0.000
©
Nome Artístico
Francisco Mignone
Nome verdadeiro
Francisco Paula Mignone
Data de nascimento
3/9/1897
Local de nascimento
São Paulo, SP
Data de morte
19/2/1986
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Compositor. Considerado fundamental na chamada música erudita, mas com generosa participação na música popular, ocasiões em que quase sempre adotou o pseudônimo de Chico Bororó. Regente. Pianista. Professor. Filho do flautista italiano Alferio Mignone que imigrou para o Brasil em 1896. Começou seus estudos musicais ainda criança tendo aulas de flauta com o pai e de piano com o professor Silvio Motto. Cursou o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, onde estudou harmonia com o professor Savino de Benedictis, e harmonia, contraponto e composição com o professor Agostino Cantù. Nessa instituição de ensino foi colega do escritor Mário de Andrade. Com quinze anos de idade obteve o segundo lugar em um concurso de música popular realizado no conservatório com a valsa “Manon” e o tango “Não se impressione”. Em 1917, diplomou-se em flauta, piano e composição. Mesmo depois de formado ainda continuou a ter aulas com o pai. Em 1920, foi para Milão na Itália estudar com o maestro Vicenzo Ferroni que o ajudou na composição da ópera em três atos “O contratador de diamantes”. Em 1934, tornou-se professor de regência do Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro. Em 1951, assumiu a direção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi membro da Academia Brasileira de Música e fundador do Conservatório Brasileiro de Música. Em 1967, aposentou-se da cátedra da Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Dados artísticos

Começou a se apresentar como músico aos 13 anos atuando como flautista e pianista em pequenas orquestras. Ainda jovem costumava participar de serenatas e utilizou o pseudônimo de Chico Bororó para compor várias músicas de gênero popular. Os estudiosos dividem sua obra em duas fases: a primeira, de influência italiana, mesmo tendo composto nesta fase sobre temas brasileiros, e a segunda, quando a partir de influências do amigo Mário de Andrade acabou por engajar-se no movimento modernista. Da primeira fase de sua obra destacam-se os poemas sinfônicos “Caramuru”, “La samaritaine” e “Festa dionisíaca”, e a ópera “O contratador de diamantes”. Da segunda fase destacam-se a “Primeira fantasia brasileira” para piano e orquestra, os bailados “Maracatu de Chico Rei”, “Leilão” e “Iara”, as peças sinfônicas “Batucajé” e “Babalorixá”, a “Sinfonia do trabalho” e a oratória “Alegria de Nossa Senhora” sobre poema de Manoel Bandeira. Em 1918, estreou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro como solista de orquestra no primeiro tempo do “Concerto em lá maior”, de Edvard Grieg. Nessa ocasião apresentou também o primeiro andamento de uma sonata para violino e piano, de sua autoria. Em 1922, apresentou em São Paulo a peça “Congada”, depois incluída na ópera “O contratador de diamantes”, que teve sua primeira audição completa em 1924, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Em 1926, obeteve o primeiro prêmio em concurso da Sociedade de Concertos Sinfônicos de São Paulo com o poema sinfônico “Os sertões” inspirado no livro homônimo de Euclides da Cunha. Em 1927 e 1928, viveu na Espanha onde fez algumas obras e passou também a compor inspirado em temas brasileiros, destacando-se a peça sinfônica “Maxixe”, que seria exibida no Rio de Janeiro em 1928, ocasião em que começou a dedicar-se à música popular, em especial após reencontar-se com Mário de Andrade. Ainda em 1928, teve sua primeira obra de música popular gravada, o maxixe “Aí, pirata”, lançado por Francisco Alves pela Odeon. Em 1929, compôs a “Primeira fantasia brasileira” para piano e orquestra, composição característica da fase de suas obras com temáticas brasileiras. Em 1930, gravou pela Parlophon em interpretação de flauta as canções “Cantiga de ninar” e “O contratador de diamantes”, ambas de sua autoria. No mesmo ano, sua valsa “Coca” foi gravada pela Orquestra Paulistana. Fez ainda com o escritor Bastos Tigre o cômico “O caixeiro e o patrão” que foi gravado pelos atores Pinto Filho e E. Viana pela Parlophon. Com o também escritor Duque de Abramonte compôs o coro sertanejo “Mandinga doce”, que foi gravado por Ida Baldi, Arnaldo Pescuma, Abruzzini e Perroti, o cateretê “Muié…é o café” gravado por Arnaldo Pescuma, e o fox “Miami” registrado por Francisco Alves. Ainda em 1930, teve gravadas as canções “Naná” e “Nina Nana” pela cantora Anita Gonçalves, as valsas “Céu do Rio Claro” e “Saudades de Araraquara”, e a mazurca “Assim dança nhá Cotinha” pelo flautista Alfério Mignone, as valsas “Flor de Jurema”, “No cinema” e “Ema”, pela Orquestra Paulistana, e as valsas “Celeste” e “Suave tormento” pelo clarinetista Antenor Driussi, que foi seu parceiro nessas duas últimas composições. Por essa época, passou a dirigir a Orquestra Paulistana que realizou diversas gravações de obras suas e de outros autores, além de acompanhamentos para gravações de artistas como Arnaldo Pescuma, Príncipe Azul, Anita Gonçalves e Abgail Parecis. Também em 1930, gravou na Odeon o cateretê “Num vorto a pé”, de sua autoria. Em 1931, o clarinetista Alfredo Iberé gravou em solos de clarinete a mazurca “No tempo das saias compridas” e a polca “As gracinhas de vovó”, enquanto a cantora Anita Gonçalves lançou a valsa “Alma em pena”. Durante todo esse período em que se dedicou bastante à música popular utilizou o pseudônimo de “Chico Bororó”. Por essa época, passou a dedicar-se mais e mais à música clássica. Em 1933, concluiu a composição do bailado afro-brasileiro “Maracatu de Chico Rei” no qual contou com a colaboração do escritor Mário de Andrade, obra que foi encenada no Rio de Janeiro no ano seguinte. Ainda em 1933, passou a residir no Rio de Janeiro. Em 1937, o bailado “Maracatu de Chico Rei”, acrescido de coro, foi apresentado no encerramento do I Congresso da Língua Nacional Cantada realizado em São Paulo. Ainda em 1937, apresentou-se na Alemanha quando foi convidado a reger a Filarmônica de Berlim em concerto que contou com obras suas e de Henrique Oswald, Francisco Braga, Villa-Lobos e Lorenzo Fernandes. Em 1938, retornou à Alemanha e dirigiu concertos nas cidades de Berlim e Hamburgo. Apresentou-se também na cidade italiana de Roma. Em 1939, concluiu outra obra de influência afro-brasileira, o bailado “Batucajá, babalorixá e leilão” que seria apresentado pela primeira vez em São Paulo, no ano de 1942.  Nesse ano, a convite do Departamento de Estado norte americano viajou para os Estados Unidos. Em 1950, escreveu a música para o filme “Caiçara”, de Alberto Cavalcanti, diretor com quem voltaria a trabalhar no ano seguinte musicando o filme “Menina moça”. Ainda em 1951, musicou o filme “Sob o céu da Bahia” de Remani. Na década de 1960, começou a compor as primeiras obras atonais e afastou-se da fase nacionalista. Em 1960, teve as canções “Canção das Mães Pretas”, com Narbal Fontes, “Longe Bem Longe”, “É a Ti Flor do Céu” e
”        Quando Uma Flor Desabrocha” gravadas pela cantora lírica Lia Salgado no LP “Lia Salgado e a canção brasileira” da gravadora Chantecler, e que contou com acompanhamentos dos pianos de Camargo Guarnieri e Alceu Bochino. Na década de 1970, retornou à fase tonal. Entre 1970 e 1984, formou com a mulher Maria Josefina um duo pianístico que gravou diversos discos. Em 1976, compôs a ópera “Chalaça”, e dois anos depois a ópera “O sargento de milícias”. Em 1978, gravou RGE em duo pianístico com sua mulher Maria Josefina o LP “Ernesto Nazareth”, um disco tributo ao compositor Ernesto Nazareth, onde incluiu as obras “Batuque”, “Turbilhão de beijos”, “Odeon”, “Coração que sente”, “Ouro sobre azul”, “Janota”, “Brejeiro”, “Cavaquinho porque choras”, “Eponina”, “Apanhei-te cavaquinho”, e “Sarambeque”, todas de Ernesto Nazareth. Compôs em 1979, o bailado “Quincas berro dágua”, inspirado naobra homônima de Jorge Amado, e no ano seguinte, o bailado “O caçador de esmeraldas”. Em 1981, foi homenageado com o LP tributo “Mignone – Intérprete: Maria Josefina”, lançado pela Eldorado, disco no qual foram interpretadas 13 obras de sua autoria: “Valsa brasileira nº 4 em sol”, “Valsa brasileira nº 5 em lá”, “Valsa brasileira nº 6 em mi b”, “Valsa brasileira nº 9 em si”, “Valsa brasileira nº 10 em fá”, “Valsa brasileira nº 11 em mi”, “Valsa brasileira nº 12 em dó”, “Nazarethiana 5 peças para piano em forma de suíte” e “Improviso romântico em sol”, além das valsas “Valsa de esquina nº 8 em dó sustenido”, “Valsa de esquina nº 5 em mi”, “Valsa de esquina nº 2 em mi b”, e “Valsa elegante em sol b maior”, que contaram com sua participação ao piano. Em 1982, foi lançado pela Kuarup o LP “As 12 valsas de esquina de Francisco Mignone”, com Arthur Moreira Lima interpretando as valsas “Nº 1 em dó menor”, soturno e seresteiro, “Nº 2 em mi bemol menor”, lento e mavioso, “Nº 3 em lá menor”, com entusiasmo, “Nº 4 em si bemol menor”, vagaroso e seresteiro, “Nº 5 em mi menor”, cantando, e com naturalidade, “Nº 6 em fá sustenido menor”, tempo de valsa movimentada, “Nº 7 em sol menor”, moderadamente, “Nº 8 em dó sustenido menor”, tempo de valsa caipira, “Nº 9 em lá bemol menor”, andantino mosso, “Nº 10 em si menor”, lento, romântico e contemplativo, “Nº 11 em ré menor”, moderato, e “Nº 12 em fá menor”, moderato vivo. Em 1983, participou juntamente com Camargo Guarnieri, Lenita Bruno e Teca Calazans do album duplo “Mário de Andrade, trezentos, 350″ lançado pela Funarte em homenagem ao escritor Mário de Andrade. Em 1997, por ocasião do centenário de seu nascimento foi homenageado com o lançamento de três CDs com interpretações de sua viúva, a  pianista Maria Josefina:”Valsas imortais”, com 12 valsas-choro e 12 valsas-de-esquina, “17 choros para piano de Francisco Mignone”, uma reedição de LP lançado pela Funarte em 1987, e “Duo Mignone – Momentos históricos”, com gravações suas em dueto com a mulher Maria Josefina, realizadas entre 1970 e 1984. Em 2007, foi apresentado na Sala Cecília Meireles no Rio de Janeiro um concerto com o Trio DAmbrosio formado por Maria Celia Machado, na harpa, Aisik Geller, no violino, e Maria Helena Andrade, no piano, interpretando suas composições de música popular, justamente a parte menos conhecida da sua obra. Na ocasião foi lançado um CD com o repertório do concerto e um álbum de partituras. Em 2011, foi gravado o CD triplo “A música para flauta de Francisco Mignone” fruto de um projeto coordenado na UNI-Rio pelo professor Sérgio Barrenechea. Os CDs incluem as gravações de quatro obras da fase dedicada à música popular pelo maestro: “Céu de Rio Claro”, “Assim dança Nhá Cotinha”, “Saudades de Araraquara” e “Celeste”. A coletânea também faz um apanhado das demais fases da produção do compositor. Em 2015, foi homenageado com o lançamento de dois CDs com obras suas. O primeiro foi “No esquina de mestre Mignone”, em que, apesar do título aparecem apenas duas obras de sua autoria: “Valsa de esquina Nº 8” e “Chora cabôclo”. Já o CD “16 valsas para fagote solo” o intérprete Fábio Cury, segundo reportagem do jornal O Globo: “em 16 valsas para fagote solo demonstra que ele soube escrever igualmente bem para um instrumento de sopro”. Em 2017, em homenagem aos 120 anos de seu nascimento, teve as obras “Quatro peças brasileiras”, compreendendo as músicas “Maroca”, “Maxixando”, “Nazareth” e “Toada”, a “1º Valsa brasileira”, a “2º Valsa brasileira” e “Canção”, todas ausentes de suas obras completas, interpretadas pelo músico mineiro Fernando Araújo, em sua defesa de tese de doutorado, em concerto no Conservatório da UFMG. Essas obras, escritas originalmente para o Duo Pomponio-Zárate, da Argentina, encontravam-se perdidas e foram salvas do lixo por um porteiro que as entregou ao Instituto Nacional de Musicologia Carlos Veiga, quando foram pesquisadas por Fernando Araújo. No mesmo ano, foi tema de crônica do escritor Marco Lucchesi no jornal O Globo, onde ele afirma sobre a obra do compositor: “À excelência de Mignone interessou o violão e o piano, música de câmara e orquestra, canções e obras corais, a missa e a ópera. Em suas páginas nos deparamos com uma dialética da construção e da desconstrução musical, mais inclinado aos poetas que aos virtuoses, tendo a expansividade como norte, assim como nas páginas de Villa-Lobos, tão próximos e distantes um do outro. (…) Devemos comemorar os 120 anos de Mignone, pois, através de sua obra, tornou-se, na companhia de Mário de Andrade, um dos grandes intérpretes do Brasil no século XX, uma herança fundamental”.

Discografias
1982 Kuarup LP As 12 valsas de esquina de Francisco Mignone
1981 Eldorado LP Mignone - Intérprete: Maria Josefina
1978 RGE LP Ernesto Nazareth - Duo pianístico Maria Josefina e Francisco Mignone
1930 Parlophon 78 Cantiga de ninar/O contratador de diamantes
1930 Odeon 78 Num vorto a pé
Obras
Alma em pena
As gracinhas de vovó
Assim dança nhá Cotinha
Aí, pirata
Cantiga de ninar
Celeste (c/ Antenor Driussi)
Coca
Céu do Rio Claro
Ema
Flor de Jurema
Improviso romântico em sol
Mandinga doce (c/ Duque de Abramonte)
Maxixe
Miami (c/ Duque de Abramonte)
Muié...é o café (c/ Duque de Abramonte)
Naná
Nazarethiana 5 peças para piano em forma de suíte
Nina Nana
No cinema
No tempo das saias compridas
Num vorto a pé
O caixeiro e o patrão (c/ Bastos Tigre)
O contratador de diamantes
Primeira fantasia brasileira
Saudades de Araraquara
Suave tormento (c/ Antenor Driussi)
Valsa brasileira nº 10 em fá
Valsa brasileira nº 11 em mi
Valsa brasileira nº 12 em dó
Valsa brasileira nº 4 em sol
Valsa brasileira nº 5 em lá
Valsa brasileira nº 6 em mi b
Valsa brasileira nº 9 em si
Valsa de esquina nº 2 em mi b
Valsa de esquina nº 5 em mi
Valsa de esquina nº 8 em dó sustenido
Valsa elegante em sol b maior
Bibliografia Crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.

COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.