto Teixeira, e “Fim de comédia”, de Ataulfo Alves. No ano seguinte, gravou um tributo a Dalva de Oliveira, o CD “Pela saudade que me invade”, que vendeu muito menos do que o anterior, apesar de ter sido produzido pelo mesmo José Milton e que incluiu clássicos do repertório de Dalva de Oliveira como “Que será”, de Mário Rossi e Marino Pinto; “Calúnia”, de Marino Pinto e Paulo Soledade; “Errei sim”, de Ataulfo Alves; “Olhos verdes”, de Vicente Paiva, e “Bandeira branca”, de Laércio Alves e Max Nunes. Recebeu o Prêmio Sharp na categoria “Melhor cantora popular” pelo disco “Pela saudade que me invade”.
Em 1999, gravou “Sempre sucesso”, em dupla com o amigo Agnaldo Timóteo, seu antigo motorista na década de 1950, 20 anos depois do primeiro álbum de estúdio que gravaram juntos. Fizeram parte desse CD canções como “Não se vá (“Tu tem vas)”, de A . Barriere; “Mamãe”, de Herivelto Martins e David Nasser, e “Cabecinha no ombro”, de Paulo Borges. O CD contou ainda com as participações especiais de Fagner, na faixa “Deslizes”, de Paulo Massadas, e Michael Sulllivan; de Chitãozinho e Xororó na faixa “Índia”, de Guerrero e Flores; Fábio Jr em “Alma gêmea”, de Peninha, e Cauby Peixoto nas faixas “Ninguém é de ninguém”, de Toso Gomes, Umberto Silva e Luiz Mergulhão, e “A noiva (La noiva)”, de J. Pietro com versão de Fred Jorge.
Chegou a ser eleita por unanimidade, em pesquisa do Ibope, a cantora mais popular do Brasil. Dedicou-se a interpretar principalmente sambas-canções, mas também gravou muitos boleros, tangos e versões de baladas e músicas espanholadas e italianas. Ao longo da carreira gravou mais de 100 discos entre 78 rpm, LPs e CDs. Seu repertório até 1962 é considerado por alguns críticos como mais sofisticado, embora tenha sido sempre uma cantora popular. Na década de 1970, foi considerada uma cantora “cafona” pela crítica. Nessa época, muitos jovens compositores consolidavam sua carreira dentro de uma estética mais moderna, introduzida pelos movimentos da bossa nova e da tropicália, o que não a abalou. Seguiu dentro de seu estilo de cantora romântica, com ênfase em boleros e sambas-canções. Continuou sendo cultuada por sua legião de fãs, embora tivesse menos espaço na mídia. Foi talvez a única cantora da chamada “Era do Rádio”, dos anos 1950 que consegiu obter grandes sucessos de vendagem e execução nas décadas seguintes. Entre seus maiores sucessos estão “Nem eu”, de Dorival Caymmi; “Orgulho”, de Waldir Rocha e Nelson Wederkind; “Lábios de mel”, de Waldir Rocha; “Vida de bailarina”, de Américo Seixas e Chocolate; “Abandono” e “Babalu”, de Margarita Lecuona; “Fósforo queimado”, de Paulo Marques, Milton Legey e Roberto Lamego, e “Garota solitária”, de Adelino Moreira. Continuou se apresentando em “shows” e em programas de TV, ainda mantendo uma fiel legião de fãs.
Em 2000, cantou com Cauby Peixoto em show na praia de Copacabana comemorativo aos 103 anos do bairro de Copacabana. Em 2001, foi homenageada pela Banda de Ipanema por ocasião dos seus 50 anos de carreia tendo desfilado pelas ruas de Ipanema em cima de um trio elétrico. Em 2002, fez temporada de duas semanas com o cantor Cauby Peixoto no Teatro Rival BR interpretando grandes sucessos de sua carreira como “Gente humilde” e “Babalu”. No mesmo ano, comemorou 50 anos de carreira com show no Teatro Rival BR acompanhada por Fernando Costa no teclado, Cleto Pasiva, na bateria, Césão no baixo e por Juarez Araújo no sax e na flauta. Em 2003, lançou pelo selo “Lua Discos” o CD “Disco de ouro”, com arranjos do pianista Keko Brandão, no qual escolheu livremente o repertório e gravou “Sozinho”, de Peninha, “Por causa de você”, de Tom Jobim e Dolores Duran, “Olha”, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, “Dores de amores”, de Luiz Melodia, “Como uma onda”, de Lulu Santos e Nelson Motta, e “Faz parte do meu show”, de Cazuza e Renato Ladeira. Em 2010, foi lançado, pela EMI Music, dentro da séire “Grandes Nomes”, o DVD “Ângela Maria: Abelim Maria da Cunha”, contendo o show realizado por ela em 1980 para a TV Globo, onde interpretou “Inspiração”, de Bruno Marnet; “Gosto do Passado”, de Mariozinho Rocha, Renato Corrêa e Cláudio Cavalcanti; “Grito de Alerta” e “Apenas Mulher”, de Gonzaguinha; “Encantamento”, de Othon Russo e Nazareno de Brito; “Fósforo Queimado”, de Paulo Menezes, Milton Legey e Roberto Lamego; “Escuta”, de Ivon Cury; “Orgulho”, de Nelson Wederkind e Waldir Rocha; “Que Será”, de Marino Pinto e Mário Rossi; “Tango Pra Teresa”, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia, e “Vida de Bailarina”, de Chocolate e Américo Seixas, além de “Miss Suéter”, de João Bosco e Aldir Blanc, que contou com a participação de João Bosco, e “Amendoim Torradinho”, de Henrique Beltrão; “Amor, Meu Grande Amor”, de Ângela Ro Ro e Ana Terra, e “Me Acalmo Danando”, de Ângela Ro Ro, qiue contaram com a participação de Ângela Ro Ro. Em 2011, foi relançado pelo selo Microservice, que adquiriu o direito de comercializar por cinco anos o catálogo da gravadora Copacabana, o LP “Ângela popular brasileira” lançado na década de 1970 no qual a cantora interpreta sucessos de Chico Buarque, Tom Jobim, Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes e Edu Lobo. Também em 2011, aos 82 anos de vida e 60 de carreira lançou o CD “Eu voltei”, o primeiro desde que lançou “Disco de ouro” em 2003. Segundo o crítico Mauro Ferreira, “A Ângela Maria de “Eu voltei” é a intérprete elegante que canta o amor (e as dores decorrentes dele) em apropriados tons baixos e suaves”. Estão presentes no CD, entre outras, as músicas “Bar da noite”, de Haroldo Lobo e Bidu Reis; “A chuva caiu”, de Tom Jobim e Luiz Bonfá; “Espelho de camarim”, de Ivan Lins e Vitor Martins; “Muito estranho”, de Dalto e Cláudio Rabello, e “Eu não sei”, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia. Em 2013, foi lançado pela Lua Music, em parceria com o Canal Brasil o DVD “A estrela da canção popular”, o primeiro da cantora que contabilizou seus 62 anos de carreira. De caráter documental, o DVD apresenta o show gravado em São Paulo, em 2012, e outras imagens históricas e raras da “Sapoti”, como ficou conhecida a cantora: a gravação de “Babalu”, feita em 1975, para o programa “Fantástico” da TV Globo, além de cena dos filmes “Fuzileiros do amor”, de 1956, e “Rio fantasia”, de 1957, e ainda uma entrevista na qual conta sua trajetória artística. Estão presentes nesse DVD as interpretações para “O Portão”, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos; “Gente Humilde”, de Garoto, Vinicius de Moraes e Chico Buarque; “Esse Cara”, de Caetano Veloso; “Pra Você”, de Silvio César; “Não Tenho Você”, de Paulo Marques e Ari Monteiro; “Vida de Bailarina”, de Chocolate e Américo Seixas; “Bar da Noite”, de Bidú Reis e Haroldo Barbosa; “Lábios de Mel”, de Waldir Rocha; “Escuta”, de Ivon Cury; “Menino Grande”, de Antônio Maria; “Mamãe”, de Herivelto Martins e David Nasser; “Cinderela”, de Adelino Moreira; “Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barro; “Brigas”, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia; “Abandono”, de Nazareno de Brito e Presyla de Barros; “Orgulho”, de Nelson Wederkind e Waldir Rocha; “Falhaste Coração (Fallaste Corazón)”, de Cuco Sanchez, versão de Luis Carlos Gouveia, e “Babalú”, de Margarita Lecuona. Em 2014, apresentou, no Teatro Net Rio e no Teatro Rival BR, o show “Eu voltei”, no qual, acompanhada pelo violonista Ronaldo Rayol interpretou seus grandes sucessos, além de gravações novas como “O Portão”, de Roberto Carlos, “Espelho do Meu (Camarim)”, de Ivan Lins e Vitor Martins, “Olhos nos Olhos”, de Chico Buarque, “Esse Cara”, de Caetano Veloso, e “Pra Você”, de Sílvio César. Em 2015, lançou no Teatro Net Rio, no bairro de Copacabana, o CD “Angela à vontade com voz e violão”, no qual, ao lado do violonista Ronaldo Rayol, interpretou clássicos da música popular brasileira, tais como “Nunca”, de Lupicínio Rodrigues; “Retalhos de cetim”, de Benito di Paula; “Tango para Tereza”, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia; “As Rosas Não Falam”, de Cartola; “Gente Humilde”, de Garoto, Vinícius de Moraes e Chico Buarque, e “Só louco”, de Dorival Caymmi, entre outras. Em seguida, a cantora deu início a uma turnê nacional que incluiu shows em cidades como Santos, em São Paulo, e Salvador, na Bahia. No mesmo ano, fez uma participação especial no show do lançamento do CD “Eternas Canções”, do cantor Márcio Gomes, no Imperator, casa de espetáculos do bairro carioca do Méier. Em 2016, retornou ao Teatro Bradesco, em São Paulo, ao lado do cantor Cauby Peixoto no show “120 Anos”, no qual comemoram os respectivos 60 anos de carreira. Acompanhados pelos músicos Alexandre Vianna, piano, Eric Budney, baixo, Ronaldo Rayol, violão, Jabes Felipe, bateria, Michel Machado, percussão e Marcelo Monteiro, sopros , interpretaram sucessos como “Vida da Bailarina”, “Cinderela”, “Gente Humilde”, “Bastidores”, “Babalú” e “Conceição”. Em 2017, gravou pelo selo Biscoito Fino o CD “Angela Maria e as canções de Roberto & Erasmo” no qual interpretou as composições “Você em minha vida”, “Sua estupidez”, “Sentado à beira do caminho”, “Desabafo”, “Não se esqueça de mim”, “Despedida”, “Eu disse adeus”, “Jovens tardes de domingo” e “O show já terminou”, todas de autoria de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, além de “Como é grande o meu amor por você”, de Roberto Carlos. Em 2018, às vésperas de completar 90 anos, apresentou na Sala Municipal Baden Powell, no bairro de Copacabana, o espetáculo “Angela Maria e as canções de Roberto e Erasmo”, interpretando clássicos da dupla como “Você em minha vida”, “Sua estupidez” e “Como é grande o meu amor por você”, entre outras, alé de relembrar seus grandes sucessos, entre os quais, “Gente humilde”, de Garoto, Chico Buarque e Vinícius de Moraes, e “Lábios de mel”, de Waldir Rocha. No mesmo ano, apresentou-se no programa “Todas as bossas”, na TV Brasil, sendo acompanhada pelo violonista Ronaldo Rayol interpretando seus grandes sucessos tais como “Orgulho”, de Waldir Rocha e Nelson Wederkind, além de músicas de seu CD com composições de Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Ainda em 2018, recebeu duas indicações ao Prêmio da Musica Popular: a de melhor álbum na categoria canção popular pelo CD “Canções de Roberto e Erasmo”, e o de “Melhor cantora” pelo mesmo disco. Por ocasião de seu falecimento assim escreveu o cronista Artur Xexéo em artigo para o jornal O Globo: “Angela Maria foi uma cantora do povo. Cantava suas tristezas, abusava de um repertório com letras sobre amores mal resolvidos, chorava cantando e cantava chorando. Mas o que se sobrepunha a tudo isso era uma voz impecável. Angela é do tempo em que eram valorizados cantores com pulmão, fôlego, afinação, ritmo e capacidade de ultrapassar oitavas com facilidade. Foi isso que a fez sobreviver a modismos, movimentos e estilos de ocasião. Ela não foi só uma cantora de seu tempo. Foi uma cantora de todos os tempos.”
Ainda em 2018, foi lançado pelo selo Nova Estação/Eldorado o CD “Angela Maria & Nelson Gonçalves – Ao vivo” registro de show gravado ao vivo em 1978 no Anhembi, em São Paulo e até hoje inédito. O registro chegou a ser lançado de forma pirata em 2013 mas a cantora não gostou do resultado e ganhou na justiça a retirada do material de circulação. A pedido da cantora o produtor Thiago Marques Luiz editou o material. Segundo ele: “Tiramos as locuções e duas músicas nas quais ela não gostou do resultado – conta o produtor, que lamenta que o disco, previsto para ser lançad há alguns meses, chegue às lojas apenas após a morte de Angela”. No disco ela e Nelson Gonçalves interpretam 30 composições do repertório de ambas, em duetos ou solo.
(Caixa com 03 CD's)
(Com Mara Silva)
(Com João Dias)
(Com João Dias)
(Com João Dias)
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ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB – A História de nossa música popular de sua origem até hoje. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
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CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
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VASCONCELOS, Ary. Panorama da música popular brasileira. Rio de Janeiro: Martins, 1965.
Dos anos 50 ao início dos 60, não houve uma voz que suplantasse a de Ângela Maria. Só dava ela. Virou diva da noite para o dia, pois sua voz era um cristal.
Além do mais, Ângela era uma jovem linda e graciosa. E cantava um repertório essencialmente romântico, recheado de sambas-canção, o que a consagrou definitivamente como musa popular. E, diga-se de passagem, gravou muito. Ao lado de Elizeth Cardoso (que, infelizmente, nunca conseguiu vencê-la em popularidade), foi a cantora brasileira que mais gravou. A partir de 1955, quando começaram a sair seus primeiros elepês de 10 polegadas (de 1951 até então, eram apenas 78 rpm), houve uma enxurrada deles no mercado.
Eram, no mínimo, dois discos por ano até meados dos anos 60. Ao todo foram cerca de 50 elepês, mais um punhado de compactos, 78 rpm e faixas especialmente gravadas para projetos os mais variados.
Ângela Maria é uma referência geral de voz feminina na MPB, tendo influenciado boa parte de suas sucessoras, como Elis Regina e Clara Nunes, e sendo referência até mesmo para cantores, como Cauby Peixoto e Djavan.
Famosa pelos agudos bem dados e pelos finais sempre apoteóticos das canções que interpreta, ela sempre foi interessante pela maneira como se lança às canções que canta. Pode ser a maior bobagem – ela dá tudo de si. Sambas, mambos, calipsos, chá-chá-chás, boleros, tangos, fados, toadas, guarânias, baladas… Ângela cantou muitos ritmos brasileiros ou latinos, especialmente, mas a maioria esmagadora de seus sucessos foram mesmo os sambas-canção, à exceção do mambo cubano “Babalu”, que ela lançou em 1958 num álbum com a orquestra de Waldir Calmon, até hoje seu maior sucesso. O curioso é que a faixa foi gravada sem que ela soubesse, durante um ensaio, sem a necessidade de repeti-la, de tão sublime o resultado.
Até o começo dos anos 60, seu repertório era munido de grandes compositores da MPB e de outros de nem tanto prestígio, mas que tiveram a sorte de compor canções que caíram como uma luva para sua voz quente. Eram pérolas “kitsch” que se tornaram clássicas como “Vida de bailarina” (Américo Seixas e Chocolate), “Abandono” (Nazareno de Brito/Presyla de Barros), “Orgulho” (Waldir Rocha/Nelson Wedekind), “Fósforo queimado” (Paulo Menezes/Milton Legey/R. Lamego) ou “Lábios de mel” (Waldir Rocha).
A partir de meados dos anos 60, quando a MPB passou por uma verdadeira revolução graças aos talentos oriundos da bossa nova e dos festivais, Ângela ganhou uma famigerada pecha de cafona que a perseguiu durante muitos anos, não sem-razão, já que seu repertório a partir de 1964 era duro de engolir, com excessos de sambas-canção fracos, de Adelino Moreira e outros menos votados, exceção feita ao grande elepê “Ângela de todos os temas”, de 1970, que lançou ao sucesso “Gente humilde” (Garoto, Vinícius de Moraes e Chico Buarque) e de quebra trazia a diva entoando “Os argonautas” (Caetano Veloso), “Viola enluarada” (Marcos e Paulo Sérgio Valle) e “Noite de temporal” (Dorival Caymmi).
Em 1975, uma surpresa: o “Tango para Teresa” (Evaldo Gouveia/Jair Amorim) a levaria de volta às paradas. No ano seguinte, realiza o antológico show “Revista de rádio”, ao lado de Cauby Peixoto, na Boate Vivará, no Rio.
Pouco depois, em 1978, trocou a gravadora Copacabana pela Odeon e, produzida por José Milton, passou a gravar mais músicas à altura de sua voz, ainda que já um pouco modificada pelo passar do tempo. Ela continuava romântica, mas incluiu no seu repertório compositores contemporâneos dos anos 70 e 80, populares, como Wando e Fernando Mendes, ou sofisticados, como Chico Buarque, Gonzaguinha e Moraes Moreira (que compôs para ela “Sempre Ângela”, faixa título de seu elepê de 1983). Nessa época, gravou um elepê ao lado de Agnaldo Timóteo (1979) e outro ao lado de Cauby Peixoto (1982), ambos interessantes.
A partir de meados dos anos 80, ficou meio esquecida. Gravou dois discos na RGE e continuou fazendo shows pelas praças mais populares, só retomando a atenção da mídia em 1992 com um vitorioso show ao lado de Cauby Peixoto, no Rio, que deu origem a um novo álbum da dupla, gravado ao vivo e lançado em 1993, mesmo ano em que eles ganharam o Prêmio Sharp pelo conjunto da obra, em grande festa no Teatro Municipal do Rio. Em 1995, Ney Matogrosso lhe prestou um tributo em forma de CD. “Estava escrito” possuía apenas canções marcantes do repertório de Ângela e também virou show. No ano seguinte, a cantora voltou aos estúdios com o CD “Amigos”, no qual fez uma releitura de sua obra ao lado de grandes nomes da MPB, e chegou aos 500 mil discos vendidos. Em 1997, gravou um CD em homenagem à sua maior inspiração, a passional Dalva de Oliveira.
Vale lembrar que Ângela gravou todos os compositores brasileiros possíveis, dos anos 30 até hoje. De Noel Rosa e Pixinguinha a Cazuza e Renato Russo, passando por autores populares de todas as épocas. Ângela, apesar dos deslizes de repertório, é um exemplo de longevidade artística e da criação de um estilo absolutamente ímpar na MPB. Um mito incontestável e uma pessoa simples que nunca deixou que a fama lhe subisse à cabeça.
Rodrigo Faour