Cantor. Compositor. Filho de imigrantes espanhóis. Ainda em sua cidade natal se iniciou na música, cantando modas de viola em festas, acompanhado de amigos. Com a decisão de seguir a carreira artística, mudou-se para São Paulo. Para se manter na capital paulista exerceu outras atividades profissionais. Foi cocheiro na Estação da Luz. Paralelamente exercia a atividade artística, cantando em bares, circos e cabarés. Trabalhou como lenheiro no trem de lenha da Sorocabana, fazendo o percurso entre a Barra Funda e a cidade de Itararé. Trabalhou com o pai da cantora Inezita Barroso, a quem ensinou o rasqueado, sendo um dos influenciadores da, então menina, em seu interesse pela música sertaneja.
Iniciou-se na vida artística na Rádio Educadora de São Paulo, em 1927, cantando modas de viola. Vendo a apresentação de Jararaca e Ratinho e do conjunto nordestino Turunas da Mauricéia em São Paulo, ficou bastante impressionado. Abandonou o estilo caipira e passou a cantar no conjunto Turunas Paulistas, criado pelo tocador de bandola Cardia, que imitava o grupo nordestino Turunas da Mauricéia. Por essa época já dava mostras de sua versatilidade, apresentando-se na sala de espera do Cinema Odeon, na zona central da capital paulista. Em 1929, gravou pela Parlophon a embolada “Jacaré no caminho”, de sua autoria e Atílio Grani, e o samba-canção “Olhos de morena”, de sua autoria, acompanhado do conjunto Os Chorões. Com o fim dos Turunas Paulistas, formou um novo conjunto e passou a se apresentar pelo interior. Em 1931, gravou “Caninha-verde”, de sua autoria com Lázaro Machado, na Odeon. Com o pseudônimo de Bico Doce, companhado de Sua Gente do Norte , participou da série caipira de Cornélio Pires. Em 1933, conheceu João Pacífico, com quem compôs e gravou várias músicas. Em outubro de 1933, pela Odeon, lançou duas composições de sua autoria, “Segura o bode” e “Quero ver o sol nascer”. Ainda pela Odeon, gravou uma série de nove discos com o título de Raul Torres e seu conjunto. É dessa série a composição “Sereno cai”, que contou com um coro de nomes posteriormente consagrados na MPB: Francisco Alves, Moreira da Silva, Jaime Vogeler e Jonjoca. Em 1934, viajou para o Rio de Janeiro, onde realizou uma série de gravações, entre as quais a batucada paulista “A cuíca está roncando”, que se tornou uma das músicas mais cantadas no carnaval de 1935. Em 1937, lançou, também com seu conjunto, “Mestre Carreiro”, e, em 1938, “Deixa a cuíca roncar” e “Tua mão será meu pandeiro”. Na gravadora Victor, criou Raul Torres e Sua Embaixada, gravando em 1937 “Bela não deu” e “Quando o Sol descamba” e, em 1938, “Embolada dos compadres” e “A vorta do mundo é crué”, entre outras. Ainda na gravadora Victor, passou a fazer dupla com seu sobrinho Antenor Serra, o Serrinha, a partir de 1937, com quem gravou cerca de 50 discos em 78 rpm até o início dos anos 1940. Em junho de 1938, lançou um dos maiores clássicos da música sertaneja, “Saudades de matão”, de Raul Torres e Jorge Galati. Em 1940, pela Victor, mais dois clássicos da dupla Torres e Serrinha, “Moda da Pinga” e “Papagaio louro”, ambas de sua autoria. Em 1941 gravou as marchas “O meu boi morreu”, de sua autoria e Felisberto Martins, e “Iaiá cadê o lírio”, de sua autoria e João Pacífico. A partir de 1945, passou a formar dupla com João Batista Pinto, o Florêncio, com quem já gravara nos anos 30. A dupla Torres e Florêncio gravou mais de 100 músicas, entre as quais “Moda da mula preta”, uma das mais conhecidas do repertório sertanejo, lançada pela Victor em 1945. Compositor extremamente versátil, Raul Torres compôs e gravou modas de viola, choros, sambas-canção, cateretê, emboladas, batucadas, jongos, toadas e maracatus. Introduziu na música sertaneja a guarânia paraguaia, também chamada por ele de rasqueado estilo paraguaio. Em 1953 gravou de sua autoria o coco “Cheguei na beira do rio” e a embolada “Festa do Zé”. Em 1963 gravou na Continental a milonga “A morte da cabocla Tereza”, de sua autoria e Benedito S. Pinto, e o samba “Lá vai minha garça branca”, de sua autoria. No mesmo ano gravou com Romancito Gomes a cena sertaneja “Na minha fazenda”, de sua autoria. Gravou mais de 200 discos, sendo autor de cerca de 350 composições. Inúmeras de suas obras foram gravadas e regravadas por consagrados artistas do universo sertanejo. Tião Carreiro e Pardinho gravaram “Felicidade” e interpretaram “Mestre Carreiro”, no filme “Sertão em festa”. Tonico e Tinoco gravaram um LP homenagem em que cantaram apenas canções de Raul Torres. A partir dos anos 1960 passou a se dedicar à carreira do rádio, tendo apresentado na Rádio Record de São Paulo o programa “Os Três Batutas do Sertão”. Sua última gravação ocorreu em 1970, quando, juntamente com os Três Batutas do Sertão, gravou o LP “O maior patrimônio da música sertaneja”. No mesmo ano, sua composição “Sanfona da véia”, em parceria com Brinquinho e Brioso, foi incluída no filme “Betão Ronca Ferro”, com direção de Geraldo Afonso Miranda. Nesse filme, atuou Mazzaropi. Em 1993, Rolando Boldrin regravou sua “Moda da mula preta” no CD “Disco da moda”, lançado pela RGE. Em 2002 teve as composições “Cabocla Tereza”, com João Pacífico e “Colcha de retalhos”, regravadas pelas Irmãs Galvão em CD pela Chantecler.
Em dezembro de 2006, ano em que completaria 100 anos, a prefeitura de Botucatu empreedeu uma festa-homenagem ao compositor, realizando um show na praça principal da cidade, que ganhou seu nome. O espetáculo que recordou suas obras, contou com nomes consagrados no universo sertanejo como Inezita Barroso, Pedro Bento e Zé da Estrada, Craveiro e Cravinho, entre outros. Na ocasião, foi inaugurada local uma estátua, representando sua imagem, com instalação também de uma placa honrosa. Na primeira metade de 2007, o programa “Viola, minha viola”, apresentado por Inezita Barroso, na TV Cultura de São Paulo, realizou uma edição especial em homenagem a Raul Torres, mostrando diversas de suas obras, interpretadas, entre outros, por duplas duplas tradicionais como: Craveiro e Cravinho, que cantaam “Mourão da porteira”, e “Chico mulato”, as duas em parceria com João Pacífico; Duo Glacial, que cantaram “”Perto do coração” e “Cabocla Teresa”, com João Pacífico e Pedro Bento e Zé da Estrada, com “Sinhá Maria, com João Pacífico e o clássico “Moda da mula preta”. No encerramento dessa edição comemorativa, Inezita Barroso interpretou “Colcha de Retalhos”, acompanhada por todos os convidados do evento.
Em 2008, teve a sua música “Colcha de Retalhos” lançada por Roberta Miranda no CD “Senhora Raiz”, do selo Sky Blue Music e Canto Livre.
Em 2009, teve sua música, Cabocla Tereza” (c/ João Pacífico), gravada pela dupla carioca Fabrício e Fabian, no CD “Ontem e Hoje”. Em 2017, teve sua composição “Cobocla Tereza” (c/ João Pacífico) incluída no repertório da peça teatral “Bem sertanejo – O Musical”, estrelada por Michel Teló e dirigida por Gustavo Gasparani. O espetáculo esteve em cartaz em diversas cidades brasileiras, entre elas São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Ribeirão Preto.
(c/Florêncio)
LUNA, Francisco; LUNA, Paulo. Almanaque de duplas caipiras e sertanejas. Rio de Janeiro: Lunamar Edições, 2015
LUNA, Paulo. “Dos braços dessa viola à dissonância de uma guitarra: A tensão entre tradição e modernidade na música caipira e sertaneja”. Dissertação de Mestrado, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2005.