
Cantor. Compositor. Violeiro. Nascido em família tradicional de fazendeiros da Zona da Mata do Itambé e da região do Mata – de – Cipó, de Vitória da Conquista, iniciou-se na música ainda criança, acompanhando os cantos das festas religiosas, a música dos cantadores, violeiros e repentistas do sertão. Mudou-se para Salvador, onde estudou música e arquitetura. Lá, ainda adolescente, gostava de ir às feiras para ver os cantadores, os catingueiros, que eram ridicularizados por falarem de maneira incorreta. Considerando a importância da cultura do sertão e das comunidades interioranas, decidiu que, em suas composições, ligadas ao universo rural, prezaria escrever naquela variação linguística. Retornou para Vitória da Conquista ao terminar os estudos.
Vive por opção na região do semi-árido, no sudoeste da Bahia, onde divide seu tempo cuidadando das duas pequenas fazendas em que cria carneiros e cabras e, às vezes, um pouco de gado graúdo. A fazenda Casa dos carneiros e a fazenda Duas passagens. Além da lida rotineira entre plantios, manutenções e construções, Elomar dedica-se à criação musical, que o leva a apresentações esporádicas em palcos urbanos de diversas capitais do país.
Com seu canto, inspirado no falar sertanejo e com sua construção musical inspirada na tradição trovadoresca da Idade Média, é também apontado, por seus admiradores como menestrel. Foi definido por Vinícius de Moraes como um príncipe da caatinga. Seus discos são considerados referência da música regional.
Lançou, em 1968, seu primeiro disco, um compacto simples que trazia suas composições “O Violeiro” e “Canções da catingueira”. No mesmo ano, teve “O Robot” e “Mulher imaginária” gravadas por Israel Filho, também em compacto simples. Em 1972, lançou o LP “Das barrancas do Rio Gavião”. O disco, independente, gravado no estúdio J.S. Gravações Bahia, vinha com apresentação de Vinícius de Morais, na qual o poeta declarava fazer Elomar “uma sábia mistura do romanceiro medieval e do cancioneiro do Nordeste”. O LP trazia doze faixas, todas de sua autoria e prenunciava a carreira de um compositor fiel às suas raízes, guardando os jeitos, falares e sonoridades do povo do semi-árido e também as influências medievais européias tão presentes no interior do nordeste, entre elas: “O Violêro”; “O Pidido”; “Zefinha”; “Incelença do Amor Retirante”; “Cantiga de Amigo”; “Cavaleiro do São Joaquim”; “Na Estrada Das Areias de Ouro”; “Retirada”; “Cantada”; “Acalanto” e “Canção Da Catingueira”. Em 1979, lançou, com Arthur Moreira Lima, o LP “Parcele Malunga”, pelo selo Marcus Pereira, com, entre outras, as composições “O violeiro”, “As curvas do rio”, “Cantiga de amigo” e “Chula no terreiro”. Ainda em 1979, Dercio Marques gravou, de Elomar, a composição “Arrumação”, no disco “Canto forte da primavera”. No mesmo ano, lançou pelo selo Marcus Pereira, o álbum duplo “Na quadrada das águas perdidas”, que lhe consolidou o prestígio junto à crítica do eixo Rio-São Paulo e que contava com composições de sua autoria, entre as quais “A meu Deus um canto novo”, “Na quadrada das águas perdidas”, “Estrela maga dos ciganos”, “Noite dos Santos Reis” e “Cantoria pastoral”. Em 1980, lançou “Parcelada Malunga” que contou com as participações de Xangai e Zé Gomes. Em 1981, lançou “Fantasia leiga para um rio seco”, com as composições “Abertura”, “Tirana”, “Parcela”, “Contradança” e “Amarração”. No mesmo ano, com grande sucesso de crítica, participou, no Teatro Municipal de São Paulo, do espetáculo “ConSertão”, com cenários de Aldemir Martins, e com a participação de Arthur Moreira Lima, Paulo Moura e Heraldo do Monte. Em 1983, lançou o álbum duplo “Cartas catingueiras”, trazendo, entre outras, as composições “Cantiga do estradar”, “História de vaqueiros”, “Faviela”, “Gabriela”, “Incelença para um poeta morto” e “Duvê esse chão quêma meus pé”. Esse disco é um registro do cancioneiro de Elomar, sendo mostradas peças de violão-solo compostas a partir da quadra dos dezessete. No mesmo ano, foi lançado, pela Kuarup, o disco duplo “ConSertão”, no qual estão presentes as composições “Estrela maga dos ciganos”, “Noite dos Santos Reis”, “Na estrada das areias de ouro”, “Campo branco”, “Incelença pra terra que o Sol matou”, “Trabalhadores da destoca” e “Corban”, todas de sua autoria. Esse disco, que foi gravado na sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, teve participações do pianista Arthur Moreira Lima, do violonista Heraldo do Monte e do saxofonista Paulo Moura.
Em 1983, lançou o LP “Auto da Catingueira”, com todas as faixas de sua autoria e que dedicou à poética “sertaneza” brasileira, o disco foi gravado inteiramente na sala de visitas da Casa dos Carneiros, (em sua fazenda), com a colaboração de grandes artistas como Juracy Dórea , Marcelo Bernardes, Jaque Morelembaum, Andréa Daltro, Dércio Marques e Xangai, entre outros, tendo Ernani Maurílio, Adeline Renaut e Cici Corecoré na coordenação das gravações. Em 1984, participou no Teatro Castro Alves, em Salvador, do show “Cantoria”, com Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai, no qual foi gravado disco ao vivo lançado no mesmo ano pela Kuarup. Estiveram presentes no disco, de sua autoria, as composições “Desafio do auto da catingueira”, interpretada por ele e Xangai, “Cantiga do boi incantado”, também com ele e Xangai, “Cantiga do estradar”, com sua própria interpretação, “Violêro”, com Xangai e mais Jacques Morelenbaum no cello e “Cantiga de amigo”, que Xangai interpreta acompanhado dos violões de Elomar, Vital Farias e Geraldo Azevedo. Em 1985, foi lançado o disco “Cantoria 2”, com os mesmos integrantes do disco anterior. Também no mesmo ano, a Kuarup lançou o disco “Sertania”, com participação de Elomar e Orquestra Sinfônica do Sertão, este disco foi trilha sonora para o filme homônimo. O disco, produzido por Mário de Aratanha, foi gravado em PCM Digital por Filipe Cavalieri no Teatro Castro Alves, em Salvador, em janeiro de 1984, exceto faixas 4 e 9 gravadas em abril no Palácio das Artes em Belo Horizonte. Foi editado no Brasil e na Europa. “Dos Confins do Sertão”, lançado em 1986, pela gravadora alemã Trikont, foi gravado e publicado na Alemanha Ocidental, a convite especial do governo dali (na época em que se aplicava o “Ocidental”) foi o resultado de uma apresentação em um Festival de música Ibero-Americana, em que Elomar representou o Brasil e acabou recebendo da crítica daquele país o primeiro prêmio intenacional. Fazem parte do disco as faixas “:Parcelada/Puluxia”; “O Violeiro; “Campo Branco”; “O Pidido”; “Cantiga de Amigo”;
“Função”; “Cantiga do Boi Incantado”; “Na Estrada das Areias de Ouro”; “Naninha; “Noite de Santo Reis” e “Lôas para o Justo.
“Concerto Sertanez”, lançado em 1988, contou com participação de Turíbio Santos, Xangai e João Omar. Em 1989, lançou pela Kuarup o disco “Elomar em concerto”, com algumas regravações, como “A meu Deus um canto novo” e “Incelença pro amor distante”.
Em 1992, lançou “Árias sertânicas”, que mostra fragmentos de suas óperas. No disco as vozes e violões são de Elomar e João Omar. 1995 foi o ano de “Cantoria 3”, que registrou os momentos solos de Elomar durante a grande “Cantoria” que deu origem a três álbuns no total e muitos turnês pelo país. Apresenta-se normalmente acompanhado pelo Grupo Kaleidoscópio, que é composto por João Omar, maestro e compositor (além de ser seu filho, que o acompanha desde os nove anos) no violão, Elena Rodrigues na flauta e Ocelo Mendonça no violoncelo, e que fazem parte da Camerata Concertante. Em seu estilo, além de aparecerem influências da música medieval, há também a utilização de registro diferenciado de linguagem, baseado no falar da região da caatinga, do norte de Minas Gerais e do interior do sul da Bahia. É criador de bodes e inspirou o caricaturista Henfil na criação de seus personagens Francisco Orelhana e Graúna. O cantor e compositor Paulinho Tapajós compôs com Naire, em sua homenagem, a música “Menestrel das cabras”. Recusando-se a ingressar no chamado circuito comercial, vive em pequena cidade na Bahia, de onde só sai, raramente, para apresentações artísticas, sozinho ou acompanhado por seu grupo. Em 2002, participou do CD “Cantoria brasileira” comemorativo dos 25 anos da gravadora Kuarup, juntamente com Pena Branca, Renato Teixeira, Teca Calazans e Xangai.
Em agosto de 2005, apresentou-se no Planetário da Gávea, no Rio de Janeiro, em sequência do projeto “Música nas estrelas”, com casa lotada, como é comum em suas apresentações nos grandes centros como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. Sua apresentação se caracterizou pela formação camerística, que incluiu o músico João Osmar (violão)Ocelo Mendonça (violoncelo) e Marcelo Bernardes (flauta), experiência a ser repetida, e ampliada, numa série de concertos pelo interior do Nordeste, em janeiro de 2006, segundo declaração do próprio Elomar, que confirmou seu projeto de realizar uma turnê, apresentando-se por 12 cidades do sertão, com uma estrutura sinfônica compacta criada por ele, com possibilidade de essas apresentações serem gravadas em CD e DVD. Nesse ano, também foi preparado o Songbook com a obra completa de Elomar, e lançado pela Casa de Cultura de Vitória da Conquista, registrando a importância do compositor na música brasileira. O Songbook abrange, inclusive, a produção de Elomar no período de 1992, ano de seu último disco solo, até 2005, comprovando que, mesmo sem lançar disco, o artista continuou produzindo fartamente. Segundo declaração do compositor, publicada em reportagem no Jornal do Brasil, em 20 de agosto de 2005, ele tem “entre 18 a 20 horas de músicas prontas na partitura, o que daria uns 20 CDs. Ficaria muito caro para gravar”. Entre o material, estão óperas que têm o sertão como tema principal, referenciadas por ele na reportagem: “Tenho em cima da mesa da minha casa umas dez óperas que venho escrevendo devagar, como “O retirante”, “Faviela”, “Os lanceiros negros” e “A carta”, que chegou a ser montada em Brasília no ano passado” (2004). Também nesse ano, o projeto do catálogo digital, com todas as músicas gravadas e as partituras de Elomar, que fora selecionado pelo Programa Petrobrás Cultural, teve previsão para ser lançado até dezembro.O projeto conta com extensa programação e foi orçado em R$300 mil. Desde 1975, Elomar marca sua presença em palcos por todo o país, como menestrel, ou com orquestras, quintetos, quartetos e outras formações sinfônicas. Fez apresentações na Martinica e na Alemanha. Já recebeu diversos convites para apresentações, na França, Inglaterra, Portugal. Rejeitando a todos por considerar insignificantes as propostas e os cachês.
Sua vasta produção como compositor, além das canções mais conhecidas, inclui galopes estradeios, canções de alta influência regional, além de óperas e autos já registradas em partituras, ainda não gravadas. A saber:
11 óperas;
11 antífonas;
4 galopes estradeiros;
1 concerto de violão e orquestra;
1 concerto para piano e orquestra – composto e a ser partiturado;
1 pequeno concerto para sax alto e piano – composto e partiturado;
1 sinfonia – quase toda composta;
12 peças para violão-solo.
As composições para violão na maioria já estão partituradas.
Cancioneiro:
Um caderno de oitenta canções, sendo que a maioria delas já se encontram gravadas e uma pequena parte inédita.
Óperas:
Bespas Esponsais Sertana – São cinco trágicos que se encontram nos seguintes estágios:
A Carta – ópera com 4 cenas, compostas e partituradas;
A Casa das Bonecas – composta e 30% partiturada;
Faviela – toda composta e nada partiturada;
O Peão Mansador – composta e a ser escrita;
Os Poetas são Loucos (mas conversam com Deus) – composta em partes;
Auto da Catingueira – composta, partiturada e gravada em disco.
Em junho de 2007, sua fazenda, chamada “Casa dos carneiros”, localizada em Gameleira, a 20 quilômetros de Vitória da Conquista, tornou-se uma Fundação, com o objetivo de se tornar um centro de pesquisas, com cursos e atividades ligadas à música erudita, ao teatro, à educação e à ecologia e tendo como especialidade incentivar o desenvolvimento dos estudos sobre a cultura nordestina. O projeto foi encaminhado por seu filho, o músico e maestro João Omar, que não concordou com a idéia do pai em vender a fazenda. O projeto também pretende concretizar as idéias de Elomar, entre elas, a criação de uma universidadeleiga sertaneja e uma tutoria experimental da música. A inauguração da Fundação ocorreu com um concerto ao ar livre, no local, com regência de João Omar e participação de músicos da Escola L´rica Mineira e da Orquestra de Belo Horizonte, além das participações dos cantores Xangai, Saulo Laranjeira e Andréa Daltro. O evento também inaugura a exposição “Cenas brasileiras”, com réplicas de quadros de Portinari. A idéia já existia entre João Omar e João Cândido, filho do pintor. Com a inauguração da Fundação, os dois somaram as obras dos pais, montando a exposição. Em 2009, foi lançada a transcrição de 49 temas de sua autoria em partituras nos 14 cadernos, incluindo temas como “Arrumação”, “Bespa (O auto da catingueira)”, “O peão da amarração”, “O pidido (quarto canto de O mendigo e o cantador(“, “O violeiro” e “Joana Flor de Alagoas”. O projeto inclui ainda notas históricas e biográficas sobre ele, de autoria do jornalista João Paulo Cunha. Para o segundo semestre deste ano, foi previsto o lançamento de um DVD com o registro de um show realizado por ele em 2007, na Casa dos Carneiros.
Resolvido a não lançar mais discos, tem se dedicado mais à literatura, depois de ter lançado, em 2008, o romance “Sertanílias”.
Em 2015, apresentou a exposição “Ocupação Elomar”, no Itaú Cultural, em São Paulo (SP), trazendo, através de objetos e memórias, referências ao local ocal em que viveu em Vitória da Conquista (BA), que inspiraram seus romances, poesias e peças de teatro.
Em 2016, sua gravação em parceria com Xangai da música “Incelença pro amor retirante”, composição sua, integrou CD, lançado pela Som Livre, da trilha sonora da novela “Velho Chico”, exibida pela Rede Globo de Televisão.
No mesmo ano, lançou o disco “O menestrel e o sertãomundo”, em parceria com a Orquestra Sinfônica Nacional da UFF, com apoio do Ministério da Cultura. O trabalho apresentou as obras “Primeira sinfonia: grande abertura – aboio”, “Ópera auto da catingueira – parcelada”, “Ópera casa das bonecas – Ária de despedida”, “Ópera Peão mansador – Sei qui vô voltá”, “Ópera Peão mansador – Faç´is não”, “Ópera retirante – Cena de espancamento paulista” e “Antífona número 11: Alfa, Ecos de uma estrofe de Habacuque”. O álbum teve participações especiais de músicos como o violonista João Omar de Carvalho Melo, o violoncelista Daniel Silva, o violonista João Brasileiro e teve regência de Tobias Volkmann.
Em 2018, sua carreira foi homenageada no Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio de Janeiro (RJ), através do espetáculo “Das terras sertanezas”, dos cantores André Garbois e João Brasileiro, estudiosos sobre sua obra. O show apresentou entre serestas , cantigas, óperas e sinfonias uma comemoração de seus 80 anos, completados em 2017, com músicas como “Cantiga do estradar”, “O peão na amarração”, “Seresta sertaneza”, “Na estradas das areias de ouro”, “Incelença pro amor retirante” e “Canto de guerreiro”.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.