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Nome Artístico
Marília Batista
Nome verdadeiro
Marília Monteiro de Barros Batista
Data de nascimento
18/4/1917
Local de nascimento
Rio de Janeiro, RJ
Data de morte
9/7/1990
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Cantora. Compositora. Instrumentista (violão e piano).

Filha do médico do Exército Renato Hugo Batista e da pianista Edith Monteiro de Barros Batista. Tinha dois irmãos Renato e Henrique, também compositores. Herdeira de tradicional família da sociedade carioca, neta do poeta e Barão Luís Monteiro de Barros, mostrou desde menina, seu interesse pela música. Aos seis anos, “ganhou” o primeiro violão por acaso. O barbeiro da família, numa ida à sua casa para cortar os cabelos do pai e do irmão, esqueceu lá o seu instrumento. A menina não largou nunca mais o violão, que seria uma de suas eternas paixões. Para o instrumento querido chegou até a escrever versos: “Fala tudo que meu peito sente/ Pois, meu amigo verdadeiro/ nem brincando você mente”.Aos oito anos, já compunha. Estudou no Instituto Nacional de Música (atual Escola de Música da UFRJ), onde formou-se em teoria, solfejo e harmonia, apesar de abandonar o curso de piano no 4º ano. Começou a estudar violão com Josué de Barros aos 12 anos, por iniciativa do próprio violonista, que depois de ficar encantado com um recital da menina no Cassino Beira-mar fez questão de ministrar-lhe aulas de graça. Depois, estudou violão “clássico” com o virtuoso José Rebelo, pois sua intensão era tornar-se uma concertista. Apesar disso, seu interesse pela música popular sempre foi mais forte. Um de seus passatempos favoritos era tricotar, atividade que exercia nos intervalos dos programas de rádio de que participava. Depois da morte de Noel Rosa, foi a ela que D. Martha, a mãe do compositor, deu os manuscritos do filho. Entregou-os às mãos de Almirante, que os conservou cuidadosamente. Em 1945, interrompeu a vida artística para casar-se e só retornou em 1950. Na década de 1960, resolveu voltar a estudar e formou-se em Direito.

Dados artísticos

Destacou-se como intérprete e divulgadora da obra de Noel Rosa, que conheceu em 1932, quando, com apenas 14 anos, foi convidada para cantar no espetáculo “Uma Hora de Arte”, no Grêmio Esportivo Onze de Junho. Tornaram-se grandes amigos e até hoje os historiados da MPB se perguntam se ela foi a intérprete favorita de Noel. Ainda em 1931, em festa realizada na casa da cantora Elisinha Coelho conheceu grandes nomes da música popular da época: o Maestro Heckel Tavares, o compositor Luís Peixoto, Almirante e o Bando dos Tangarás.
Em 1932, gravou seu primeiro disco com composições suas em parceria com seu irmão Henrique Batista: o samba “Pedi, implorei” e a marcha “Me larga”. Na ocasião foi acompanhada pelo violão de Rogério Guimarães e o bandolim de João Martins. Em 1933, foi convidada por Almirante para fazer parte do oitavo “Broadway Cocktail” (show que precedia o filme no Cine Broadway), ao lado de grandes nomes da música popular de então: Sílvio Caldas, Jorge Fernandes e Rogério Guimarães. O sucesso foi tanto que a jovem cantora recebeu convite de Ademar Casé para integrar o famoso “Programa Casé”, na Rádio Phillips, com um contrato altíssimo para a época, de 45 mil-réis. No Programa Casé, em dupla com Noel Rosa, ficaram famosos os improvisos com o samba “De babado” (De babado sim/ Meu amor ideal/ Sem babado, não…) de Noel e João da Mina e dos versinhos das propagandas de anunciantes do programa. Os improvisos, às vezes, chegavam a durar 10 minutos sem repetição de versos criados na hora por ela e o parceiro Noel. Chegou a criar um prefixo para sua participação no programa: “Fala o Programa Casé!/ Veja se adivinha quem é…/Faço a pergunta por troça/ pois todo mundo já conhece/ A garota da voz grossa.”. Foi no programa que a cantora lançou o samba de Noel “Pela décima vez”, em 1935.
Em 1936, gravou com Noel Rosa o disco com o famoso samba “De babado” e com o samba “Cem mil-réis”, de Noel e Vadico. No mesmo ano, gravou mais dois discos com Noel Rosa, o primeiro, com os sambas “Provei”, de Noel e Vadico e “Você vai se quiser”, de Noel, pela Odeon acompanhados pelo conjunto de Benedito Lacerda.  O outro disco foi lançado pela Victor e acabou sendo o último disco gravado por Noel Rosa com os sambas “Quem ri melhor”, de Noel e “Quantos beijos”, de Noel e Vadico, acompanhados pela orquestra de Pixinguinha e coro de Cyro Monteiro, Odette Amaral, Almirante e pelas pastoras e ritmistas da Mangueira, puxados por Cartola. Após o enterro de Noel Rosa, compôs com o irmão Henrique o samba “Não há mais samba na terra”, apresentado na mesma noite na Rádio Educadora. Nessa época, recebeu o título de “Princezinha do samba”. Integrou o elenco da Rádio Nacional, desde a sua inauguração, em 12 de setembro de 1936. Para  a rádio, passou a integrar o grupo vocal As Três Marias, com o qual acompanhava cantores da emissora. Atuou ainda nas rádios Cajuti, Cruzeiro do Sul e Transmissora, apresentando o programa “Samba e outras coisas”.
Em 1938, viajou ao Uruguai onde fez oito apresentações em rádios diferentes. Em 1940, gravou pela Victor o samba “Silêncio de um minuto”, de Noel. No mesmo ano, gravou com Edmundo Silva o samba “No samburá da baiana”, de Moacir Bernardino e J. Portela e o batuque “Vai andar”, de Roberto Martins e Mário Rossi. No mesmo ano, apresentou-se na Rádio Tupi. Em 1943, teve o samba “Grande prêmio” parceria com Henrique Batista, gravado por Linda Batista na Victor. Participou do programa de apresentação do novo programa de Almirante em seu retorno à Rádio Nacional, em 14 de março de 1944. Nesse mesmo ano, gravou seu último disco antes do casamento e do afastamento da vida artística por cinco anos interpretando os sambas “Liberdade”, de Pereira Matos e Manoel Vieira e “Salão azul”, de sua parceria com o irmão Henrique.
Depois de um longo afastamento, voltou à carreira artística na década de 1950. Nessa década algumas de suas músicas passaram a ser difundidas, entre elas “Praça Sete”, gravada com sucesso por Elizeth Cardoso.  Em 1951, gravou pelo selo Carnaval os sambas “Lamento” e “Tamborim batendo”, parcerias com Henrique Batista. Em 1952, lançou pela Musidisc o LP “Samba e outras coisas” no qual interpretou, entre outras, “Remorso”, de Noel Rosa e “Imitação”; “Vai, eu te dou a liberdade” e “Praia da Gávea”, as três, parcerias com o irmão Henrique. Em 1954, gravou um LP só com músicas de Noel Rosa interpretando entre outras composições do poeta da vila “Quando o samba acabou”; “Dama do cabaré”; “Até amanhã” e “Com que roupa”. Em 1956, gravou dois discos pela Musidisc interpretando os sambas “Vila dos meus amores”; “Você não é feliz porque não quer” e “Nunca mais”, de sua parceria com Henrique Batista e “Tipo zero”, de Noel Rosa.  Em 1960 gravou o LP “Marília Batista, sua personalidade, sua bossa”, com composições como “João Teimoso”, que ela musicou a partir de versos deixados por Noel Rosa; “Morena sereia”, de Noel Rosa e José Maria de Abreu e “Consciência”, de sua parceria com Renato Filho. Em 1961, apresentou-se em programas de TV e  na Rádio Inconfidência de Belo Horizonte. No mesmo ano, gravou pela Copacabana os sambas “Rio, 61” e “Bossa do futuro”, de sua autoria. Em 1963, gravou o LP duplo “História musical de Noel Rosa” pela Nilser de Nilo Sérgio cantando 44 obras do Poeta da Vila. No mesmo ano, teve o samba-canção “Tu ficarás”, com Olegário Mariano, gravado por Rinaldo Calheiros no LP “Uma lágrima tua” da gravadora Copacabana. Em 1965, participou com Aracy de Almeida, Dircinha Batista, Cyro Monteiro e outros, do show de despedida do cantor Sílvio Caldas, no Maracanãzinho, no Rio de Janeiro.
Em 1988, quando participou do projeto “Corcerto ao meio dia” no Teatro João Teotônio, entrevista musical conduzida por R. C. Albin, chegou a ir às lágrimas com o tributo de aplausos que recebeu da platéia que superlotava o teatro.
Em 1988, gravou o compacto duplo “Vai Marília”, lançado de forma independente com as faixas “Vai Marília” e “Garota sapeca”, de sua autoria,  “Noite tão noite”, com Lauro Gomes, e “Itajubá”, com Vandinho do Bandolim. Este seria seu último registro fonográfico já que ela faleceria dois anos depois.
Deixou cerca de 30 registros gravados em 78 rpm e vários LPs.

Discografias
1996 vols. 1 e 2 CD História Musical de Noel Rosa por Marília Batista
1988 Independente Compacto Duplo Vai Marília/Garota sapeca/Noite tão noite/Itajubá
1963 Nilser LP História Musical de Noel Rosa (Marília Batista com orquestra)
1962 Musidisc LP Marília Batista com orquestra
1961 Copacabana 78 Rio, 61/Bossa do futuro
1956 Musidisc 78 Tipo zero/Nunca mais
1956 Musidisc 78 Vila dos meus amores/Você não é feliz porque não quer
1954 Musidisc LP Marília Batista com orquestra
1954 Discos Rádio LP Poeta da Vila Nº 1
1953 Rádio LP Marília Batista com Orquestra Rádio e trio vocal
1952 Musidisc LP Samba e outras coisas
1951 Carnaval 78 Lamento/Tamborim batendo
1944 Victor 78 Liberdade/Salão azul
1940 Victor 78 Adão carnavalesco
1940 Victor 78 Amendoim torradinho/Silêncio de um minuto
1940 Victor 78 No samburá da baiana/Vai andar
1936 Odeon 78 De babado/Cem mil réis

(Com Noel Rosa)

1936 Odeon 78 Provei/Você vai se quiser

(Com Noel Rosa)

1936 Victor 78 Quem ri melhor/Quantos beijos

(Com Noel Rosa)

1932 Victor 78 Enquanto eu viver na orgia/Eu sou feliz
1932 Victor 78 Me larga!/Pedi, implorei
Obras
Balão apagado, c/ Noel Rosa
Bossa do futuro,
Consciência c/ Renato Filho
Garota sapeca
Grande prêmio c/ Henrique Batista
Imitação c/ Henrique Batista
Itajubá - com Vandinho do Bandolim
João Teimoso, c/ Noel Rosa
Lamento c/ Henrique Batista
Me larga c/ Henrique Batista
Noite tão noite - com Lauro Gomes
Nunca mais c/ Henrique Batista
Não há mais samba na terra c/ Henrique Batista
Pedi... Implorei... c/ Henrique Batista
Praia da Gávea c/ Henrique Batista
Praça Sete,
Rio, 61,
Salão azul c/ Henrique Batista
Tamborim batendo c/ Henrique Batista
Tu ficarás - com Olegário Mariano
Vai Marília
Vai, eu te dou a liberdade c/ Henrique Batista
Vila dos meus amores c/ Henrique Batista
Você não é feliz porque não quer c/ Henrique Batista
Véspera do amanhã,
Shows
1988 Entrevista musical com Ricardo Cravo Albin.
Bibliografia Crítica

AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.

CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.

EPAMINONDAS, Antônio. Brasil brasileirinho. Editora: MEC/FUNARTE. Rio de Janeiro, 1982.

MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.

SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. Editora: 34. São Paulo, 1999.

VASCONCELLO, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira – volume 2. Editora: Martins. Rio de Janeiro, 1965.