
Compositor. Arranjador. Multiinstrumentista (piano, violão, bandolim, violino, banjo, percussão). Radialista. Cantor. Ficou órfão muito cedo, sendo por isso criado pela avó. Começou a estudar música erudita aos oito anos com Pascoale Gambardella. Estudou, anos depois, vários instrumentos (violão, violino, piano, bandolim), dedicando-se, então, à música popular. Formou-se em Ciências e Letras no Colégio Salesiano de Niterói, RJ, onde foi colega de Almirante. Na década de 1940, esteve internado com problemas psíquicos, que, somados a alguns outros, acabaram por fazê-lo abandonar a vida artística. É autor de muitos sucessos, entre os quais a marcha “Cidade Maravilhosa” que se tornou o hino da cidade do Rio de Janeiro.
É figura histórica do Rio de Janeiro, já que é o autor de “Cidade maravilhosa”, hino oficial da cidade, além de ser o parceiro de Noel Rosa no samba “Filosofia”. É reconhecido como o autor da marchinha mais famosa dos cariocas, já que esta faz parte da tradição dos bailes carnavalescos. Quando os foliões escutam os primeiros acordes de sua introdução, é porque o baile está chegando ao fim. Começou a carreira artística cantando na Rádio Educadora. Foi arranjador, compositor de “jingles”, locutor de várias emissoras como a Tupi, Mayrink Veiga, Phillips e Guanabara. Sua primeira composição a ser gravada foi “Velho solar”, em 1929, pela Parlophon, interpretada por Henrique de Melo Morais (o tio de Vinícius). No mesmo ano, Ascendino Lisboa lançou o samba “Dou tudo”. Em 1930, Carmen Miranda lançou duas músicas suas pela RCA Victor, o samba “O meu amor” e a marcha “Eu quero casar com você”. No mesmo ano, Sílvio Caldas gravou também pela RCA Victor o seu samba “Nem queiras saber”, em parceria com Felácio da Silva. Em 1931, Carmen Miranda gravou os sambas “Bamboleô” e “Quero só você”, Jaime Vogeler a canção “Meu benzinho foi-se embora” e Francisco Alves a valsa “Manoelina”. No mesmo ano, gravou seu primeiro disco, na Parlophon, interpretando os sambas “Estou mal”, parceria com Heitor dos Prazeres e “Mangueira”, de Saul de Carvalho. Também no mesmo ano, lançou com J. B. de Carvalho, a macumba “Anduê, anduá”, de Maximiniano F. da Costa e o samba “É minha sina”, de sua autoria. Em 1932 teve diversas composições gravadas por diferentes intérpretes, Carmen Miranda registrou os sambas “Mulato de qualidade”, “Quando me lembro” e “Por causa de você”; Sílvio Caldas o samba “Jurei me vingar”, parceria com Valfrido Silva e o Grupo da Guarda Velha e Trio TBT, o samba “Como te amei”. Em 1933, gravou os sambas “Vou navegar”e “Nosso amor vai morrendo” e teve gravados por Carmen Miranda, os sambas “Fala meu bem” e “Lua amiga” e por Elisa Coelho os sambas “O samba é a saudade” e “A lua vem surgindo”. No mesmo ano, Mário Reis foi convidado por Noel Rosa para gravar “Filosofia”, pela Columbia. Em 1934, Carmen Miranda lançou, junto com Mário Reis, o samba “Alô…alô…”, um grande sucesso no carnaval daquele ano. Ainda em 1934, gravou seu grande sucesso, a marcha “Cidade maravilhosa”, em dupla formada com a então “novata” Aurora Miranda, de apenas 19 anos. Segundo Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, a escolha de Aurora “refletia de certo modo a tendência de romper com uma constante da época: a hegemonia masculina na gravação do repertório carnavalesco”. De qualquer modo, o certo é que a entrada de Aurora em cena deve-se mesmo ao fato de ser irmã de Carmen, já então no auge da popularidade, inclusive nos carnavais. O lançamento de “Cidade maravilhosa”, se deu no entanto, sem grande sucesso na “Festa da mocidade”, em outubro daquele ano. A marchinha foi inscrita, no ano seguinte, no Concurso de Carnaval da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, obtendo, para indignação do autor, a 2ª colocação. Também em 1935, gravou de sua autoria e Valfrido Silva a marcha “Guarde um lugarzinho para mim” e o samba “Jura outra vez”, de Alcebíades Barcelos e Valfrido Silva e com Aurora Miranda, gravou de sua autoria, a marcha “Ciganinha do meu coração”e o samba “O que você me fez”. No ano seguinte, lançou as marchas “Teu cabelo vou pintar” e “Cadê a minha colombina”, de sua autoria. No mesmo ano, Aurora Miranda gravou de sua autoria, o samba “Quero ver você sambar” e a marcha “Bacharéis do amor” e Carmen Miranda a marcha “Beijo bamba” e o samba “Pelo amor daquela ingrata”. Em 1937 teve mais duas marchas gravadas por Aurora Miranda, “Se a moda pega…” e “Quero ver você chorando”. No ano seguinte, Aurora Miranda gravou a marcha “Na sua casa tem…”, parceria com Heitor dos Prazeres e o samba “Chorei por teu amor”. Em 1939 lançou a marcha “Linda Rosa” e o samba “Quem mandou?”. Em 1941, gravou a marcha “Carnaval na China”, de sua parceria com Durval Melo e o samba “Estrela do nosso amor”, de sua autoria. No mesmo ano, Vicente Celestino gravou pela RCA Victor a valsa “Cinzas no coração”, obtendo grande sucesso e a canção “Cancioneiro do amor”. Em 1960, um decreto oficializou “Cidade maravilhosa” como hino da cidade. No final da década de 1960, convidado e entrevistado por R. C. Albin, então diretor do MIS, gravou histórico depoimento para o Museu da Imagem e do Som, tendo sido seu estado mental considerado bastante razoável pelo entrevistador. Em 1974, Chico Buarque resgatou “Filosofia”, regravando o samba em seu álbum “Sinal fechado”, dedicado a outros autores por causa da censura imposta à sua produção. O samba foi, na época, grande sucesso e uma maneira inteligente de dar um recado ao regime militar. O samba voltaria a ser ouvido na voz de Mário Reis, na década de 1970 e, posteriormente, incluído no filme “Brás Cubas”, adaptação do cineasta Júlio Bressane para o clássico de Machado de Assis “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. No filme, “Filosofia” é o tema do personagem Quincas Borba.
Devido a várias crises pessoais, inclusive o fim prematuro de (mal sucedido) casamento com a esposa Zilda, o que lhe teria provocado graves crises psíquico-nervosas, afastou-se completa e prematuramente da vida artística, passando a orar com a mãe que o abrigou, cercando-o de carinho e cuidados. O que obscureceu a avaliação de sua obra, fazendo com seu trabalho fosse lembrado basicamente apenas pela marcha “Cidade maravilhosa”. Em 2006, seu acervo passou a pertencer ao Instituto Moreira Sales que o homenageou por ocasião do centenário de seu nascimento com uma exposição de partituras, documentos e fotografias.
(c/Aurora Miranda)
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
EFEGÊ, Jota. Figuras e coisas da Música Popular Brasileira. Editora: MEC/FUNARTE. Rio de Janeiro, 1978.
EPAMINONDAS, Antônio. Brasil brasileirinho.Editora: Instituto Nacional do Livro. Rio de Janeiro, 1982.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume 1. Editora 34. São Paulo, 1997.
VASCONCELOS, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira. Vol. 2. Editora: Martins. Rio de Janeiro, 1965.