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Nome Artístico
Riachão
Nome verdadeiro
Clementino Rodrigues
Data de nascimento
14/11 /1921
Local de nascimento
Salvador, BA
Data de morte
30/3/2020
Local de morte
Salvador, BA
Dados biográficos

Cantor. Compositor. Ator.

Nasceu na rua Língua de Vaca, no bairro de Fazenda Garcia, em Salvador.

Trabalhou como alfaiate, contínuo de banco, vendedor de cachorro-quente e por 20 anos trabalhou na Rádio Sociedade da Bahia.

O apelido “Riachão” lhe foi dado quando ainda era adolescente: “Eu fazia uma pose de brigão e ganhei a fama de Riachão, termo que os baianos usam para falar de gente difícil”.

Segundo depoimento do próprio compositor ao extinto jornal Diário de Notícias:

 

“Quando menino, eu gostava muito de brigar. Mal acabava uma peleja, já estava eu disputando outra. E aí chegavam os mais velhos para apartar, empregando aquele ditado popular: Você é algum riachão que não se possa atravessar.”

 

No ano de 1961, como ator, participou do filme “A Grande Feira”, longa-metragem de Roberto Pires.

Em 2001, no “Festival de Brasília”, foi exibido o documentário “Samba Riachão”, de Jorge Alfredo. O documentário contou com os depoimentos de fãs ilustres do compositor como Carlinhos Brown, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Dorival Caymmi e Tom Zé, entre muitos outros. No ano seguinte, em 2002, fez participação especial como ator no seriado “Pastores da noite”, da TV Globo, baseado em romance homônimo de Jorge Amado.

Em janeiro de 2008 a sua mulher Dalva, além da filha, do filho, do genro e da nora, morreram em um acidente de carro no Rio de Janeiro. O cantor cancelou todos os shows e a sua participação no carnaval daquele ano, somente retornando às atividades artísticas em 2017, ano em que prestou depoimento na série “Depoimentos para a Posteridade”, do MIS (Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro), na sede da Praça XV, sendo entrevistado por uma mesa composta pelo cantor e compositor Martinho da Vila, Hugo Sukman (jornalista e curador da instituição), a pesquisadora Janaína Marquesini, além do jornalista e crítico musical Tárik de Souza.

Considerado um dos mais importantes sambistas da Bahia, ao lado de Batatinha, Panela, Walmir Lima, Ederaldo Gentil, Nélson Rufino, Garrafão, Goiabinha, J. Luna, Roque Ferreira e Edil Pacheco.

Faleceu dormindo, no bairro do Garcia, em Salvador.

Dados artísticos

Aos nove anos já se apresentava em festas infantis.

A primeira composição foi feita aos 12 anos, um samba sem título, com os versos:

 

“Eu seu que sou moleque, eu sei / conheço o meu proceder / deixe o dia raiar que a minha turma / é boa para batucar.”

 

Em outra entrevista ele declarou um pouco diferente após se deparar com um recorte de jornal ou revista com a seguinte manchete:

 

“Se o Rio não escreve, a Bahia não canta”.

 

Segundo Riachão:

 

“Cheguei em casa machucado com isso. Foi quando Jesus me mandou o primeiro samba: Sei que sou malandro, sei / conheço meu proceder…”. Que emoção quando isso chegou ao meu juízo. Cantei o dia inteiro. Com 15 anos comecei, com essa música.”

 

Aos 23 anos ingressou na Rádio Sociedade, onde passou a cantar integrando um trio vocal no programa de auditório “Show Pindorama”, da emissora de rádio Sociedade AM. No trio interpretava de serestas à toadas sertanejas. Logo depois deixa o trio e segue em carreira solo.

Expoente da era de ouro do rádio baiano nas décadas de 1940 e 1950 atuou em duplas sertanejas e em carreira solo.

Teve, ainda na década de 1950, gravada suas composições “Meu Patrão”, “Saia”  e “Judas Traidor”, todas por Jackson do Pandeiro.

Seus sambas irreverentes, tais como “Retrato da Bahia” e “Bochechuda e Papuda”, o tornaram ganhador do “Troféu Gonzaga”. Mais tarde foi gravado pelo cantor Eraldo Oliveira (‘A Nega não quer Nada’) e pela cantora Marinês (‘Terra Santa’).

Entre 1948 e 1959, Riachão compôs “A Morte do Motorista da Praça da Sé”, “A Tartaruga”, “Visita da Rainha Elisabeth” e “Incêndio no Mercado Modelo”.

Na década de 1960 compôs “Umbigada da Baleia” e “A Morte do Alfaiate”. Por essa época gravou “Umbigada da Baleia” em disco de 78 rpm.

No cinema atuou em alguns filmes, entre eles “A Grande Feira”, de Roberto Pires em 1961 e “Pastores da Noite”, de Marcel Camus em 1972, baseado na obra do amigo Jorge Amado. Neste mesmo ano Gilberto Gil, no LP “Expresso 2222”, gravou uma composição de sua autoria. Ainda em 1972 Caetano e Gilberto Gil gravaram “Cada macaco no seu galho”.

No ano de 1973, quando ainda trabalhava como office-boy do Banco de Desenvolvimento do Estado da Bahia (Desenbanco), lançou o primeiro LP, “Sonho de malandro”, patrocinado pelo banco, onde trabalhava desde o ano de 1971. Do disco destacam-se as faixas “Quando o Galo Cantou” e “Eu também Quero”, na qual o compositor relata o aparecimento do tíquete-refeição:

 

“Essa turma que trabalha muito cedo/ vem a fome que faz medo/ e faz a barriga roncar/ vai no caixa compra tique/ pega tique/ leva o tique/ dá o tique/ para poder almoçar.”

 

No ano de 1975, ao lado de Batatinha e Panela, também representantes do samba baiano, gravou o disco “Samba da Bahia”, no qual interpretou “Vou chegando”, “Fúfú”, “cada macaco no seu galho”, “Pitada de tabaco”, “Ousado e mosquito” e “Até amanhã”, todas de sua autoria. Ainda neste mesmo LP, interpretou “Terra hospitaleira”, de autoria de Edson Santos e Goiabinha.

 

Segundo Paulo Lima:

 

“Convidado para cantar Cada macaco no seu galho no programa radiofônico de França Teixeira, pelo telefone, durante seu expediente no banco, Riachão não só cantou como ainda convidou funcionários e clientes para ajudá-lo no coro.”

 

Ainda na década de 1970 teve sua composição “Barriga Vazia” censurada:

 

“Eu, de fome, vou morrer primeiro / você, de barriga, também vai morrer um dia.”

 

A notícia da censura correu a cidade e, em um show, no ICBA, em 1976, a plateia universitária exigiu que o compositor cantasse a música.

No ano de 1981 o LP “Sonho de Malandro” foi lançado comercialmente pela gravadora Tapecar.

Em 1997 a EMI lançou o disco “Diplomacia”, de Batatinha. No disco, juntamente com Batatinha, Ederaldo Gentil, Nélson Rufino, Walmir Lima e Edil Pacheco, participou da faixa “De revólver, não!”, de autoria de Batatinha e Walmir Lima.

No ano de 1999 participou do curta-metragem “Rádio Gogó”, de José Araripe Jr.

Em 2000 lançou o CD “Humanenochum”. O disco trouxe participações especiais de Caetano Veloso na faixa “Vá morar com o diabo”, Carlinhos Brown em “Pitada de tabaco”, Tom Zé na música “Cada macaco no seu galho”, Armandinho e Dona Ivone Lara. Segundo o próprio Riachão, o nome do disco quer dizer “Homem humano que ama a mulher e não a maltrata”, uma homenagem a sua mulher Dalva, companheira de 30 anos de convivência.

Em  2001 Cássia Éller interpretou “Vá morar com o diabo” no CD “Acústico MTV”. Neste memso ano de 2001 lançou, pela selo Caravelas, o CD “Riachão”, do qual participaram Caetano Veloso (‘Vá Morar com o Diabo’) e Dona Ivone Lara (‘Até Amanhã’), entre outros artistas.

Em 2004 participou do projeto “Brasil de todos os sambas”, série de shows do Centro Cultural Banco do Brasil que reuniu representantes do samba de vários Estados do país. Para o show “Bahia de todos os sambas” Riachão recebeu como convidados Roque Ferreira, Jussara Silveira e Dona Ivone Lara. Ainda em 2004 e tendo como convidada Beth Carvalho, apresentou-se no projeto “Da idade do mundo”, do Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília. No ano posterior, em 2005, apresentou o show “Noite baiana” no  Cité de la Musique, em Paris e ainda participou da roda de samba promovida por Gilberto Gil no evento “TIM PercPan 2005”. Neste mesmo ano fez o show de encerramento do “XV Cine Ceará – Festival Nacional de Cinema e Vídeo”.

No ano de 2013, com produção de Vânia Abreu (produtora, cantora e propietária da gavadora paulista Comando SD), lançou o CD “Mundão de Ouro”f no qual interpretou 13 composições inéditas de sua autoria, entre as quais “Eu queria ela (amor proibido)”, em trabalho com produção musical do músico, também baiano (arranjador e multiinstumentista) Cássio Calazans.

Em 2017 fez três shows no palco da Caixa Econômica Cultural do Rio de Janeiro, recebendo como convidado o compositor e amigo baiano Edil Pacheco.

Entre seus vários intérpretes destacam-se Jackson do Pandeiro, que gravou diversas composições suas, entre elas “Saia rota”, “Meu patrão” e “Judas traidor”; Caetano Veloso e Gilberto Gil com “Cada macaco no seu galho”, Cássia Eller em “Vá morar com o Diabo”, além de Dona Ivone Lara, Caetano Veloso e Gilberto Gil.

No ano de 2019, em comemoração aos seus 98 anos, completados em novembro deste mesmo ano, finalizou o CD “Se Deus quiser eu vou chegar aos 100”, somente com composições inéditas.

Segundo o próprio compositor, tem cerca de 600 composições entre inéditas e gravadas.

Discografias
S/D 78 Umbigada da baleia
2020 CONVERSA BRASILEIRA Homenagem Riachão - "Nosso eterno rei do samba da Bahia"

EPISÓDIO DE PODCAST

2013 Gravadora Comando SD CD Mundão de Ouro
2001 Selo Caravelas CD Riachão
2000 Independente CD Humanenochum
1998 EMI CD Diplomacia

(participação)

1981 Tapecar LP Sonho de Malandro
1975 Selo Fontana LP Samba da Bahia

(c/ Panela e Batatinha)

1973 Selo Desenbanco LP Sonho de malandro
Obras
Até amanhã
Cada macaco no seu galho
Fúfú
Ousado e mosquito
Pitada de tabaco
Saia rota
Saudade
Vou chegando
Vá morar com o diabo
Shows
Gilberto Gil convida Riachão - Roda de Samba - TIM PercPan 2005, RJ,
Gilberto Gil convida Riachão - Roda de Samba - TIM PercPan 2005. Teatro Castro Alves, Salvador, BA.
Noite baiana. Cité de la Musiquè, Paris. França,
Riachão convida Beth Carvalho. Projeto Da Idade do mundo. Centro Cultural Banco do Brasil. Brasília, DF,
Show Bahia de todos os sambas. Riachão recebe Roque Ferreira, Jussara Silveira e Dona Ivone Lara. Projeto Brasil de todos os sambas. Centro Cultural Banco do Brasil, RJ,
Bibliografia Crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2009.

MARCONDES, Marcos Antônio. (Ed.). Enciclopédia da música Brasileira – erudita, folclórica e popular. 3. ed. São Paulo: Arte Editora/Itaú Cultural/Publifolha, 1998.

MARCONDES, Marcos Antônio. (Ed.). Enciclopédia da música brasileira – erudita, folclórica e popular. 2 v. São Paulo: Arte Editora/Itaú Cultural, 1977.