Poeta. Letrista. Cronista.
Nascido no Estácio, na Rua Pedreira, aos três anos a família mudou-se para Vila Isabel, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro.
Começou a compor aos 16 anos, com Sílvio da Silva Júnior.
Em 1966, ingressou na Faculdade de Medicina, especializando-se em Psiquiatria.
Em 1973, abandonou a Medicina, passando a se dedicar exclusivamente à música.
Publicou vários livros, entre os quais “Rua dos Artistas e Arredores” (Ed. Codecri, 1978); “Porta de tinturaria” (1981), “Brasil passado a sujo” (Ed. Geração, 1993); “Vila Isabel – Inventário de infância” (Ed. Relume-Dumará, 1996), e “Um cara bacana na 19ª” (Ed. Record, 1996), com crônicas, contos e desenhos. Escreveu crônicas para os jornais O Dia (RJ), “O Estado de São Paulo” e O Globo.
Lançou em 2006 o livro “Rua dos Artistas e transversais” (Editora Agir), que reúne seus livros de crônicas “Rua dos Artistas e arredores” e “Porta de tinturaria”, e ainda trouxe outras 14 crônicas escritas para a revista “Bundas” e para o “Jornal do Brasil”.
Considerado carioca exemplar em ação e comportamento, sendo frequentador assíduo dos blocos carnavalescos Simpatia é Quase Amor (nome de sua autoria) e Nem Muda Nem Sai de Cima, além de frequentar esporadicamente os bares cariocas Bip-Bip e Bar da Maria.
Torcedor do clube carioca Vasco da Gama, o que torna público em suas crônicas.
No ano de 1998 estreou o musical “Aldir Blanc, Um Cara Bacana”, dirigido e estrelado pelo ator e cantor Cláudio Tovar, baseado em composições de sua autoria, em parcerias com vários melodistas, tais como João Bosco nas “Kid Cavaquinho” e “Lina de passe”. Dois anos depois, em 2010, seria a vez do musical “Era do Tempo Rei”. Baseado no romance homônimo de Ruy Castro, o musical contou com trilha sonora composta por Aldir Blanc e Carlos Lyra, para o qual compuseram polcas, maxixes, fados e lundus.
Trabalhou como roteirista nas revistas “A Tocha da América” e “Fi-lo porque qui-lo”.
Alexandre Ribeiro de Carvalho, André Sampaio e José Roberto de Morais, filmaram e dirigiram o documentário “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, no qual foi traçado a trajetória do escritor através de suas letras; de sua luta pelo direito autoral e suas paixões pelo clube carioca Vasco da Gama e a Escola de Samba Salgueiro.
Também foi lançado o livro “Aldir Blanc – Resposta ao Tempo”, biografia escrita pelo jornalista Luiz Fernando Viana, na qual, além da vida do escritor, foram perfiladas 450 letras de sua autoria.
No ano de 2016 a Mórula Editorial relançou os livros “Ruas dos Artistas e Arredores”, “Porta de Tinturaria” e um outro volume com textos produzidos para o site “No”. Também foi lançado um volume com textos sobre jazz “Aldir Blanc – Crônicas Inéditas, com trabalhos publicados na Revista Bundas e em sua coluna no Jornal O Globo, entre outros, além da reedição do livro “Vila Isabel, Invenção da Infância”, ampliado com outras crônicas sobre o bairro.
Também em 2016 O músico Tiago Prata fundou o bloco carnavalesco “Blanc Bloco”, que desfilava pela cidade cantando músicas do compositor. No ano posterior, em 2017, foi lançada a coleção “Aldir 70” (Mórula Editorial) em roda de samba na Livraria Folha Seca, na Rua do Ouvidor, Centro do Rio de Janeiro.
No ano de 2019 os jornalistas Hugo Sukman e Marcus Fernando deram início a um documentário, em parceria com o Canal Brasil, sobre a vida e obra do letrista, para o qual foram produzidas oito horas de gravações.
No dia 15 de abril de 2020 foi internando no Hospital Pedro Ernesto, em Vila Isabel, com Corona vírus, indo a óbito no dia 4 do mês posterior. Dos diversos textos e depoimentos sobre o compositor, que foram publicados nas midias eletrônicas e impressas, destacamos o de João Bosco, seu principal parceiro e amigo:
“Peço desculpas aos que têm me procurado hoje. Não tenho condições de falar. Aldir foi mais do que um amigo pra mim. Ele se confunde com a minha própria vida. A cada show, cada canção, em cada cidade, era ele que falava em mim. Mesmo quando estivemos afastados, ele esteve comigo. E quando nos reaproximamos foi como se tivéssemos apenas nos despedido na madrugada anterior. Desde então, voltamos a nos falar ininterruptamente. Ele com aquele humor divino. Sempre apaixonado pelos netos. Ele médico, eu hipocondríaco. Fomos amigos novos e antigos. Mas, sobretudo, eternos. Não existe João sem Aldir. Felizmente nossas canções estão aí para nos sobreviver. E como sempre ele falará em mim, estará vivo em mim, a cada vez que eu cantá-las. Hoje é um dos dias mais difíceis da minha vida. Meu coração está com Mari, companheira de Aldir, com seus filhos e netos. Perco o maior amigo, mas ganho, nesse mar de tristeza, uma razão pra viver: quero cantar nossas canções até onde eu tiver forças. Uma pessoa só morre quando morre a testemunha. E eu estou aqui pra fazer o espírito do Aldir viver. Eu e todos os brasileiros e brasileiras tocados por seu gênio.”
Sob o título “Aldir Blanc, tão grande quanto Noel Rosa”, o escritor Ricardo Cravo Albin também lhe prestou homenagem em sua coluna semanal do jornal O Globo, da qual destacamos alguns trechos:
“Não se surpreendam com o título deste pequeno réquiem, muito sofrido para mim, que dedico ao mais importante letrista da MPB desde Noel Rosa. E por quê? Porque para os que amam e sentem os desvios e as esquinas da alma carioca, há poucos compositores capazes de absorver esses pequenos mistérios, mumunhas e segredos que só o Rio de Janeiro pode ostentar. Noel Rosa foi excepcional na carioquice. Tanto quanto Aldir Blanc.
Conheci Aldir Blanc em 1969, muito jovem, nos bastidores de um festival chamado ‘Festival Universitário da MPB’. Estava no júri, até porque eu tinha liberado o Museu da Imagem e do Som para chancelar aquele concurso original de músicas feitas por universitários.
O jovem estudante de medicina Aldir ganhou o festival de 1969 com a canção Amigo é pra essas coisas, interpretada pelo MPB 4, em parceria com Silvio da Silva Junior. Até pelo título, já se deduz o caráter solidário e generoso do proceder da poesia, sim, digo poesia, do Aldir. Ao cumprimentar o letrista nos bastidores do Festival demonstrei a ele, como é do meu feitio sanguíneo, o entusiasmo pela sua letra e pela música do parceiro, declarando-lhe o que deveriz ser segredo – o voto do presidente do júri.”
Na data de 4 de maio de 2023 foi inaugurado um monumento em sua homenagem, no encontro das ruas Garibaldi e Marechal Trompowski, no bairro da Muda, sub-bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde viveu por quatro décadas. O monumento, criado pelo artista plástico Mello Menezes, tem sua figura ao lado de texto assinado pelo jornalista Luís Pimentel. Ao final da homenagem, que contou com a presença do então prefeito da cidade, Eduardo Paes, os amigos Moacyr Luz e Moyséis Marques apresentaram a música inédita “4 de maio”, emocionando todos os presentes.
Em 1963, começou a aprender bateria. Por essa época, fundou o conjunto Rio Bossa Trio. Mais tarde, o grupo passou a se chamar GB 4, devido ao ingresso de outro componente, Sílvio da Silva Júnior, com quem viria a compor um de seus maiores sucessos. Por essa época, atuou como baterista nos shows do Teatro Azul.
No ano de 1968 compôs com Sílvio da Silva Júnior “A noite, a maré e o amor”, música classificada no “III Festival Internacional da Canção” (TV Globo). No ano seguinte, em 1969, classificou mais três músicas no “II Festival Universitário da Música Popular Brasileira”: “De esquina em esquina” (c/ César Costa Filho), interpretada por Clara Nunes; “Nada sei de eterno” (c/ Sílvio da Silva Júnior), defendida por Taiguara; e “Mirante” (c/ César Costa Filho), interpretada por Maria Creuza. No ano posterior, em 1970, classificou-se no “V Festival Internacional da Canção” com a composição “Diva” (c/ César Costa Filho). Neste mesmo ano, despontou seu primeiro grande sucesso, “Amigo é pra essas coisas” (c/ Sílvio da Silva Júnior), interpretado pelo grupo MPB-4, com o qual participou do “III Festival Universitário de Música Popular Brasileira”. Nessa época, juntamente com outros poetas, como Ivan Wrigg, Kuri e Luiz Alfredo Mileco, formou o grupo Adversos. Paralelamente, integrou o MAU (Movimento Artístico Universitário), do qual também participavam César Costa Filho, Ivan Lins, Paulo Emílio, Sílvio da Silva Júnior, Gonzaguinha e o poeta Marco Aurélio. Com esse grupo de artistas, promoveu diversos shows e encontros. No ano seguinte, em 1971, sua composição “Ela” (c/ César Costa Filho), foi gravada por Elis Regina. A música deu título ao disco da cantora. Neste mesmo ano de 1971 conheceu João Bosco, apresentados pelo amigo comum Pedro Lourenço, que logo sugeriu a parceria de ambos.
No ano de 1972, João Bosco registrou com sua voz a primeira composição da dupla, “Agnus sei”, lançada pelo jornal “O Pasquim”, na série “Disco de bolso”, que trazia, no lado A, Antonio Carlos Jobim interpretando “Águas de março”. Nesse mesmo ano, Elis Regina gravou “Bala com bala”, de sua parceria com João Bosco, e Elizeth Cardoso gravou “Velho amor”, de sua parceria com César Costa Filho. No ano posterior, em 1973, no disco “Elis”, a cantora incluiu várias composições da dupla João Bosco e Aldir Blanc, como “Cabaré”, “Comadre”, “Agnus sei” e “Caçador de esmeralda”, essa última assinada também por Cláudio Tolomei. Nesse mesmo ano, de 1973, João Bosco gravou 12 parcerias da dupla no LP “João Bosco”, produzido por Rildo Hora, com arranjos de Luizinho Eça em seis faixas, e lançado pela gravadora RCA Victor, destacando-se “Cabaré” e “Bala com bala”. O disco teve seis faixas retiradas por conta de imposição de executivos da gravadora e foram incluídas outras seis, desta vez com arranjos de Rogério Duprat.
No ano de 1974, participou da fundação da Sombras, sociedade responsável pela defesa de direitos autorais. A entidade também foi um dos fomentadores de encontros musicais, promovendo shows e espetáculos em vários locais. Ainda nesse ano, Elis Regina lançou pela Philips um LP incluindo novas composições da dupla: “O mestre-sala dos mares”, “Dois pra lá, dois pra cá” e “Caça à raposa”. No ano seguinte, em 1975, Simone incluiu “Latin lover” no LP “Gota d’água”. João Bosco lançou o LP “Caça à raposa”, interpretando vários sucessos da dupla, como “De frente pro crime” e “Kid Cavaquinho”, entre outras, e ainda incluiu na trilha da novela “Gabriela” (TV Globo) outra parceria de ambos, “Doces olheiras”. Ainda em 1975, o grupo MPB-4 gravou “De frente pro crime”. No ano seguinte, em 1976, Elizeth Cardoso interpretou de sua autoria “De partida” (c/ João Bosco) e o grupo MPB-4 “O ronco da cuíca” (c/ João Bosco).
No ano de 1977, Elis Regina gravou, no LP “Falso brilhante”, “Um por todos”, “Jardins de infância” e “O cavaleiro e os moinhos”, todas parcerias de Bosco e Blanc. Nesse mesmo ano, compôs com João Bosco a música “Visconde de Sabugosa” para o seriado “Sítio do pica-pau amarelo” (TV Globo). Ainda em 1977, Elis Regina gravou “Transversal do tempo”, parceria com João Bosco. No ano posterior, em 1978, “Transversal do tempo” foi regravada por Elis Regina e deu título ao disco da cantora, que incluiu também “O rancho da goiabada”. Nesse mesmo ano, Sueli Costa registrou no LP “Vida de artista” a canção “Mãos”, parceria de ambos. Elizeth Cardoso incluiu, no LP “A cantadeira do amor”, a canção “Me dá a penúltima”, parceria com João Bosco.
Em 1979, fundou, ao lado de Maurício Tapajós, entre outros, a Saci (Sociedade de Artistas e Compositores Independentes). Nesse mesmo ano, foi lançado pela gravadora PolyGram o disco “Elis especial”, no qual a cantora interpretou “Violeta de Belford Roxo”, “Ou bola ou búlica” e “Bodas de prata”, todas de sua parceria com João Bosco. Também em 1979, Elis Regina interpretou um dos maiores sucessos, tanto do compositor quanto da cantora, “O bêbado e a equilibrista” (c/ João Bosco) no disco “Elis, essa mulher”, que incluiu também “Beguine dodói” (c/ João Bosco e Cláudio Tolomei) e “Altos e baixos” (c/ Sueli Costa). Ainda nesse ano, Lourenço Baeta registrou em seu LP as canções “Cantos” e “A última diligência”, parceria de ambos.
No início da década de 1980, participou, juntamente com Maurício Tapajós, Nei Lopes, Marcus Vinicius e Paulo César Pinheiro, entre outros, da fundação da Amar (Associação dos Músicos, Arranjadores e Regentes), entidade responsável pela arrecadação de direitos autorais. Também em 1980, Djavan incluiu no disco “Alumbramento” as parcerias de ambos, intituladas “Aquele um” e “Tem boi na linha”, esta última também com Paulo Emílio.
Em 1981, Djavan registrou no disco “Seduzir” outra parceria dos dois, “Êxtase”. Ainda nesse ano, participou do disco de Márcio Proença, interpretando com o músico “Fêmea de Atlântida”, parceria de ambos.
Sua composição “Nação” (c/ João Bosco e Paulo Emílio), gravada em 1982 no disco de mesmo nome, tornou-se um dos grandes sucessos na carreira da cantora Clara Nunes.
Muitos intérpretes fizeram sucesso com as composições da dupla Bosco e Blanc: Maria Alcina (“Kid Cavaquinho”), Ângela Maria (“Miss Suéter”), Elis Regina (“O cavaleiro e os moinhos”, “Dois pra lá, dois pra cá”, “Gol anulado” e “Transversal do tempo”), Cláudia (“Bala com bala”), Clementina de Jesus (“Incompatibilidade de gênios”), Solange Kafuri (“Trilha sonora”), entre outros.
Por volta de 1982, com o fim de sua parceria com João Bosco, passou a compor mais intensamente com outros artistas da MPB, fazendo com Guinga sua parceria mais fecunda.
Elis Regina também fez sucesso com composições suas com outros parceiros, como “Querelas do Brasil” (c/ Maurício Tapajós).
Em 1982, Cláudio Cartier gravou “Mil atrações”, parceria de ambos. Nesse mesmo ano, Aline interpretou “Muy amigos” (c/ Maurício Tapajós) e “Mãos” (c/ Sueli Costa) no LP “Uma face, outra face”.
Em 1984, Filó gravou “Boca de dendê”, parceria de ambos, no disco “Canto fatal”. Também nesse ano, lançou pelo selo Saci o disco-duplo “Aldir Blanc & Maurício Tapajós” e “Rio, ruas e risos”, ambos exclusivamente de composições da dupla, contendo, entre outras, “Valsa do Maracanã” e “Entre o torresmo e a moela”, sendo, mais tarde, reeditado em CD em uma versão reduzida.
Em 1988, Moacyr Luz registrou parcerias de ambos no disco “Só Moacyr Luz” (selo Acre). No ano seguinte, em 1999, Fafá de Belém interpretou “Coração agreste” (c/ Moacyr Luz), contemplada com o “Prêmio Sharp”, na categoria “Melhor Música”. A composição foi incluída na trilha sonora de novela da Rede Globo. Outra composição de sua parceria com Moacyr Luz, “Mico preto”, foi tema de novela da Rede Globo, na interpretação de Gilberto Gil. Ainda em 1989, o grupo Fundo de Quintal registrou “Ciranda do povo”, de sua parceria com Cléber Augusto, um dos integrantes do conjunto. A música deu título ao disco lançado pela gravadora RGE.
Em 1990, Selma Reis gravou “Chão brasileiro”, de sua parceria com Wagner Tiso, e “Oliúdi-fox”, de sua parceria com Guinga. No ano seguinte, em 1991, seu parceiro mais constante, Guinga, gravou o CD “Simples e absurdo” (Velas), no qual as composições da dupla foram interpretadas por Leny Andrade, Chico Buarque, Claudio Nucci, Leila Pinheiro, Ivan Lins, Beth Bruno, Zé Renato e o conjunto Be Happy.
Em 1993, Edu Lobo gravou, no disco “Corrupião”, duas músicas de autoria dos dois: “Sem pecado” e “Ave rara”. Nesse mesmo ano, o grupo Batacotô gravou várias composições de sua parceria com Ivan Lins e Vítor Martins: “Quitambô”, “Nega Daúde”, “Tá que tá”, “Camaleão”, esta interpretada por Dionne Warwick e Ivan Lins, e o grande sucesso do grupo, “Confins”, que se tornou tema de novela da Rede Globo. Ainda nesse ano, Fátima Guedes gravou suas canções “Vô Alfredo”, “Diluvianas”, “Destino Bocaiúva” e “Sete estrelas”, todas com Guinga, “Restos de um naufrágio” (c/ Moacyr Luz), em disco lançado pela Velas.
Em 1995, a composição “Ave rara” (c/ Edu Lobo) foi registrada no songbook do parceiro na interpretação de Zélia Duncan, Cristóvão Bastos e Marco Pereira. Nesse mesmo ano, Moacyr Luz, comemorando 10 anos de parceria com Aldir Blanc, lançou o disco “Vitória da ilusão” (Caju Music), no qual gravou várias músicas de ambos. No ano posterior, em 1996, Leila Pinheiro lançou o CD “Catavento e girassol” (EMI Music), registrando exclusivamente composições de sua parceria com Guinga. O disco atingiu rapidamente a vendagem de 100 mil cópias. Neste mesmo ano, por conta de seu 50º aniversário, gravou disco comemorativo, lançado pela gravadora Alma Produções, fundada pelo letrista e amigo Marco Aurélio. Na abertura do CD, um registro na voz de Dorival Caymmi:
“Aldir Blanc é compositor carioca. É poeta da vida, do amor, da cidade. É aquele que sabe como ninguém retratar o fato e o sonho. Traduz a malícia, a graça e a malandragem. Se sabe de ginga, sabe de samba no pé. Estamos falando do Ourives do Palavreado. Estamos falando de poesia verdadeira. Todo mundo é carioca, mas Aldir Blanc é carioca mesmo”
O CD contou com a participação de vários cantores, como Carol Saboya (“Carta de pedra”, com Guinga); Edu Lobo (“Pianinho”, parceria de ambos); Nana e Danilo Caymmi (“Siameses”, com João Bosco); Rolando (“Na orelha do pandeiro”, com Bororó e Lúcia Helena); Arranco de Varsóvia (“Vim sambar”, com João Bosco e Cacaso); Wilson Moreira, Walter Alfaiate e Nei Lopes (“Mastruço e catuaba”, com Cláudio Cartier); Emílio Santiago (“Nação”, “Querelas do Brasil” e “Saudades da Guanabara”, esta com Moacyr Luz e Paulo César Pinheiro); Ed Motta (“Crescente fértil”, parceria de ambos); Leila Pinheiro (“Cegos de luz”, com Ivan Lins), Clarisse Grova (“Reencontro”, com Moacyr Luz), Cris Delano (“Sonho de válvula”, com Gilson Peranzzetta), Paulinho da Viola (“50 anos”, com Cristóvão Bastos) e o próprio letrista interpretando “Anel de ouro” (c/ Raphael Rabello), “Canário-da-terra” (c/ João de Aquino), “Negão nas paradas” (c/ Guinga), “Lua sobre sangue” (c/ Cláudio Jorge), “Retrato cantado” (c/ Márcio Proença) e “Pequeno circo íntimo” (c/ Ivan Lins e Paulo Emílio), esta com Ivan Lins. O disco incluiu também a faixa “O bêbado e a equilibrista”, com Betinho, MPB-4 e Coral da Vida, formado exclusivamente para a gravação desta música, que abrigou quase uma centena de artistas da MPB. Ainda em 1996, igualmente fazendo parte das comemorações do cinquentenário do compositor, foi lançado o livro “Um cara bacana na 19ª”, que contou com o seguinte texto de Chico Buarque:
“Aldir Blanc é uma glória das letras cariocas. Bom de se ler e de se ouvir, bom de se esbaldar de rir, bom de se Aldir.”
O livro e o disco foram lançados em show comemorativo no Canecão (RJ). Neste mesmo ano, de 1996, foi convidado por Marcelo Vianna, neto de Pixinguinha, para letrar quatro músicas do avô, em comemoração ao centenário de nascimento do músico. Ainda em 1996, Renato Braz gravou “7×7”, de sua parceria com Guinga. No ano seguinte, em 1997, Clarisse Grova lançou o CD “Novos traços” (Alma Produções), no qual interpretou 13 composições da parceria do letrista com o pianista Cristóvão Bastos, entre as quais “Enseada”, “Dores Dolores”, “Não tava pra peixe” e o sucesso “50 anos”, além de “Cravo e ferradura”, também assinada pela cantora.
Em 1998, Nana Caymmi fez sucesso com sua canção “Resposta ao tempo” (c/ Cristóvão Bastos), música-tema da minissérie “Hilda Furacão” (Rede Globo), vencedora do Prêmio Sharp daquele ano, na categoria Melhor Música. Também em 1998, Moacir Luz gravou o CD “Mandingueiro” (Dabliú), no qual incluiu diversas parcerias dos dois, entre as quais “Encontros cariocas”, “Gotas de samba”, “Chupa cabra com ketchup” e a faixa-título. Nesse mesmo ano Walter Alfaiate incluiu no CD “Olha aí!” a canção “Botafogo, chão de estrelas”, parceria de Aldir com Paulinho da Viola. Logo, no ano posterior, em 1999, Nana Caymmi voltaria a fazer sucesso com “Suave veneno”, outra composição da dupla Cristóvão Bastos e Aldir Blanc, tema da novela homônima da Rede Globo. Nesse mesmo ano, Cláudio Tovar escreveu e encenou o musical “Aldir Blanc – um cara bacana”.
No ano 2000, participou como convidado especial do disco do compositor Casquinha da Portela, interpretando a faixa “Tantos recados” (Casquinha e Candeia). Nesse mesmo ano, Dudu Nobre gravou a primeira parceria de ambos, “Blitz funk”, no disco “Moleque Dudu”, produzido por Rildo Hora. Também em 2000, compôs, juntamente com Cristóvão Bastos, a trilha sonora do musical “Tia Zulmira e nós”, adaptação do jornalista João Máximo para os textos de Stanislaw Ponte Preta (pseudônimo de Sérgio Porto), com direção de Aderbal Freire Júnior. Ainda em 2000, João Bosco e Dudu Nobre interpretaram “Kid Cavaquinho” no disco “Casa de samba 4”, produzido por Rildo Hora, e Kiko Furtado incluiu, no disco “Janela”, a canção “Súplica de pai”, parceria de ambos. Na sexta-feira de carnaval do ano 2000, sua música “O mestre-sala dos mares” foi tema do desfile do bloco do Museu da Imagem e do Som (MIS), que homenageou a Revolta da Chibata, liderada pelo marinheiro João Cândido, cujo depoimento secreto prestado a Ricardo Cravo Albin no MIS, em 1968, acabara de ser editado em livro.
Em 2001 compôs com Marco Pereira, “Teatro da natureza”, música-tema da trilha sonora da peça Teatro Popular Brasileiro. No ano seguinte, em 2002, Lucinha Lins regravou, no CD “Canção brasileira”, a composição “Altos e baixos”, parceria do letrista com Sueli Costa, a compositora homenageada no disco. Também em 2002, participou do songbook de João Bosco, disco no qual interpretaram juntos “O bêbado e a equilibrista”. Em setembro desse mesmo ano, foi lançado, no Sesc da Tijuca (RJ), o livro “A poesia de Aldir Blanc” (Editora Irmãos Vitale), songbook organizado pelo crítico musical Roberto M. Moura. Apresentou-se na Lona Cultural João Bosco, ao lado de Moacyr Luz. Ainda em 2002, foi lançado o livro “Velhas histórias, memórias futuras” (Editora Uerj), de Eduardo Granja Coutinho, no qual o autor faz várias referências ao letrista. Também nesse ano, foi lançado o livro “Driblando a censura – De como o cutelo vil incidiu na cultura”, de Ricardo Cravo Albin, no qual consta o relato de uma composição de sua autoria proibida pela censura e liberada pelo crítco dentro do Conselho Superior de Censura, a música “Êxtase” (c/ Djavan). Devidamente liberada, a música foi incluída no LP “Deslumbramento”, lançado pelo parceiro. O Conselho Superior de Censura tinha a função de provocar a transição de um Estado de Exceção para um Estado de Direito, atuando incisivamente, entre os anos de 1979/1989, na liberação de músicas, livros, peças, novelas, caso especial, filmes e outras obras intelectuais proibidas pelo regime militar.
Em 2003, Walter Alfaiate lançou o CD “Samba na medida” (gravadora CPC-Umes), no qual incluiu a canção “Mastruço e catuaba”, parceria do letrista com Cláudio Cartier. Neste mesmo ano, de 2003, compôs com Mú Carvalho a canção “Chocolate com pimenta”, tema de abertura da novela homônima da Rede Globo. Também em 2003, sua composição “Nação” (c/ João Bosco e Paulo Emílio) foi registrada por Renato Braz no CD “Um ser de luz – Saudação a Clara Nunes”. Dois anos depois, em 2005, lançou o CD “Vida noturna”, interpretando parcerias com João Bosco, Guinga, Moacyr Luz, Maurício Tapajós, Hélio Delmiro, entre outros. Disco que o próprio compositor considera o seu melhor trabalho destacando-se as faixas “Dois bombons e uma rosa”, “Dry” e seu sucesso (na voz de Nana Caymm) “Resposta ao tempo”, feita em parceria com o pianista Cristóvão Bastos.
Compôs, em parceria com Carlos Lyra, a trilha sonora do espetáculo “Era no tempo do Rei”, baseado no livro homônimo de Ruy Castro, que estreou em março de 2010 no Teatro João Caetano (RJ) com direção geral de João Fonseca, direção musical de Délia Fischer e roteiro assinado por Heloisa Seixas e Julia Romeu. Constam da trilha as seguintes composições “Abertura”, “Carnaval tropical”, “Ária do Calvoso”, “Sois Rei?”, “Bárbara onça”, “Amor e ódio”, “Amor ordinário”, “Senta, João”, “Fado de Maria, A Louca”, “Carta e profecia de Espanca”, “Solilóquio do Vidigal”, “Lundu do Vidigal”, “Maxixe das criadas”, “O Rei das Ruas”, “Verso e reverso”, “A galinha e a broa”, “Soneto de Bárbara morta”, “Borboleta de asa negra” e “Rancho de encerramento”. Nesse mesmo ano, a trilha de “Era no tempo do Rei” foi lançada em CD.
No ano de 2014 Claudio Latini, no CD “Revivendo”, lançado na Noruega pelo Selo Ipê Mundi Records), regravou “Chuva miúda” (Cláudio Cartier e Aldir Blanc). No ano seguinte, em 2015, o letrista lançou o livro “Rio de Janeiro – alguns gênios e muitos delírios”, organizado pelo escritor Rafael Maieiro, lançado em uma roda de samba no Bar Bip-Bip, de Copacabana, considerado um dos pontos boêmios da Zona do Sul do Rio de Janeiro, no qual o letrista interpretou vários de seus clássicos, compostos com diversos parceiros.
No ano de 2016 a cantora Dorina fez turnê por vários teatros e espaços no Rio de Janeiro e São Paulo, com o espetáculo “Dorina canta Sambas de Aldir e Ouvir – 70 Anos de Aldir Blanc”, no Teatro Municipal Ziembinski, na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro. Logo depois, fez nova temporada, com o mesmo espetáculo, no Teatro Ipanema, na Zona Sul da cidade, levando também o show para São Paulo, para o Bar Samba, no bairro Vila Madalena, além de apresentação no Teatro Municipal Serrador, também no Rio de Janeiro, no qual contou com a participação especial da cantora e compositora Fátima Guedes. O espetáculo deu início às comemorações dos 70 anos do compositor, no qual a intérprete incluiu várias de suas composições clássicas com diferentes parceiros, tais como “O bêbado e a equilibrista”, “Casa de marimbondo” e “Navalha”, todas em parceria com João Bosco; “Imperial” (c/ Wilson das Neves) e ainda duas parcerias com Maurício Tapajós, além de inéditas como “Gordo” (em homenagem a Maurício Tapajós) e “Pretinho básico”, composta com Moyses Marques, todas, incluídas no DVD finalizado, em 2016, da cantora. Neste mesmo ano, a pedido da cantora portuguesa Maria João letrou “Movimento perpétuo” e “Sede e morte”, melodia do compositor português Carlos Paredes. Ainda em homenagem ao 70 anos do letrista, a cantora Simone Franco montou o espetáculo “A Duração de Um Verso”, no qual interpretou clássicos do compositor, entre os quais “Chá de panela”, em parceria com Guinga. Também em 2016 foi recuperada, de uma gravação de rolo de posse do produtor Rildo Hora, a gravação original da composição “Os Arcos – Paixão e Morte” (c/ João Bosco), que os parceiros fizeram para o primeiro disco de João Bosco, produzido por Rildo Hora em 1973. A composição, com nove minutos, foi vetada do disco de estreia por conta do seu tempo, considerado muito grande para os executivos da gravadora RCA, e por seu tema muito complexo, segundo eles.
Tem mais de 1000 músicas gravadas e quase a mesma quantidade de inéditas com diversos parceiros.
É considerado pelo dicionarista e crítico Ricardo Cravo Albin:
“O letrista mais estimulante da música carioca, absorvendo, a alma do Rio com a audácia de um Lima Barreto e a carioquice de um Marques Rebello.”
No ano de 2017 a cantora Dorina lançou o CD “Dorina Canta Sambas de Aldir & Ouvir – Ao Vivo”, no qual interpretou várias de suas composições com diversos parceiros, destacando-se as faixas “Pretinho Básico” (c/ Moiséis Marques), “Flores em Vida” (c/ Moacyr Luz), “O Mestre Sala dos Mares” (c/ João Bosco), “O Ronco da Cuíca” (c/ João Bosco), “De Frente pro Crime” (c/ João Bosco), “Imperial” (c/ Wilson das Neves), “Mandingueiro” (c/ Moacyr Luz), “Medalha de São Jorge” (c/ Moacyr Luz), “Cravo e Ferradura” (c/ Cristóvão Bastos e Clarisse Grova) e “O Bêbado e a Equilibrista”, parceria com João Bosco, entre outras. Neste mesmo ano, de 2017, a cantora portuguesa Maria João gravou o CD “A poesia de Aldir Blanc”.
Em 2020 Mariana Baltar, junto ao grupo Água de Moringa, lançou o CD “Os arcos: paixão e morte”, com as faixas “A cúmplice das noites” (c/ Josimar Carneiro); “Oração perdida” (c/ Jaime Vignolli e Luiz Flávio Alcofra); “Cara e coroa” (c/ Cristóvão Bastos) e “Querelas do Brasil” (c/ Maurício Tapajós);, além da faixa-título “Os arcos: paixão e morte”, antiga parceria com João Bosco. Neste mesmo ano, de 2020, a dupla Augusto Martins (voz) e Paulo Malaguti Pauleira (piano) lançou o single “Altos e baixos”, regravação da parceria de Sueli Costa e Aldir Blanc.Ainda em 2020, em comemoração ao seu aniversário de nascimento, foi feito um evento on line com vários artistas (parceiros e intérpretes) e amigos do compositor, entre os quais Dorina, Guinga, Lúcia Helena Weiss, Rubens Kurin, Joyce Cândido, Simone Franco Valle, Nilze Carvalho, Aurélie, Verioca, Ruy Faria, Chico Faria, Andréia Pedroso, Grupo Prepara Voz, Casoy, Crikka Amorim, Clarisse Grova e Eloin Seabra. O “Especial Aldi Blanc” foi levado ao ar através do canal do Youtube do Cento da Música Carioca Artur da Távola, espaço cultural ligado à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e Secretaria Municipal de Cultura.
No ano de 2021, mais precisamente no mês de maio, na ocasião de um ano do falecimento do letrista, a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) em seu canal oficial do Youtube lhe prestou homenagem reunindo alguns artistas para falar sobre a sua vida e a sua obra, dentre os quais Luís Pimentel, Jaime Vignoli, Marcus Fernando, Josimar Carneiro, Hugo Sukman e Manu da Cuíca, com mediação de Paulo Figueiredo em live intitulada “Memória Musical: Um Ano Sem Aldir Blanc”. Neste mesmo ano, de 2021, foi lançado o CD “Aldir Blanc – Inéditas”, com gravações de Chico Buarque, Maria Bethânia, João Bosco, Moacyr Luz e Guinga.
No ano de 2025 o parceiro Filó Machado lançou o álbum “Cisne Negro”, com 12 composições da dupla, entre as quais “Tudo é Tróia”; “Outras línguas”; “Praia pra cretino”; “Sedutor barato”; “Uma garrafa de rum”, “Boca de Dendê”; “Cinzel”; “Caledoscópio” e “Além das margens”, com um segundo parceiro, o baixista Jorge Hélder, além da faixa-título “Cisne negro”. No trabalho, Filó Machado contou com as participações especiais das cantoras Alaíde Costa em “Quatro Elementos”, e Joyce Moreno na música “A índia e o atirador de facas”. A primeira composição “Vale o escrito” foi pela dupla, ainda na década de 1980, quando se conheceram em um estúdio no Rio de Janeiro, na época da gravação do LP “Seduzir”, de Djavan, parceiro de ambos em faixas no disco da época. Ainda em 2025, Mary Sá Freire, viúva do letrista, repassou para João Bosco a letra de “E aí?”, que a gravou em seu novo disco, assim coo a cantora Dorina gravou a inédita “É maré! Pato novo”, feita por Aldir, Ratinho e Abel Luiz. Outra composição de sua autoria, desta vez “Maria, nome formoso”, feita em parceria com Zé Reinaldo Marques, foi gravada pelo parceiro em dueto com a cantora Gisa Nogueira. Também em 2025 foi relançado o CD “Saudades Demais”, de Arthur Verocai, com uma nova versão da parceria de ambos “Guanabara”.
(Vários)
(vários)
(participação)
(c/ Maurício Tapajós)
(participação)
(c/ João Bosco)
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Com suas letras, muitas vezes beirando o escatológico, outras de um lirismo deliciosamente suburbano, Aldir Blanc é um admirável cronista carioca. Com assinatura pessoal e reconhecível já a partir da primeira frase, ele renova e mantém viva uma tradição que tem entre seus primeiros mestres na música popular Noel Rosa, mas que também se encontra no teatro e nas crônicas de Nelson Rodrigues, nos livros de um João Antônio, nas telas de um Rubens Gerchman, nos filmes dos anos 50 de um Nelson Pereira dos Santos. Ou, voltando à MPB, faz um inventário dos tipos e das ruas cariocas em canções como “De frente pro crime”, “Encontros cariocas”, “Kid Cavaquinho”, “Catavento e girassol”, “Mico-preto”, “Cachaça, árvore e bandeira”, “Delírio carioca”, “Dobra a língua”, “Dois pra lá, dois pra cá’, “Miss Suéter”, “Só dói quando eu rio”, “Prêt-à-porter de tafetá” e “Incompatibilidade de gênios”, que é comparável às fotografias da paisagem da cidade na obra de Tom Jobim (“Samba do avião”, “Corcovado” etc.).
Tais retratos do Rio, e do Brasil, botam Aldir entre os cinco maiores letristas da música popular brasileira. Letrista-compositor que mostra saber a diferença que existe entre os textos que escreve para as canções com a poesia e que também muito contribui para a música de seus parceiros. Prova maior disso é que o estilo sincopado ou embolerado dos sambas que fez com João Bosco prosseguiu em muitas das parcerias com Guinga, Edu Lobo, Moacyr Luz e Cristóvão Bastos.
No disco solo “50 anos”, que gravou com convidados em 1996 para comemorar o meio século de vida que completava, Aldir reafirmou suas principais características. Nas 20 faixas, a maioria eram composições inéditas – entre os grandes sucessos apenas foram incluídos “O bêbado e a equilibrista” (com João Bosco) e o pot-pourri com “Nação” (parceria com João Bosco e Paulo Emílio), “Querelas do Brasil” (com Maurício Tapajós) e “Saudades da Guanabara” (com Moacyr Luz e Paulo César Pinheiro). Nas restantes, Aldir alternou parcerias que iam de Guinga a Ed Motta, passando por Edu Lobo, Cláudio Jorge, Raphael Rabello, João de Aquino, Ivan Lins, mostrando uma exuberante criatividade e variado leque de temas.
Antônio Carlos Miguel
ALDIR BLANC, TÃO GRANDE QUANTO NOEL ROSA
Não se surpreendam com o título deste pequeno réquiem, muito sofrido para mim, que dedico ao mais importante letrista da MPB desde Noel Rosa. E por que? Porque para os que amam e sentem os desvios e as esquinas da alma carioca, há poucos compositores capazes de absorver esses pequenos mistérios, mumunhas e segredos que só o Rio de Janeiro pode ostentar. Noel Rosa foi excepcional na carioquice. Tanto quanto Aldir Blanc.
Conheci Aldir Blanc em 1969, muito jovem, nos bastidores de um festival chamado Festival Universitário da MPB. Estava no júri, até porque eu tinha liberado o Museu da Imagem e do Som para chancelar aquele concurso original de músicas feitas por universitários. Pela primeira vez, depois dos avassaladores FICs (Festivais Internacionais da Canção, que sacudiam o Maracanãzinho e o Brasil inteiro, provocando comparações e disputas entre os maiores nomes da então MPB mais jovem, como Chico Buarque, Edu Lobo, Milton Nascimento entre outros), o Festival Universitário, transmitido pela TV Tupi, já que o FIC era exclusivamente transmitido pela TV Globo, estava concorrendo com lançamentos de alguns de outros futuros gênios da MPB. Dos quais o principal fruto foi exatamente o letrista e personagem carioca Aldir Blanc. O jovem estudante de medicina Aldir ganhou o festival de 1969 com a canção “Amigo é pra essas coisas”, interpretada pelo MPB 4, em parceria com Silvio da Silva Junior. Até pelo título, já se deduz o caráter solidário e generoso do proceder da poesia, sim, digo poesia, do Aldir. Ao cumprimentar o letrista nos bastidores do Festival demonstrei a ele, como é do meu feitio sanguíneo, o entusiasmo pela sua letra e pela música do parceiro João Bosco. E o convidei para um encontro em meu apartamento de Botafogo. Queria beber mais, e sofregamente, aquele poeta que despontava com músicas tão estimulantes e fraternas aos companheiros.
Para minha surpresa, uma semana depois Aldir tocou a campainha, trazendo a tiracolo um presente especialíssimo, a cantora Elis Regina em pessoa. Vocês podem imaginar a noite que pude viver, tanto porque Aldir abriu sua coleção de joias musicais, boa parte delas cantadas pela magia da voz de Elis. Desde aquele encontro afinamos nossa viola ideológica, sustentada na comiseração e força pela alma carioca. A partir dai fiquei absolutamente certo de que o grande Noel Rosa teria uma possível sequência temática em relação às letras, incrustradas de pérolas poéticas, em nível de percepção acadêmica e estética no mais alto patamar.
Quando fui convidado para lutar contra a censura em Brasília, recebi um amável telefonema do meu já amigo, dizendo confiar na derrota da burrice dos censores do DCDP, o temível Departamento de Censuras e Diversões Públicas da Polícia Federal de então. E antecipou um pedido que certamente poderia chegar às minhas mãos, a possível liberação pela quase certa proibição de “O Bêbado e o Equilibrista”, puríssima obra prima e crônica de época de irretocável beleza, que saudava a volta dos exilados políticos em 1979. O personagem principal de Aldir era o sociólogo Betinho. De tal maneira divulguei a possibilidade da censura em relação à canção, que ela acabou por receber uma amena, quase não violenta, liberação pela censura federal. Vocês sabem, e todos nos acudimos da letra do gênio blanqueano, quando Aldir exercita sua salada poética, misturando Carlitos com viúvas de presos políticos assassinados. Referindo-se explicitamente na “volta do irmão do Henfil”, a Betinho, o sociólogo do bem e da comiseração.
Paro por aqui este lamento em preito ao desaparecimento de um grande brasileiro. Até porque não há como não derramar lágrimas pela tragédia que nos subtrai um gênio carioca e um dos seus mais sensíveis poetas. Lágrimas que engrossam quando fico a imaginar a solidão do caixão fechado, do velório proibido, da ausência de nossas presenças para conforto à Mari, filhas, netas. E a nós mesmos.
Ricardo Cravo Albin