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Nome Artístico
Anacleto de Medeiros
Nome verdadeiro
Anacleto Augusto de Medeiros
Data de nascimento
13/7/1866
Local de nascimento
Paquetá, RJ
Data de morte
14/8/1907
Local de morte
Paquetá, RJ
Dados biográficos

Compositor. Regente. Instrumentista.

Nasceu na antiga Rua dos Muros, filho de escrava liberta e foi batizado com o nome do santo do dia. Ingressou na companhia de Menores do Arsenal de guerra aos nove anos e iniciou seu aprendizado de música tocando flautim na banda da Companhia, dirigida por Antonio dos Santos Bocot. Entrou para a Imprensa Nacional (então Tipografia Nacional) em 1884 e, no mesmo ano, matriculou-se no Conservatório de Música. Na Tipografia, organizou o Clube Musical Guttenberg.

Dados artísticos

Quando se formou no Conservatório de Música, em 1886, executava vários instrumentos de sopro, preferindo o sax soprano. Fundou a banda da Sociedade Recreio Musical Paquetaense com alguns músicos da extinta Banda de Paquetá. Passou a ser mais constante como compositor a partir de 1887, lançando principalmente polcas, valsas e xotes. Foi mestre e organizador de várias bandas, como a da Fábrica de Tecidos de Bangu, a da Fábrica de Tecidos de Macacos (depois Paracambi) e a de Piedade (Magé). Em 1896, passou a organizar a Banda do Corpo de Bombeiros, tendo esta ficado famosa sob sua direção, e gravado alguns dos primeiros discos impressos no Brasil, a partir de 1902. Suas mais famosas músicas, “Iara” (ou “Rasga coração”, com versos de Catulo da Paixão Cearense) e “Por um beijo” (“Terna saudade”, também com letra de Catulo), são peças clássicas no repertório chorístico. Em 1904, a Banda do Corpo de Bombeiros gravou na Odeon  sua valsa “Farrula”. Ne mesma época, o cantor Mário Pinheiro gravou a canção “O fadário”, com letra de Catulo da Paixão Cearense, e a Banda da Casa Edson o dobrado “Pavilhão brasileiro” e  a valsa “Terna saudade”. Em 1905, por iniciativa do pintor e escultor Pedro Bruno, uma das ruas da ilha recebeu o nome de Maestro Anacleto. Por essa época, a Banda do Corpo de Bombeiros gravou o xote “Não me olhes assim”  e a quadrilha “Preciosa”, e a Banda da Casa Edson a polca “Três estrelas”. Ainda nesse ano, o cantor Mário Pinheiro gravou a canção “Por um beijo”, com versos de Catulo da Paixão Cearense, sobre a melodia da valsa “Terna saudade” e o tango cançoneta “O boêmio” e a modinha “Perdoa”, também com letra de Catulo.
Por volta de 1906, a Banda do Corpo de Bombeiros gravou as polcas “Lídia” e “Três estrelinhas”, o xote “Implorando” e o dobrado “Jubileu dos Bombeiros do Rio”, composto em homenagem à corporação. No ano seguinte, o xote “Iara” foi gravado pela Banda da Casa Edson. Em 1908, teve gravadas pela Banda do Corpo de Bombeiros na Victor Record o xote “Não me olhes assim” e as valsas “Predileta” e “Terna saudade”. No mesmo ano, a cantora Pepa Delgado gravou a canção “Rasga coração”, com versos de Catulo da Paixão Cearense, e a Banda do 52º de Caçadores a valsa “Terna saudade” e o xote “Louco de amor”, na Columbia. Por volta de 1910, a Banda do Corpo de Bombeiros gravou o xote “Implorando”; as polcas “Eulália” e “Medrosa”, a mazurca “Saudosa” e a valsa “Recordações de Lili”; e a Banda da Casa Faulhaber o xote “Não me olhes assim”, todas na Favorite Record. Ainda por essa época a Banda Columbia gravou o tango “Café Avenida”. Em 1912, o pianista Artur Camilo e o flautista G. de Almeida gravaram o xote “O que tu és”. No mesmo ano, a Banda do Corpo de Bombeiros gravou o dobrado “Moreira César”, e Mário Pinheiro a modinha “O que tu és”, com letra de Catulo da Paixão Cearense. Em 1913, os Irmãos Eymard gravaram na Odeon o choro “Ismênia”; e o cantor Bahiano a modinha “Palma de martírios”, com letra de Catulo da Paixão Cearense. Em 1914, o Grupo do Louro gravou a polca “Sentida”, e o Grupo Odeon o xote “Benzinho”.
Foi considerado pelo cantor e pesquisador Paulo Tapajós como um dos pilares da estruturação da música popular brasileira, em definição harmônica para conjuntos maiores ou bandas. Em 1957, duas de suas composições com letra de Catulo da Paixão Cearense, “Rasga o Coração” e “Implorando”, foram gravadas por Paulo Tapajós para o LP “Catulo o poeta do sertão”, da gravadora Sinter. Em 1968, seu dobrado “Araribóia” foi gravado pela Banda do Corpo de Bombeiros no LP “Suíte Guanabara”. Na ocasião, assim falou o crítico José da Veiga Oliveira sobre o lançamento do LP e, mais especificamente sobre este dobrado: “Mesmo porquer a face B inclui pequena obra-prima de Anacleto de Medeiros (1866-1907), fundador da gloriosa Banda do Corpo de Bombeiros do Distrito federal, cujo primeiro concerto público se realizou em 15 de novembro de 1896. Trata-se do esplêndido dobrado “Araribóia”, divinamente comunicativo, naquele contagiante ritmo bem brasileiro. Que pena Mário de Andrade não estar vivo! Que adjetivos não iria buscar o grande musicólogo para qualificar o dobrado… E sua performance”. Em 1969, seu choro “Três estrelinhas”, foi gravado pelo citarista Avena de Castro no disco “Avena de Castro relembra Jacob Bittencourt;” lançado pela pela RCA Victor em homenagem ao bandolinista Jacob do Bandolim e lançado somente após a morte de Jacob ocorrida em agosto daquele ano. Nessa faixa inclusive, teve Jacob do Bandolim em sua última gravação.
Foi homenageado em 1974, na coleção de elepês “MPB 100 ao vivo”, extraídos da série radiofônica do mesmo nome, irradiadas para todo o Brasil pela cadeia de emissoras do Projeto Minerva, programas produzidos e apresentados por Ricardo Cravo Albin. Em 1975, a homenagem se repetiu pelo mesmo Ricardo Cravo Albin, dentro do show “Do chorinho ao samba”, em que o produtor atuava como narrador ao lado de Altamiro Carrilho e de Paulo Tapajós, espetáculo que correu várias cidades, de Curitiba a Vitória. Em 1976, seu choro “Três estrelinhas” na interpretação de Avena de Castro na cítara, e Jacob do Bandolim no bandolim foi incluída no álbum duplo “Chorada, chorões, chorinhos” lançado pela Companhia Internacional de Seguros como brinde de fim de ano e produzido pela dupla de pesquisadores Ricardo Cravo Albin e Mozart Araújo. Em 1983, seu dobrado “Avenida”, composto em homenagem à então recém Inaugurada Avenida Central, depois Avenida Rio Branco, centro do Rio de Janeiro, foi gravado por uma banda especialmente formada e regida pelo maestro e clarinetista Luiz Gonzaga Carneiro para o LP “Banda de música de ontem e de sempre”, lançado pela FENAB. Em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin a caixa “100 anos de música popular brasileira” com a reedição em 4 CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. No volume 1 desses CDs está incluída sua modinha “Terna saudade”, com Catulo da Paixão Cearense, na interpretação de Paulo Tapajós. Em 2016, foi homenageado por ocasião dos seu sesquicentenário de nascimento no espetáculo “Para sempre Anacleto”, apresentado na temporada Sesi de Música Clássica pelo grupo Art Metal Quinteto, que interpretou, entre outros clásicos do maestro, os choros “Mártires de Canudos”, “Três estrelinhas” e “Medrosa”.

Obras
Araribóia
As Andorinhas
Avenida
Açucena
Benzinho ou Sentimento Oculto (c/ versos de Catulo da Paixão Cearense)
Bouquet
Boêmio
Cabeça-de-porco
Café Avenida
Conde de Santo agostinho
Coralina
Deliciosa ou Tu és uma flor (c/ versos de Catulo da Paixão Cearense)
Despedida ou Serenata (c/ versos de Catulo da Paixão Cearense)
Em ti pensando
Esperança
Eulália
Farrula
Fluminense
Iara ou Rasga o coração (c/ versos de Catulo da Paixão Cearense)
Implorando
Ismênia
Jubileu
Louco de amor
Lídia
Marcha fúnebre nº 1
Marcha fúnebre nº 2
Medrosa ou Fadário (c/ versos da Catulo da Paixão Cearense)
Morrer sonhando
Na volta do correio
Nasci para te amar (c/ versos de Catulo da Paixão Cearense)
Nenezinho e Catitinha
No baile
Não me olhes assim
O boêmio (c/ versos de Catulo da Paixão Cearense)
O fadário (c/ versos de Catulo da Paixão Cearense)
O teu olhar (c/ versos de Catulo da Paixão Cearense)
Olhos matadores
Palma de martírio (c/ versos de Catulo da Paixão)
Pavilhão brasileiro
Pinheiro Freire
Predileta ou Perdoa (c/ versos de Catulo da Paixão Cearense)
Qüiproquó
Recordações de Lili
Romance
Santinha
Segredos do coração
Terna saudade ou Por um beijo (c/ versos de Catulo da Paixão Cearense)
Três estrelas ou O que tu és (c/ versos de Catulo da Paixão Cearense)
Bibliografia Crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.

AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.

CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.

COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.

MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.

SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. São Paulo: Editora: 34, 1999.

VASCONCELLO, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira – volume 1. Rio de Janeiro: Martins, 1965.