Instrumentista (percussionista). Compositor.
Aprendeu a tocar sozinho ainda na infância, batucando em panelas e penicos. Aos doze anos, apresentava-se profissionalmente em bares e clubes. Jamais frequentou nenhuma escola de música, tendo, por toda sua carreira, sido autodidata. Em uma entrevista declarou: “Quando você aprende teoria musical por livros, precisa sempre consultar os textos. Quando você aprende com o corpo, é como andar de bicicleta. Seu corpo se lembra.”.
Foi eleito oito vezes, entre 1983 e 1990, pela revista Down Beat, considerada a Bíblia do Jazz, o melhor percussionista do mundo.
Em 2015, recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). No mesmo ano, descobriu um câncer no pulmão esquerdo e passou quase um mês internado. Morreu no ano seguinte, em 2016, vitimado por complicações derivadas do câncer. Permaneceu internado por dez dias no hospital Unimed III, no Recife, onde sofreu uma parada respiratória a qual não resistiu. O velório ocorreu na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Segundo familiares, o músico se sentiu mal após apresentar-se em Salvador, num show com o violoncelista Lui Coimbra. Seu corpo foi sepultado no cemitério de Santo Amaro, no dia seguinte a sua morte. Sobre sua partida, o governador Paulo Câmara declarou: “Pernambuco acordou triste. O silêncio causado pelo desaparecimento de Naná Vasconcelos em nada combina com a força da sua música, dos ritmos brasileiros que ele, como poucos, conseguiu levar a todos os continentes. Naná era um gênio, um autodidata que com sua percussão inventiva e contagiante conquistou as ruas, os teatros, as academias. Meus sentimentos e a minha solidariedade para com os seus familiares”. Foi decretado luto oficial de três dias.
Em 2024 foi lançada, no Itaú Cultural, em São Paulo, exposição comemorando os 80 anos do percussionista. O centro da exposição foi o primeiro berimbau do músico. A exposição foi estruturada em eixos a partir de fotos, vídeos, figurinos, instrumentos e objetos. Também foi feita uma HQ, intitulada “Quase dois irmãos”, de Mateus Araújo e Diox, sobre a relação de Naná com o Berimbau distribuída aos visitantes da exposição.
Iniciou sua carreira profissional em Recife, tocando bateria em cabarés. Mais tarde, foi percussionista da Banda Municipal local. Acompanhou Gilberto Gil em shows pelo Nordeste.
Em 1967, viajou para o Rio de Janeiro, onde conheceu Maurício Mendonça (Maurício Maestro), Nélson Ângelo, Joyce e Milton Nascimento, com quem atuou na gravação de dois LPs.
No ano seguinte, seguiu para São Paulo. Ao lado de Nélson Angelo, Franklin e Geraldo Azevedo, fez parte do Quarteto Livre, que acompanhou Geraldo Vandré em “Pra não dizer que não falei de flores” na fase paulista do III Festival Internacional da Canção.
Em 1969, apresentou-se com Gal Costa no Curtisom e no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
De volta ao Rio de Janeiro, formou o Trio do Bagaço, com Nélson Angelo e Maurício Maestro, apresentando-se, com o grupo, no México, a convite de Luis Eça.
Atuou na trilha sonora de “Pindorama”, filme de Arnaldo Jabor. Nessa época, conheceu Gato Barbieri, com quem viajou para Nova York (EUA) para a gravação de um disco. Nesta cidade, participou de festivais de jazz, como o de Chateau Vallon, e gravou com Jean-Luc Ponty, Don Cherry, Roff Kün, Oliver Nelson e Léon Thomas.
Mais tarde, viajou para a Europa. Fez contato com gravadoras parisienses através de Pierre Barrouh. Apresentou-se no Teatro Ranelagh e foi convidado a gravar com Joachin Kunhu, na Alemanha, seguindo, depois para Montreux (Suíça), onde realizou mais um show. Atuou durante dois anos com o Quarteto Iansã, na Europa. Seguiu, depois, para a África, onde permaneceu durante seis meses fazendo pesquisas. Seu primeiro LP, “Africadeus”, foi gravado no exterior. Ainda na Europa, compôs a trilha sonora de uma novela para a televisão francesa com temas brasileiros. Em Portugal gravou um disco no dialeto angolano quimbundo.
Em 1972, retornou ao Brasil e apresentou, no Teatro Fonte da Saudade, o material com que participou de festivais e gravações com Don Cherry, Tony Williams, Art Blakey, Miles Davis e Oliver Nelson, entre outros, utilizando instrumentos de percussão como o berimbau e a queixada de burro. Nessa apresentação, interpretou o repertório de seu disco “Africadeus” e uma bachiana de Villa-Lobos, regendo um coral e atuando como único músico do show.
No ano seguinte, gravou seu segundo LP, “Amazonas”, lançado pela Philips, mesclando o ritmo brasileiro ao folclore africano.
Ainda na década de 1970, voltou a Paris, onde realizou um trabalho com crianças excepcionais.
Trabalhou durante oito anos com Egberto Gismonti, com quem gravou, na Alemanha, o LP “Dança das cabeças” (1977), nomeado Álbum do Ano pela “Stereo Review” e premiado com o Grober Deutscher Schallplattenpreis.
Em 1979, gravou o LP “Egberto Gismonti & Naná Vasconcelos & Walter Smetak”. Nessa época, transferiu-se novamente para Nova York. Atuou com artistas internacionais como Pat Metheny, B.B. King e Paul Simon.
É autor da música de “O sertão das memórias”, filme de José de Araújo.
Em 1997, voltou ao Brasil para organizar, com Gilberto Gil, o IV Panorama Percussivo Mundial, realizado no Teatro Castro Alves, do qual participaram artistas de vários países do mundo.
Em 1999, lançou o CD “Contaminação”, contendo suas composições “Science” (c/ Vinicius Cantuária e Mércia Rangel), “Tá na roda tá”, “Irapurú”, “Quase choro”, “Luz de candeeiro”, “Cajú” e “To you to”, todas com Vinicius Cantuária, “Lágrimas”, “Coco lunar”, “Forró do Antero” e “A seca” (c/ Dino Braia, Mércia Rangel e Alceu Valença), além de “Ciranda” e da faixa-título, ambas com Mércia Rangel.
Em 2000, participou do CD da banda Via Sat.
No ano seguinte, lançou o CD “Fragmentos”, uma compilação de temas que compôs para filmes e espetáculos teatrais. No repertório, ” Vento chamando vento”, “Mundo verde”, “Sertão das memórias”, “Forró do Antero”, “Vozes”, “Vamos pra selva”, “Caminho dos pigmeus” e “Gorée”, além de sua versão para “Marimbariboba” (Domínio Público). Também nesse ano, participou, como arranjador, do CD “Cordel do Fogo Encantado”.
Em 2002, lançou o CD “Minha Lôa”, contendo suas composições “Futebol”, “Afoxé do Nêgo Véio”, “Estrela negra” (c/ João de Souza Leão), “Goreé”, “Macaco”, “Dons rollerskates (Tributo a Don Cherry)” e “Curumim”, além de “Voz Nagô” (Paulo César Pinheiro e Pedro Amorim), “Isleña” (Kiko Klaus), “Caboclo de lança” (Erasto Vasconcelos e Esdras) e “Forró das meninas” (Erasto Vasconcelos, Guga e Murilo).
Lançou, em 2005, o CD “Chegada”, com a participação de César Michiles (flautas e saxes), Lui Coimbra (cello, charango e violão), Chiquinho Chagas (piano, teclados e acordeon) e Lucas dos Prazeres (percussão).
Em 2006, lançou o CD “Trilhas”, reunindo temas que compôs para os filmes “Quase dois irmãos”, de Lucia Murat, “Nizinga”, de Rose Lacret e Otávio Bezerra, e “Ori – Canção para Aisha”, de Raquel Gerber, e para os espetáculos de dança “Corpos luz”, da companhia de balé Dança Vida, de Ribeirão Preto, e “Balé de Rua – Uma história brasileira”, da companhia Balé de Rua, de Uberlândia. Em todas as faixas, o músico assina voz e percussão.
Em parceria com Marcos Suzano, Caito Marcondes e Coração Quiáltera, lançou, em 2010, o CD “Sementeira: Sons da Percussão”, contendo suas composições “Sementeira”, “Ifá”, “Convite” e “Ensaio geral”, todas com Caito Marcondes, Marcos Suzano e Coração Quiáltera, “Lua Nova” (c/ Coração Quiáltera) e “Nada mais sério”, além de “Triciclo” e “Ditempus Intempus”, ambas de Coração Quiáltera), “Canto de trabalho” (Caito Marcondes) e “No morro” (Marcos Suzano).
Em 2013, o músico fez a trilha sonora da animação O Menino e o Mundo, que disputou o Oscar de melhor filme de animação em 2016.
Ao lado de Zeca Baleiro e Paulo Lepetit, lançou o CD/projeto Café no Bule, em 2015. Sobre o disco, afirmou: “Foi uma ideia do Paulo Lepetit e do Zeca Baleiro, parceiros que estiveram comigo em um outro projeto que ‘deu repercussaõ’. E eu aceitei de cara tomar esse café com eles. Já sobre a escolha das músicas declarou que “Foi simples e não teve seleção de repertório. Fomos fazendo.”. Dentre as faixas, compostas à distância, por telefone e por email, “Yellow Taxi”, “Ciranda da meia noite”, “”A maré tá boa”, “Xote do Tarzan”, “A dama do chama maré”, “Batuque na panela”. Os três revezaram-se nos vocais durante as gravações.
Em 2016, participou da abertura do carnaval de Recife, no Marco Zero, na companhia de Lenine, Sara Tavares, Maracatu Nação Porto Rico e do Clube Carnavalesco Misto Pão Duro, e na companhia de 400 batuqueiros.
Em 2017 sua estátua foi inaugurada no Marco Zero em Recife (PE), e junto à ela, uma placa informativa com um “QR Code” (código lido por celulares com câmera fotográfica) fornecendo informações sobre a vida e a obra do artista.
Em 2018 foi lançado seu boneco gigante durante o carnaval pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, a mesma que o condecorou com o título de “Doutor Honoris Causa” no ano de 2015.
Em 2019 o Museu do Instrumento Musical da cidade de Phoenix (EUA) exibiu 16 instrumentos seus, com objetivo de mostrar a extensão de sua pesquisa, incluindo instrumentos e exemplares de países africanos.
Com Zeca Baleiro e Paulo Lepetit
Com Pablo Arrieta
Com Fabiano Araújo e Arild Andersen
Com Maurício Maestro e Joyce
Com Itamar Assumpção
Com Arild Andersen e Ralph Towner
Com Antonello Salis
Com Don Cherry, Collin Walcott (trilogia completa)
Com Jan Garbarek e John Abercromble
Com Perry Robinson e Badal Roy
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.
COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.
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