Poeta. Letrista. Crítico literário e tradutor.
Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde foi o terceiro ocupante da cadeira 24, em 29 de agosto de 1940, sucedendo Luís Guimarães Filho.
Exerceu o cargo de professor de Literatura no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro.
Entre seus principais livros de poemas estão os volumes “A Cinza das Horas” (1917 – sob suas próprias expensas e com apenas 200 exemplares); “Carnaval” (1919); “O Ritmo Dissoluto” (1924); “Libertinagem”, contendo os poemas “Evocação do Recife” e “Vou-me embora pra Pasárgada” (1930); “Estrela da Manhã” (1936); “Lira dos Cinquentanos” (1940); “Belo Belo” (1948); “Mafuá do Malungo” (1948); “Opus 10” (1952); “Estrela da tarde” (1960) e “Estrela da Vida Inteira” (1965), todos com poemas musicados posteriormente.
Segundo Chico Buarque, em trecho de orelha escrita para o livro de poesias e letras “Canto Brasileiro” (1976), de Paulo César Pinheiro:
“A tal história de poesia e letra de música, duas coisas tão semelhantes e tão distantes entre si. Manuel Bandeira tocava seu piano e foi parceiro de Villa-Lobos…”
Sobre a questão o que é letra e o que é poesia, reproduzimos um trecho do relato do poeta no livro “República das Letras”, de Homero Senna, editado pela Editora Civilização Brasileira, em 1996:
“Não sou entendido, mas já li um livro inteiro para ficar conhecendo a estrutura da forma sonata. Houve tempo em que andei arranhando o violão, no qual cheguei a tocar, ainda mal, o Rondó, de Aguado e – não se ria… – uma bourrée de Bach. Há uns quarenta anos, com grande dificuldade tirei, por música ao piano e decorei meia dúzia de peças, algumas ainda hoje toco – os Prelúdios 4 e 20 de Chopin, o Aveu de Carnaval, de Schumann e uma pecinha de Mac-Dowell… O violão aliás, tem-me sido útil. pois nele é que tiro a melodia das músicas para as quais me pedem versos. Foi assim, por exemplo, que escrevi as palavras de Azulão, de Jaime Ovalle… A música não é para mim um simples passatempo; é uma necessidade. Privado dela me sinto infeliz de todo… Na verdade, faço versos porque não sei fazer música.”
Sua atuação como letrista foi pequena, contudo, de suma importância para o cancioneiro popular brasileiro.
Em vida foi parceiro de grandes melodistas, tais como Jayme Ovalle, Francisco Mignone, Villa-Lobos, Camargo Guarnieri, Lorenzo Fernandes, José Siqueira, Radamés Gnattali e Edino Krieger. Na década de 1950 participou do programa de rádio “Poesia Necessária”, da radialista e escritora Maria Muniz “A Sherazade do Rádio”, epíteto com autoria atribuída a ele, por seu perfil insinuante e sedudor de então.
Em 1955 o jornalista Irineu Garcia, em sociedade com o editor Carlos Ribeiro, criou o Selo Festa, especialmente para gravação de poesias pelos próprios autores, tais como Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Guilherme de Almeida e o próprio Manuel Bandeira.
No ano de 1967 foi gravado o LP “Maria Lúcia Godoy canta poemas de Manuel Bandeira”, por iniciativa do secretário-geral do Conselho Nacional de Cultura Murilo Miranda e produzido pelo então diretor do Museu da Imagem e do Som, Ricardo Cravo Albin, apesar dos recursos mínimos em verba da instituição, sendo editado pelo Selo MIS. No disco a cantora interpretou as faixas “Dança do martelo” (Villa-Lobos), “Modinha” (c/ Villa-Lobos), “O anjo da guarda” (c/ Villa-Lobos), “Azulão” (c/ Jayme Ovalle), “Modinha” (c/ Jaime Ovalle); “Dona Janaína” (c/ Francisco Mignone), “Pousa a mão na minha testa” (c/ Francisco Mignone), “O menino doente” (c/ Francisco Mignone); “Impossível carinho” (c/ Camargo Guarnieri); “Canção do mar” (c/ Lorenzo Fernandes); “Madrigal” (c/ José Siqueira) e “Desafio”, com Edino Krieger. O disco começou a ser produzido quando o poeta ainda estava vivo, mas somente lançado no ano seguinte, em outubro de 1968. Portanto, o homenageado, embora tendo ouvido algumas faixas em seu leito de morte, levadas a ele pessoalmente por Ricardo Cravo Albin e Maria Lucia Godoy, não chegou a ver o trabalho pronto – havia falecido uma semana antes -, sendo patrocinado pela Academia Brasileira de Letra a pedido do presidente Austragésio de Athayde na chamada “Sessão Saudade”, quando Ricardo Cravo Albin apresentou o LP e Maria Lucia Godoy interpretou seis músicas. Na ocasião, alguns acadêmicos verterem lágrimas ao final da apresentação.
O compositor Paulo Diniz, em 1976, fez sucesso com a composição “Vou-me embora pra Pasárgada”, melodia sua em poema de Manuel Bandeira, faixa do LP “Estradas”, de Paulo Diniz, lançado pela gravadora EMI-Odeon.
No ano de 1987, a cantora e compositora Olívia Hime lançou o LP “Estrela da vida inteira”, pela gravadora Biscoito Fino, no qual interpretou parcerias póstumas do poeta, com poemas musicados por compositores especialmente para o projeto. No disco foram incluídas “Vou-me embora pra Pasárgada” (c/ Gilberto Gil); “Desencanto” (c/ Francis Hime); “Trem de ferro” (c/ Tom Jobim); “Testamento” (c/ Milton Nascimento); “Belo belo” (c/ Wagner Tiso); “Portugal meu avozinho” (c/ Moraes Moreira); “O impossível carinho” (c/ Ivan Lins); “Balada do rei das sereias” (c/ Dorival Caymmi); “Baladinha arcaica (c/ Toninho Horta); “Berimbau” (c/ Joyce); “Tema e voltas” (c/ Radamés Gnattali); “Versos escritos nágua” (c/ Dori Caymmi) e a faixa-título “Estrela da vida inteira”, com Olivia Hime. Neste mesmo ano, de 1987 foi lançado o LP “Villa-Lobos – Serestas e canções”, em edição não comercial pelo selo musical Ideia Livre Produções Culturais, com patrocínio do BANERJ Seguros (Banco do Estado do Rio de Janeiro), distribuído em agências do banco por todo o Brasil. No LP, produzido por Aluízio Falcão, a cantora Teca Calazans interpretou, entre outras faixas, “Modinha”, de Villa-Lobos e Manuel Bandeira.
Em 2003, através do programa “Arte Sem Barreiras/Funarte”, com o patrocínio da Academia Brasileira de Letras, o LP “Maria Lúcia Godoy canta poemas de Manuel Bandeira”, foi relançado em CD, sendo adicionado um texto do poeta e acadêmico Alberto da Costa e Silva, na ocasião, presidente da instituição, do qual destacamos o seguinte fragmento alusivo à sonoridade dos poemas e das letras de Manuel Bandeira:
“Andrade Muricy (crítico musical), sugeriu que o fascínio dos compositores pelos poemas de Bandeira nascia da musicalidade, subentendida, apenas indicada, que neles reconheciam, uma musicalidade que estava latente na sequência das palavras, a permitir que cada verso pudesse ser cantado de inúmeras maneiras. O poeta apostou na tese, ao lembrar que os versos, de Azulão, escritos para uma melodia de Jayme Ovalle, foram posteriormente remusicados, e de forma inteiramente distinta, por Camargo Guarnieri e Radamés Gnattali.”
No ano de 2005 foi lançado o CD “Manuel Bandeira: O Poeta de Botafogo”, com gravações inéditas feitas pelo poeta e por Lauro Moreira, tendo como fundo musical peças de Camargo Guarnieri, interpretadas pela pianista Belkiss Carneiro Mendonça. Por esta época, o Selo Luz da Cidade lançou o CD homenagem: “Manuel Bandeira por Juca de Oliveira”.
Em 2008 o grupo carioca Música Surda lançou o CD intitulado “O livro das canções”, no qual a cantora Andréia Pedrosa, acompanhada pelos músicos, interpretou a faixa “Desencanto”, melodia do violinista Artur Gouvêa sobre poema de Manuel Bandeira.
No ano de 2018 Ricardo Cravo Albin, na biografia “Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som”, em depoimento à autora, Cecília Costa, falou sobre o disco “Maria Lúcia Godoy canta poemas de Manuel Bandeira”, do qual destacamos o seguinte trecho:
“… Os dois primeiros discos foram os de Maria Lúcia Godoy (o primeiro): o que ela gravou acompanhada por Murilo Santos (pianista), homenageando Manuel Bandeira, que ainda estava vivo e ficou encantado diante da possibilidade de ter em discos inúmeras letras que fez, especialmente para Jaime Ovalle, Villa-Lobos e Edino Krieger, enfim, um disco muito bonito, com prefácio de Paulo Mendes Campos…”
Respeitado como um poeta extremamente musical em seus versos, tanto os compostos especificamente para melodias recebidas, como os poemas musicados posteriormente, Manuel Bandeira chegou a ter o mesmo texto musicados por diversos melodistas, às vezes, na mesma época, outras, em períodos diferentes. Portanto, eis a razão de um mesmo poema ter sido citados com parceiros diversificados no campo “Obras”.
Seu maior sucesso, como letra de música, foi “Azulão”, feita para uma melodia do amigo Jaime Ovalle, como esclareceu, em 1960, em carta a Vasco Mariz, no qual o poeta confidenciou que seus versos é que se inspiram na melodia composta por Ovalle e não ao contrário, como se pensava. Teve na cantora lírica Bidu Sayão a maior divulgadora desta obra, interpretando-a em palcos dos Estados Unidos e da Europa, alcançando enorme popularidade para a composição. No Brasil, a composição “Azulão” também seria gravada por Elizeth Cardoso, Orlando Silva e Nara Leão, entre outros.
(Com Manuel Bandeira, Lauro Moreira e Belkiss Carneiro Mendonça)
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