
Cantora. Compositora.
Começou a cantar nas serestas da família e aos 12 anos entrou para o Conservatório Lorenzo Fernandez, em Minas, para estudar canto.
Aos 17 anos deixou Montes Claros, transferindo-se para Belo Horizonte.
Em 1976 iniciou estudos de canto com Eládio Pérez-González.
Em 1986, em São Paulo, no Centro de Pesquisas Teatrais, dirigido por Antunes Filho, aprofundou seu trabalho de pesquisa sobre a obra de João Guimarães Rosa.
Em 1988 regressou a Montes Claros, onde chegou a presidir o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente. Nesse período dedicou-se a uma vasta pesquisa da música popular brasileira, que resultou numa série de recitais temáticos, seguidos de debates. O chamado “Projeto raízes e antenas” foi articulado com sindicatos, ONGs ambientalistas, movimentos sociais, universidades e escolas, e debateu temas como a ecologia dos cerrados, a desagregação da cultura sertaneja, a condição da mulher e os direitos humanos. Também o trabalho com a obra de João Guimarães Rosa se intensificou, produzindo trabalhos coletivos, como as pesquisas “Grande sertão veredas e seus ecossistemas”; “Cavernas do Grande sertão”; “Ecossistemas Grande sertão: veredas – as transformações culturais e a destruição ambiental no norte de Minas”; “Veredas do Peruaçu” e “O ciúme em Grande sertão veredas”.
Começou a cantar profissionalmente aos 18 anos.
Em 1966 participou dos espetáculos “Taí nosso canto” e “Collage 66”, que apresentavam novos artistas mineiros. Por essa época, junto com Clementina de Jesus, fez o show “O velho e o novo”. Participou de diversos festivais e em alguns ganhou o prêmio de “Melhor Intérprete”.
Em 1972 participou do programa de calouros de Silvio Santos, em São Paulo, e ganhou o primeiro prêmio interpretando “Atrás da porta” (Francis Hime e Chico Buarque) e “Expresso 2222” (Gilberto Gil), o que lhe valeu a antológica nota máxima do crítico José Fernandes e uma crônica, no Jornal O Dia, na qual ele a chamou de “A Sarah Bernhardt da canção”.
Em 1973, contratada pela gravadora RCA, mudou-se para o Rio de Janeiro. Na ocasião, gravou várias versões da composição “Amo-te (mesmo?) muito”, composta por Caetano Veloso especialmente para a cantora, não lançadas pela gravadora com a justificativa de serem pouco comerciais. Gravou então um outro compacto simples com as canções “Quase meio dia” (Piry Reis, João Carlos Pádua e Geraldo Carneiro) e “Viva México” (Piry Reis e Geraldo Carneiro), lançado pela gravadora, porém não trabalhado pelo departamento de Marketing. Logo depois, a cantora rescindiu contrato com a RCA Victor. Nesse período, sobreviveu cantando nas casas noturnas da Lapa, centro do Rio de Janeiro. Participou de vários shows coletivos, como “Circuito aberto de música brasileira”, que buscavam espaço para os novos músicos. Também apresentou shows elogiados pela crítica: “Canto mulato”, “O riso e a faca”, “Cante a palo seco” e “Batalhão das sombras”. Por essa época, participou intensamente do Comitê Brasileiro pela Anistia e dos movimentos de resistência ao regime militar.
Em 1978, com Jards Macalé e Moreira da Silva, fez o Projeto Pixinguinha no Teatro Dulcina. No ano seguinte, fundou a “Companhia Vento de Raio”, seu próprio selo fonográfico. Lançou o primeiro disco, no qual interpretou, entre outras, “O cavaleiro e os moinhos” (João Bosco e Aldir Blanc), “Perna curta” (J.C Mello, Passoca e Gerson Deslandes), “Amo-te muito” (João Chaves), “Amo-te (mesmo) muito” (Caetano Veloso), “Vento de maio” (Telo e Márcio Borges), “Esta é a sua vida” (João Bosco e Aldir Blanc), “Tá lembrado de mim?” (R. Nascimento e W. Montenegro), “Ponta do Seixas” (Cátia de França), “A mulata” (D.P), “A carta” (Tom Zé), “Meu amor não sabia” (Ivan Lins e Vítor Martins), “Negação” (João Bosco e Aldir Blanc) e “Amanheceremos” (Jaime Alem), sendo um dos primeiros discos independente de uma cantora no Brasil. Sobre este LP escreveu Tárik de Souza no Jornal do Brasil: “O disco de estréia da cantora Aline é um dos mais consistentes deste pacote de produções independentes. Aline revela-se uma cantora de timbre e fraseado incomuns, com uma abordagem arrojada das músicas. A respeito da validade do disco alternativo, no seu caso o resultado é mais que afirmativo”. Ainda sobre o primeiro disco, José Ramos Tinhorão elogiou: “O disco de estréia da cantora Aline conta, por exemplo, com Toninho Horta na guitarra, João Bosco no violão e Rubinho na bateria, e ainda exibe o nome de Aldir Blanc assinando um texto de contracapa que vale por um manifesto dos independentes” – Jornal do Brasil, 30/08/1980.
Em 1982 lançou o LP “Uma face outra face”. No disco, com arranjos de Zé Américo, interpretou “Muy amigos” (Maurício Tapajós e Aldir Blanc); “Mãos” (Sueli Costa e Aldir Blanc); “Manhattan” (Sueli Costa e Tite de Lemos), “Vento” (Toninho Horta) e “Beleza maior”, de Henrique Silva. Também foram incluídas “Menina Jesus” (Tom Zé), “Samba do camburão” (J.C. Mello e Gérson Deslandes), “Ôrra meu” (Rita Lee e Roberto de Carvalho), “Coisa mais maior de grande” (Gonzaguinha) e “Canta mais” (Tom e Vinicius). Neste mesmo ano, fez vários shows de lançamento do disco, dentre eles o show “Uma face, outra face”, no Sesc de São João de Meriti, com direção de Sidney Cruz. Ainda em 1982, produziu o disco “Planalto dos cristais”, do pianista e arranjador Helvius Vilela.
No ano de 1987 apresentou em vários espaços o espetáculo “Amo-te muito”, com canções entremeadas com textos de Guimarães Rosa. No ano seguinte lançou o LP “Mares de Minas”, acompanhada em quase todas as faixas pelo guitarrista Toninho Horta. No disco foram incluídas, entre outras, “Mar de Espanha” (Sueli Costa e Capinam), “Papel marchê (João Bosco e Capinam), “Dois mil e índio” (João Bosco e Aldir Blanc), “Vida consagrada” (Élcio Lucas e Mença), “Infância” (Hélvius Vilela), “Noite no sertão” (Aline), “Era só o começo do fim” (Yuri Popoff), “O bardo” (João Chaves), “Yo digo que las estrellas” (Silvio Rodríguez) e “Rama da alegria” (Sônia Prazeres). No ano seguinte apresentou espetáculos baseados na obra de Guimarães Rosa, “O melhor de tudo é a água” e “Alegria é o justo”.
Faleceu em 2003. Deixou dois trabalhos inéditos: um com gravação de canções de amor, entre elas “Beatriz” (Edu Lobo e Chico Buarque), “Paula e Bebeto” (Milton Nascimento e Caetano Veloso) e “Volver a los dicesiete” (Violeta Parra), feitas com o músico francês Bernard Aygadoux, e uma gravação da obra da artista plástica e compositora mineira Lisabeth Emmermacher.
Um de seus fãs mais ardorosos foi João Francisco dos Santos, o Madame Satã, para quem sempre cantava “Nervos de aço” (Lupicínio Rodrigues).