
Compositor.
Seu pai era engenheiro de minas e viajava constantemente. Numa dessas mudanças, morou em Diamantina (MG) e estudou no grupo escolar dirigido por Júlia Kubitschek, mãe do ex-opresidente Juscelino Kubitschek a quem conheceu e com quem conviveu. Trabalhou como vendedor da fábrica de caixas registradoras National. Em 1970, recebeu do dono da fábrica em que trabalhava um violão mexicano Salinas, em receonhecido por sua obra como compositor. Am 1992, seus arquivos foram transferidos para a divisão de Música e Arquivo Sonoro da Biblioteca Nacional. Faleceu aos 92 anos de idade, vítima de insuficiência respiratória.
Fez sua primeira música em 1930, com apenas 14 anos, “Menina bonita” a partir daqual foi apresentado a Noel Rosa que gostou de seu trabalho e pediu ao sambista e compositor Assis Valente que o levasse a algumas rodas de samba. Ausentou-se novamente do Rio de Janeiro e retornou em 1933. Nesse ano, juntamente com o irmão Oto Borges e os amigos Moacir Bittencourt, Filipe Brasil, José Barbosa, Antônio Barbosa e Milton Campos ajudou a fundar o grupo vocal e intrumental Anjos do Inferno. O grupo principiou a carreira fazendo apresentações no programa “A hora do outro mundo”, apresentado por Ary Barroso na Rádio Philips. Não pode prosseguir no grupo pois era menor de idade. Em 1936, substituiu o irmão Oto Borges, que ia se casar, nos Anjos do Inferno e fez apresenrtações em várias rádios.
Deixou o grupo e passou a se dedicar `a atividade de vendedor de caixas registrados mas sem se desligar da música. Em 1943, mudou-se para Governador Valadares (MG) e começou a escrever poesia. Nos anos 1950 organizou reuniões musicais que reuniram artistas como Tom Jobim, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli e Nara Leão, de quem tornou-se professor de violão. Segundo declarou numa entrevista ao Jornal do Brasil, chegou a dizer a Nara Leão: “Solte essa voz, a gente quer ouvir você”. Incentivou muito a carreira de Nara Leão. Em 1953, teve o bolero “Farrapo” gravado por Jorge Fernandes na Odeon.
Em 1958, seu grande sucesso, o rasqueado “Cabecinha no ombro”, foi gravado na Copacabana pelo Quartetro Marabá. Esta música tornou-se seu maior sucesso. A canção surgiu a partir de um episódio num bonde quando uma amiga deitou-se em seu ombro e começou a chorar. Quando voltava para casa andando por Botafogo, começou a compor a música que obteve cerca de 150 gravações, tendo sido gravada em francês, espanhol, japonês e guarany, tendo uma vendagem de cerca de seis milhões de discos vendidos. Apenas no ano de seu lançamento, conheceu 14 regravações. Entre as diversas gravações de “Cabecinha no ombra” estão uma de Ângela Maria e Agnaldo Timótio e outra de Nara Leão, em 1975, no disco “Meu primeiro amor”.
Ainda em 1958, a dupla sertaneja Bié e Juquinha gravou na RCA Victor sua toada “Sou eu” e Paulo Marques gravou na Chantecler o samba “Nosso barraco”. Em 1959, esteve em Portugal, em show da cantora e atriz Bibi Ferreira no qual sua composição “Cabecinha no ombro” foi um dos maiores sucessos.
Em 1960, sua “Balada de amor” foi gravada na RCA Victor pelo Trio Nagô. No mesmo ano, o radialista César de Alencar gravou na Philips seu samba “21 de abril” alusivo à inauguração de Brasília, então a nova capital do Brasil. Em 1961, teve o bolero “Palavras de amor” gravado por Alcides Gerardi e incluído na coletânea “As 14 mais – Vol. 5” da gravadora Columbia. Em 1962, fez com o cantor e compositor mexicano Gregório Barrios o bolero “Vem a buscarme” gravado na Odeon pelo próprio Gregorio Barrios. Nesse mesmo ano, fez com Madalena Correia a “Marcha do Pelé”, homenagem ao famoso jogador, gravada na Odeon por Carlos Augusto. Ainda nesse ano, o cantor Alcides Gerardi fez sucesso com seu bolero “Palavras de amor” gravado na Columbia no ano anterior. Teve ainda a tarantela “Minhas namoradas”, parceria com Oto Borges gravada por Cauby Peixoto. Em 1963, teve as músicas “Nostalgia” e “Enquanto o tempo passa”, gravadas na CBS por Alcides Gerardi e “Ave Maria”, por Jorge Silva e “Palavras em vão”, por Oto Borges, ambos também na CBS. No mesmo ano, Roberto Silva gravou na Copacabana o bolero “Palavras de amor”. Por essa época, Vanderley Matos gravou pelo selo Repertório seu samba-canção “Farrapo”. Ainda em 1963, “Nostalgia” na interpretação de Alcides Gerardi foi incluída na coletânea “As 14 mais – volume XI” da CBS que reunia grandes sucessos da época.
Entre seus sucesso estão “Mãezinha querida”, “Farrapo”, “Palavras de amor”, “Nostalgia”, Palavras em vão” e “Uma palavra”. Em 1992, o rasqueado “Cabecinha no ombro” foi relançado como tema da novela “Pedra sobre pedra”, da TV Globo. Em 2003, morando no bairro de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, concluiu o livro de poesias “Na solidão sou rei”. Por ocasião de sua morte, o cronista Artur Xexéo escreveu crônica no jornal O Globo no qual disse: “A música “Cabecinha no ombro” estará para sempre na trilha sonora de uma geração. Foi a primeira música que aprendi a cantar. Era um rasqueado, e a versão com Alcides Gerardi tocava no rádio o dia inteiro. Tinha um sabor infantil e agradou tanto às crianças quanto às canções da Xuxa, alguns anos atrás. A maior diversão no recreio da EPV (Escola Presidente Vargas) era participar de alguma brincadeira cantando “Cabecinha no ombro”. Em 2009, sua clássica guarânia “Cabecinha no ombro” foi gravada pelo cantor Fábio Júnior, no CD “Romântico”, da gravadora Sony/BMG.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume 2. São Paulo: Editora: 34, 1999.