
Cantor. Compositor.
Filho de João e Edelvira Rizkalla, ambos libaneses, entrou para a história da música popular brasileira com o nome de Deo. Estudou no Colégio Santo Alberto, na Lapa, onde fez todo o curso primário. Com 14 anos, foi interno para o Colégio Santa Rosa em Niterói, onde ficou até os 19 anos, quando completou o curso ginasial.
Em 1933, transferiu-se com a família para São Paulo, onde trabalhou no comércio e estudou contabilidade. Gostava muito de cantar tangos em festas e serenatas. Certa vez, procurou o maestro Gaó, na época diretor artístico da Rádio Cruzeiro do Sul, e pediu-lhe para fazer um teste para a rádio. O teste foi bem-sucedido e o cantor começou interpretando tangos nessa emissora. Como seu nome fosse muito complicado, a emissora promoveu um concurso entre seus ouvintes para que lhe fosse dado um outro nome. O nome vencedor foi dado pelo depois célebre Celso Guimarães, que sugeriu, simplesmente, Deo.
Em 1942, casou-se com Belmira Gonçalves, com quem teve uma filha. Ficou conhecido como “O ditador dos sucessos”.
Em 1934, foi contratado pela Rádio Record como discotecário e também cantor. Além de tangos, começou a interpretar música brasileira, especialmente composições extraídas do repertório de Silvio Caldas. Em 1936, foi para a Columbia onde gravou seu primeiro disco que incluía o samba-canção “Vendedora de flores”, de José Marcílio e o samba-choro “Cantando”, de João Pacífico, lendário compositor de músicas sertanejas. Em seguida gravou os sambas “Um amor que já passou”, de João Pacífico e Frazão e “Eterna ilusão”, também de João Pacífico. No ano seguinte, gravou o samba “Sinto lágrimas”, de Aloísio Silva Araújo e Francisco Malfitano, que fez algum sucesso.
Ainda em 1937, gravou quatro sambas de Wilson Batista, “Canta”; “Perdi meu carinho”; “Cansei de chorar” e “Meu ultimo cigarro”. Também em 1937, conheceu Ary Barroso que então fazia com Luís Peixoto um programa na Rádio Kosmos – “Boite azul”. Ari, que gostava de sua voz, levou-o para a Odeon, onde gravou em fins de 1938 o samba “Viver assim não é vida”, de Ary Barroso e a marcha “Casta Suzana”, de Ary Barroso e Alcir Pires Vermelho, grande sucesso do carnaval de 1939, tornando-o conhecido no Rio de Janeiro. No mesmo ano, gravou o samba “Não sei dar adeus”, de Ataulfo Alves e Wilson Batista, a valsa “Canção do nosso amor”, de Ataulfo Alves, o samba “De qualquer maneira”, de Ary Barroso e Noel Rosa e o samba “Ela é”, de Claudionor Cruz e Wilson Batista. Ainda neste ano, compôs a música de “Súplica” sobre letra de Otávio Gabus Mendes, figura de intensa atividade na imprensa e no rádio paulistanos (pai do telenovelista Cassiano Gabus Mendes) e ainda de José Marcílio que, segundo consta, entrou na parceria sem haver colaborado com a música. Chama a atenção a construção da letra, na qual a ausência de rimas era fato inusitado para a época. “Súplica” foi gravada por Orlando Silva em 1940. No mesmo ano, lançou da dupla Ary Barroso e Alcir Pires Vermelho a marcha “Veneno” e o samba “Se Deus quiser”. Gravou também, de Ataulfo Alves e David Nasser, a valsa “Minha sombra” e de Ataulfo Alves e Claudionor Cruz o samba “Pra esquecer uma mulher”.
Em 1941, Ary Barroso o levou para a Tupi, dirigida na época por Teófilo de Barros Filho, e o cantor passou então a residir no Rio de Janeiro. No mesmo ano, gravou as marchas rancho “Meu jardim” e “Quando uma estrela sorri”, de Donga e David Nasser, além do samba “Só a saudade não passa”, de Ary Barroso. Em 1942, retornou para a Colúmbia e lançou os sambas “A morena que eu gosto”, de Marino Pinto e J. Batista e “Se você soubesse”, de Valmúrio. No mesmo ano, realizou uma excursão pelo nordeste brasileiro, obtendo grande êxito. Ainda em 1942, gravou o samba “Mulher de luxo”, de Newton Teixeira e Edelir Gameiro, “Eu te agradeço”, valsa de Mário Lago e Benedito Lacerda; “No mundo da lua”, samba de Wilson Batista e José Gonçalves e “Se eu tivesse um milhão de cruzeiros” e “Bandeira de minha terra”, sambas da dupla João de Barro e Alberto Ribeiro.
Em 1943, no melhor período de sua carreira, quando era chamado de “O ditador de sucessos”, gravou “Pra machucar meu coração”, de Ary Barroso com acompanhamento de Chiquinho e seu ritmo, um clássico do repertório de samba – composição que encanta pela qualidade da melodia e tratamento coloquial da letra ao abordar o tema da separação. No mesmo ano, gravou da dupla Marino Pinto e Valdemar Gomes, os sambas “Reconciliação” e “Mais um drama da vida”. No final de 1943, assinou contrato com a gravadora Continental, onde estreou relançando o samba “Brasil, usina do mundo”, de João de Barro e Alcir Pires Vermelho e a “Valsa do balancê”, de Alberto Ribeiro e Alcir Pires Vermelho e outras composições anteriormente gravadas na Columbia.
Em 1944, lançou os sambas “Rosinha”, de João de Barro e Maia Morais e “Baile de gala”, de Roberto Martins. No mesmo ano, gravou em dueto com Dircinha Batista a valsa “Continuas em meu coração”, de João de Barro e Alberto Ribeiro. Em 1945, gravou os sambas “Sonho de amor”, de Ary Barroso, “Não era assim”, de Wilson Batista e Haroldo Lobo e “Dez anos de vida”, de Valfrido Silva e Ciro de Souza. No mesmo ano, registrou em dueto com Castro Barbosa o samba “Clélia”, de Castro Barbosa e o “Frevo nº 1”, numa adaptação de Almirante. Gravou ainda os sambas “Mais cedo ou mais tarde”, de Geraldo Pereira; “Chegou o dia”, de Geraldo Pereira e Elpídio Viana e fez sucesso com “Eu nasci no morro”, de Ary Barroso.
Em 1946, gravou para o carnaval a marcha “Chô, peru!”, de Lauro Maia e Humberto Teixeira e o frevo canção “Ai, amor!”, com arranjo dos Irmãos Valença. Lançou ainda no mesmo ano, dois sambas de Geraldo Pereira, “Só quis meu nome” e “Ainda sou seu amigo”. Em 1947, gravou o samba “Nervos de aço”, de Lupicínio Rodrigues e fez sucesso no carnaval carioca com o samba “Lá vem o Ipanema”, de Roberto Roberti, Arlindo Marques Jr. e Marina Batista, gravado com o acompanhamento de Raul de Barros e seu regional.
Em 1948, lançou os sambas “Infidelidade”, de Ataulfo Alves e Américo Seixas, um dos sucessos do ano, e “Saudade”, de Dorival Caymmi e Fernando Lobo. No ano seguinte, lançou o fox canção “A vida cor de rosa”, versão de Osvaldo Santiago para música de Loyguy e Edith Piaf e o samba canção “Segue teu caminho”, de Mário Zan e Arlindo Pinto. Em 1950 lançou a batucada “A mulher deve casar”, de Antônio Nássara e Antônio Almeida e a marcha “Maria Florisbela…”, de Mário Zan e Reinaldo Santos. Em 1951, voltou a registrar composições de Ataulfo Alves, a marcha “Amor perfeito”, parceria com Wilson Batista e o samba “Ai que dor”, parceria com José Batista. No mesmo ano, gravou com o Coro dos Apiacás, a “Sinfonia do café”, de Humberto Teixeira. Ainda no mesmo ano, passou a gravar na Sinter, onde estreou com o samba “Iaiá da Bahia”, de Ary Barroso e o samba canção “Falas de mim”, de Haroldo Barbosa e Claudionor Cruz. No ano seguinte gravou de Ataulfo Alves a marcha “Cadê Dalila”. Gravou também os sambas “Um amigo e uma mulher”, de Francisco Alves e René Bittencourt e “Eu não sabia”, de Pedro Caetano e Claudionor Cruz.
Em 1953, assinou com a gravadora Todamérica e lançou a marcha “Maria Balança”, de João de Barro e o samba “A carta”, de Wilson Batista e José Batista. Em 1954, foi contratado por Ovídio Grottera para ser diretor-artístico da etiqueta Rádio, onde permaneceu até 1961, ano da extinção das atividades do selo. Em 1955, retornou mais uma vez para a Columbia e lançou o fox “Piano alemão”, uma versão de Júlio Nagib, que foi um dos seus últimos sucessos e o samba canção “Alguma coisa ela fez”, de Rubens Fausto. Em 1962, ainda participava de programa de rádio, apresentando-se duas vezes por semana. Neste período, ocupou ainda o cargo de diretor-artístico da etiqueta “Estúdio F”. Poucos dias antes de seu falecimento, regravou para o fascículo da Abril Cultural sobre Haroldo Lobo os sambas “Alô padeiro” (Não é economia) e “Cinquenta e seis não veio”, ambos da dupla Haroldo Lobo-Wilson Batista, gravados originalmente pelo cantor em 1943-44.
Gravou um total de 136 discos em 78 rpm, com um repertório de sambas de grandes compositores da música popular brasileira.
(c/Trio Madrigal)
(c/Coro dos Apiacás)
(c/Coro dos Apiacás)
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da Música Popular. Edição do autor. Rio de Janeiro, 1965.
EPAMINONDAS, Antônio. Brasil brasileirinho. Editora: MEC/FUNARTE. Rio de Janeiro, 1982.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume 1. Editora: 34. São Paulo, 1997.
VASCONCELOS, Ary. Panorama da Música Popular Brasileira – Volume 2. Editora: Martins. Rio de Janeiro, 1965.