Clarinetista. Saxofonista. Compositor.
Começou a tocar clarineta em sua cidade natal, por volta dos doze anos de idade, tendo aulas com José Ferreira de Resende e Hipácio Gomes. Foi morar em Belo Horizonte aos 17 anos e na capital mineira apresentou-se na Rádio Guarani, passando também a tocar saxofone (sax alto e sax tenor).
Mudou-se para São Paulo, em 1935, fazendo parte da orquestra de Maurício Cascapera. Pouco depois assumiu, em Uberaba (MG), a direção artística da emissora de rádio local. No mesmo ano, acompanhou num show, em Poços de Caldas (MG), as cantoras e irmãs Carmen Miranda e Aurora Miranda. Voltou a residir em Belo Horizonte, passando a tocar com J. França e sua Banda, entre 1937 e 1940, chegando a apresentar-se com o grupo na capital paulista. Na mesma cidade, apresentou-se na Rádio Tupi com Pinheirinho e seu Regional.
Em 1942, estreou em disco na gravadora Columbia interpretando no clarinete o choro “Chorando baixinho”, que se tornou seu grande sucesso e ao saxofone a valsa “Vânia”, ambas de sua autoria, com acompanhamento do regional de Pinheirinho. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, em 1943, integrando a orquestra de Ferreira Filho, no Cassino da Urca. No mesmo ano, gravou os choros “Haroldo no choro”, tocado ao clarinete e “Sururu no galinheiro”, tocado ao clarinete e ao saxofone, ambos de sua autoria. Em 1944, acompanhado pelo regional de Claudionor Cruz, gravou novamente “Chorando baixinho”. Tocou nas orquestras de Vicente Paiva e Bené Nunes, em 1945 e 1946, participando de paresentações em cassinos e na Rádio Globo. Em 1947, passou a acompanhar importantes cantores como Francisco Alves, Orlando Silva, Sílvio Caldas, Augusto Calheiros, Marlene e Emilinha Borba. Entrou para a Rádio Nacional, em 1949, apresentando-se como líder da Turma do Sereno. No mesmo ano, gravou na Todamérica o choro “Acariciando”, parceria sua com Lorival Faissal. Em 1950, gravou na Todamérica a “Polquinha mineira”, ao saxofone e o choro “Doce melodia”, ao clarinete, ambos de sua autoria.
Em 1951, gravou em solo de clarineta, na Todamérica, os choros “Galo garnizé”, de Antônio Almeida e Luiz Gonzaga, e “Chorinho ao luar” e “Balança mas não cai”, de sua autoria, e o bolero “Minha vida”, de Antônio Almeida, interpretado no clarinete e no sax-tenor. No mesmo ano, gravou na Continental com seu conjunto o “Baião no deserto”, de sua parceria com Menezes, e o “Chorinho do Bruno”, de sua autoria. Em 1952, formou com o cantor Paulo Tapajós a Escola de Ritmos, viajando durante dois anos por diversas cidades do Brasil. No mesmo ano, gravou na Todamérica, em solo de sax-alto, o afro cubano “Sonho negro”, de sua autoria; “Tristesse – opus 10 nº 3”, de Chopin, com arranjos de sua autoria e de Antônio Almeida e os choros “Indiferença”, de Garoto e Luis Bittencourt, ao sax-alto e “Mexidinho”, de sua autoria no clarinete. Ainda no mesmo ano, acompanhou com seu conjunto a vedete Virgínia Lane na gravação das marchas “Lá vem a cobra grande” e “Vai levando”. Em 1953, gravou ao sax-alto o choro “Uma noite em São Borja”, de sua parceria com José Menezes, e no clarinete o “Baiãozinho bom”, de sua autoria. No mesmo ano, gravou com seu conjunto o baião “O avião”, tema folclórico com arranjos seus e de Felícia Godoy, e o choro “Melancolia”, de sua autoria. Na gravadora Copacabana lançou, em 1954, o LP “Jantar dançante”, que trazia os choros “Menezes no choro”, de Romeu Siebel e Di Veras, e “Sai da frente”, de sua autoria. Em 1955, lançou o LP “No tempo do cabaré” que trazia os choros “Constantemente” e “Acariciando”, de sua autoria. Em 1956, gravou com seu conjunto os choros “Doce mentira”, de sua autoria, e “Aquela noite”, parceria com Nelson Piló; o maracatu “Barco veleiro”, de sua parceria com Elpídio Barbosa; o xote “Imperial”, de Altamiro Carrilho; o fox-trote “Coração em férias” e “a canção “Saudade gostosa”, ambos de sua autoria.
Em 1957, apresentou-se com seu conjunto em Portugal. No mesmo ano, seu choro “Chorando baixinho” foi regravado por Avena de Castro em interpretação de cítara em disco lançado pela gravadora Copacabana. No ano seguinte, juntamente com Sivuca, Trio Iraquitã, Dimas, Pernambuco e o maestro Guio de Morais, formou o grupo Os Brasileiros, excursionando por diversos países europeus. Desse trabalho resultou o LP “Os brasileiros na Europa”. Ainda em 1958, gravou com seu conjunto o LP “Jantar dançante”, com destaque para “Bobo alegre”, “Rumbaraque” e “Sempre você”, de sua autoria, “Morena boca de ouro”, de Ary Barroso; “Ai que saudade da Amélia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, e “Besame mucho”, de Velasquez. Em 1959, gravou na Copacabana com seu conjunto os sambas “Recado” e “Lamento”, de Djalma Ferreira e Luiz Antônio.
Com o pianista Bené Nunes apresentou-se nos Estados Unidos e no Havaí, em 1960, e com o cavaquinista e compositor Waldir Azevedo, na Argentina, em 1961. Em 1962, gravou o LP “Chorando baixinho”, com seu conjunto, interpretando clássicos como “Saxofone por que choras?”, de Ratinho; “É do que há”, de Luiz Americano e “Pedacinhos do céu”, de Miguel Lima e Waldir Azevedo, além de obras suas como a música título, “Doce mentira” e “Doce melodia”. Apresentou-se novamente na Europa em 1964 e 1965, e gravou o LP “Abel Ferreira e sua turma”. Três anos depois esteve na União Soviética.
Na década de 1970, continuou a acompanhar diversos cantores e músicos em gravações e shows, como Beth Carvalho. Em 1971, aposentou-se do Rádio. Em 1972, tocou clarineta nas faixas “Acorda, Adalgisa”, de autor desconhecido, interpretada por Gilberto Alves, e saxofone na faixa “Jocosa”, de Pedro Galdino, em gravação feita especialmente para o fascículo “Donga e os primitivos” na série Nova História da Música Popular Brasileira, da Abril Cultural.
Em 1974, participou da célebre série radiofônica “MPB 100, ao vivo”, um projeto de 30 programas gravados ao vivo, idealizados e apresentados por Ricardo Cravo Albin para o Projeto Minerva (cadeia de emissoras nacionais), que no ano seguinte foi convertida em LPs editados pela Rádio MEC/Tapecar. Em meados da mesma década, participou com o flautista Copinha e trombonista Raul de Barros de apresentações em teatros, num momento em que o choro era revalorizado no cenário musical. Na mesma época, apresentou-se com a cantora Ademilde Fonseca no Projeto Pixinginha. Ainda em 1974, participou do LP “Brasil, trombone”, de Raul de Barros, lançado pelo selo Marcus Pereira, tocando saxofone e clarineta. Em 1976, gravou pelo selo Marcus Pereira o LP “Brasil, sax e clarineta”, com
“Corta jaca”, de Chiquinha Gonzaga; “Sorriso de cristal”, de Luiz Americano; “Rapaziadado Brás”, de Alberto Marino, e “Luar de Coromandel”, de sua autoria. Em 1977, gravou pelo selo Marcus Pereira o LP “Abel Ferreira e filhos”, com “Rio, meu choro”, “Tânia” e “Levanta poeira”, de sua autoria, “Flor amorosa”, de Joaquim Calado, “Branca”, de Zequinha de Abreu, e “Ingênuo”, de Pixinguinha. No mesmo ano, participou de um importante encontro reunindo músicos de gerações diferentes como Waldir Azevedo, Paulo Moura, Zé da Velha, Copinha e Joel Nascimento, no disco “Choro na praça”. No ano seguinte, a RGE lançou o LP “Abel Ferreira e seu conjunto”, com destaque para “Acariciando”, “Luar de Caxambu”, “Sonho negro” e “Coração em férias”, todas de sua autoria. Em 1979, participou com o pianista Arthur Moreira Lima, o conjunto Época de Ouro e o trombonista Raul de Barros de um show histórico no teatro do Hotel Nacional, no Rio de Janeiro, depois lançado ao vivo pela gravadora Eldorado. Com seu estilo peculiar de tocar clarineta e saxofone, muitas vezes valendo-se do improviso, ficou conhecido como um dos criadores da “escola brasileira de sopro”, que teria também entre seus formadores nomes consagrados como Pixinguinha e o saxofonista Luiz Americano. Em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin a caixa “100 anos de música popular brasileira” com a reedição em 4 CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. No volume 4 estão incluídas as interpratações feitas com seu conjunto acompanhando a cantora Ademilde Fonseca nos choros “Brasileirinho” e “Delicado”, ambos de Waldir Azevedo. Em 2015, por ocasião das comemorações do centenário de seu nascimento foi homenageado em sua cidade natal, Coromandel, Minas Gerais, com a realização de um show na Casa de Cultura com a presença de seus filhos, a cantora Vânia Ferreira e o maestro Leonardo Bruno, que colocou letra na composição do pai “Luar de Coromandel”.
(Com Waldir Azevedo, Zé da Velha, Paulo Moura, Copinha e Joel Nascimento)
(Com seu conjunto)
Com seu conjunto
(Com seu conjunto)
(Com seu conjunto)
(Com seu conjunto)
ALBIN, R. C. MPB – A História de um século. Rio de Janeiro: Mec/Funarte, 1998.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. São Paulo: Editora: 34, 1999.