Cantor. Pianista. Compositor.
Aprendeu lições de piano ainda na infância, quando começou a estudar música erudita com o pai, enquanto a mãe lhe ensinava noções de canto. Apresentou-se, os 14 anos, na Rádio Mayrink Veiga, no programa “Picolino”, de Barbosa Júnior quando executou ao piano a “Dança ritual do fogo”, do compositor espanhol Manuel de Falla (1876-1946). Depois veio o interesse pela música norte-americana e tornou-se pianista do conjunto Swing Maníacos, ao lado do irmão Cyll Farney, que era baterista. O Swing Maníacos acompanhou Edu da Gaita na gravação de “Canção da Índia”, do compositor russo Nikolay Rimsky-Korsakov (1844-1908).
Sua estréia como cantor aconteceu em 1937, no programa Hora Juvenil, da Rádio Cruzeiro do Sul, no Rio de Janeiro, quando interpretou Deep Purple, de David Rose. A afinidade com o repertório norte-americano levou-o, pelas mãos do radialista César Ladeira, à Rádio Mayrink Veiga, onde passou a apresentar seu próprio programa: “Dick Farney, sua Voz e seu Piano”, com repertório recheado de canções norte-americanas. Depois, apresentou-se no Cassino da Urca, entre 1941 e 1944, onde integrava a Orquestra de Carlos Machado. Em 1944, fez sua primera gravação como crooner da orquestra de Ferreira Filho interpretando o fox “The music stopped”, de Richard Rodgers e Laurentz Hart e o fox-trot “Mairzy doats”, em disco lançado pela Continental. No mesmo ano, gravou como crooner do conjunto Milionários do ritmo o fox-trot “What´s new?”, de Haggart e Burke. Continuou como crooner de orquestra na mesma gravadora por mais dois anos, lançando canções norte-americanas. Em 1945, gravou com os Milionários do Ritmo os fox-trot “This love of mine”, de Sinatra, Parker e Sanicola e “The man I love”, de Gershwin e Gershwin.
Em 1946, foi contratado como cantor independente e lançou pela Continental os sambas “Copacabana”, um clássico de João de Barro e Alberto Ribeiro e um de seus maiores sucessos e “Barqueiro do São Francisco”, de Alcyr Pires Vermelho e Alberto Ribeiro com acompanhamento de Eduardo Patané e sua orquestra de cordas. No mesmo ano, gravou os sambas “Era ela”, de Oscar Bellandi e Luiz Machado Filho e “Ela foi embora”, de Oscar Bellandi e Djalma Ferreira. Foi convidado então a ir para os Estados Unidos, a partir do encontro com o arranjador Bill Hitchcock e o pianista Eddie Duchin, que conheceu durante um show no Copacabana Palace. Viajou para Nova York, onde participou de apresentações com Nat King Cole, Bill Evans e David Brubeck. Em 1947, gravou os sambas “Marina”, de Dorival Caymmi e “Foi e não voltou”, de Oscar Bellandi e Chuca Chuca. Em fevereiro do mesmo ano, voltou aos Estados Unidos, quando fez apesentações na Rádio NBC, durante cerca de dois meses, sob patrocínio dos cigarros Philip Morris. Realizou shows em Hollywood, Chicago e San Francisco. A primeira gravação de “Tenderly”, de Walter Gross, que se tornaria sucesso internacional na voz de Nat King Cole, foi feita por ele pela Majestic Records. Durante a temporada norte-americana, a gravadora Continental lançou sua gravação do samba “Marina”, de Dorival Caymmi. Em 1948, gravou os sambas “Ser ou não ser”, de Alberto Ribeiro e José Maria de Abreu; “Um cantinho e você”, de José Maria de Abreu e Jair Amorim, “Meu Rio de Janeiro”, de Oscar Bellandi e Nelson Trigueiro e “A saudade mata a gente”, de João de Barro e Antônio Almeida, todas com acompanhamento de José Maria e sua orquestra. Ao retornar ao Rio de Janeiro, no final de 1948, apresentou-se com grande êxito na boate Vogue. Por essa época, com sua popularidade em alta, foi fundado no Rio o fan-club “Sinatra-Farney”, composto por jovens cariocas que admiravam o jazz americano, um dos quais viria a ser a futura grande cantora Nara Leão.
Em 1949, gravou os sambas “Ponto final” e “Sempre teu”, de José Maria de Abreu e Jair Amorim, “Olhos tentadores”, de Oscar Bellandi e Chico Silva e “Junto de mim”, de José Maria de Abreu e Alberto Ribeiro. No mesmo ano, partiu para uma turnê pela Argentina e o Uruguai. Em 1950, atuou no filme “Somos dois”, dirigido por Milton Rodrigues. No mesmo ano, gravou na Sinter o samba canção “Não tem solução” e o samba “Lembrança do passado”, de Dorival Caymmi e Carlos Guinle. No ano seguinte, lançou o samba “Uma loira”, de Hervê Cordovil e o samba canção “Meu erro”, e Luiz Bittencourt e Gilberto Milfont. Em 1951, gravou o samba “Nick Bar”, de Garoto e José Vasconcelos e o samba toada “Canção do vaqueiro”, de Luis Bonfá. Em 1952, gravou dois sambas canções de Luiz Bonfá: “Mundo distante” e “Não sei a razão”. No mesmo ano, fez grande sucesso com o samba canção “Alguém como tu”, de José Maria de Abreu e Jair Amorim e interpretada por ele no filme “Carnaval Atlântida”, de José Carlos Burle. Em 1953, atuou no filme “Perdidos de amor”, de Eurides Ramos. No mesmo ano, gravou mais duas composições de Luiz Bonfá: o samba “Perdido de amor” e o baião “Meu sonho”. Também no mesmo ano, organizou o Dick Farney e seu Conjunto, em que tocava piano, e gravou na Continental o choro “João Sebastião Bach”, composto por ele próprio em parceria com o guitarrista de seu conjunto, Nestor Campos e o samba “Nova ilusão”, de Luiz Bittencourt e José Menezes. Em 1954, gravou na Continental, em dupla com Lúcio Alves, o samba “Teresa da praia”, de Tom Jobim e Billy Blanco, que se tornou um grande sucesso e marco inicial na carreira dos dois. Ainda no mesmo ano, participou também da gravação do disco de 10 polegadas “Sinfonia do Rio de Janeiro”, de Tom Jobim e Billy Blanco. Também em 1954, lançou o LP “Música romântica com Dick Farney” com destaque para “Canção do mar”, de Bruno Marnet e “Outra vez”, de Tom Jobim.
Em 1955, gravou os sambas “A saudade mata a gente”, deJoão de Barro, Antônio Almeida e Aloísio de Oliveira e “Tudo isto é amor”, de Laura Maria e o samba canção “Foi você”, de Luiz Bonfá. No mesmo ano, lançou com seu quinteto um LP que trazia duas composições de sua autoria: “Sonhando com Shearing” e “Sem nome”. Em 1956, formou um quarteto de jazz, em que era o pianista, ao lado de Rubinho (bateria), Xu Viana (contrabaixo) e Casé (sax-alto). Com o grupo, gravou um LP, na RGE. No mesmo ano gravou na Continental o LP “Dick Farney Trio”, com “Valsa de uma cidade”, de Ismael Netto e Antônio Maria; “Com você meu bem”, parceria com Laura Maria e “Farney´s blues”, de sua autoria. Em 1957, gravou na Polydor o samba canção “Un argentino en Brasil”, de Sérgio Mihanovich e a toada “Nem fala meu nome”, de Nazareno de Brito e Luiz de Castro e mais duas composições de Luiz Bonfá: a toada “O ranchinho e você” e o samba canção “Só eu sei”. Ainda no início de 1957, embarcou novamente para os Estado Unidos, onde se apresentou durante um ano no Waldorf Astoria Hotel e no Shell Burn Hotel, em Nova York. Excursionou por Cuba, República Dominicana, Porto Rico e ilhas do Caribe. Em outubro de 1958, retornou ao Brasil depois de um ano e meio nos Estados Unidos. Na ocasião assim reportou o jornal O Globo: “Retornando ao Brasil depois de um ano e meio no estrangeiro, Dick Farney, intérprete de alguns sucessos marcantes da música brasileira, manifestou à reportagem grande satisfação pelo sucesso alcançado com o trio instrumental que formou nos Estados Unidos e que teve brilhante atuação no Waldorf Astoria”. Disse ele ao jornal: ” – Não é sem justificado orgulho que posso afirmar ter sido o único brasileiro a atuar no Waldorf Astoria depois da nossa Carmen Miranda.”
No ano de 1959, gravou na Odeon os sambas “Este teu olhar”, de Tom Jobim e “Se é por falta de adeus”, de Tom Jobim e Dolores Duran. No mesmo ano, exibiu na TV Record, em São Paulo, o “Dick Farney Show” e se apresentou no bar do Hotel Claridge, na mesma cidade. Também na capital paulista, tornou-se proprietário de uma boate, a Farneys, localizada na praça Roosevelt. Mas o negócio durou menos de dois anos. Ainda em 1959, lançou o Lp “Atendendo a pedidos”, no qual interpretou entre outras “Esquece”, de Gilberto Milfont, “Meu sonho”, de Luiz Bonfá, “”Ser ou não ser” e “Ponto final”, de Alberto Ribeiro e José Maria de Abreu. Em 1960, lançou três LPs: “Dick Farney em canções para a noite do meu bem”, com destaque para a música “A noite do meu bem”, de Dolores Duran; “Dick Farney no Waldoff” e “Dick Farney e seu jazz moderno no auditório de O Globo”. No ano seguinte gravou mais 3 LPs, sendo que em “Dick Farney jazz” interpretou três composições de sua autoria: “Improvido nº1”, “Improviso nº2” e “RGE blues”. No mesmo ano, formou a Dick Farney e sua Orquestra, que animava bailes e que durou quatro anos. Em 1962, gravou o LP “Dick Farney apresenta sua orquestra no auditório de O Globo”, que contou com a participação especial de Leny Andrade nas faixas “When your love has gone”, “My funny valentine” e “Its wonderful”.
Em 1964, lançou dois LPs pela RGE e, no ano seguinte, mais dois pela Elenco, sendo em um deles, “Meia noite em Copacabana”, contou com a participação especial da atriz Norma Benguel, nas faixas “Vou por aí” e “Você”, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, que foi um dos destaques do disco. Na recém-inaugurada TV Globo, apresentou, ao lado de Betty Faria o programa “Dick e Betty”, que durou cerca de seis meses. Em 1967, gravou o LP “Dick Farney, piano e orquestra Gaya”, com a orquestra do maestro Lindolfo Gaya interpretendo entre outras, “Insensatez”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, “Fotografia”, de Tom Jobim, “Influência do jazz”, de Carlos Lyra e Vinícius de Morais e “Preciso aprender a ser só”, de Paulo Sérgio e Marcos valle. Em 1969, abriu em São Paulo a Farneys Inn, na Rua Augusta.
Em 1971, formou um trio com Sabá (Sebastião Oliveira da Paz) no contrabaixo e Toninho (Antônio Pinheiro Filho) na bateria. Em 1972, lançou pelo selo London/Odeon no apareceram antigos sucessos. Entre 1973 e 1978 apresentou-se freqüentemente na boate Chez Régine, no Rio de Janeiro. Em 1973, lançou o LP “Concerto de jazz ao vivo – Dick Farney trio”. Em 1978, gravou “Dick Farney e você”, LP no qual interpretou entre outras “Amor sem adeus”, de Tom Jobim e Luiz bonfá, “Meu mundo é você”, de Aloysio de Oliveira e “Você”, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, regravada com a participação especial de Claudette Soares. Em 1976, gravou com Claudette Soares o LP “Tudo isso é amor”, no qual interpretaram “O que é amor”, de Jonny Alf, “Este teu olhar”, de Tom Jobim, “Castigo”, de Dolores Duran e “O nosso olhar”, de Sérgio Ricardo. Em 1978, participou, em São Paulo do show “20 anos de Bossa Nova”, ao lado de Lúcio Alves, Nara Leão e Carlos Lyra, entre outros. No mesmo ano, gravou músicas como “Secretária”, de Billy Blanco, “História de uma criança”, de Paulinho Nogueira e “Brumas”, de Lúcio Alves. Ainda no mesmo ano, gravou com Claudette Soares o LP “Tudo isso é amor – volume 2”, com “Chuva”, de Pedro Camargo e Durval Ferreira, “Nós”, de Jonny Alf, “Fim de caso”, de Dolores Dura, “O amor em paz”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes e “Apelo”, de Baden Powell e Vinícius de Moraes, entre outras. Em 1979, a RGE lançou, na série Retrospecto, a coletânea Dick Farney: o cantor, o pianista e o diretor de orquestra. Em 1981, lançou pela Som da Gente o LP “Dick Farney – Noite”. Em 1983, gravou o LP “Feliz de amor”, com música título de Ghandula e Walker Santos, “Solidão”, de Alcides Fernandes e Tom Jobim, “Aeromoça”, de Billy Blanco e “Conversa de bar”, de Sergio Augusto e Sergio Lima. Em 1986, saiu aquele que seria seu último disco “Dick Farney ao vivo”, pelo selo Inverno e Verão, com antigos sucesso e um pot-pourri com músicas que foram sucesso no Cassino da Urca. Em 2013, sua gravação para o samba-canção “Não tem solução”, de Dorival Caymmi e Carlos Guinle, feita em 1950, foi incluída na trilha sonora da novela “Joia rara”, da TV Globo.
Com Claudette Soares
Dick Farney Trio
Com Claudette Soares
Dick Farney Trio
Dick Farney e Booker Pittman
(Com seu conjunto)
(Com Milionários do Ritmo)
(Com Milionários do Ritmo)
(Com a orquestra Ferreira Filho)
(Com a orquestra Ferreira Filho)
(Com Milionários do Ritmo)
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