
Letrista. Jornalista.
Filho de Alexandre e Zakia Nasser, casal de imigrantes libaneses. Com alguns meses de idade, a família transferiu-se para o Mato Grosso, residindo até seus quatro anos em Campo Grande e Três Lagoas. Com uma passagem de dois anos pelo Rio de Janeiro, foram para Caxambu, onde residiram de 1925 a 1930. Fez o curso primário no Grupo Escolar Padre Correia de Almeida. Aos 13 anos, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde cursou o Instituto Superior de Preparatórios. Ainda estudante, ingressou no “O Jornal” pelas mãos de Vítor do Espírito Santo, onde teve como colegas de reportagem Vítor Nunes Leal, Arnon de Melo, Jaime de Barros, Caio de Freitas, entre outros. Em 1935, publicou como colaborador duas reportagens em “O Cruzeiro”. Neste mesmo ano foi para “O Globo”, onde permaneceu até 1943. Em 1944, casou-se com Isabel Audi e não tiveram filhos.
Considerado um dos mais polêmicos jornalistas do país, nunca, contudo, deixou de tomar partido a favor dos amigos. Desse modo, quando Francisco Alves foi vítima de processo de paternidade, ou quando Herivelto Martins separou-se litigiosamente de Dalva de Oliveira, escreveu crônicas, artigos e até livro, defendendo tanto o cantor quanto o compositor.
Em 1935, aos 18 anos de idade, fez sua primeira composição, a letra do samba “Chorei quando o dia clareou”, melodia de Nélson Teixeira, divulgada por um amador na Rádio Mayrink Veiga e sucesso no carnaval daquele ano graças a inesperada divulgação feito por jogadores de futebol. Este samba somente foi gravado em 1939 por Aracy de Almeida. Ainda em 1939, teve sua segunda composição gravada, o partido alto “Candieiro”, parceria com Kid Pepe por Carmen Miranda na Odeon. Também em 1939, compôs com o mesmo parceiro o vira “Sete mares” gravado por Manoel Monteiro também na Odeon. Também no mesmo ano, teve outra composição gravada por Aracy de Almeida, o samba “Todo mundo reclama”, parceria com Nelson Teixeira. No ano seguinte fez com Haroldo Lobo a marcha “Fla-Flu”, alusiva ao famoso clássico do futebol carioca gravada por Cândido Botelho. No mesmo ano, compôs com o sambista Donga a embolada “Na barra da tua saia” e o samba “Romance de um índio”, gravadas por Manezinho Araújo na Odeon. No mesmo período, compôs com Ataulfo Alves a valsa “Minha sombra” e, com Donga, o samba “Ranchinho desfeito” gravadas por Déo.
Em 1941, compôs com Alcyr Pires Vermelho o samba exaltação “Canta Brasil” gravado por Francisco Alves na Odeon acompanhado pela orquestra da Rádio Nacional, aparecendo no selo do disco como “Cena brasileira” e registrada em duas partes, ocupando os dois lados do disco. Este samba, lançado após “Aquarela do Brasil”, fez bastante sucesso e consolidaria o prestígio do gênero. Obteve também no mesmo ano sucesso com o bolero “Esmagando rosas”, parceria com Alcyr Pires Vermelho, gravado por Francisco Alves na Odeon. Para o carnaval de 1942, compôs aquele que seria um de seus maiores sucessos, um verdadeiro clássico da música popular, a batucada “Nega do cabelo duro”, uma parceria com Rubens Soares, gravada pelos Anjos do Inferno. No mesmo ano, e com o mesmo parceiro fez o samba “Terra do ouro”, também gravado por Francisco Alves na Odeon. Em 1943, compôs o fox-canção “Beija-me muito”, parceria com C. Velasquez, e a valsa-bolero “A mulher e a rosa”, parceria com Alcyr Pires Vermelho, gravadas por Francisco Alves na Odeon. No mesmo ano, compôs com o russo Georges Moran a valsa “Exilado” gravada por Carlos Galhardo e, com Custódio Mesquita, o samba “Mãe Maria”, gravado por Nelson Gonçalves, ambos na Victor. Em 1944, compôs com Custódio Mesquita o samba “Algodão”, gravado por Sílvio Caldas na Victor. Em 1945, fez os sambas “João cegonha”, parceria com Rubens Soares, gravado por Aracy de Almeida e “Tarde de setembro”, com Herivelto Martins, gravado por Francisco Alves, ambos na Odeon. No ano seguinte, compôs com Geraldo Pereira e Cristóvão de Alencar o samba “Golpe errado”, gravado por Cyro Monteiro na Victor.
Alternando sempre as músicas com diversas redações de jornais cariocas, compôs em 1947 com Haroldo Lobo, a marcha “Princesa de Bagdá” gravada por Nelson Gonçalves na RCA Victor. Em 1948, teve quatro composições de sua parceria com Haroldo Lobo gravadas na Odeon: as marchas “Na sombra do boi” e “Bairros de Pequin”, por Aracy de Almeida, e “Rasguei o meu pierrô”, por Francsico Alves e o samba “Geni”, pelo grupo vocal Quatro Ases e Um Coringa. Em 1949, compôs as valsas “Se fosses minha”, parceria com Cyro Monteiro, gravada por Orlando Silva e “Beduína”, parceria com Custódio Mesquita, gravada por Francisco Alves. No mesmo ano, Dircinha Batista gravou a marcha “Charrete macia” e a batucada “A coroa do rei”, parcerias com Haroldo Lobo, sendo esta última, uma das músicas mais cantadas no carnaval do ano seguinte. Ainda no mesmo ano, teve dois sambas gravados por Nelson Gonçalves na RCA Victor: “Que será”, uma parceria dos dois e “Normalista”, parceria com Benedito Lacerda, um dos sucessos do ano e marco na carreira do cantor, hino de louvor à normalista, menina-moça que “não pode casar ainda, só depois de se formar”, em cujos versos aparece pela primeira vez a expressão “brotinho em flor”, que mereceu até mesmo uma crônica de Carlos Drummond de Andrade.
Em 1950, teve três marchas gravadas, “Hoje vale tudo” e “Lanterna de Aladim”, parcerias com Haroldo Lobo, por Aracy de Almeida e “Marcha dos brotinhos”, por Francisco Alves, parceria com Klécius Caldas e Armando Cavalcânti. No mesmo ano, o samba “Diamante negro”, parceria com Marino Pinto, foi gravado pelos Vocalistas Tropicais. Em 1951, Francisco Alves gravou seus sambas “Largo do Estácio”, parceria com Haroldo Lobo e P. Fonseca Almeida, e “Saudades do passado”, “São Paulo, coração do Brasil” e “Sem protocolo”, parcerias dos dois. No mesmo ano, Dircinha Batista gravou o bolero “Quando o tempo passar”, parceria com Herivelto Martins, João Dias o também bolero “Peço a Deus”, parceria com Francisco Alves, e Isaura Garcia o samba “Indiferença”, parceria com Newton Mendonça. Em 1952, João Dias gravou seu samba “O silêncio do cantor”, parceria com Joubert de Carvalho, uma expressa homenagem ao seu amigo, o cantor Francisco Alves, que acabara de morrer, e o baião “Quando eu era pequenino”, com Francisco Alves e Felisberto Martins. Em 1953, obteve novo êxito através de uma gravação de Nelson Gonçalves, com o samba-canção “A camisola do dia”, parceria com Herivelto Martins. No mesmo ano, Ivon Curi gravou o baião “Caxambu”, parceria com Zé Dantas. Em 1954, o cantor João Dias, considerado o substituto de Francisco Alves, gravou os baiões “Noite de São João” e “Ninguém fica em casa hoje”, parcerias com Haroldo Lobo. No mesmo ano, compôs com Herivelto Martins duas homenagens a dois ídolos nacionais da música brasileira e argentina, o samba canção “Francisco Alves” e o tango “Carlos Gardel”, ambos falecidos, gravadas por Nelson Gonçalves na Rca Victor. Em 1955, teve mais duas parcerias com Herivelto Martins gravadas por Nelson Gonçalves, o tango “Hoje quem paga sou eu”, que obteve grande sucesso, e o samba “Enfermeira”. No ano seguinte, também com Herivelto Martins, fez o samba “Lençol de linho” e o tango “Vermelho vinte e sete” gravados por Nelson Gonçalves repetindo um trio muito comum naqueles anos. Ainda em 1956, o Trio Marayá gravou com Airton Rocha os baiões “O vapô da cachoeira”, parceria com Clemente Neto, e “Paulistinha”, com Nelson Gonçalves, e Cauby Peixoto os sambas-canção “Se adormeço” e “Piano velho”, parcerias com Herivelto Martins. Também em 1956, o samba “Algodão”, com Custódio mesquita, foi gravado pelo cantor e ator negro Nelson Ferraz no LP “Lamento negro” da gravadora Continental.
Em 1957, o Trio de Ouro gravou o samba “Se adormeço”, parceria com Herivelto Martins. Em 1958, fez a versão para o mambo “No azul pintado de azul”, de Modugno e Migliacci, gravado por Dalva de Andrade na Polydor.
Em 1960, compôs com Newton Teixeira o samba “Eterna capital”, numa referência à cidade do Rio de Janeiro que naquele ano deixava de ser a capital do país, gravado por João Dias na Copacabana. Em 1961, Roberto Audi, seu cunhado, gravou duas composições de sua autoria: a toada “São João diferente”, parceria com José Messias, e o bolero “Noite após noite”, parceria com Nelson Gonçalves. Em 1963, Roberto Audi gravou duas composições de sua parceria com João Roberto Kelly, os sambas canção “Poeira no caminho” e “O céu do teu olhar”. Em 1968, foi homenageado com o LP tributo “José Barbosa interpreta David Nasser” lançado pelo cantor José Barbosa na CBS com 12 composições de sua autoria: “A mulher e a rosa”, com Alcyr Pires Vermelho; “Lily”, com Haroldo Lobo; “Telefonista” e Vestido de noiva”, com Francisco Alves; “Normalista”, com Benedito Lacerda; “Deus lhe pague”, com Polera e André Penazzi; “Silêncio do cantor”, com Joubert de Carvalho, e “Outra vez”; “Camisola do dia”; “Francisco Alves”; “Prece de paz” e “Caminho certo”, todas com Herivelto Martins. Em 1979, a cantora Waleska regravou o samba-canção “Atiraste uma pedra”, com Herivelto Martins, no LP “Palavras amigas” lançado pela gravadora Copacabana.
Durante toda a década de 1940 e parte da de 1950, destacou-se sempre com uma música de meio de ano ou de carnaval. Entre seus sucessos para o carnaval, destacam-se peças até hoje muito conhecidas como “Confeti”, “Nêga do cabelo duro”, “Serpentina” e “Coroa do Rei”. Dentre seus muitos sucessos neste período, destacam-se ainda a marcha “Alô, alô, América”, com Haroldo Lobo, o bolero “Esmagando rosas”, com Alcir Pires Vermelho, a valsa “Mãe Maria”, com Custódio Mesquita, e, especialmente, “Pensando em ti”, com Herivelto Martins, entre outros. Em 27 anos de atividade como letrista, teve como parceiros grandes compositores da música popular brasileira como Custódio Mesquita, Herivelto Martins, Ataulfo Alves, Ary Barroso, Wilson Batista, Vadico, Joubert de Carvalho, Villa-Lobos, entre tantos outros. Publicou oito livros: “Mergulho na aventura”, “Só meu sangue é alemão”, “A revolução dos covardes”, “Falta alguém em Nuremberg”, “Para Dutra ler na cama”, “A cruz de Jerusalém”, “Por uma menina morta” e “O velho capitão”. Foi diretor da Sadembra, diretor da Coligação do Direito Autoral do Brasil, diretor e redator principal de “O Cruzeiro” e, a partir de 1962, diretor executivo dos Diários e Emissoras Associados. Sua crônica diária, o “Diário de um repórter”, lida na Tv Tupi por Jorge Cury era campeã de audiência e gozava de sólido prestígio político nos anos 1960. Alí, entre assuntos de política e questões mundiais, sempre que podia abria espaço para falar sobre a MPB. Em 2006, seu “Baião da Penha”, com Guio de Morais, foi gravado por Marcos Sacramento no CD “Sacramentos”, lançado pelo selo Biscoito Fino.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
David Nasser
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. São Paulo: Editora: 34, 1999.
VASCONCELLO, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira – volume 2. Rio de Janeiro: Martins, 1965.