Cantor. Compositor. Radialista. Seu nome foi uma homenagem ao avô. Perdeu a mãe com apenas dois anos de idade. Antes dos dez anos mudou-se para o Rio de Janeiro, sendo criado pelo avô em Alcântara, município de São Gonçalo. Na ex-capital federal exerceu diversas atividades antes de ingressar na vida artística. Foi chofer de caminhão, motorista de táxi, guia de cego, engraxate e lapidário. Em criança cantou em circos e parques de diversão. Aos oito anos, produziu sua primeira composição. Faleceu na casa de Saúde São José, onde estava internado.
Em 1943, começou a se apresentar em programas de calouros e a cantar como crooner em clubes noturnos da Lapa, como a Leiteria Boll e o Capela. Em 1946, foi contratado pela Rádio Clube do Brasil para apresentar com o cantor e compositor Zé do Norte o programa “Manhãs da roça”, dedicado a músicas nordestinas. No mesmo programa, tornou-se secretário e diretor musical, sendo também redator e anunciador de casamentos, óbitos, nascimentos e batizados. Trabalhou no programa Oicolino de Barbosa Júnior. Transferiu-se depois para a Rádio Tamoio onde passou a apresentar-se no programa “Salve o baião”, tornando-se o “Príncipe do baião”, apresentando-se ao lado de Luiz Gonzaga, “O Rei do baião”, Carmélia Alves, a “rainha” e Claudette Soares, a “princezinha”. No mesmo período, a convite de Almirante, passou a trabalhar na Rádio Tupi. Em 1951, gravou pela Todamérica, o seu primeiro disco, interpretando os baiões “Baião da Vila Bela” e “Coreana”, ambos de sua autoria e Ubirajara dos Santos. No mesmo ano, com a inauguração da primeira TV no Brasil, a extinta Tupi, participou do primeiro programa musical da Televisão, “Espetáculos Tonelux”, apresentando-se ao lado da vedete Virgínia Lane, com a direção de Mário Provezano. Em 1952, gravou os baiões “O retirante” e “Largo do Cafunçu”, composições suas em parceria com Ubirajara dos Santos. Em 1953, a cantora Marlene gravou de sua autoria o “Baião do gago” e dele e João do Vale, “Estrela miúda”, que logo alcançou sucesso. No mesmo ano, transferiu-se para a Rádio Nacional e gravou a toada “Rolinha minha saudade” e o baião “Toada com Maria Jesuína”, ambas de sua lavra. Em 1954, a mesma Marlene gravaria o baião “Zé da Gota” e Araci Cortes o baião “Rio Guará”, dele e João do Vale. No mesmo ano, gravou a toada “Os olhinhos do menino”, regravada pelos “Vagalumes do luar”, e Carlos Galindo gravou o baião “O fole do Aleixo”. Em 1955, gravou os baiões “Rolinha fogo pagô”, de sua autoria e “O lenço da moça” em, parceria com João do Vale. No mesmo ano, gravou o samba “Viva a Penha”, de Assis Valente e Josvaldo Dantas e a toada “Sodade furadera”, de Assis Valente e Abreu Jr. Em 1956, gravou o baião “Forró do Frutuoso”, de sua autoria e João do Vale e a toada “Meu crucifixo”, dele e Álvaro Matos. No mesmo ano, Ivon Curi gravou a toada “Vá com Deus”, de Luiz Vieira e Álvaro Matos. Em 1957, Marlene voltou a gravar outra composição de sua parceria com João do Vale, o samba “Minha candeia”. No mesmo ano, Heleninha Costa gravou a toada “Depois da rusga” e Dolores Duran o corridinho “Estrada da saudade”, dele e Max Gold. Ainda em 1957, gravou de sua autoria, o xote “Estrada de Columandê”, composição incluída no filme “Garotas e samba”, e interpretada por Ivon Curi, e o corrido “Corridinho da saudade”. Em 1958, gravou a toada “Cantiga da lembrança”, dele e de Epaminondas Souza e o rojão “Embolada mudou”, de sua autoria. No mesmo ano, a cantora Ângela Maria gravou a toada “Bicha coirana”. Em fins dos anos 1950, foi para São Paulo onde passou a atuar na Rádio e na TV Record, apresentando o programa “Encontro com Luiz Vieira”, de periodicidade semanal. Em 1959, gravou pela Copacabana, sob a direção de orquestra de Moacyr dos Santos, o seu primeiro LP, “Retalhos do Nordeste”. Em 1960, gravou o samba-canção “A intrigante”, parceria com Dario de Souza e a guarânia “Guarânia do amor sofrido”, de sua autoria. No mesmo ano, Pery Ribeiro gravou a toada “Inteirinha” e Fernando Barreto o bolero “Nossa timidez”, parceria com Alberto Lopes. Em 1961, Jota Otoni gravou a guarânia “Guarânia da Lua nova” e a toada “Cantiga da lavadeira” e Ângela Maria a toada “Os olhinhos do menino”. Em 1962, gravou um dos seus maiores sucessos , “Prelúdio para ninar gente grande”, também conhecido como “Menino passarinho”, inspirado e composto dentro de um avião, gravado no mesmo ano pela cantora Dalva de Andrade. Nos anos 1960, participou de diversos programas sobre música e cultura popular, atuando como âncora, contando casos e histórias. Em 1972, Antônio Marcos, no auge da carreira, gravou “Rumo incerto”, no LP “Sempre”, lançado pela RCA. Em 1974, gravou para a Odeon com o maestro Gaya o LP “Luiz Vieira” com destaque para “Olhinhos do menino”, de sua autoria e o “Prelúdio nº 2”, além de “Guarânia da saudade”. Em 1975, realizou no Teatro da Lagoa, no Rio de Janeiro, o show “Luiz Vieira, de rapadura e cuscuz até menino passarinho”, apresentando-se acompanhado pelo conjunto Gente. No mesmo ano, cantou na boate “Igrejinha”, em São Paulo, no show “Tarde nordestina”. Em 1978, gravou com arranjo do maestro Orlando Silveira o disco “Na asa do vento”, onde faz comovida homenagem a Orlando Silva que acabara de falecer, cantando “Brasa”, de Lupicínio Rodrigues, a quem dedicou o disco. Em 1979, teve a música “Inteirinha” gravada pela dupla Jane e Herondy. Em 1981, no LP “João do Vale”, de João do Vale, produzido por Chico Buarque para a gravadora CBS, teve gravadas suas composições “Na asa do vento” e “Estrela miúda”, ambas parcerias com João do Vale.
Em 1986, gravou pela Continental, com a participação de três grandes músicos, Dominguinhos, Chiquinho do Acordeom e Zé Meneses, com destaque para “Chá pra lombriga” e “Fole do Aleixo”, ambas de sua autoria.
Como compositor tem mais de 500 músicas gravadas por diversos artistas, entre os quais, Caetano Veloso, Taiguara, Pery Ribeiro, Nara Leão, Moacyr Franco, Hebe Camargo, Augusto Calheiros, Gilberto Alves, Agnaldo Rayol, Elba Ramalho, Luiz Gonzaga, Cascatinha e Inhana, Sérgio Reis, Rita Lee, Marcelo Costa e Maria Bethânia. Lançou quatro LPs pela gravadora Copacabana: “Retalhos do Nordeste”, “Encontros com Luiz Vieira”, em dois volumes e “Em tempo de verdade”. Em 1992, a Movieplay lançou o CD “O melhor de Luiz Vieira”. Em 1994, no CD “João Batista do Vale”, teve quatro de suas parcerias com João do Vale gravadas, “A voz do povo”, por Paulinho da Viola, “Estrela miúda”, por Maria Bethânea, “Na asa do vento”, por Fagner e “Maria Filô”, por ele mesmo. Em 2000, realizou no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, o show “Eu show — Luiz Vieira”. Na mesma ocasião foi lançado pela Polidisc o CD com seus grandes sucessos, entre os quais, “Fantasia do ar”, feita em parceria com Omar Fontana e gravada pela Orquestra Filarmônica de Viena em forma de suíte sinfônica, com Arthur Moreira Lima como solista. Estão presentes ainda no show e no CD as composições “Menino de Braçanã”, “Paz do meu amor”, “Hino Transamazônica”, gravado pelas Bandas da Aeronáutica, da Polícia Militar de São Paulo e por diversos corais, além da inédita “Mentistes”, feito em parceria com Ronaldo Cunha Lima. Continuou em atividade na Rádio Nacional apresentando o programa “Minha terra, nossa gente”, que após muitos anos, transferiu-se para a Rádio Rio de Janeiro AM, onde no início de 2002, completou 18 anos no ar, apresentado de segunda a sábado de seis às nove horas da manhã, recebendo cerca de 500 ligações diárias de ouvintes. Ainda em 2002, lançou o espetáculo “Pessoas que brilham”, no Teatro João Caetano onde a cada dia apresentou um convidado, entre os quais, Carmélia Alves. Autor de mais de 500 canções, em novembro de 2009, apresentou-se na Sala Baden Powell, numa mini temporada de 3 dias, com o show “Memórias do Coração”, Devido ao grande sucesso voltou ao palco da Sala Baden Powell, cantando, contado de histórias e apresentando convidados.
Amigo de Inezita Barroso, com quem se apresentou por diversas vezes, especialmente em turnês no norte e nordeste do país, foi convidado especial em julho de 2010, no programa “Viola, minha viola”, comandado pela cantora e pesquisadora. Na ocasião, reviveu, com o mesmo talento, o quadro que se tornou marca de seus programas de rádio e televisão, durante muitos anos – o contador de “causos”, Nessa mesma edição do “Viola, minha viola”, interpretou conhecidos sucessos de sua carreira, como “Menino de Braçanã”, parceria com Arnaldo passos; Guarânia da saudade”, Guarânia da lua nova” e “Forró do Chico moço”, todas de sua autoria, além dos seus clássicos “Prelúdio para ninar gente grande” e “Paz do meu amor” e, ainda, cantou com Inezita Barroso “A troco de quê”, de sua autoria, levando a platéia a aplaudir de pé. Em 2011, apresentou-se no Centro Cultural da Light, no centro do Rio de Janeiro, dentro do projeto “MPB – 12:30 em ponto”, dirigido por Haroldo Costa , com roteiro e apresentação de Ricardo Cravo Albin. Na ocasião, contou passagens de sua carreira e cantou sucessos como “Guarânia da lua nova”, “Guarânia da saudade”, “Menino de Braçanã”, “Na asa do vento”, “Os olhinhos do menino” e “Menino passarinho”. Em 2012, foi convidado especial do programa “Viola,minha viola”, apresentado por Inezita Barroso, na TV Cultura de São Paulo. Na oportunidade, contou causos, como tradicionalmente faz, e interpretou várias canções, incluindo composições de sua autoria que se tornaram clássicas, como “Menino passarinho” e “Paz do meu amor”, esta última em dueto com Inezita Barroso, no encerramento do programa. No mesmo ano, voltou a apresentar no programa “Meio dia e meia em ponto”, apresentado pelo crítico, escritor e produtor Ricardo Cravo Albin, no Centro Cultural da Light, no Rio de Janeiro (RJ). Na ocasião, cantou grandes toadas, baiões e guarânias de dua autoria, tais como “O menino de Braçanã”, “Na asa do vento” (c/ João do Valle), e “Guarânia da lua nova”. Em 2015, fez parte do espetáculo “A alma romântica do Rio, nos 450 anos da cidade”, dentro da série mensal “MPB na ABL”, apresentada por Ricardo Cravo Albin, e que, nessa ocasição, contou com a participação especial do cantor Agnaldo Timóteo. Nesse espetáculo, além de bater papo com o apresentador e o cantor, interpretou seus sucessos “Menino de Braçanã”, com Arnaldo Passos, e “Na asa do vento”, com João do Vale, além de “Inteirinha”; “Os Olhinhos do Menino”; “Forró do Tio Augusto”; “Paroliado”; “Guarânia da Saudade”; “Guarânia da Lua Nova”; “Prelúdio para Ninar Gente Grande” e “Paz do Meu Amor”. Em 2015, apresentou-se no programa “Senhor Brasil”, apresentado por Rolando Boldrin, na TV Cultura. Na ocasião, além de contar causos e falar sobre sua carreira, cantou, acompanhado de Ronaldo Rayol, ao violão, as músicas “Menino de Braçanã”,com Arnaldo Passos; “Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barro, e “A Paz do Teu Amor” e “Prelúdio Para Ninar Gente Grande”, de sua autoria.
Em 2018, por ocasião de seus 90 anos de idade, foi celebrado em show realizado no Teatro Itália, em São Paulo, e que contou com as participações de Zeca Baleiro, Maria Alcina, Renato Teixeira, Sérgio Reis, Claudette Soares, e Daniel, entre outros, gravado ao vivo pela Kuarup para o CD “Luiz Vieira 90 anos”, lançado noa no seguinte.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
Morreu na manhã de hoje, dia 15/01, um dos maiores representantes da canção brasileira de sempre. E não só da canção, porque Luiz Vieira foi quase tudo na era do rádio e do disco a partir dos anos 40 e 50. Isso significa, para mim e para o Instituto Cravo Albin, uma perda decisiva também para o melhor da comunicação. E por que comunicação? Porque meu querido Luiz Vieira percorreu ao longo de toda uma longa vida, encerrada hoje, aos 92 anos de idade, todas as emissoras de rádio e de televisão com constância permanente e comovedora, contando “causos”, cantando seus sucessos, prestigiando seus colegas, fazendo presente toda a dignidade do melhor trabalho do povo brasileiro em música popular.
Luiz Vieira, chamado carinhosamente pelos amigos e fãs de Menino Passarinho (título de seu grande sucesso, a lhe marcar a presença junto a qualquer público), teve também tempo de defender com garra e paixão os direitos autorais de seus colegas, já que foi Presidente da SOCINPRO durante muito tempo, além de dar frequente expediente por lá até as vésperas de sua morte. Também teve tempo, um inacreditável tempo, para produzir um casal de gêmeos aos 80 anos de idade, infelizmente agora órfãos do pai (e quase avô e até bisavô).
Para encerrar esta lágrima sentida do nosso Instituto, cabe registrar o sucesso que ele obteve na Academia Brasileira de Letras, quando o convidei em 2016 para contar e cantar sua vida, dentro da série MPB na ABL, no auditório Raimundo Magalhães Junior da Academia. O nosso agora pranteado e sempre grande personagem comoveu os acadêmicos ao reafirmar todo seu viés de fidelidade à autenticidade das fontes da música brasileira. Além de seu amor ao rádio e à comunicação, permanentemente à disposição do público brasileiro, junto com suas composições, por mais de sete décadas.
Portanto, digo e repito: A perda de Luiz Vieira quase que encerra o glorioso elenco da Era do Rádio e do Disco no Brasil.
Ricardo Cravo Albin
Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin