
Compositor.
Segundo dos 10 filhos do fazendeiro e comerciante de gado Tobias de Carvalho e de Francisca Gontijo de Carvalho. Quando tinha nove anos de idade, seu pai comprou um piano, no qual passou a tocar de ouvido os dobrados que ouvia na banda local. Aos 13 anos de idade, transferiu-se com a família para São Paulo, ingressando no Ginásio São Bento. Neste ano, compõe sua primeira obra, a valsa “Cruz vermelha”, inspirada no hospital infantil do mesmo nome, que havia na cidade. Seu pai mandou imprimir 500 exemplares da melodia, para serem vendidos em benefício do hospital. O sucesso alcançado pela música, fez com que compusesse outras peças, que entregava à Casa Editora Compassi e Camim – de onde saíram os Irmãos Vitale. O editor passou a lhe encomendar músicas e ele as entregava em troca de 200 exemplares para distribuir aos amigos. Dessa maneira, foram publicadas, entre 1914 e 1918, umas 20 composições, na maioria tangos.
Concluiu, em 1919, o curso secundário, transferindo-se em 1920 para o Rio de Janeiro, onde cursou a Faculdade de Medicina. De férias em Avaré, após o primeiro ano de faculdade, conheceu o famoso violonista Canhoto (Américo Jacomino), convidando-o a vir para a fazenda onde estava hospedado. Compunha, e Canhoto executava as novas peças ao violão. Na volta a São Paulo, o editor lhe pediu novas composições, dispondo-se a pagar por cada nova música. Comprometeu-se a entregar duas músicas por mês, para uma tiragem de 100 exemplares, o que lhe possibilitou uma vida de estudante bastante confortável. Na faculdade tinha como colega o sanitarista Osvaldo Cruz, cuja casa freqüentava. Formou-se em 1925, defendendo a tese “Sopros musicais do coração”, em que analisava as vibrações das válvulas cardíacas, produzindo sons, na passagem do sangue. Em 1927, casou-se com Elza de Faria Carvalho, com quem teve um filho. Em 1932, foi nomeado médico do Instituto dos Marítimos no Rio de Janeiro, onde foi chefe dos ambulatórios, chefe de clínica médica, e chefe de relações públicas, prosseguindo sempre com sua carreira de compositor. Foi fundador da Sbacem, tendo sido tesoureiro e, posteriormente, conselheiro. Participou do Conselho Federal da Ordem dos Músicos, exercendo uma atividade ininterrupta nessa área.
Em 1922, obteve seu primeiro sucesso com o fox-trote “O príncipe”, gravado pela Orquestra Augusto Lima na Odeon e que graças a Madame Rasimi, que trouxera para o Brasil o “Bataclã” — companhia francesa de revistas com mulheres seminuas — seria gravada na Europa, como “Prince”. “O príncipe” foi a música da moda nas festas do Centenário da Independência, e em todo o ano de 1923. Por volta de 1925, teve o tango “Agonia”, gravado pelo tenor Pedro Celestino, irmão de Vicente Celestino. Tango que seria gravado quase simultaneamente pela Orquestra Pan American do cassino Copacabana. Em 1926, teve gravada, a toada-fado “Noivos”, lançada por Oscar Pereira Gomes na Odeon. No início do ano seguinte, Frederico Rocha gravou, também na Odeon, a marcha carnavalesca “As Valentinas” e o fox-trote “Prisioneiro do teu amor”. Ainda em 1927, Francisco Alves gravou sua canção “Juriti” e Gastão Formenti o maxixe “Boca pintada” e a toada-canção “Sabiá mimoso”. Nesse ano, conheceu Olegário Mariano, que era um dos poetas da moda. Musicou-lhe os poemas “Cai, cai balão” e “Tutú marambá”, passou a freqüentar a casa do escritor e, aos poucos, ali foram surgindo verdadeiras jóias da Música Popular Brasileira. Em 1928, Gastão Formenti gravou a toada-canção “Nhá Maria”, a toada “Saci Pererê”, a canção “O pardal” e o tango “Eu gosto de você” e Francisco Alves, o one-step “Rio de Janeiro”, a valsa “Castelo de luar” e o tango-canção “Malaventurado”. Em 1929, a canção “Tutu marambá”, composta com Olegário Mariano foi gravada por Gastão Formenti, um de seus mais constantes intérpretes nessa época. No mesmo ano, mais duas composições com Olegário Mariano foram gravadas: a valsa “Hula” e o fox-trote “Loiras e morenas”, pelo cantor Oscar Gonçalves. No mesmo ano, Gastão Formenti gravou as canções “João Capeta”, “Foi num dia de São João” e “Vontade…de querer” e a valsa “Hula” e Francisco Alves o fox-blue “Dor de recordar”, com acompanhamento da Orquestra Pan-American, um dos primeiros foxes a alcançar sucesso nacional, outra parceria com Olegário Mariano, e o samba “Cadeirinha”, com música sobre versos do escritor Martins Fontes.
Em 1930, a atriz Alda Verona gravou a valsa-lenta “Castelo de luar”, parceria com S. Rezende e Olga Praguer Coelho as canções “Renúncia”, parceria com Olegário Mariano, e “Vestidinho novo”. Embora as composições da dupla estivessem sendo gravadas pelos grandes nomes da época, o grande sucesso veio na voz da então novata Carmen Miranda, com a gravação da marchinha “Pra você gostar de mim” (Taí), lançada em 1930, alcançando a vendagem de 36.000 discos. Embora pouco afeito ao gênero, o compositor procurou criar uma música que se identificasse com a personalidade da jovem cantora, acertando em cheio. Além de tornar Carmen Miranda conhecida em todo o país, “Taí” acabou por constituir um marco na carreira do compositor, acompanhando-o até o fim da vida. Ainda no mesmo ano, Carmen Miranda voltou a gravar duas composições suas: as canções “Gostinho diferente” e “Neguinho”. Em 1931, Francisco Alves regravou o fox-trote “Príncipe” e gravou a canção “Trovas de amor”, com L. Gonzaga e Elisa Coelho lançou o samba “Escrita errada”. Nesse mesmo ano, teve mais três composições gravadas por Carmen Miranda: o samba-canção “Se não me tens amor” e as marchas “Eu sou do barulho” e “Quero ver você chorar”. Também em 1931, fez com Olegário Mariano uma incursão no universo sertanejo, com o cateretê “De papo pro á”, gravado por Gastão Formenti, onde os autores expõem com muita graça a “filosofia” de um caipira esperto que leva a vida pescando e tocando viola de “papo pro á”.
Em 1932, lançou com grande êxito a canção “Maringá”, gravada em junho do mesmo ano, por Gastão Formenti. “Maringá” marcou época no Brasil, sendo cantada até hoje em todos os pontos do território nacional. O nome e o tema da música surgiram quando visitava o Ministro da Viação José Américo. Conversando com o oficial do gabinete, Rui Carneiro, este sugeriu que fizesse uma música abordando o tema da seca no Nordeste. O compositor pediu a Rui que lhe desse uma lista de pequenas cidades assoladas pela seca. Entre elas estava Ingá, para a qual o compositor imaginou uma cabocla, Maria, que seria a Maria do Ingá, que acabou por tornar-se “Maringá”. É comum nome de cidades inspirarem canções, mas neste caso surpreendentemente, o nome da canção originou o nome da cidade. “Maringá”, era muito cantada pelos caboclos que desbravavam a mata virgem para construir uma nova cidade no Paraná, e quando a Companhia de Melhoramentos do Norte reuniu-se para definir o nome que seria dado à cidade, a Sra. Elisabeth Thomas, esposa do presidente Henry Thomas, sugeriu que a composição desse nome à cidade. Foi homenageado em vida pela cidade de Maringá, com nome de rua e busto em praça pública. O piano Steinway em que compôs a canção, foi adquirido pela prefeitura da cidade, que é chamada de “cidade-canção”. Ainda em 1932, Carmen Miranda gravou as marchas “Se você quer”, com Olegário Mariano e “É do trampolim”, Jorge Fernandes a canção “Caboclinho” e Alda Verona e Cesar Pereira Braga a valsa “Canção do abandono”, as duas com Olegário Mariano. Em 1933, Roberto Vilmar gravou na Victor o samba-canção “Moreninha brasileira”, com Olegário Mariano e o fox-canção “Devolva os meus beijos”, Gastão Formenti a canção “Moleque sarará”, com Murilo Fontes e Carmen Miranda o fox-canção “Bom dia, meu amor!”, com Olegário Mariano, e as marchas “Sosega o teu coração sossega!” e “Quem bom que estava”. No mesmo ano, musicou a opereta “Mariúsa”, com libreto de Cláudio de Souza e versos de Olegário Mariano. Em 1934, Francisco Alves gravou as valsas-canção “Volta para o meu amor…”, com Tostes Malta e “Você veio sonhando para mim”, com M. Capistrano, Carmen Miranda as marchas “Um pouquinho de amor” e “Sapatinho da vida” e Gastão Formenti a chula “Guanabara” e a valsa “Lullaby”. Em 1935, Silvinha Melo gravou na Victor as valsas “A carícia de tuas mãos” e “Os teus olhos me falam de amor” e a canção “Teu retrato”. Em 1936, Carmen Miranda gravou as marchas “Ninguém tem um amor igual ao meu” e “Terra morena” e Jorge Fernandes as valsas “Momento de amor” e “Se voltares um dia”. Ainda nesse ano, uma de suas mais famosas composições, a valsa “Lembro-me ainda” foi gravada na Victor por Francisco Alves. Em 1938, teve outra composição gravada por Carmen Miranda: a rumba “Sai da toca Brasil” e por Sílvio Caldas as valsas-canções “Com o pensamento em você” e “Não me abandones nunca”. Em 1939, a toada “Maringá” foi regravada por Carlos Galhardo e as canções “Pierrô”, com Pascoal Carlos Magno e “Dor” foram gravadas por Jorge Fernandes. No ano seguinte, Orlando Silva gravou a canção “Maria, Maria” e o fox-blue “Em pleno luar”.
Em 1945, Jorge Fernades gravou na Continental a canção “Pierrô”, parceria com Pascoal Carlos Magno, que viria a ser um dos seus grandes sucessos, e o intermezzo “Galanteria”, com Olegário Mariano. Em 1946, escreveu as canções “Minha casa” e a valsa “Nunca soubeste amar”, ambas gravadas por Sílvio Caldas na Continental. Em 1950, Carlos Galhardo gravou na RCA Victor o samba-canção “Felicidade… é quase nada”, parceria com Gilberto de Andrade. Em 1951, Francisco Alves gravou seu samba “Bahia de Guanabara”. Em 1952, Zezé Gonzaga gravou a valsa “Festa de aniversário”. Em 1953, Neide Fraga gravou na Odeon sua “Canção de Aniversário”. Em 1959, foi homenageado no LP “Olegário Mariano (O Príncipe dos Poetas) e a música de Joubert de Carvalho” lançado pela gravadora Sinter com interpretações da orquestra de Carlos Monteiro de Souza interpretando as músicas “Hula”, “Bom dia meu amor”, “Amor brinquedo de criança”, “A carícia de um beijo”, “Beduíno”, “Mariúza”, “De papo pro á”, “Dor de recordar”, “Canção do abandono”, “A felicidade”, “Galanteria”, e “Zíngara”, todas de sua parceria como poeta Olegário Mariano. Em 1962, Carlos Galhardo lançou em LP novas canções suas, como “Desde sempre”, letra de Mário Rossi, “Mundos afora”, ” O tempo não ficou” e os foxes “Florita”e “O amor e o sol”. Em 1970, sua valsa “A flor e a vida” , com letra de Ieda Fonseca, venceu o II Festival da Seresta, interpretada elo cantor Antônio João. Em 1988, sua música “Pierrô” foi incluída não apenas na abertura do LP duplo “Há sempre um nome de mulher”, cantada por Cauby Peixoto, produzido por R. C. Albin para a Campanha do Leite Materno do Banco do Brasil, disco do qual se venderam 600 mil cópias nas agências do Banco do Brasil. O verso inicial da mesma música daria título ao album, embora tivesse a palavra original “vulto” modificada pelo produtor para “nome”. Interessado em assuntos místicos, escreveu um romance denominado “Espírito e sexo”. Considerava-se, sobretudo, um apaixonado pela metafísica. Em 1997, sua canção “Absolutamente”, com Olegário Mariano, foi gravada pela cantora Vânia Bastos, no LP “Diversões não eletrônicas” lançado por ela pela gravadora Velas. Em 2007, o selo Revivendo lançou o CD “Gastão Formenti – Noite de encanto” com gravações feitas pelo cantor em 1930 e 1931 pelo selo Brunswick. Fazem parte do CD suas obras “Se ela te oferecer um grande amor”, com Osvaldo Orico, e “Dor”. Em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin a caixa “100 anos de música popular brasileira” com a reedição em 4 CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. No volume 1 estão incluídas suas canções “Taí”, na voz de Odete Amaral, e “Maringá” na interpretação de Paulo Marquez.
ALBIN, Ricardo Cravo. MPB – A História de um século. Rio de Janeiro: Funarte, 1998.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. São Paulo: Editora: 34, 1999.
VASCONCELLO, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira – volume 2. Rio de Janeiro: Martins, 1965.