Compositor. Produtor musical. Escritor. Poeta.
Iniciou sua carreira profissional em 1951, como repórter e colunista de discos da revista “Rádio-entrevista”, tendo atuado, mais tarde, como colaborador das revistas “O Cruzeiro” (Internacional), “Leitura” e “Revista da Música Popular” (de Lucio Rangel).
Em 1958, começou a trabalhar também em rádio, a convite de Mozart Araujo. Produziu centenas de programas para a Rádio MEC, como “Violão de ontem e de hoje”, “Reminiscências do Rio de Janeiro”, “Retratos musicais”, “Orquesta de Sopros” e “Concertos para a Juventude”.
Escreveu a ópera popular “João Amor e Maria”, encenada no Teatro Jovem (RJ), em 1966. Compôs, com Antônio Carlos Brito (Cacaso) e Maurício Tapajós, a trilha sonora do espetáculo, que contou com direção geral de Kleber Santos e Nelson Xavier, direção musical de Maurício Tapajós, cenários de Marcos Flaksman e um elenco integrado por Betty Faria, José Wilker, Fernando Lébeis, José Damasceno, Cecil Thiré e o quarteto vocal MPB-4.
Na década de 1970, atuou como colaborador do jornal “Pasquim”. Produziu, nessa época, vários programas para a TVE, como as séries “Água Viva”, “Mudando de Conversa”, “Lira do Povo” e “Contra-luz”, registrando exclusivamente uma área bem específica da música popular brasileira, integrada por artistas como Radamés Gnattali, Elizeth Cardoso, Dorival Caymmi, Cartola, Aracy de Almeida, Nélson Cavaquinho, Clementina de Jesus e Padeirinho, entre outros.
Como diretor-roteirista de shows, assinou os antológicos espetáculos “Rosa de Ouro” (1965), que lançou no cenário artístico Clementina de Jesus e Paulinho da Viola, e “Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim, Zimbo Trio e o Época de Ouro” (1968), além dos musicais “É a maior” (1970), com Marlene, esse em parceria com Fauzi Arap (coautor e diretor do show), “Festa Brasil” (Europa, Estados Unidos e Canadá), “Face à Faca” (1974), com Simone, “Te pego pela palavra” (1975), com Marlene, “Caymmi em Concerto” (1985), “Chico Buarque de Mangueira” (1998) e outros com Herivelto Martins, Radamés Gnattali & Camerata Carioca e Luiz Gonzaga.
Foi responsável, também, pela criação de projetos culturais e programas paradidáticos.
Participou do projeto “Seis e meia” (1976), idealizado por Albino Pinheiro, e que serviu de modelo para o “Projeto Pixinguinha” (Funarte/1977), com vistas à formação de novas plateias, por meio de ingressos subsidiados ao espectador de baixa renda. Também naquela instituição, implementou o “Projeto Lúcio Rangel” de monografias, objetivando a ampliação da então pequena bibliografia sobre música brasileira (com 30 títulos editados), o “Projeto Almirante”, com autores excluídos do circuito comercial (com igual número de discos, que vêm sendo relançados em CD, através da Fundação Cultural Itaú), o “Projeto Radamés Gnattali”, de apoio à prática de conjunto, e o “Projeto Ayrton Barbosa”, de edição de partituras, entre outros projetos de pesquisa e documentação, pautados por políticas de ocupação de espaços e de formação de novos recursos humanos na área da produção musical, com o propósito de registro, memória e recuperação de acervos. Sugeriu, ainda, a Roberto Parreira, a criação das Salas Funarte, uma das quais recebeu o nome do compositor Sidney Miller. Idealizou o Centro de Memória de Mangueira, depois implementado pela Fundação Roberto Marinho como “Memória em Verde e Rosa”.
Na área fonográfica, assinou a produção musical de vários discos, como “Gente da Antiga” (Pixinguinha, João da Bahiana e Clementina de Jesus), “Elizeth sobe o morro”, “Mangueira: samba de terreiro e outros sambas” e outros títulos de Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Simone, Isaurinha Garcia, Elizeth Cardoso, Radamés Gnattali, Raphael Rabello, Camerata Carioca, Roberto Ribeiro, Elza Soares e Zezé Gonzaga (“Doce veneno”, com músicas de Valzinho), entre outros artistas.
Exerceu a função de vice-presidente da Sombrás (na gestão de Antônio Carlos Jobim), entidade que lutou pela moralização do sistema de direitos autorais.
Foi afastado da Rádio MEC no período da ditadura militar e, posteriormente, disponibilizado dos quadros da TVE no governo Collor.
Como escritor e poeta, publicou 13 livros, entre os quais, “Chove azul em teus cabelos”, “Ária e percussão”, “Novíssima poesia brasileira”, “Poemas do amor maldito”, “Amor, arma branca”, “Mudando de Conversa” (Editora Martins Fontes), “Villa-Lobos & a MPB” (Editora Espaço e Tempo), “Cartas cariocas para Mário de Andrade”, com capa de Oscar Niemeyer (Editora Folha Seca), “Sessão passatempo” (Ed. Relume Dumará) e o livro de poemas “Contradigo” (Ed. Folha Seca/1999).
Teve poemas incluídos em antologias como “Novíssima poesia brasileira”, organizada por Walmir Ayala, e “Poemas do amor maldito”, com seleção de Gasparino Damata, figurando ao lado de Vinicius de Moraes, Cecília Meirelles e Carlos Drummond de Andrade.
Em 1999, dirigiu os espetáculos “Clássicas”, com Zezé Gonzaga e Jane Duboc, e “Sessão Passatempo”, com Carol Saboya. Ainda nesse ano, lançou a reedição, revista e ampliada, do livro “Cartas cariocas para Mário de Andrade”.
Entre seus parceiros, destacam-se Pixinguinha, Radamés Gnattali, Paulinho da Viola, Maurício Tapajós, Roberto Frejat, Chico Buarque, Cartola, Dona Ivone Lara, Baden Powell, Cristóvão Bastos, Francis Hime, Élton Medeiros, Martinho da Vila, Rildo Hora, Zé Kéti, Nelson Cavaquinho e Sueli Costa, entre vários autores, além do uruguaio Guido Santorsola, compositor da área erudita, para quem escreveu os versos do tríptico “Angústia, solidão e morte” (composição para voz-solista e Orquestra Sinfônica).
Constam da relação dos intérpretes de suas composições artistas e grupos como Isaurinha Garcia, Marlene, Elizeth Cardoso, Cyro Monteiro, Dalva de Oliveira, Zezé Gonzaga, Carmen Costa, Dóris Monteiro, Noite Ilustrada, Alaíde Costa, Roberto Silva, Wanderléa, MPB-4, Quarteto em Cy, Elza Soares, Gal Costa, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Cristina Buarque, Ney Matogrosso, Zélia Duncan, , Simone, Zizi Possi, Emílio Santiago, Jane Duboc, Clara Nunes, Zé Renato e Ed Motta, entre outros.
Por sua atuação na música e na área cultural, foi contemplado com o troféu Estácio de Sá, a medalha Pedro Ernesto e o diploma conferido por um júri especial da revista “Playboy”, na categoria “maior personalidade da MPB”, além de ter recebido, por três anos consecutivos, o Prêmio Sharp: em 1997, pela composição “Timoneiro” (c/ Paulinho da Viola), em 1998, pelo samba “Chão de esmeralda” (c/ Chico Buarque de Holanda) e em 1999, pela produção artística do CD duplo “Agô, Pixinguinha”.
Em 2000, recusou a Ordem do Mérito Cultural que lhe foi concedida pelo Ministério da Cultura.
Em 2011, numa parceria do Instituto Cultural Cravo Albin com o selo Discobertas, foi lançado o box “100 Anos de Música Popular Brasileira”, contendo quatro CDs duplos, com áudio restaurado por Marcelo Fróes da coleção de oito LPs da série homônima produzida por Ricardo Cravo Albin, em 1975, com gravações raras dos programas radiofônicos “MPB 100 ao vivo” realizadas no auditório da Rádio MEC, em 1974 e 1975. O compositor participou do volume 7 da caixa, com sua canção “Alvorada” (c/ Cartola e Carlos Cachaça), na voz de Cartola, e do volume 8 da caixa, com sua canção “Rosa de Ouro” (c/ Elton Medeiros e Paulinho da Viola), na voz de Beth Carvalho.
Em 2015 a gravadora Biscoito Fino lançou a coletânea “Isso que é viver” para comemorar os 80 anos de Hermínio Bello de Carvalho. As faixas escolhidas tiveram como intérpretes Maria Bethânia, Alcione, Nara Leão, Elba Ramalho, Chico Buarque, Zeca Pagodinho, Zezé Gonzaga, Elizeth Cardoso, Vital Lima, Olivia Hime, Simone, Zélia Duncan, Alaíde Costa, Ney Matogrosso e Paulinho da Viola. Os fonogramas incluídos foram “Chão de esmeraldas”(Chico Buarque e Hermínio Bello de carvalho); “Alvorada no morro”(Cartola, Hermínio Bello de carvalho e Carlos Cachaça); “Timoneiro” (Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho); “A estrada do sertão”(João Pernambuco, Wilson Rodrigues e Hermínio Bello de Carvalho); “Mulher faladeira”(Maurício Carrilho, Maurício Tapajós e Herminio Bello de Carvalho); “Doce de coco”(Jacob do Bandolim e Hermínio Bello de Carvalho); “Pressentimento”(Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho); “Mirra ouro e incenso” (Martinho da Vila e Hermínio Bello de Carvalho); “Pastores da Noite”(Vital Lima e Hermínio Bello de Carvalho); “Quem mandou?”(Moacyr Luz e Hermínio Bello de Carvalho); “Cobras e lagartos” (Sueli Costa e Hermínio Bello de carvalho); “Pintou e bordou” (Maurício Carrilho e Hermínio Bello de Carvalho); “Valsa da solidão” (Paulinho da viola e Hermínio Bello de Carvalho); “Alecrim” (Cristóvão Bastos e Hermínio Bello de Carvalho); “Isso é que é viver”(Pixinguinha e Hermínio Bello de Carvalho) e “Amigo é casa” (Capiba e Hermínio Bello de Carvalho)
Em 2023 lançou o CD “Cataventos”, com produção musical de Lucas Porto e foi lançado pelo Selo Sesc com dez músicas inéditas, três regravações e dois poemas recitados por Fernanda Montenegro, perfazendo um total de 15 faixas. O trabalho foi dedicado a Cartola, Clementina de Jesus, Mário de Andrade e Pixinguinha. As músicas e poemas incluídos foram “Labirinto” (Hermínio Bello de Carvalho); “Cobras e Lagartos” (Sueli Costa e Hermínio Bello de Carvalho); “Louva-a-Deus” (Vidal Assis, Luis Barcelos e Hermínio Bello de Carvalho); “Pandemônio” (Tuninho Galante e Hermínio Bello de Carvalho); “Foi Mal” (Gabi Buarque e Hermínio Bello de Carvalho); “Labaredas” (Cartola e Hermínio Bello de Carvalho); “Dona Felicidade” (Vidal Assis e Hermínio Bello de Carvalho); “Cataventos – A Chave do Alçapão” (Saulo Battesini e Hermínio Bello de Carvalho); “Não convém que me traias” (Tuninho Galante e Hermínio Bello de Carvalho); “Só se for agora” (Lucas Porto e Hermínio Bello de Carvalho); “Rastejando” (Henrique Annes e Hermínio Bello de Carvalho); “Aos rés do chão” (Tuninho Galante e Hermínio Bello de Carvalho); “Trapaças da Sorte” (Kiko Horta e Hermínio Bello de Carvalho); “Valsa da Solidão” (Paulinho da Viola e Hermínio Bello de Carvalho) e “Enunciação” ( Vital Lima e Hermínio Bello de Carvalho). O trabalho teve a participação, na voz, de Alaide Costa (“Só se for agora”), Áurea Martins (“Trapaças da sorte”), Ayrton Montarroyos (“Labaredas”), Fernanda Montenegro (“Labirinto” e “Enunciação”), Gabi Buarque (“Foi mal”), Joyce Moreno (“Louva a Deus” e “Foi mal”), Marcos Sacramento “Não convém que me traias”), Maria Bethânia (“Cobras e Lagartos), Paulinho da Viola (“Valsa da solidão”), Pedro Miranda (“Pandemônio”), Pedro Paula Malta(Ao rés do chão”), Vidal Assis (“Dona Felicidade”), Alfredo Del Penho (“Louva a Deus”); Giulia Drummond (“Cataventos – A chave do alçapão”) e Zé Renato(“Rastejando”). A banda base do CD contou com os músicos João Camarero e Lucas Porto (violão de sete cordas); Denize Rodrigues (sax alto), Rui Alvim (sax alto e clarinete); Denize Rodrigues, Joana Saraiva e Diego Terra (sax tenor); Binha Thomaz (cavaquinho); Magno Júlio, Marcos Thadeu (percussão); Beatriz Rabello, Marina Íris, Nina Wirtti, Léo Pereira, Saulo Battesini, e Marcelo Menezes (coros); Itamar Assiere e Cristóvão Bastos (pianos); Pedro Aune (contrabaixo); Aline Gonçalves (flauta); Pedro Paes (clarone); Marcílio Lopes (bandolim); Kiko Horta (acordeom); Aquiles Moraes (trompete e fluguel); Pedro Franco (guitarra) e Everson Moraes (trombone). Os arranjos, exceto “Cobras e Lagartos”, de João Camarero, e “Valsa da Solidão” de Paulinho da Viola, foram de Lucas Porto. O disco foi gravado, mixado e masterizado por João Ferraz no Estúdio Lontra Music (RJ), exceto “Cobras e Lagartos”, gravada e mixada por Eduardo Costa no Estúdio Biscoito Fino (RJ).
No ano de 2025, em homenagem aos seus 90 anos, criou o espetáculo “Hermínio Bello de Carvalho 90 anos”, de música e poesia apresentado no Auditório Radamés Gnattali, na Casa do Choro, no Centro do Rio de Janeiro, com as participações especiais de Áurea Martins, Vital Lima, Gabi Buarque e Vidal Assis, acompanhados dos músicos Lucas Porto (violão e direção musical), Kiko Horta (piano e acordeon), Luis Barcelos (bandolim) e Marcus Thadeu (bateria e percussão). No repertório foram incluídos trechos da obra literária do poeta-letrista, assim como parcerias com Chico Buarque (“Chão de Esmeraldas”), Pixinguinha (“Fala baixinho” e “Isso é que é viver”), Cartola (“Alvorada” – composta também com Carlos cachaça), Paulinho da Viola (“Timoneiro”), Dona Ivone Lara (“Mas quem disse que eu te esqueço”) e Elton Medeiros (“Pressentimento”), além de composições com a nova geração, que incluiu Gabi Buarque, Lucas Porto e Vidal Assis, tendo, o espetáculo, o samba como a sua espinha dorsal.
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ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. A Letra & a Poesia na MPB: Semelhanças & Diferenças. Rio de Janeiro: EAS Editora, 2019.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2010; 3ª ed. EAS Editora, 2014.
COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.