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Nome Artístico
João Pacífico
Nome verdadeiro
João Batista da Silva
Data de nascimento
5/8/1909
Local de nascimento
Cordeirópolis, SP
Data de morte
30/12/1998
Local de morte
Guararema, SP
Dados biográficos

Compositor.
Sua vida no campo foi curta, mudando-se para a cidade com sete anos de idade. Começou a revelar talento artístico já em criança, quando era comum vê-lo declamar poesias timidamente e cantar algumas músicas para os colegas e professores. Filho de uma ex-escrava, viveu parte de sua adolescência na casa de Ana Gomes, irmã do maestro Carlos Gomes. Mais tarde declarou: “Eu ouvia muita música erudita, mas gostava mesmo era da música popular”. Começou ainda menino, em Limeira (SP), a tocar bateria em uma orquestra que se apresentava no cinema local. Mudou-se para Campinas (SP), em 1919, e escreveu em homenagem àquela cidade o poema “Cidade de Campinas”, musicado mais tarde por Raul Torres, para a gravação de Torres e Serrinha pela RCA Victor em 1937. Em 1923, João Pacífico tocou bateria na Orquestra Sinfônica de Campinas. Trabalhou como ajudante de lavador de pratos nos vagões-restaurante da Cia Paulista de Estradas de Ferro, sendo descoberto pelo poeta Guilherme de Almeida, aos 13 anos, quando entregou ao poeta algumas de suas composições. Faleceu em 1998 devido a problemas respiratórios.

Dados artísticos

Sua carreira recebeu impulso através de seu encontro com Raul Torres, em 1933. O encontro possibilitou a formação de uma parceria fecunda. Em março de 1935, Raul Torres gravou o 78 rpm com a composição “Seu João Nogueira”, indicando o sucesso que estouraria com “Chico mulato” em 1936. Criou-se, ali, um novo estilo para a música sertaneja, a toada histórica, com versos declamados antes da cantoria. Segundo declarou Pacífico, posteriormente, as gravadoras resistiram àquele estilo, longo demais, porém, com o tempo, perceberam que o público gostava. Em 1936, mais duas músicas suas, em parceria com Raul Torres, foram gravadas: “Foi no romper da aurora”, na Odeon, por Torres e seu conjunto Embaixada, e “Chico Mulato”, na RCA Victor . Nessa , Pacífico fazia dueto vocal com Raul Torres. Gravou também no mesmo ano “Festa da bicharada”, de Raul Torres e Capitão Furtado, em que cantava e imitava sons de animais. Pacífico continuou compondo com Raul Torres. A dupla Torres e Serrinha lançou, em 1942, “No mourão da porteira”, em parceria com Raul Torres, pela Odeon, que se tornou um grande sucesso, trazendo-lhe diversas homenagens. Em 1947, começou a trabalhar no Banco Italo-Belga, já com diversas músicas gravadas. Continuando a compor, seria autor do sucesso “Tapera caída”, gravada por Luisinho e Limeira, em 1952, pela RCA Victor. Outros sucessos ocorreram como “Por teu olhar”(RCA Victor), em parceria com Raul Torres, gravado pelo próprio e Florêncio. Em 1954, Nélson Gonçalves gravou “Treze listas”, pela RCA Victor e Luizinho, Limeira e Zezinha registraram “Conselho de caboclo”. Em 1957, a toada “Minas Gerais”, em parceria com Raul Torres, foi gravada por Tonico e Tinoco. O LP “Cavalo zaino”, lançado em 1958 pela Chantecler pela dupla Raul Torres e Florêncio, revivia consagrados sucessos como “Pingo dágua”, de sua parceria com Raul Torres. Pacífico continuou produzindo sucessos gravados por muitas duplas. Na década de 1960, compôs, entre outros, “Coquetel de vida”, gravado por Maurici Moura em 1961, pela Chantecler. No ano seguinte a dupla Campanha e Cuiabano gravou “Rolinha cabocla”, parceria com Raul Torres. Moreno e Moreninho gravaram em 1964 pela CBS “Enquanto a estrela brilha”, composição também em parceria com Raul Torres. Em 1968, Marcelo Costa gravou “Progresso”, pela Odeon. Em 1970, João Pacífico foi homenageado com o LP “Pingo dágua”, que reuniu suas composições de maior sucesso, além de duas inéditas interpretadas pelo Duo Glacial, “A história de um prego” e “No banquinho”. O Duo Ciriema gravou pela Continental, em 1974, “Mensagem de esperança”, composição em parceria com o Capitão Furtado. Ao longo da carreira, João Pacífico manteve-se atento às questões gerais de seu tempo. Sua composição “Não deixem me poluir” expressaria a voz do Rio Tietê sofrido pelas conseqüências da industrialização. Apesar do talento reconhecido e de ter construído um amplo acervo e de suas músicas constituírem sucessos consagrados, não fez fortuna com a atividade artística. São inúmeras as referências à sua obra. Entre elas, frases de diversas personalidades do mundo artístico como: “Um compositor completo, que só fez música por fazer. É a consciência coletiva da cultura caipira” (Paulo Vanzolini); “Pacífico foi um dos compositores de maior sensibilidade que o Brasil já teve”, (Alarico Resende, pesquisador de música sertaneja). Deixou 1.450 composições, sendo 650 gravadas. Três delas com marcas recorde de gravações: “Chico Mulato” (30 gravações) ; “Cabocla Tereza” (40 gravações) ; “Pingo dágua” (60 gravações). Em 2002 teve a toada “Cabocla Tereza”, parceria com Raul Torres, regravada pelas Irmãs Galvão em CD lançado pela Chantecler. Nesse ano, a moda-de-viola “Doce de cidra” foi gravada pela dupla Mococa e Paraíso, no CD “Terra tombada e outros sucessos”, do selo Brasis. Ao lado de Raul Torres, João Pacífico compôs seus principais sucessos. “Chico Mulato”, de 1936, “Cabocla Tereza”, de 1937 e “Pingo dagua”, de 1944.
Em 2005, o violonista Leandro Carvalho editou o “London poem” (Independente), obra com acompanhamento do Britton String Quintet e que abrange dois discos, um dedicado à obra de João Pacífico, que considera um baluarte da música caipira, e outro à obra do violonista João Pernambuco. A edição agrega ainda composições escritas em Londres por Tom Jobim, no final dos anos 1960, e, ainda, de Caetano Veloso, quando de seu exílio naquela cidade, no começo dos anos 1970, além de Villa Lobos. Em setembro de 2008, o programa “Viola, minha viola”, de Inezita Barroso, na TV Cultura de São Paulo, prestou-lhe homenagem em edição completa visitando sua obra. O evento contou com diversos expoentes da música caipira, entre eles, o violeiro Cláudio Lacerda, a dupla Mococa e Paraíso, que interpretou “Doce de cidra”; João Mulato e João Carvalho, “Rolinha cabocla”, parceria com Raul Torres e, finalizando, Inezita Barroso interpretou “Perto do coração”, também com Raul Torres. Em 2009, teve sua música, “Cabocla Tereza” (c/ Raul Torres), gravada pela dupla Fabrício e Fabian, no CD “Ontem e Hoje”. Em 2011, sua música “Tema novo” foi gravada pela dupla Otávio Augusto & Gabriel, que também a cantaram no programa “Viola, minha viola”, apresentado por Inezita Barroso, na TV Cultura. Em 2017, teve sua composição “Cobocla Tereza” (c/ Raul Torres) incluída no repertório da peça teatral “Bem sertanejo – O Musical”, estrelada por Michel Teló e dirigida por Gustavo Gasparani. O espetáculo esteve em cartaz em diversas cidades brasileiras, entre elas São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Ribeirão Preto.

Obras
A Mulher e o trem (c/ Raul Torres)
Cabocla Tereza (c/ Raul Torres)
Cadê minha morena (c/ Raul Torres)
Cantando
Canção da felicidade
Carro de boi (c/ Teddy Vieira)
Cavalo zaino
Chico mulato
Chorando baixinho (c/ Abel Ferreira)
Cidade de Campinas
Cobra venenosa (c/ Raul Torres)
Condenada (c/ Correia Leite)
Conselho de caboclo
Contando fita (c/ Raul Torres)
Coquetel de vida (c/ Portinho)
Coroa de estrelas (c/ Raul Torres)
Descoberta do Brasil (c/ Raul Torres)
Enquanto a estrela brilhar (c/ Raul Torres)
Estrada da vida (c/ Raul Torres)
Eterna ilusão
Eu faço um arrasta pé (c/ Raul Torres)
Fim de felicidade (c/ Luisinho)
Foi no romper da aurora (c/ Raul Torres)
História de um prego
Iaiá cadê o lírio (c/ Raul Torres)
Irmã da saudade (c/ Portinho)
Jangada do norte (c/ Raul Torres)
Mandamento das muié (c/ Raul Torres)
Menina de fábrica (c/ Raul Torres)
Mensagem de esperança
Minas Gerais
Minha gravação (c/ Portinho)
Neném sai da garoa (c/ Raul Torres)
No banquinho
No mourão da porteira (c/ Raul Torres)
Não deixem me poluir
O Pretinho do Rosário (c/ Raul Torres)
O que ficou no sertão (c/ Raul Torres)
O teu retrato (c/ Raul Torres)
O vizinho me contou (c/ Raul Torres)
Ouro branco (c/ Raul Torres)
Perto do coração (c/ Raul Torres)
Pingo d'água (c/ Raul Torres)
Por teu olhar
Progresso
Quando bate a Ave-Maria (c/ José Marcílio)
Ranchinho abandonado (c/ Raul Torres)
Rolinha cabocla (c/ Raul Torres)
Rádio moderno (c/ Raul Torres)
Saudade (c/ Raul Torres)
Se a viola contasse (c/ Florêncio)
Seca do Nordeste (c/ Nenete)
Seu João Nogueira
São João do Rancho fundo (c/ Raul Torres)
Tapera caída
Toquinho de vela (c/ Rui Machado)
Treze listas
Vendendo bicho aos pedaços (c/ Raul Torres)
É o papudo quem dá (c/ Raul Torres)
Bibliografia Crítica

AMARAL, Euclides. A Letra & a Poesia na MPB: Semelhanças & Diferenças. Rio de Janeiro: EAS Editora, 2019.

LUNA, Francisco; LUNA, Paulo. Almanaque de duplas caipiras e sertanejas. Rio de Janeiro: Lunamar Edições, 2015

MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.

MUGNAINI Jr.;Airton. Enciclopédia das Músicas Sertanejas. São Paulo: Letras e Letras, 2001.

NEPOMUCENO, Rosa. Música Caipira – Da roça ao rodeio. São Paulo: Editora 34, 1999.