Compositor. Cantor.
Filho de Sebastão Maria e de Clementina Maria Teodoro. Tinha três irmãos. Em 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro para morar com o irmão mais velho, Manoel Araújo, conhecido como Mané-Mané e que morava no Santo Antônio, Morro de Mangueira. Passou a trabalhar como ajudante do irmão no balcão de uma tendinha mantida por ele no Buraco Quente, localidade do Morro da Mangueira.
Em 1931, passou a estudar na Escola Pará, em Vila Isabel, posteriormente Escola Olímpia do Couto, onde fez o curso primário. Nessa época, conheceu Buci Moreira, Padeirinho e Fernando Pimenta, que tinham idade semelhante a sua e que se tornariam futuros sambistas.
Pouco tempo depois, deixou de trabalhar na tendinha o irmão e empregou-se como soprador de vidro na fábrica de vidro José Scaroni, na Rua Gonzaga Bastos, lá permanecendo por pouco tempo. Já nessa época, participava de rodas de samba no Morro da Mangueira na casa de Alfredo Português.
Aos 18 anos de idade, tirou sua carteira de motorista, empregando-se na Prefeitura do Rio de Janeiro, no volante do caminhão de limpeza urbana, emprego que manteve por toda a vida. Aprendeu a tocar violão com Aluísio Dias e Cartola. Por volta de 1940, conheceu Isabel, grande amor de sua vida, musa inspiradora de sambas como “Acabou a sopa”, gravado em 1940 por Ciro Monteiro e “Liberta meu coração”, gravada em 1947 por Abílio Lessa.
Morreu de hemorragia intestinal, aos 37 anos, em conseqüência de uma briga num bar da Lapa com o lendário malandro “Madame Satã”.
Em 1938, aos 20 anos de idade, compôs o samba “Farei tudo”, em parceria com Fernando Pimenta, proibido pela censura, porque seus versos foram considerados excessivamente ousados para a época. A partir de então, começou a fazer seus primeiros trabalhos musicais, inspirado no movimento denominado “samba do telecoteco”, do qual Ciro de Souza era um dos principais articuladores. Em 1939, teve sua primeira música gravada, o samba “Se voce sair chorando”, com Nelson Teixeira, registrado por Roberto Paiva, na Odeon. Esse samba foi finalista no Concurso de Músicas Carnavalescas do Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, do Governo Getúlio Vargas, tendo sido tocado nas rádios e cantado nas ruas do Rio de Janeiro, projetando seus autores no meio artístico carioca. Ao fazer o arranjo para o samba, Pixinguinha pediu ao cantor Roberto Paiva que o apresentasse ao autor, pois a originalidade da melodia o havia impressionado imensamente.
De 1940, é o samba de breque “Acertei no milhar” que, segundo pesquisadores, tem letra e melodia de Wilson Batista, constando o nome de Geraldo Pereira na parceria a pedido de Moreira da Silva, que gravou o samba nesse ano pela Odeon. Também nesse ano, Cyro Monteiro gravou na Victor o samba “Acabou a sopa”,com Augusto Garcez. No ano seguinte teve nova parceria com Augusto Garcez gravada por Cyro Monteiro, o samba “Ela não teve paciência”. Também nesse ano, Aracy de Almeida gravou na Victor o samba “Falta de sorte”, com Marino Pinto; Roberto Paiva, também na Victor, o samba “Lembras-te daquela zinha?”, com Augusto Garcez, e Isaura Garcia na Columbia o samba “Pode ser?”, com Marino Pinto, cuja letra fez inspirado em sua musa Isabel.
Em 1942, Patrício Teixeira gravou o samba “Adeus”, com Augusto Garcez; Cyro Monteiro, “Quando ela samba”, com J. Portela e “Até quarta-feira”, com Jorge de Castro e, Roberto Paiva o samba “Tenha santa paciência”, com Augusto Garcez, os três na Victor. Nesse ano, o grupo Quatro Ases e um Coringa gravou na Odeon o samba “Ai que saudade dela”, com Ari Monteiro; Moreira da Silva o samba “Voz do morro”, parceria dos dois e Dircinha Batista na Odeon o choro “Sinhá Rosinha”, com Célio Ferreira.
Teve gravado por Moreira da Silva na Odeon, em 1943 o “Samba pro concurso”, com Moreira da Silva e por Odete Amaral, na mesma gravadora, o samba “Jamais acontecerá”, com Djalma Mafra. Nesse ano, fez grande sucesso com o samba “Você está sumindo”, com Jorge de Castro, gravado por Ciro Monteiro, seu grande intérprete, amigo e protetor. Neste mesmo ano, apresentou-se no programa “Vesperal das moças”, na Rádio Tamoio do Rio de Janeiro. Fez algumas apresentações esporádicas na Rádio Nacional.
Em 1944, seu samba “Sem compromisso”, com Nelson Trigueiro foi gravado na Continental pelos Anjos do Inferno. Os sambas “Voltei mas era tarde”, com Príncipe Pretinho foi lançado na Victor por Cyro Monteiro e “Carta fatal”, com Ari Monteiro foi gravado por Odete Amaral na Odeon. Nesse ano, obteve novo grande sucesso na voz de Cyro Monteiro com “Falsa baiana”, um dos grandes sambas da música brasileira, inspirado na esposa do compositor Roberto Martins, incapaz de sambar no carnaval, com sua fantasia de baiana. “Falsa baiana” chama a atenção por sua originalidade melódica e estruturação rítmica. Segundo Nelson Sargento, “depois dessa música, a coisa mais difícil era encontrar Geraldo no morro de Mangueira”. Ainda em 1944, participou do filme “Berlim na batucada”, de Luiz de Barros, interpretando o papel de cabo Laurindo.
Em 1945, teve o samba “Bolinha de papel”, que apresentava sutis inovações ritmicas lançado pelo grupo Anjos do Inferno, mas que nessa versão não obteve grande sucesso. Nesse ano, teve três sambas gravados por Déo na Continental, Chegou o dia”, com Elpídio Viana, “Conversa fiada” e “Mais cedo ou mais tarde”. Também no mesmo ano, lançou seu primeiro disco, pela Continental, interpretando os sambas “Mais um milagre”, de sua autoria e “Bonde Piedade”, com Ari Monteiro, com acompanhamento de Benedito Lacerda e seu conjunto regional. Em 1946, teve gravados os sambas “Abaixo de Deus”, com Elpídio Viana, por Alcides Gerardi na Odeon e “Ai mãezinha”, com Ari Monteiro, “Até hoje não voltou”, com J. Portela e “Golpe errado”, com Cristóvão de Alencar e David Nasser, por Cyro Monteiro e “Vai que depois eu vou”, pelo grupo Anjos do Inferno, todos na Victor. Teve ainda mais dois sambas lançados por Déo na Continental: “Só quis meu nome” e “Ainda sou seu amigo”.
Em 1947, Cyro Monteiro gravou com sucesso na RCA Victor o samba “Pisei num despacho”, com Elpídio Viana, samba de admirável ritmo, com uma letra rica e bem humorada. Também nesse ano, Abílio Lessa gravou na RCA Victor o samba “Liberta meu coração”, com José Batista, confissão apaixonada para a mulata Isabel, que trabalhava como pastora em diferentes programas radiofônicos, com versos como: “Meu coração é um escravo perfeito/ que vive acorrentado em meu peito/ solta este pobre sofredor/ que padece demais por teu amor.”
No ano seguinte, teve os sambas “Brigaram pra valer”, gravado por Roberto Paiva e “Chegou a bonitona”, por Jorge Veiga, ambos na Continental, parcerias com José Batista. Nesse ano, pela gravadora Star lançou os sambas “Roubaram o lírio de ouro”, com Arnaldo Passos e “Vou dar o serviço”, com José Batista, aparecendo no selo do disco como “Geraldo Pereira e Suas Pastoras”. Em 1949, Roberto Silva gravou na Star o samba “Minha companheira” e Roberto Paiva na Continental o samba “Brigaram pra valer”, com José Batista. Nesse ano, teve “Que samba bom”, gravado por Blecaute na Continental, que se tornou um dos maiores sucessos de vendagem da década, levando-o inclusive pela primeira vez a reclamar com a gravadora seus direitos autores pelas vendas dos discos. Ainda nesse ano, Blecaute gravou o samba “Chegou a bonitona”, com José Batista.
Em 1950, voltou a gravar, pelo selo Star, sendo um dos primeiros contratados da nova gravadora, lançando os sambas “Pedro do Pedregulho”, de sua autoria e “Ela”, de Arnaldo Passos e Osvaldo Lobo, com acompanhamento de Lírio Panicalli e sua orquestra, passando a partir de então a gravar regularmente. Deixou um total de 30 gravações. No mesmo ano, gravou os sambas “Se o meu amor voltar”, de Klécius Caldas e Armando Cavalcânti e “É hora cabrocha”, de Elpíio Viana e Jorge e Castro. No ano seguinte, gravou de sua autoria e Arnaldo Passos o samba “Ministério da economia”, sua primeira incursão no terreno da política, elogiando ironicamente a criação do Ministério da Economia pelo presidente Getúlio Vargas. A letra descreve as agruras de um habitante do morro que, não agüentando a inflação, havia mandado sua “Nêga bacana meter os peitos na cozinha da madame em Copacabana”. O lado A desse disco tinha o samba “Domingo infeliz”, de Arnaldo Passos e Abelardo Barbosa, o popular locutor de Rádio e depois apresentador de Tv Chacrinha.
Em 1952, gravou a marcha “Tribo do Caramuru”, de Hélio Ribeiro e Álvaro Xavier e o samba “Polícia no morro”, que já naquela época atestava a chaga social da violência na cidade. Nesse ano, gravou os sambas “Escurinha”, de sua autoria e Arnaldo Passos e “Ser Flamengo”, de Ferreira Gomes, Bruno Gomes e Airton Amorim, através do qual definia sua preferência pelo clube de futebol carioca, assim como Wilson Batista e Cyro Monteiro faziam na mesma época. Nesse ano, seus sambas “Aquele amor”, com Arnaldo Passos foi gravado por Marlene e “Cego de amor”, com Wilson Batista, foi gravado por Déo, ambos na Continental com acompanhamento de Severino Araújo e sua orquestra Tabajara. Na Odeon, Dircinha Batista registrou o samba “Fugindo de mim”, com Arnaldo Passos, Valdir Machado e Cristóvão de Alencar e na gravadora Victor, Heleninha Costa lançou o samba “Não consigo esquecer”, com Arnaldo Passos. Também em 1952, transferiu-se para a gravadora RCA Victor e em seu primeiro disco lançou os sambas “Coitadinha fracassou”, de Hélio Nascimento e Arnaldo Passos e “Dama ideal”, de Alcebíades Nogueira e Arnaldo Passos. Participou ainda do filme “O rei do samba”, de Luis de Barros.
Gravou na RCA Victor os sambas “Falso patriota”, de David Raw e Victor Simon e “Cabritada malsucedida”, de sua autoria e W. Vanderley e, na Sinter, os sambas “Chorei…chorei”, de Carlos Alfredo, Valtrudes Silva e Ramalho Nelo e “Reminiscência da Lapa”, de João Correia da Silva, Isaulino Silva e Eduardo Guedes, em 1953. No ano seguinte, foi contratado pela gravadora Columbia e lançou os sambas “Olha o peroba”, de Buci Moreira e Albertina Rocha e “Maior desacerto”, de sua autoria, Ari Garcia e Silva Jr. Nesse ano, participou do espetáculo “Clarins em fá”, na Boate Esplanada, em São Paulo, fazendo grande sucesso com o samba “Olha o peroba”, de Buci Moreira e Albertina Rocha. Também no mesmo ano, gravou seus dois últimos discos com o sambas-choro “Professor de natação”, de Avarese e Maurílio Santos e “Juraci”, de sua autoria, a marcha “Conduta do Taioba”, de Aldacir Louro, Rubens Fausto e Antônio Neto e o profético samba, já que morreria sete meses depois do lançamento do disco, “Eu vou partir”, de sua autoria.
Em 1955, três meses antes de falecer subitamente viu seu último sucesso gravado em disco, o samba “Escurinho”, que conta a trajetória de um escurinho pacato, que de uma hora pra outra muda de comportamento e sai pelos morros comprando brigas, lançado em fevereirto daquele ano por Cyro Monteiro. Depois de sua morte seus sambas continuaram a ser regravados por inúmeros cantores e cantoras.
Em 1956, teve o samba “Falsa baiana” regravado por Guio de Morais e seu Ritmo na Todamérica. Três anos depois, foram gravados por Roberto Paiva na Odeon os sambas “Escurinho”, e “Pedro do Pedregulho” e por Jorge Veiga na Copacabana o samba “Acertei no milhar”.
Em 1960, no LP “Descendo o morro” volume 1, Roberto Silva regravou o samba “Escurinho”. Em 1963, Roberto Silva regravou na Copacabana o samba “Pisei num despacho”. Em 1967, o grupo Os Cinco Crioulos regravou na Odeon o samba “Brigaram pra valer”.
Em 1971, Paulinho da Viola regravou o samba “Você está sumindo” e João Gilberto recriou com sucesso o samba “Bolinha de papel” para o disco que fazia parte da série “História da Música Popular Brasileira”, da Editora Abril dedicado à obra do compositor. Para o mesmo disco foram regravados os sambas “Chegou a bonitona”, por Blecaute; “Escurinha”, por Jorge Veiga e “Escurinho”, por Roberto Silva. No mesmo ano, Gal Costa regravou o samba “Falsa baiana” no LP “Gal a todo vapor”. Em 1974, Chico Buarque incluiu o samba “Sem compromisso”, com Nelson Trigueiro no LP Sinal Fechado.
No LP “Roberto Silva interpreta Haroldo Lobo, Geraldo Pereira e seus parceiros”, lançado em 1976 por Roberto Silva, teve regravados os sambas “Escurinho”, “Os caprichos meus”, “Lembras-te daquela “zinha”?”; “Pisei num despacho” e “Você está sumindo”. Este últimno samba foi regravado no ano seguinte por Cyro Monteiro no LP “Sambistas de bossa e sambistas de breque” e por Paulino da Viola em 1978 no fascículo da Nova História da Música Popular Brasileira da Abril Cultural. Em 1979, seu samba “Ministério da economia” foi proibido pela Censura Federal de ser gravado por Leci Brandão. Em 1980, este samba foi finalmente liberado e gravado por Monarco no LP “Evocação V” lançado pelo Estúdio Eldorado. Do mesmo disco faziam parte ainda as composições “Mais cedo ou mais tarde”, interpretado por Jards Macalé; “Onde está a Florisbela?”, por Batista de Souza; “Pedro do Pedregulho”, por Vânia Carvalho; “Pisei num despacho”, por Jackson do Pandeiro; “Pode ser?”, por Cristina e “Se você sair chorando”, cantado por um coral. Ainda em 1980, foi homenageado pela escola de samba Unidos do Jacarezinho com o enredo “Homenagem a Geraldo Pereira”, cujo samba-enredo foi feito por Monarco. Em 1981, João Nogueira regravou os sambas “Você está sumindo” e “Escurinha”. No carnaval de 1982, o compositor foi homenageado no enredo “Geraldo Pereira eterna glória do samba”, de João Ramos Pacheco, da Escola de Samba Unidos do Jacarezinho.Em 1983, foi homenageado pela Funarte com o LP “Geraldo Pereira – Pedrinho Rodrigues e Bebel Gilberto” no qual a dupla Pedrinho Rodrigues e Bebel Gilberto interpretaram as seguintes obras do sambista: “Quando ela samba”, com J. Portela, “Falsa baiana”, “Mais um milagre”, “Que samba bom”, com Arnaldo Passos, “Até quarta-feira”, com Jorge de Castro, “Boca rica”, com Arnaldo Passos, “Vai, que depois eu vou”, “Escurinha”, com Arnaldo Passos, “Escurinho”, “Minha companheira”, “Liberta meu coração”, com José Batista, “Você está sumindo”, com Jorge de Castro, “Bolinha de papel”, “Pisei num despacho”, com Elpídio Viana, “Acertei no milhar”, com Wilson Batista, “Sem compromisso”, com Nelson Trigueiro, “Acabou a sopa”, com Augusto Garcez, “Chegou a bonitona”, com José Batista, “Até hoje não voltou”, com J. Portela, “Resignação”, com Arnô Provenzano, “Bonde da Piedade”, com Ary Monteiro, “O pagamento ainda não saiu”, com Ariel Nogueira, e “Ministério da Economia”, com Arnaldo Passos. Em 1990, Chico Buarque voltou a gravar “Sem compromisso” em seu disco gravado ao vivo na França. Em 1991, o samba-enredo “Homenagem a Geraldo Pereira”, de Monarco, foi gravado por Monarco e lançado no CD “Monarco – A voz do samba”, do selo Kuarup. Em 1995, foi lançado o livro “Um escurinho direitinho: A vida e a obra de Geraldo Pereira”, de autoria de Luis Fernando Vieira, Luiz Pimentel e Suetônio Valença lançado pela Editora Relume Dumará, RJ. Em 1996, Zizi Possi incluiu em seu show o samba “Escurinha”, e Gal Costa regravou com grande sucesso o samba “Falsa baiana”, em seu CD acústico MTV. Nesse ano, Paulinho da Viola regravou “Que samba bom” em show gravado ao vivo no Canecão, RJ. Em 1998, foi lançado o Nº “Geraldo Pereira”, da séire “MPB – Compositores” da Editora Globo. Junto ao fascículo foi incluído um CD com 12 de suas composições interpretadas por diferentes astros da música popular, tais como, Cláuia e Zimbo Trio, Zizii Possi, Cristina e Monarco. Nesse ano, o samba “Resignação”, com Arnô Provenzano, foi incluído no disco “Chico Buarque de Mangueira” lançado por Chico Buarque.
Em 2002, seus sambas “O pagamento ainda não saiu”, com Haroldo Lobo; “Pisei num despacho”, com Elpídio Viana; “Você está sumino”, com Jorge de Castro; “Chegou a bunitona”, com José Batista e “Carta fatal”, com Ari Monteiro, foram incluídos no espetáculo “O samba é minha nobreza”, dirigido por H. B. de Carvalho e apresentado no Teatro Odeon na Cinelândia, RJ. Tanto no show como no CD duplo gravado com o repertório do show, esses sambas foram interpretados por Roberto Silva, um dos seus mais fiéis intérpretes. Em 2004, foi homenageado no espetáculo “Geraldo Pereira – um escurinho brasileiro”, criação de Ricardo Hofstetter com direção de Daniel Herz e com a presença do ator Jorge Maya. Em 2005, por ocasião dos 50 anos de sua morte foi homenageado pelo jornalista Luís Pimental com uma crônica no Jornal do Brasil na qual o jornalista assim se referiu ao compositor: “O melodista – a quem se atribui a invenção ou pelo menos a burilada do samba sincopado – e letrista de versos livres e arrojados (“Tá louca, chamando pra casa/Agora que o samba enfezou/Vou com a turma pras cabeças/ Não me aborreça, vá que depois eu vou”), viveu apenas 37 anos, mas sua obra valiosíssima tem sido revisitada e regravada em vários momentos e por nomes marcantes da MPB”. Em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin a caixa “100 anos de música popular brasileira” com a reedição em 4 CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. No volume 4 estão incluídos seus sambas “Acertei no milhar”, com Wilson Batista, e “Escurinho”, na interpretação de Marlene, e “Falsa baiana”, na voz de Cauby Peixoto. Em 2012, o ECAD divulgou levantamento, segundo o qual, seu samba “Sem compromisso”, com Nelson Trigueiro, foi a música mais executada ao vivo nos bares da Lapa, bairro boêmio do Rio de Janeiro, durante o ano de 2011. No mesmo ano, teve o samba “Pisei num despacho”, com Elpídio Viana, gravado pela cantora Lúcia Menezes, no CD “Lucinha”. Em 2018, por ocasião do aniversário dos 100 anos de seu nascimento foi homenageado com uma série de 10 programas transmitidos pela Rádio Batuta, do Instituto Moreira Sales. Foi também homenageado pela Velha Guarda da Mangueira, que interpretou seus sambas na festa de 90 anos da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Também foi saudado pelo Instituto Cultural Cravo Albin com palestras de Ricardo Cravo Albin e sarau para cerca de 100 alunos da rede pública municipal do Rio de Janeiro. No mesmo ano, foi publicada reportagem em sua homenagem na Revista UBC (União Brasileira de Compositores), do Rio de Janeiro. Segundo o poeta e pesquisador de MPB, Euclides Amaral, em entrevista sobre o compositor para a “Coluna Homenagem”, da Revista UBC: “Ele se debruçava muito bem sobre os dois principais códigos da MPB: a melodia, na qual frequentemente fazia uso da síncope, que é a propriedade de inverter os tempos fortes para os tempos fracos; e a letra, na qual perpassava com clareza situações inusitadas de sentimentos universais, aliados a observações do cotidiano carioca”. Ainda em 2018, foi homenageado pelo centenário de seu nascimento com um show no Teatro Rival no qual Tuco Pellegrino, Rodrigo Alzuguir e Pedro Paulo Malta receberam Ilessi, Soraya Ravenle, Monarco e Tantinho da Mangueira no shoe “Eu também tô aí – Os 100 anos de Geraldo Pereira”, no qual foram interpretados grandes clássicos de sua autoria como “Bolinha de papel”, “Falsa baiana”, “Cabritada mal sucedida”, “Roubaram o livro de ouro” e “Que samba bom”.
Em 2019, foi homenageado pela Velha Guarda Musical da Mangueira com o lançamento do CD “Velha Guarda da Mangueira canta Geraldo Pereira” que incluiu sambas como “Falsa baiana” e “Escurinho”, só de sua autoria, “Sem compromisso”, com Nelson Trigueiro, e “Ministério da economia” e “Cabritada mal sucedida”, ambos com Arnaldo Passos.
Série MPB Compositores
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB – A História de nossa música popular de sua origem até hoje. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
SARGENTO, Nelson & DUARTE, Francisco. Geraldo Theodoro Pereira. Rio de Janeiro: Funarte, 1985.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. São Paulo: Editora: 34, 1999.
VASCONCELOS, Ari. Panorama da música popular brasileira – volume 2. Rio de Janeiro: Martins, 1965.
VIEIRA, Luis Fernando; PIMENTEL, Luís e VALENÇA, Suetônio. Vida e obra de Geraldo Pereira. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1995.
Dois são os motivos que fazem de Geraldo Pereira um dos maiores sambistas de todos os tempos. Primeiro: ele foi o mais brilhante cultor do samba sincopado. Segundo: em suas letras, atuou como um atilado cronista do Rio de Janeiro de sua época. Vamos às explicações. Na linguagem técnica das partituras, síncope significa prolongar o som de um tempo fraco num tempo forte que vem a seguir. É difícil explicar esse recurso em bom português, sem um instrumento na mão, mas o fato é que ele resulta num ritmo puladinho, requebrado, brejeiro, o chamado samba de gafieira, em oposição ao das escolas de samba.
O ritmo sincopado é também a alma da bossa nova e, não por acaso, nos anos 60, João Gilberto gravou “Bolinha de papel”, de Pereira, comentando na época que ele fora “um inovador sem ter consciência disso”. Pode-se conhecer o compositor através de algumas gravações posteriores de músicas suas. Em 1990, Chico Buarque gravou “Sem compromisso” e, em 1997, foi a vez de Olívia Byington interpretar “Escurinho”, um de seus maiores sucessos, lançada originalmente por Cyro Monteiro. Gal Costa gravou duas versões de outro grande êxito de Pereira, “Falsa baiana”, porém com andamento lento, bem diferente do original.
Como letrista, Geraldo Pereira retratava a vida da malandragem (ele próprio um autêntico representante dela ) e das classes menos favorecidas do Rio de Janeiro, aquela dos morros e dos subúrbios. Seus sambas não enfocam a classe média, como os de Noel Rosa (“Conversa de botequim”, “Coisas nossas”). Falavam de gente humilde. Como a antológica “Acertei no milhar”, um dos maiores sucessos de Moreira da Silva, em que o personagem sonha que ganhou na loteria e compra “um avião azul/para conhecer a América do Sul”. Na poesia de Geraldo Pereira há lugar para o amor, mas nunca do tipo romântico ou derramado, como o de Lupicínio Rodrigues. Ao cantar que deseja uma mulher, ele não faz rodeios: “Escurinha/tu tens que ser minha/de qualquer maneira/te dou meu boteco/te dou meu barraco/que tenho no morro de Mangueira.” Em músicas e letras, Geraldo Pereira criou um estilo próprio, inconfundível, que lhe valeu a posteridade.
Okky de Souza