
Cantor. Compositor. Ator.
Nasceu no dia 12 de setembro de 1894, na Rua Paraíso, bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Filho de imigrantes da região da Calábria, Itália, chegados ao Brasil dois anos antes de seu nascimento. Teve cinco irmãos e cinco irmãs. Quatro deles seguiram carreira artística como ele: João, galã cômico; Pedro, tenor; Radamés, barítono e Antônio, baixo. Chegou a trabalhar na sapataria do pai, em uma fábrica de guarda-chuvas, em 1905, como servente de pedreiro em 1906, voltando ao estabelecimento de seu pai em 1910.
Após terminar o curso primário, estudou desenho industrial no Liceu de Artes e Ofícios. Casou-se, em 1933, com a cantora e atriz Gilda de Abreu. O casamento foi realizado na manhã do dia 25 de setembro de 1932 e, à noite, Gilda usou o mesmo vestido em uma cena do espetáculo “A canção brasileira” (de Luís Iglesias e Miguel Santos e música de Henrique Vogeler), repetindo, com uma revoada de pombos e ao som da marcha nupcial, a emoção do casamento, para o público do teatro. Durante a carreira, conquistou o público feminino tanto por sua voz de tenor, quanto por sua bela estampa de galã.
Em 1965, recebeu o título de Cidadão Paulistano pela Câmara de Vereadores desta cidade. No dia 23 de agosto de 1968, quando se preparava para gravar um programa de televisão, onde seria homenageado pelo Movimento Tropicalista, passou mal no quarto do Hotel Normandie, em São Paulo, falecendo do coração minutos depois. Seu corpo foi transferido para o Rio de Janeiro, onde foi velado por uma multidão na Câmara dos Vereadores e sepultado sob palmas do público.
Famoso cantor (tenor), que lançou um estilo caracterizado pelo romantismo exarcebado, comovendo e arrebatando um grande público durante a primeira metade do século XX, através do teatro, de discos e do cinema nacional. Em 1902, com apenas oito anos, começou a cantar no grupo “Pastorinhas da Ladeira Viana”. No ano seguinte, participou do coro infantil da ópera “Carmen”, de Bizet, no Teatro Lírico. Nessa ocasião, o tenor italiano Enrico Caruso, entusiasmado com o menino, convidou-o para ir estudar na Itália. O pai, no entanto, não autorizou a ida do filho. Aos 11 anos, gostava de ouvir Eduardo das Neves no Passeio Público, fato que influenciou sua decisão de seguir a carreira de cantor. Em 1912, o Grupo dos Cartolas, formado por amigos do bairro da Saúde, montaram a peça “Vida de artista”, na qual ele cantou um solo, publicamente, pela primeira vez. A partir de então, abandonou o emprego na sapataria e passou a cantar em festas, serenatas e casas de chope, dedicando-se inteiramente à música. Um dia, quando cantava em uma dessas casas de chope, aceitou convite de trabalho de Alvarenga Fonseca que o levou para a Companhia Nacional de Revistas, da qual era diretor. No ano seguinte, passou a atuar num Chope-cantante recebendo 10 mil réis por noite. Estreou no teatro de revistas dia 10 de julho de 1914, aos 19 anos, na revista “Chuá, chuá”, de Eustórgio Wanderley e J. Ribas, cantando no coro e fazendo um solo da valsa “Flor do mal”, de Santos Coelho e Domingos Correia. A interpretação arrebatou o público. O sucesso com a valsa “Flor do mal” levou-o a lançar seu primeiro disco, em 1915, pela Odeon, onde gravou a referida valsa. Em seguida, gravou a valsa “Os que sofrem”, de Alfredo Gama e Armando Oliveira. Em 1916, trabalhou para a Companhia Leopoldo Fróes, onde foi promovido para o posto de ator-cantor, apresentando-se em São Paulo, Porto Alegre, Pelotas (RS), Pernambuco e Bahia. No mesmo ano, gravou uma série de modinhas pela Odeon, entre as quais, “Perdão de um coração”, “Sonhando” e “Feiticeira”, de autores desconhecidos.
Em 1917, fez um dos principais papéis na burleta de costumes nacionais de Avelino de Andrade apresentada no teatro São José no Rio de Janeiro e atuou na opereta de costumes portugueses “A avozinha”, de Mário Monteiro apresentada no mesmo teatro. No mesmo ano começou a estudar canto no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ainda no mesmo ano, gravou na Odeon a canção sertaneja “O capim mais mimoso”, de autor desconhecido e, com o cantor Bahiano e coro o desafio sertanejo “Urubu subiu”, também de autores desconhecidos e sucesso no carnaval daquele ano. Nessa época, gravou diversas canções com letras de Catulo da Paixão Cearense, com músicas de diferentes parceiros, entre as quais, “Ontem ao luar”, com Pedro de Alcântara; “Porque sorris”, com Juca Kalut; “Vai meu amor ao campo santo”, com Irineu de Almeida e “Horas melancólicas”, com Bonfíglio de Oliveira.
Em 1919, participou de várias operetas, dentre as quais: “Amor de bandido”, de Oduvaldo Viana e Adalberto de Carvalho, encenada no Teatro São Pedro (hoje João Caetano), pela Companhia de Pascoal Segreto; “Juriti”, opereta de costumes sertanejos, de Viriato Correia, com música de Chiquinha Gonzaga e encenada no mesmo teatro, com enorme sucesso. Nessa opereta, além dele, participavam Abigail Maia e o jovem Procópio Ferreira, que com essa participação firmou seu nome no teatro. Em 1920, em sociedade com a atriz e cantora Laís Areda decidiu fundar sua própria companhia de operetas. No mesmo ano estreou “Loucuras de amor”, de Adalberto de Carvalho, no Teatro Americano cantando em dueto com a soprano Laís Areda. Em 1921, participou das montagens das óperas “Tosca”, de Puccini, e “Aida”, de Verdi, no Teatro Lírico, e de “Carmen”, no Teatro São Pedro. No mesmo ano, fez o papel título no espetáculo “O Mártir” do Calvário”, apresentado no Teatro São Pedro no Rio de Janeiro.
Em 1922, por ocasião do centenário da Independência do Brasil gravou o “Hino da Independência”, de D. Pedro I e Evaristo da Veiga. No mesmo ano, fez sucesso com a valsa “Triste carnaval”, de Américo Jacomino e Arlindo Leal. Em 1923, em sociedade com a cantora Carmen Dora fundou nova companhia com a qual excursionou por todo o país durante os anos seguintes. No mesmo ano, fez sucesso com a canção “Caiuby (Canção da cabocla bonita)”, de Pedro de Sá Pereira. Em 1924, destacou-se com a gravação do fox-canção “O cigano”, de Marcelo Tupinambá e Gastão Barroso. Em 1925, percorreu o país com o espetáculo “O mano de Minas”, de Brandão Sobrinho e Celestino Silva. Em 1927, excursionou pelo Norte do país com um repertório de canções brasileiras.
Em 1928, gravou as canções “Casinha da colina”, de Luiz Peixoto e Pedro Sá Pererira e “Eterna canção”, de Júlio Dantas e Marcelo Tupinambá; o samba “O que vale a nota sem o carinho da mulher?”, de Sinhô e a valsa “Raios de um olhar”, de Lamartine Babo e Lírio Panicali. Em 1929, gravou o clássico samba-canção “Linda flor”, de Henrique Vogeler e Cândido Costa. Em 1930, gravou as primeiras composições de sua autoria, o samba-canção “Vovô e vovó”, parceria com Atílio Milano e a canção “Quando te vi”. Em 1932, estreou na Columbia, onde gravou cinco discos, lançando a canção “Meu Brasil”, de Pedro de Sá Pereira e Olegário Mariano e o tango canção “Noite cheia de estrelas”, de Cândido das Neves.
Em 1933, lançou a canção “Malandragem”, de Ary Barroso. Em 1934, tranferiu-se para a Victor, gravadora na qual permaneceu por 33 anos com um contrato de 50 mil réis mensais além da inédita clausa de percentual na vendagem dos discos. Na Victor obteve dois sucessos logo no primeiro disco, com os tangos canção “Ouvindo-te”, de sua autoria, este, gravado em dueto com a mulher Gilda de Abreu e “Rasguei o teu retrato”, de Cândido das Neves. Em 1935, cantou pela primeira vez a canção “O ébrio”, em programa na Rádio guanabara. Em 1936, gravou seu maior sucesso, a canção “O ébrio”, de sua autoria, que inspirou uma peça de teatro no mesmo ano. Em 1937, trabalhou com Gilda na ópera “Lucia de Lamenrmoor”, de Donizetti, no Teatro São Pedro. No mesmo ano, lançou outro grande sucesso de sua autoria, o tango canção “Coração materno”, inspirado em uma lenda de mais de 500 anos, segundo ele. Em 1938, voltou a gravar com a mulher Gilda de Abreu, lançando o tango “Irapuru”, de autoria dos dois. No mesmo ano, gravou de sua autoria as canções “Falando ao coração” e “Impiedosa”. Em 1939, gravou de Godofredo Santoro e Dante Santoro a canção “Ilusão de garoto” e a valsa “Martírios”. Em 1940, lançou as canções “Quero voltar”, parceria com Custódio Mesquita e Sadi Cabral e “Serenata”, de sua autoria; a valsa “Luz e sombra” e a modinha “Quando o outono chegar”, as duas últimas, parcerias com Mário Rossi. Em 1941, foi encenada a peça de teatro inspirada na canção “O ébrio”. No mesmo ano, fez sucesso com a valsa “Sangue e areia”, parceria com Mário Rossi. Lançou ainda no mesmo ano, duas composições de André Filho: a valsa “Cinzas no coração” e a canção “Cancioneiro do amor”.
Em 1942, gravou a canção patriótica “Terra virgem”, parceria com Mário Rossi e o samba canção “Samba enciumado”, de sua autoria. Em 1943, gravou de sua autoria a canção “Jurema” e as valsas “Ilusão”, com Correia Leite e “Flor mulher”, com Osvaldo Santiago. Em 1944, gravou mais duas obras compostas em parceria com Mário Rossi, seu mais constante parceiro, a valsa “Mãos que falam” e a canção “Força de expressão”. Em 1945, fez uma versão para a canção “Granada”, de Augustin Lara. Gravou também, de Roberto Roberti e Arlindo Marques Júnior o bolero “Dois estranhos” e, de Miguel Lima e Mário Galvão o tango “Taça de fel”.
Em 1946, foi lançado o filme “O ébrio”, baseado na canção de sua autoria com direção de sua mulher Gilda de Abreu e com ele no papel principal obtendo recordes de bilheteria. No mesmo ano, “Coração materno” foi transformado em peça de teatro. Em 1947, gravou mais duas composições feitas em parceria com Mário Rossi, as canções “Alma de palhaço” e “Sonho de artista”. No mesmo ano, estreou a a peça “Coração materno”, no Teatro São José, em São Paulo. Em 1949, voltou a gravar com a mulher Gilda de Abreu, lançando a “Canção de amor”, de sua autoria. Em 1951, Gilda de Abreu dirigiu o filme “Coração materno”, adaptado de sua composição novamente com o cantor como estrela e com novos recordes de bilheteria. No mesmo ano, gravou de sua autoria a toada “Gaúcha que eu adoro” e a canção “Diga da janela”.
Em 1952, regravou a modinha “Gandoleiro do amor” com música de Fábregas sobre versos de Castro Alves e a canção “Rasga o coração” e a valsa “Por um beijo”, as duas de Catulo da Paixão Cearense e Anacleto de Medeiros. Em 1954, escreveu as letras para duas valsas de Franz Lehar: “Valsa da viúva alegre” e “Conde de Luxemburgo”. Em 1956, gravou o samba “Fantasia carioca”, de Osvaldo Santiago e Alcyr Pires Vermelho e o tango “Não adianta”, de sua autoria. Em 1957, gravou o tango canção “Margarida” que fez com Zeca Ivo. No mesmo ano, gravou de Cândido das Neves as canções “Nênias” e “Em delírio”. Em 1958, gravou o samba canção “Nono mandamento”, de René Bittencourt e Raul Sampaio e os sambas-canção “Conceição”, de Dunga e Jair Amorim e “Vingança”, de Lupicínio Rodrigues. No mesmo ano, estreou a opereta “A viúva alegre”, na TV Tupi e remontou a peça “O Mártir do calvário”, no Teatro São Pedro, em São Paulo. Ainda em 1958, o jornal O Globo publicou a seguinte nota: “Gilda de Abreu e Vicente Celestino, que se conheceram, noivaram e casaram durante as apresentações da “A canção brasileira”, no palco do Teatro Recreio, vão festejar as suas bodas de prata numa estação de rádio, a Nacional, no próximo dia 23 de setembro”. Poucos dias depois, o mesmo jornal destacava a festa realizada pelas Bodas de Prata do casal registrando a seguinte notícia: “Abrilhantada pelos alunos da professora Nícia Silva, da Escola Nacional de Música e mãe de Gilda de Abreu, e pelo coro orfeônico do Corpo de Bombeiros, realizou-se ontem na Igreja da Candelária, a missa em ação de graças pelas bodas de prata do casal Vicente Celestino. Oficiou-a dom Hélder Câmara, que, numa prática cheia de afeto e carinho, disse que, sendo Deus um grande artista, é, sem dúvida, o maior empresário de Vicente e Gilda. Entre os presentes anotamos os nomes de Paschoal Carlos Magno, deputados Rubens Berardo e Carvalho Neto, e Henriete Morineau”, concluiu o jornal O Globo.
Sempre fiel a seu estilo, gravou também sambas e clássicos da bossa-nova como “Se todos fossem iguais a você”, de Tom Jobim e Vinícius de Morais, em 1959. Em 1960, gravou o samb-canção “Seresta”, de Ataulfo Alves.
Em 1964, teve seu aniversário de 70 anos comemorados com um programa de auditório na Rádio nacional. Em 1965, “O ébrio”, foi tema de uma novela na TV Paulista, na qual viveu o papel principal. No mesmo ano, recebeu o título de “Cidadão Paulistano” e cantou na Câmara Municipal como agradecimento. Ainda no mesmo ano, realizou um show no Cine Roma em Salvador com renda destinada às obras sociais de Irmã Dulca. Em 1966, gravou “Obrigado, meu Brasil” e “Canção da paz”, de Gilda de Abreu e Marina Ghiaroni. Em 1967, recebeu do júri do Festival Internacional da Canção o diploma de “A expressão Máxima da Canção”, na TV Globo. Ainda neste ano gravou histórico depoimento para o Museu da Imagem e do Som, testemunho, aliás, reproduzido quando do seu velório na Câmara dos Vereadores.
Em 1968, Coração materno” foi gravada e lançada no LP-manifesto “Panis et Circensis”, por Caetano Veloso com arranjo de Rogério Duprat como estratégia do movimento da “Tropicália”, que tinha a intenção de revolucionar os meios musicais da época. No mesmo ano, recebeu na TV Rio o Disco de Ouro, homenagem prestada pela RCA Victor. Sua discografia conta com cerca de 137 discos em 78 rpm (265 músicas), 10 compactos e 31 LPs. A partir dos anos 1990, a gravadora Revivendo vem relançando parte de sua obra em CDs. Em 2003, por ocasião dos 35 anos de sua morte foi homenageado pelo selo Revivendo com o lançamento de duas caixas contendo seis Cds com 113 faixas, a maioria obras inéditas em disco retiradas de gravações de rádio dos anos 1950 e 1960, nas Rádios Tupi e Nacional além de clássicos como “Coração materno”. Considerado pelo crítico Tárik de Souza como o “pai” do estilo brega. Em 2008, o jornalista Joaquim Ferreira dos Santos publicou nota na qual afirmou: “A sepultura de Vicente Celestino no São João Batsita pode ser vendida contra a vontade dos seus parentes. Eles acusam o segundo marido de Gilda de Abreu, viúva do cantor de “O ébrio”, de querer cremar os restos mortais para vender o jazigo. O processo corre na 30º Vara Cívil. Uma sepultura simples, como a de Celestino, está valendo cerca de 150 mil”. O caso gerou uma onda de protestos, entre as quais do jornalista Ricardo Cravo Albin que realizou no Instituto Cultural Cravo Albin um ato de desagravo. Em 2012, suas interpretações para as canções “Cinzas”; “Abismo de amor”; “Entre lágrimas”; “Castelo de areia”; “Dilecta” e “Noite cheia de estrelas”, todas e Cândido das Neves, foram incluídas no CD “Cândido das Neves – Índio”, lançado pelo selo Revivendo em homenagem ao compositor Cândido das Neves.
Os ídolos do rádio- Vol. VIII
(Com Laís Areda)
(Com Bahiano)
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