
Bloco carnavalesco fundado em 5 de maio de 1979 por João Nogueira, Antonio Carlos Austregésilo de Athayde, Paulo César Pinheiro, Mauro Duarte, Gisa Nogueira, Jorge Simas, Paulo César Feital, Beth Carvalho, Sérgio Cabral, Elizeth Cardoso, Clara Nunes, entre outros sambistas, escritores, poetas e intelectuais. A idealização do bloco partiu de João Nogueira e Antonio Carlos Austregésilo de Athayde, diplomata que acabara de se licenciar do Itamaraty para seguir uma nova carreira em publicidade, na Agência MPM. Foram dois encontros de João e Athayde na casa do próprio João que deu origem à matéria escrita por Athayde e publicada no “Caderno B” do Jornal do Brasil em janeiro de 1979, esta sob o título “João Nogueira conclama para a resistência CLUBE DO SAMBA COMEÇA A SE REUNIR DEPOIS DO CARNAVAL”. Logo depois, João Nogueira e Paulo César Pinheiro compuseram o samba “Clube do Samba”, do qual destacamos os seguintes versos: “É por isso que eu vivo no Clube do Samba, essa gente bamba que eu me amarro de montão”. A gente bamba as quais os compositores se referem era integrada por Clara Nunes, Alcione, Beth Carvalho, Roberto Ribeiro, Martinho da Vila, Padeirinho, Nelson Cavaquinho, Monarco, Babaú da Mangueira, Dona Yvone Lara, Chico Buarque, Elizeth Cardoso, Paulinho da Vila, Cartola, entre tantas outras legítimas e expressivas figuras da música brasileira e freqüentadores do clube.
Durante sua existência, o bloco teve cinco sedes: a primeira sede, a própria casa de João e Angela Nogueira, no subúrbio carioca do Méier; depois no Flamengo, no Morro da Viúva; na Associação dos Servidores Civis do Brasil, em Botafogo; Clube Municipal da Tijuca, até chegar à sede permanente, na Barra da Tijuca, sendo esta última, uma casa de show que comportava cerca de 1200 pessoas, além de uma galeria de arte chamada “Guilherme de Brito”, em homenagem a um dos grandes letristas da MPB. Ainda nesta mesma sede, situava um jardim com o nome “Clara Nunes”. Antonio Carlos Austregésilo de Athayde foi também o editor do jornal do bloco. Também existia no clube todas às sextas-feiras uma roda de samba e aos domingos a feijoada de Tia Vicentina da Portela.
No ano seguinte a fundação, o bloco desfilou pela primeira vez com o enredo “O Bloco do Clube do Samba chegou”. Nos anos posteriores o bloco assumiria a sua verve político/humorista, narrando em seus sambas acontecimentos de cunho político, sempre regado com muito humor. Para tanto, as camisetas do bloco foram sempre desenhadas pelo cartunista Ziraldo. A partir de 1980 o bloco passou a desfilar nas terças e sábados de carnaval na Avenida Rio Branco.
Seus enredos entre os anos de 1980/2003 foram:
1980: “O Bloco do Clube do Samba chegou” (contando a história da fundação do bloco),
1981: “Sem feijão eu não agüento” (Sobre a crise do cereal, quando o governo começou a importá-lo do Chile),
1982: “Doa a quem doer” (Sobre questões sociais e um mundo mais justo),
1983: “Ai, ai, ai, como estou endividado” (Sobre a solicitação de empréstimo do governo brasileiro ao FMI),
1984: “Vai tirando o seu da reta, queremos direta” (Sobre a vontade do povo por justiça, democracia e eleições diretas),
1985: “Como eu gosto do Vovô Sobral” (Homenagem ao jurista Sobral Pinto),
1986: “Pára de roubar que dá” (Sobre os escândalos do governo José Sarney),
1987: “Cadê o boi” (Sobre o confisco de bois do governo Sarney para que favorecesse o preço, culminando apenas no favorecimento dos pecuarista e não sobre o preço),
1988: “Com Seu Bigode não quero pagode” (sobre o aumento de um ano da permanência do presidente Sarney),
1989: “Será que este pacote é mais um trote” (Sobre os pacotes econômicos, muito comuns nessa época),
1990: “Marajá ou maracujá?” (Referente ao presidente Collor que prometia acabar com os altos salários no governo),
1991: “Tem cupido no Planalto” (Versando sobre o caso de amor da Ministra da Economia Zélia Cardoso e o Ministro da Justiça, Bernardo Cabral),
1992: “Não tem meu pé me dói, me dá minha Calói” (Sobre os escândalos com o Ministro da Saúde, Alcenir Guerra),
1993: “No esquema do PC, tem fantasma colorê” (Sobre a denúncia de Pedro Collor de Mello (irmão do então presidente) contra Paulo César Faria (Secretário de Campanha do Presidente),
1994: “Bronca de verba e os Sete Anões” (Sobre o escândalo dos Anões do Orçamento),
1995: “Supremo de Pizza” (Ironizando a absolvição do ex-presidente Collor pelo Supremo Tribunal Federal),
1996: “No grampo da Federal, pasta rosa é maioral” (Referente ao escândalo da “Pasta Rosa” envolvendo o Senador Antônio Carlos Magalhães),
1997: “Quanto vale a Vale?” (Sobre a privatização da Vale do Rio Doce),
1998: “Toda vez que a Bolsa cai o Brasil vira Shangai” (Questionando a queda da Bolsa asiática e sua influência na Bolsa do Brasil),
1999: “Meu mundo caiu” (Sobre a tragédia do Edifício Pálace II, na Barra da Tijuca),
2000: “Olá, Seu Nicolau” (Sobre o Juiz Nicolau dos Santos Neto (Lalau) e o desfalque na obra do prédio do Tribunal Regional do Trabalho, em São Paulo),
2001: “Como diria João” (homenagem do bloco a João Nogueira, falecido em junho de 2000). No carnaval do ano 2001, o bloco desfilou com este samba composto coletivamente por toda a Ala dos Compositores, na ocasião integrada por Paulinho Tapajós, Paulo César Feital, Paulinho Soares, Luiz Carlos da Vila, Walter Alfaiate, Jorge Simas, Gisa Nogueira, Celso Lima, Athayde e Dalmo Castello),
2002: “Geléia real” (Crítica a Antônio Carlos Magalhães, Jader Barbalho e a Bin Laden, entre outros),
2003: “Lá vem Picanço” (Sobre o desvio de verbas para a Suiça dos Fiscais da Previdência – Rodrigo Silveirinha e Lúcio Picanço). Neste mesmo ano de 2003, o bloco desfilou na terça-feira de carnaval por Copacabana.
Sua concentração acontece na Av. Atlântica e o bloco percorre o caminho entre as ruas Santa Clara até à frente do Restaurante Alcazar.
As cores do bloco são a preta e a branca.
O bloco ensaia na Fundição Progresso, na Lapa, Centro do Rio de Janeiro. Em seus ensaios, sempre conta com a participação especial de convidados, como Mart’nália, Toco da Mocidade, Walter Alfaiate, Eliane Faria, Zé Renato, Noca da Portela, Nei Lopes, Nelson Sargento e as Velhas-Guardas do Império Serrano, Portela e Mangueira, entre muitos outros convidados, acertados pela diretoria do bloco, composta por Ângela Nogueira (viúva de João Nogueira), Lygia Santos (filha do compositor Donga), Didu Nogueira (sobrinho de João Nogueira), Ana Simas e a jornalista Bafinha.No ano de 2013 o Clube do Samba, representado por alguns de seus mais importantes fundadores e componentes, promoveu um baile pré-carnavalesco no Teatro Rival BR, no centro do Rio de Janeiro, tendo como principais atrações Nélson Sargento, Paulo César Feital e Edmundo Souto comandando o evento, que ainda contou com a participação especial dos músicos do Bloco Carnavalesco Cordão da Bola Preta.
BIBLIOGRAFIA CRÍTICA:
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.