Primeira fase:
Herivelto Martins
Nilo Chagas
Dalva de Oliveira
Segunda fase:
Herivelto Martins
Nilo Chagas
Noemi Cavalcanti
Terceira fase:
Herivelto Martins
Raul Sampaio
Lourdes Bittencourt
Quarta fase:
Herivelto Martins
Raul Sampaio
Shirley Dom
Trio vocal. Criado por Herivelto Martins em 1937 quase acidentalmente. Na época, Herivelto Martins formava com Nilo Chagas a Dupla Preto e Branco. Nilo Chagas havia substituído o primeiro parceiro de Herivelto Martins, Francisco Sena, que tinha falecido no ano anterior. Dalva de Oliveira e Herivelto Martins se conheceram no Teatro Pátrias onde trabalharam e logo iniciaram um relacioinamento. Certa vez, começou a ensaiar vocalizações com Dalva de Oliveira na busca de algo diferente. Foram ouvidos pelo compositor Príncipe Pretinho que se entusiasmou pelo resultado e os incentivou a prosseguir. O trio incialmente foi formado por Herivelto Martins, nascido na cidade fluminense de Engenheiro Paulo de Frontin em 30/1/1912 e falecido no Rio de Janeiro em 17/9/1992; Nilo Chagas, natural de Barra do Piraí, RJ, onde nasceu em 1917, falecendo no Rio de Janeiro em 1973, e Dalva de Oliveira.
Inicialmente, o trio apresentou-se como Dalva de Oliveira e Dupla Preto e Branco. Assim, foram levados em 1937 por Príncipe Pretinho para a gravadora RCA Victor. Nesta gravadora, lançaram o primeiro disco com a batucada “Itaquari” e a marcha “Ceci e Peri”, ambas de Príncipe Pretinho, com acompanhamento do grupo Boêmios da Cidade.
Em 1938, transferiram-se para a gravadora Odeon e lançaram o samba-toada “Iaiá Baianinha”, de Humberto Porto, e o batuque “Batuque no morro”, de Herivelto Martins, Humberto Porto e Ozon, com acompanhamento de Benedito Lacerda e seu conjunto regional. No mesmo ano, gravaram um segundo disco na Odeon com o batuque “Quem mora na lua!”, de Príncipe Pretinho, e o samba “Madalena se zangou”, de Sinval Silva e Ubenor Santos, também com acompanhamento de Benedito Lacerda e seu conjunto regional, lançado apenas em abril do ano seguinte. Também em 1938, o nome Trio de Ouro apareceu pela primeira vez em discos, na faixa “Na Bahia”, samba-jongo de Herivelto Martins e Humberto Porto gravado conjuntamente pelo Trio de Ouro e Carmen Miranda. O nome Trio de Ouro foi dado pelo locutor César Ladeira. Durante uma apresentação do trio na Rádio Mayrink Veiga afirmou ser aquele “Um trio de ouro”, designação que passou a ser usada. No entanto, durante dois anos conviveram os termos Dalva de Oliveira e Dupla Preto e Branco, e Trio de Ouro. Ainda em 1938, apresentaram-se na Rádio Tupi, sendo nesse mesmo ano realizado o casamento de Dalva e Herivelto.
Em 1939, lançaram na Columbia como Dalva de Oliveira e Dupla Preto e Branco o jongo “Negro está sambando”, de Hervê Cordovil e Humberto Porto; o samba-rumba “Alvorada”, de Príncipe Pretinho e E . J. Moreira, e os sambas “Deixa a baiana sambar”, de César Brasil e Manoel Ferreira e “Japonezinha”, de Herivelto Martins. Nesse ano, lançaram pela Odeon o primeiro disco apenas com eles usando a designação Trio de Ouro, cantando a marcha “Branca de neve”, de Benedito Lacerda e Herivelto Martins, com acompanhamento da Orquestra Odeon, e o samba “Adeus, Estácio”, de Benedito Lacerda e Gastão Viana, com acompanhamento do Grupo Odeon. Em 1940, ainda com a denominação de Dalva de Oliveira e Dupla Preto e Branco, gravaram na Columbia as marchas “Onde a Margarida mora”, de Dunga e Castro Barbosa e “Na Turquia”, de Príncipe Pretinho. Ainda nesse ano, o nome Trio de Ouro passou a ser utilizado definitivamente, a começar pelo disco que tinha a batucada “É ouro só”, de Príncipe Pretinho, e a cena típica “Acorda, João”, de Humberto Porto, com acompanhamento de Benedito Lacerda e seu conjunto regional. Em seguida, gravaram os sambas “Sorri”, de Gradim e Príncipe Pretinho; “Madalena chorou”, de W. Pereira e Darcy de Oliveira, e “Quando anoitece”, de Cícero Nunes e Waldemar Gomes, além da marcha “Lamento negro”, de Humberto Porto e Constantino Silva. Também em 1940, passaram a se a se apresentar na Rádio Clube do Brasil.
Em 1941, o trio gravou na Columbia as marchas “Toma cuidado”, de Príncipe Pretinho, e “Noite de fogueiro”, de Herivelto Martins, com acompanhamento de Benedito Lacerda e conjunto regional. Em 1942, o trio gravou dois discos pela Columbia. No primeiro, apareceu o samba “Praça Onze”, de Herivelto Martins e Grande Otelo e que contou com a participação vocal de Castro Barbosa e acompanhamento de Benedito Lacerda e conjunto regional, constituindo-se num dos maiores sucessos do trio. No outro lado do disco estava a marcha “Dança La Conga”, de Príncipe Pretinho e Sá Roriz No outro disco aparecerem duas composições de Príncipe Pretinho: a batucada “Quem está de ronda” e o samba “Maria cheirosa”. Nesse ano, transferiram-se para a Odeon e logo no primeiro disco o trio obteve um retumbante sucesso com o samba “Ave-Maria no morro”, de Herivelto Martins, com acompanhamento de Fon Fon e sua orquestra. Ainda em 1942, o trio ingressou na Rádio Nacional.
Em 1943, o trio obteve novos grandes sucessos com os sambas “Lá em Mangueira”, de Herivelto Martins e Heitor dos Prazeres, com acompanhamento de Benedito Lacerda e conjunto regional, e “Laurindo”, de Herivelto Martins, com acompanhamento de conjunto Odeon. Ainda nesse ano, gravaram os sambas “Se é por falta de adeus”, “Baiana falsificada” e “Sem ela”, todos de Herivelto Martins, além de “Caí no samba”, de Príncipe Pretinho e “Mangueira, não”, de Herivelto Martins e Grande Otelo. Também nesse ano, o trio atuou no filme “Samba em Berlim”, de Luiz de Barros no qual interpretaram o samba “Lenda do Abaeté”, de Dorival Caymmi. Em 1944, fizeram sucesso com os sambas “Bom dia, Avenida”, de Herivelto Martins e Grande Otelo, e “Morro”, de Dunga e Mário Rossi. Ainda no mesmo ano, atuaram, no filme “Berlim na batucada”, de Luiz de Barros, interpretando o samba “Bom dia, Avenida”, e com Francisco Alves, o samba “Quem vem descendo”, de Príncipe Pretinho.
Em 1945, gravaram, entre outras, a cena de ninar “História pra sinhozinho”, de Dorival Caymmi, com o conjunto Odeon; os sambas “A vitória é nossa”, de Príncipe Pretinho, aludindo à vitória dos países aliados na segunda guerra mundial, e “Negro artilheiro”, de Herivelto Martins e Sinval Silva, com acompanhamento de Fon-Fon e sua orquestra, além da batucada “Cabrocha boa”, de Herivelto Martins e Ciro de Souza, e o samba “Venderam o morro”, de Herivelto Martins, com acompanhamento de Abel Ferreira e seu conjunto. Também no mesmo ano, obtiveram grande sucesso com o samba “…E não sou baiano não”, de Waldemar Ressurreição, que contou com acompanhamento de Benedito Lacerda e seu conjunto regional. Ainda no mesmo ano, atuaram no filme “Pif-Paf”, com direção de Luiz de Barros e Adhemar Gonzaga, interpretando o samba “Morro”, de Dunga e Mário Rossi. Em 1946, gravaram mais cinco sambas “Obrigado, Excelência” e “Não me conheço mais”, de Herivelto Martins; “Mágoa”, de Dunga e Waldemar Silva; “Fala, Claudionor”, de Herivelto Martins e Grande Otelo, e “Dora”, de Dorival Caymmi, além da batucada “É a lua”, de Príncipe Pretinho. Também no mesmo ano, atuaram no filme “Caídos do céu”, com direção de Luiz de Barros, no qual interpretaram o samba-canção “Ave-Maria no morro”. Em 1947, gravaram sete sambas, com destaque para “Calado venci”, de Herivelto Martins e Ataulfo Alves, com acompanhamento de Raul e Regional, que fez bastante sucesso. Em 1948, o trio atuou em dois filmes com direção de Luiz de Barros, “Esta é fina” e “Fogo na canjica”. Nesse ano, o trio gravou a marcha “Minueto” e o samba “Apita quem pode”, da dupla Herivelto Martins e Benedito Lacerda; a marcha “O azar é seu”, de Gomes Cardim, e os sambas “Nega Fulô”, de Herivelto Martins e Chianca de Garcia e “Canaviais”, de Herivelto Martins e Orestes Barbosa.
Em 1949, quando o casamento de Dalva e Herivelto estava terminando, o trio lançou seus três últimos discos em sua primeira formação. Nos dois primeiros estavam a marcha “Cachopa”, de Herivelto Martins e Benedito Lacerda e o samba “Vem meu amor”, de Haroldo Lobo e Paquito, e no segundo, os sambas “Controlando essa mulher”, de Herivelto Martins e Benedito Lacerda, e “Todos tem o direito”, de Príncipe Pretinho e J. J. Oliveira. O último disco do trio em sua primeira formação teve os sambas “A primeira mulher”, de Arnô, Espírito Santo e A . Rocha, e “Vou guardar o meu pandeiro”, de Herivelto Martins. Em 1950, com a rumorosa separação do casal Herivelto Martins e Dalva de OLiveira, o Trio de Ouro se desfez em sua primeira formação.
No mesmo ano, o trio foi refeito por Herivelto Martins com a entrada de Noemi Cavalcanti, natural de Cachoeiro de Itapemirim, ES, onde nasceu em 1926. Também no mesmo ano, o novo trio lançou o primeiro disco, então em nova gravadora, a Victor, obtendo grande sucesso com os sambas “A Bahia te espera”, de Herivelto Martins e Chianca de Garcia, e “Caminho certo”, de Herivelto Martins e David Nasser, que explorava as agruras da separação do casal Dalva-Herivelto. No mesmo ano, gravaram mais sete discos, com destaque para os sambas “Ave-Maria”, de Vicente Paiva e Jaime Redondo; “Teu exemplo”, de Herivelto Martins e David Nasser; “Consulta o teu travesseiro” e “Morro de Santo Antônio”, os dois últimos, da dupla Herivelto Martins e Benedito Lacerda.
Em 1951, gravaram a batucada “Quando o tempo passar”, de Herivelto Martins e David Nasser; os sambas “Eu também quero”, de Raul Sampaio; “Vingança”, de Lupicínio Rodrigues, e as marchas “Olhos verdes”, de Herivelto Martins e Benedito Lacerda, e “Tá faltando mulher”, de Herivelto Martins e Blecaute, além do frevo “Recife”, de Antônio Maria, que foi outro registro de interesse do trio em sua nova formação. Ainda nesse ano, participaram do filme “Aguenta firme, Izidoro”, com direção de Luiz de Barros. Em 1952, o trio lançou as toadas “Gaúcho velho”, de Herivelto Martins e Pedro de Almeida e “Última festa”, de Herivelto Martins e Zeca Ivo. Logo depois, o trio lançou o último disco em sua segunda formação com os sambas “Conversando com a chuva”, de Pedro de Almeida e “O bonde de Santa Tereza”, de Waldemar Ressurreição. Em seguida, o trio se desfez pela segunda vez com as saídas de Nilo Chagas e Noemi Cavalcanti que resolveram cantar em dupla. No mesmo ano, Herivelto Martins organizou a terceira formação do Trio de Ouro, com as entradas de Lourdes Bittencourt, nascida em Campinas, SP, em 1928 e falecida no Rio de Janeiro, em 1979, e Raul Sampaio, natural de Cachoeiro de Itapemirim, ES, onde nasceu em 1928.
Ainda em 1952, o trio lançou seu primeiro disco com a nova formação, com a batucada “Se a saudade falasse” e a regravação do samba “Ave-Maria no morro”, ambos de Herivelto Martins. O trio foi contratado pela Rádio Nacional, onde permaneceu por dois anos. Nesse período, excursionou pelo país e fez temporada em países como Argentina, Uruguai, Peru e Chile. Atuou ainda por um longo período como atração da Rádio Clube de Pernambuco. Ainda nesse ano de 1952, foram lançados mais cinco discos incluindo o samba “Sereno”, de Nelson Gonçalves e Herivelto Martins, com a participação de Nelson Gonçalves, e a marcha “Mister Eco”, de M. Araújo e Carvalhinho, que contou com as participações de Nelson Gonçalves, Heleninha Costa e César de Alencar. Também no mesmo ano, tomaram parte no filme “Está com tudo”, com direção de Bitencourt e Raul Sampaio. Fizeram sucesso nesse período com os sambas “Noite enluarada”, de Herivelto Martins e Heitor dos Prazeres, e “Sereno”, de Herivelto e Nelson Gonçalves.
Em 1953, gravaram com êxito a guarânia “Índia”, de Guerrero e Flores, em versão de José Fortuna. Outros sucessos do mesmo ano, foram o samba-canção “Negro telefone”, de Herivelto Martins e David Nasser, e a catira “História cabocla”, de Herivelto Martins e José Messias. Ainda nesse ano, atuaram nos filmes “Um pirata do outro mundo” e “Com a mão na massa”, com direção de Luiz de Barros. Em 1954, o trio brilhou no carnaval com o samba “Saudade Mangueira”. Ainda nesse ano, foram gravados pelo trio os sambas “Quem dera” e “Berço de rei”, de Herivelto Martins; “Me deixe em paz”, de Herivelto Martins e Jovelino Marques, e “Boca fechada”, de Lupicínio Rodrigues. O sucesso desse ano, no entanto, ficou com a regravação da batucada “Milonga de moça branca”, de Gastão Viana. Em 1955, o trio gravou apenas três discos: os sambas “Última homenagem” e “Maria do Socorro”, de Blecaute e Herivelto Martins; “Louca”, de Herivelto Martins e José Messias, e “Tudo é samba”, de Herivelto Martis e Fernando Lobo; a valsa “João, João”, de Herivelto Martins e David Nasser, e a batucada “Vencida”, de Atílio Bruni e Herivelto Martins.
Em 1956, sem grande repercussão, o trio lançou os sambas “Ninguém sofreu”, de Herivelto Martins e José Messias; “Claudionor”, de Herivelto Martins e Nelson Gonçalves, e “Cidadão bolero”, de Pedro de Almeida e R. Silva, além da toada “Rancho da serra”, de Herivelto Martins e Blecaute. Em 1957, o trio gravou os sambas “Jurei”, de Herivelto Martins e José Messias; “Ai favela”, de Brasinha e P. Medeiros; “Vou-me embora pra Goiás”, de Herivelto Martins e R. Silva e “O samba tem”, de Rosalino Senos e O . Magalhães, além da regravação do samba-canção “Moamba de São Benedito”, de Vicente Paiva e Luiz Peixoto, que fez razoável sucesso. Em 1958, o trio já em decadência gravou seu último disco na Victor com os sambas “Engole ele, paletó”, de J. Audi e “Adeus, Mangueira”, de Herivelto Martins e Grande Otelo. No ano seguinte, gravaram pelo pequeno selo Carnaval os sambas “E depois”, de Herivelto Martins e José Messias, e “A felicidade”, de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes, uma rara adesão à bossa nova que então nascia.
Em 1960, gravaram no pequeno selo Carnaval os sambas “Quando chega fevereiro”, de Carvalhinho, Arnô Canegal e Waldemar Silva, e “Quantas lágrimas”, de Klécius Caldas e Rutinaldo. Dois anos depois, pela gravadora Copacabana, lançaram os sambas “Jurei, jurei” e “Quem lava o morro”, ambos de Herivelto Martins e L. de Pina. Em 1964, o trio lanou pelo selo Som, aquele que seria seu último disco, com os sambas “Capital do samba”, uma homenagem ao quarto centenário do Rio de Janeiro, e “Pra meu castigo”, ambos de Herivelto Martins e Marino Pinto. Por essa época, o Trio foi desfeito por problemas de saúde de Lourdes Bittencourt, então casada com o cantor Nelson Gonçalves.
A partir dos anos 1970, o Trio voltou a realizar shows esporádicos, com uma nova solista, a cantora Shirley Dom, sendo Raul Sampaio mantido por Herivelto. O trio gravou um LP para a Funarte, em homenagem à obra de Herivelto Martins e cantou, pela última vez, nos 80 anos do compositor, em jantar fechado, para 120 convidados na residência de Ricardo Cravo Albin, em 1992, no Largo da Mãe do Bispo, na Urca, Rio de Janeiro. Em 2003, o selo Revivendo lançou o CD “Trio de Ouro”, com um depoimento de Raul Sampaio e que incluiu 21 sucessos do trio, sendo: “Lamento negro”, “Ave-Maria no morro”, “Lá em Mangueira”; “Morro”; “…E não sou baiano não”; “Caldo venci” e “Senhor do Bonfim”, com a primeira formação; “A Bahia te espera”; “Caminho certo”; “Ave-Maria”; Teu exemplo”; “Recife”; “O bonde de Santa Tereza” e “Conversando com a chuva”, da segunda formação, e “Alvorada de luz”, “Perdoar”, “Negro telefone”; “Maria loura”; “Saudade de Mangueira”; “Mironga de moça branca” e “Muamba de São Benedito”, da terceira formação.
De importância fundamental na história da música popular brasileira, o Trio gravou 99 discos pelas gravadoras Odeon, Victor e Columbia, com quase 200 músicas.
ALBIN, R. C. MPB – A história de um século. Rio de Janeiro: Funarte, 1998.
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.