Cantor. Compositor. Radialista. Musicólogo. Pesquisador. Produtor radiofônico.
Filho de Eduardo Foréis Domingues e Maria José Foréis, nasceu em Vila Isabel, tradicional bairro carioca. Aprendeu a ler em Barbacena, continuando depois seus estudos em um colégio de Friburgo onde estudou um pouco de alemão. Com a morte de seu pai, em 1924, começou a trabalhar como caixeiro de uma loja. Em 1925, empregou-se no comércio, na seção de vidros e santos da Casa Cruz, depois numa fábrica de linhas e em seguida no Magazine Costa Guimarães.
Em 1926, foi fazer a reserva naval, na Marinha de Guerra do Brasil, estudando de noite para não perder o emprego. No ano seguinte, a 5 de julho, participou das solenidades de recepção do hidroavião Jaú. Em um carro que cruzava as ruas da capital, com o Capitão Matias da Costa, dirigente da reserva, sentado na frente, ia ele atrás, como ordenança, instalado em um banquinho, todo duro e engomado. Na rua, perguntavam: “Quem é o da frente?” É o comandante. Esse aí atrás? Ah, esse deve ser o Almirante! O apelido pegou. E o reservista naval Henrique Foréis Domingues foi definitivamente promovido a Almirante, ao menos para a MPB.
Depois de servir à Marinha, estudou Contabilidade, chegando a ser guarda-livros de algumas firmas comerciais. Em 1928, conheceu João de Barro, “Braguinha”. Este convidou-o, um dia, para uma festa em sua casa. Braguinha organizara um conjunto musical de garotos para se dirvetirem. Foi convidado, nessa mesma noite, para ser o pandeirista do conjunto, que era conhecido como Flor do Tempo, e contava com elementos de valor, como os violonistas Álvaro Miranda Ribeiro (Alvinho) e Henrique Brito. Depois de participar, com muito sucesso, de várias festas e shows, o conjunto foi convidado a fazer gravações. Diante da impossibilidade de levar toda aquela multidão (de 20 a 30 pessoas) para o estúdio, combinaram então que fariam um conjunto menor com Braguinha (violão e vocal), Noel Rosa (violão), Henrique Brito (violão) e Almirante (pandeiro e vocal) e por sugestão de Braguinha adotaram o nome de “Bando dos Tangarás”. Segundo a lenda, os Tangarás se reúnem em grupos de cinco e fazem uma roda de dança. Casou-se com Ilka Braga Domingues, irmã de Braguinha, passando a residir, por coincidência, na Rua Almirante Cockrane, em um edifício também chamado Almirante (Cockrane). Em janeiro de 1958, quase morreu, vítima de derrame cerebral, que o obrigou a reaprender a falar, fato que o marcou profundamente a partir de então.
Em 1929 fez sua primeira gravação, na Odeon com o Bando de Tangarás, registrando de sua autoria, “Anedota”, um cateretê, e “Galo garnizé”, uma embolada. A face B foi, porém, gravada primeiro, devendo assim ser “Galo garnizé”, considerada a sua primeira música gravada, assim como pelo Bando de Tangarás. Em novembro do mesmo ano, gravou com o Bando de Tangarás o samba “Na Pavuna”, parceria com Hemero Dornelas e lançado em janeiro do ano seguinte, seu primeiro sucesso e a primeira gravação a utilizar vários instrumentos de percussão em disco. O Bando de Tangarás estava reforçado, na gravação, por Carolina Cardoso de Meneses (piano), Luperce Miranda (bandolim) e tamborins, pandeiros, surdo e cuícas, tocados por Canuto, Andaraí, etc. Teve grande reperssão quando lançado e se ouviu, pela primeira vez em disco, uma batucada. “Na Pavuna” fez grande sucesso no carnaval de 1930. O Bando de Tangarás, cuja composição foi diversas vezes alterada, contando, inclusive, algum tempo, com o bandolim de Luperce Miranda, durou ainda mais dois anos. “Na Pavuna” o projetou como cantor e assim, ele começou a fazer carreira, vencendo diversos carnavais. Ainda em 1930 gravou com o Bando de Tangarás e Luperce Miranda o repinicado “Só…papo”, de Luperce Miranda e Brant Horta.
Em 1931 gravou com seu Bando de Tangarás os sambas “Para o samba entrar no céu”, de sua autoria com J. Rui e Nássara, “Não tenho sorte”, parceria com Nerval, Eurico e Mozart e “Vou prá Vila”, de Noel Rosa. Gravou ainda a macha “Ge-gê” (Seu Getúlio), de Lamartine Babo, alusivo ao então presidente do Brasil e um dos líderes do movimento revolucionário vitorioso no ano anterior. Em 1932, apresentou-se no Cine Eldorado com Carmen Miranda, Lamartine Babo, Grupo da Guarda Velha e Trio T.B.T. para promover as músicas de carnaval da gravadora RCA Victor. Em agosto do mesmo ano, cantou também com Carmen Miranda, Francisco Alves e Noel Rosa no ” 2° Broadway Cocktail”. Em setembro, também com Carmen Miranda e Josué de Barros, partiu para uma excursão a Pernambuco e Bahia, cujo encerramento aconteceu em 10 de outubro no Teatro Jandaia de Salvador (BA).
Em 1933 lançou os sambas “Eu vi você chorando”, de Cristóvão de Alencar e Nássara, “Que bom eu ser brasileiro”, de sua autoria, “Contraste”, de Noel Rosa e “Sexta-feira”, primeira composição de Ataulfo Alves registrada em disco. No mesmo ano fez sucesso com a marcha carnavalesca “Moreninha da praia”, de João de Barro e gravou com Carmen Miranda, Lamartine Babo e Mário Reis o cateretê “As cinco estações do ano”, de Lamartine Babo.
Em 1934 fez sucesso com o samba “O orvalho vem caindo”, clássico de Noel Rosa e Kid Pepe, e a marcha “História…do Brasil…”, de Lamrtine Babo. Em 1935 gravou de Alcebíades Barcelos e João da Baiana o samba “Deixa amanhecer” e fez sucesso com a marcha “Deixa a lua sossegada”, de João de Barro e Alberto Ribeiro. No mesmo ano, participou dos filmes “Alô, alô, Brasil”, com direção de Wallace Downey, João de Barro e Alberto Ribeiro, cantando com Lamartine Babo “As armas e os brasões”, marcha de Alberto Ribeiro, e, “Estudantes”, filme dirigido por Wallace Downey. Gravou ainda no mesmo período com Paulo Tapajós a moda “Prenda minha”, de motivo popular, com arranjos de Radamés Gnatalli. No ano seguinte gravou na Victor, a “Marchinha do grande galo”, de Lamartine Babo e Paulo Barbosa, um dos sucessos do ano; o samba “Vem meu amor”, de João de Barro, Alcebíades Barcelos e Delson Carlos, e o samba “Tarzan”, de Noel Rosa e Vadico. Em 1937 lançou de sua autoria a marcha “Não quero mais teus queijos” e de Benedito Lacerda e Jorge Faraj, a marcha “Palhaço também tem a sua vez”. No mesmo ano alcançou sucesso com o samba choro “Faustina”(Encrencas de família), de Gadé.
Em 1938, gravou dois enormes sucessos e verdadeiros clássicos do repertório carnavalesco, as marchas “Yes! nós temos bananas…” e “Touradas em Madrid”, de autoria da dupla João de Barro e Alberto Ribeiro. No mesmo ano, participou do filme “Banana da terra”, dirigido por J. Rui cantando com Carmen Miranda “O pirulito”, de João de Barro e Alberto Ribeiro. Ainda no mesmo período, iniciou suas atividades como radialista com o programa “Curiosidades musicais”, na Rádio Nacional, pioneiro na feitura com montagem no Rádio Brasileiro. Criou também no mesmo ano o programa “Caixa de Perguntas”.
Em 1939, gravou de Lamartine Baboa marcha “Hino do carnaval brasileiro”, que fez grande sucesso no carnaval daquele ano. Com o mesmo Lamartine Babo, gravou ainda a marcha “Tamanho não é documento”, de Enéas M. de Assim, com adaptação de Lamartine Babo. Gravou ainda os frevos canções “De quem é que você gosta?”, de Fernando Lobo e “Vivo cantando”, de Felinto Nunes, o Carnera. Também no mesmo ano, gravou com Carmen Miranda o batuque “Preto e branco”, de Augusto Vasseur, Marques Porto e Luiz Peixoto e o choro “Cozinheira granfina”, de Sá Róris e criou o “Programa de Reclamações”.
Em 1940 gravou o batuque “Passarinho bateu asa”, de motivo popular, com arranjos de Donga e o samba “Seu Mané Luiz”, de Donga e Cícero de Almeida. Com Carmen Miranda gravou os sambas “Bruxinha de pano”, de Vicente Paiva e Luiz Peixoto e “Recenseamento”, de Assis Valente. No mesmo ano passou a apresentar o programa radiofônico “Orquestra de Gaitas”.
Em 1941, criou o programa “A Canção Antiga” e gravou, entre outras, a chula “Iaiá me guarde seu doce…”, de sua autoria, o frevo canção “Qual será o escore meu bem?”, de Nelson Ferreira e Ziul Matos e o choro “João da Conceição”, de Jorge Nóbrega. Em 1942 gravou as marchas “Passo do avestruz”, de Leonel Azevedo e Sá Róris e “Ai! Quem me dera”, de Peterpan e Felisberto Martins. No mesmo ano produziu o programa “História do Rio da Música”.
Em 1943 gravou de David Nasser e Haroldo Lobo a marcha “Bombardeio em Berlim” e “Adeus amigos!”. Com essas gravações despediu-se da carreira de cantor e passou a dedicar-se apenas à de radialista e pesquisador. No ano seguinte, produziu os programas “História das Danças”, “Campeonato Brasileiro de Calouros” e “História de Orquestras e Músicos”.
Em 1945 apresentou “Aquarela do Brasil” e, no ano seguinte, os programas “Anedotário de Profissões” e “Carnaval Antigo”. Em 1947 criou o programa “Incrível! Fantástico! Extraordinário!”, apresentado anos a fio na Rádio Nacional. Em 1948 criou o programa “O Pessoal da Velha Guarda”, no qual reverenciava antigos compositos e músicos. Em 1950 voltou às gravações, após sete anos, lançando pela Todamérica, a “Marchinha do poeta”, de sua autoria e Eratóstenes Frazão e o samba “Vamos Pavuna”, de Temistocles de Araújo e Norberto Martins. Em 1951 passou a apresentar na Rádio Tupi a série de programas “No Tempo de Noel Rosa”. No ano seguinte, voltou a gravar, juntamente com Jorge Goulart, Trio Madrigal e Trio Melodia, em disco no qual interpretaram as cenas caipiras “Festa de São João”, I e II, de autoria de João de Barro. No ano seguinte, produziu “Academia de Ritmos”.
Em 1953, criou “Recordações de Noel Rosa” e “Corrija o Nosso Erro”. Em 1954, organizou, em São Paulo, o Festival da Velha Guarda, apresentado com grande sucesso nos festejos do IV Centenário da cidade de São Paulo, reunindo cerca de 30 mil pessoas no Parque do Ibirapuera e repetido no ano seguinte. Por causa disso, ressurgiram grandes nomes da música popular como Ismael Silva, Donga, João da Baiana, Russo do Pandeiro e vários outros, e se formou o Grupo da Velha Guarda, liderado por Pixinguinha, que gravou alguns discos na Sinter. Zilco Ribeiro, um dos reis da noite do Rio de Janeiro, montou com esses artistas, na Boite Casablanca, o espetáculo “O Samba nasce no coração”, frase tirada de um samba de Noel Rosa em parceria com Vadico (“Feitio de Oração”). Por sua iniciativa, nessa época, foi criado o Dia da Velha Guarda – 23 de abril, aniversário de Pixinguinha – buscando a recuperação dos antigos músicos, cantores e compositores.
Em 1955 produziu “A Nova História do Rio pela Música” e “Recolhendo o Folclore”. No mesmo ano, gravou com a Velha Guarda o partido alto “Patrão prenda seu gado”, de João da Baiana, Donga e Pixinguinha. Em 1956 lançou pela Sinter o LP de dez polegadas “Almirante: a maior patente do rádio”, no qual estiveram presentes sucessos como os choros “Faustina”e “Olha o grude formado”, ambos de Gadé e também relançados em 78 rpm. No mesmo ano recebeu a comenda de Isabel, a Redentora. Além de cantor, compositor e radialista, foi grande estudioso da Música Popular Brasileira. Organizou um arquivo com milhares de partituras de piano, além de livros, fichários, classificadores, contendo informações importantes sobre a vida e a obra de nossos grandes compositores e intérpretes, num total de cerca de 50.000 mil peças. Em 1963, publicou o livro “No tempo de Noel Rosa” e em 1965 seu arquivo foi incorporado ao Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro, comprado ao radialista pela soma de 29 mil cruzeiros pelo então governador Carlos Lacerda, seu amigo pessoal. Passou na ocasião a trabalhar como funcionário do MIS e guardião do seu próprio acervo, durante a constituição do Museu, então estruturado por R. C. Albin, que enfrentando difícil falta de verbas, chegou a pagar, segundo ele, o salário do músico e pesquisador, do seu próprio bolso, durante alguns meses.
Em 1970 o selo Imperial lançou, com produção de Ary Vasconcelos, o LP “Um Almirante comanda o carnaval”, com músicas de sua autoria interpretadas pela Orquestra Odeon. Em 1978, recebeu o Troféu Estácio de Sá – Música Popular (M.I.S.-RJ). Em 1990, o jornalista, escritor, radialista e compositor Sérgio Cabral lançou o livro “No tempo de Almirante, uma história da MPB”. Por sua atuação no rádio recebeu o título de “A maior patente do Rádio brasileiro”. Em 2013, seu livro “No tempo de Noel Rosa – O nascimento do samba e a era de ouro da música brasileira”, pela Sonora Editora, com prefácio de Maecelo Fróes para essa terceira edição da Obra. A partir do livroi foi montada uma exposição homenagendo o autor e também a Noel Rosa no Instituto Cultural Cravo Albin, onde, aliás, o livro seria lançado. Em 2015, foi tema de dissertação de mestrado da Mestre em História Social da pesquisadora Giuliana Souza de Lima, que lançou o livro “Almirante, a mais alta patente do rádio”, pela editora Alameda.
(c/acompanahmento do Conjunto da Guarda Velha/Benedito Lacerda/Diabos do Céu)
(c/a Velha Guarda)
(c/Jorge Goulart, Trio Madrigal e Trio Melodia)
(c/Paulo Tapajós)
(c/Castro Barbosa)
(c/Gastão Formenti)
(c/Carmen Miranda)
(c/Bando de Tangarás)
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(c/o Bando de Tangarás e Luperce Miranda)
(c/Bando de Tangarás)
(c/Bando de Tangarás)
(c/Bando de Tangarás)
(c/Bando de Tangarás)
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
CABRAL, Sérgio. No tempo de Almirante – uma história do Rádio e da MPB. Editora: Francisco Alves. Rio de Janeiro, 1990.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da Música Popular. Editção do autor: Rio de Janeiro, 1965.
COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.
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LIMA, Giuliana Souza de. Almirante, a mais alta patente do rádio. Editora Alameda. Rio de Janeiro, 2015.
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