Compositor. Instrumentista.
Nascido na Itália, veio para o Brasil com os pais aos quatro anos, indo morar em Santa Adélia, SP. Aos 6 anos convenceu o pai a lhe comprar uma sanfona. Estudou acordeon com Ângelo Reale e teoria musical com o maestro Tripicchioni. Morreu aos 86 anos de idade no Hospital dos Sorocabanos, em São Paulo, devido a complicações decorrentes de um tratamento de problemas pulmonares. Seu corpo foi velado na Assembléia Legislativa e enterrado em frente ao túmulo da Marquesa de Santos, conforme era seu desejo.
Considerado um dos maiores sanfoneiros do Brasil, foi amigo de Luiz Gonzaga, que declarava que Mario Zan era o verdadeiro “rei da sanfona”. Apaixonado pela música, ficava observando os sanfoneiros nas festas e bailinhos e aos 10 anos já tocava acordeon. Aos 13 anos. tornou-se solista do instrumento, tocando em bailes, festas e eventos, sendo apelidado de O Moleque da Sanfona. Com o passar do tempo foi sendo convidado para participar de grandes orquestras de bailes e shows. Em 1939, começou a fazer apresentações em rádios, iniciando-se na Rádio Cruzeiro do Sul. Posteriormente trabalhou nas rádios Record, Tupi e Bandeirantes, na qual ficou 33 anos, todas em São Paulo. No início da década de 1940 foi para o Rio de Janeiro para conhecer Luiz Gonzaga, que o convenceu a ficar e conseguiu que Mário fosse tocar no Sambadancing, uma casa noturna.
Em 1944, retornou para São Paulo e começou a viajar. Primeiramente excursionou com Nhô Pai, Nhô Fio e Capitão Furtado, apresentando-se em todos os cinemas da empresa Pedutti, chegando até o Mato Grosso. Em Mato Grosso fez uma série de composições inspiradas no cenário natural da região: “Chalana”, “Orgulhoso” e “Ciriema”. Fez as primeiras gravações na Continental, com a “Valsa dos namorados” e “El choclo”, na qual fez uma inovação musical, o tango brejeiro. Em 1946, foi para a RCA, onde gravou cerca de 300 discos de 78 rpm. Continuou fazendo excursões e se tornou um solista conhecido e famoso em todo o Brasil. Em suas viagens costumava levar discos que eram vendidos, sorteados e presenteados nos shows. Em 1954, gravou o dobrado “Quarto centenário”, em homenagem à Cidade de São Paulo, de sua autoria em parceria com J. M. Alves. No mesmo ano participou do filme “Da terra nasce o ódio”, de Antoninho Hossri. Dedicou-se à pesquisa de ritmos, tendo lançado em 1956 a tupiana, um tipo índio com batidas ritmadas. Em 1958, fez grande sucesso com o rasqueado “Nova flor”, também conhecido como “Os homens não devem chorar”, posteriormente vertido para o castelhano e para o inglês, tendo sido gravado por Frank Sinatra e com mais de 40 regravações em todo o mundo. Inaugurou as TVs Record e Globo, antiga paulista. Em 1960, participou do filme “Tristeza do jeca”, de Milton Amaral. Em 1963, participou do filme “Casinha pequenina”, de Glauco Mirko Laurelli.
Teve vários parceiros que colocaram letras em suas músicas. Uma de suas composições, “Chalana”, fez parte da trilha sonora da novela “Pantanal”, da TV Manchete. Em 1998, comandou o programa “Mário Zan e seus convidados”, na TV Rede Vida.
Teve aproximadamente 1.000 músicas gravadas e mais de 70 LPs lançados, com cerca de 36 músicas gravadas por cantores de outros países. No ano seguinte, sua filha, Mariangela Zan, gravou CD solo em sua homenagem, apenas com composições de sua autoria. No repertório constaram as músicas “Quarto Centenário”, (c/J. M. Alves); “Os Homens Não Devem Chorar”, (c/Palmeira); “Chalana”, (c/ Arlindo Pinto); “Arroz à Carreteiro”,(c/ Palmeira); “Meu Primeiro Beijo”. (c/ Cláudio de Barros); “Dona Candinha”, (c/ Motinha); “Recordações” (c/Palmeira); além de “Iracema”, “Orgulhoso”, “Cãozinho Sem Dono” “Ciriema” e “Cidades de Mato Grosso” (c/ Nhô Pai), e “Capricho Cigano”, “Só Para Você” e “Zóio de Caxinguelê” (c/ Messias Garcia), O CD foi relançado posteriormente em 2009, pela Lazer Records.
Em 2002 teve sua composição “Chalana” regravada pelas Irmãs Galvão em CD lançado pela Chantecler. No mesmo ano, foi tema do enredo da escola de samba Rosas de Ouro. Em 2004, sua composição “Festa na roça”, parceria com Palmeira, foi apontada numa pesquisa realizada pela ECAD como uma das mais tocadas nas festas juninas e julinas pelo Brasil. Também no mesmo ano, foi homenageado pela prefeitura de São Paulo por ocasião dos festejos dos 450 anos dacidade uma vez que foi autor do “Hino do Quarto Centenário” da cidade. Recebeu, no mesmo período, homenagem dos governos do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, pela autoria do rasqueado “Chalana”, que teve letra de Arlindo Pinto. Permaneceu atuante até o fim da vida, comparecendo a muitas festas juninas, das quais foi um dos principais autores musicais, com destaque para “Festa na roça”. Morador do centro de São Paulo, costumava reunir-se diariamente com músicos frequentadores da região. Em novembro de 2007, ocasião do aniversário de 9 anos de sua morte, o programa “Viola, Minha viola” apresentou edição especial em sua homenagem, relembrando sua obra. No evento contou com a presença, entre outras, de Mariângela Zan, filha do compositor e da dupla Mococa e Paraíso, que cantou “Nova Flor”, acompanhados do sanfoneiro Fioravante. Foram mostradas cenas de Mário Zan apresentando-se no programa e interpretando o dobrado “Quarto centenário”. Nesse mesmo ano, foi lançado um DVD sobre sua vida e obra, a partir da participação dele no programa “Ensaio”, na TV Cultura. Em 2017, teve sua composição “Chalana”, considerada clássica, incluída no repertório da peça teatral “Bem sertanejo – O Musical”, estrelada por Michel Teló e dirigida por Gustavo Gasparani. O espetáculo esteve em cartaz em diversas cidades brasileiras, entre elas São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Ribeirão Preto.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
NEPOMUCENO, Rosa. Música Caipira – Da roça ao rodeio. São Paulo: Editora 34, 1999.