
Movimento musical que teve lugar a partir de 1967, pautado pela intervenção crítico-musical no cenário cultural brasileiro, liderado pelo compositor Caetano Veloso e e do qual participaram, também, os compositores Gilberto Gil e Tom Zé, os poetas Torquato Neto e Capinam, os maestros de formação erudita Rogério Duprat, Damiano Cozzella e Júlio Medaglia, o grupo Os Mutantes, a cantora Gal Costa e o artista plástico Rogério Duarte, entre outros artistas. O movimento ressaltou, em sua estética, os contrastes da cultura brasileira, trabalhando com as dicotomias arcaico/moderno, nacional/estrangeiro e cultura de elite/cultura de massas. Absorveu vários gêneros musicais, como samba, bolero, frevo, música de vanguarda e o pop-rock nacional e internacional, e incorporou a utilização da guitarra elétrica. Estabeleceu uma interlocução com a poesia concreta paulista, tendo recebido apoio crítico de seus expoentes, Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari. O histórico remonta a discussões estéticas mantidas entre Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Torquato Neto, Rogério Duarte e o empresário Guilherme Araújo, em que eram colocadas em pauta questões como a necessidade de universalização da música brasileira em um contexto marcado hegemonicamente pela preocupação nacionalista de rechaçar a influência estrangeira. Em 1967, Gilberto Gil e Caetano Veloso participaram do III Festival de Música Popular Brasileira (TV Record), já se apresentando ao lado de grupos de rock. Classificaram, em 2º e 4º lugares, respectivamente, suas canções “Domingo no parque”, defendida por Gilberto Gil e Os Mutantes, e “Alegria, alegria”, defendida por Caetano Veloso e os Beat Boys. Essa última, sucesso imediato nos programas de rádio, foi lançada em compacto simples, que somou 100 mil cópias vendidas, marca incomum para a época. Em seguida, foram lançados os primeiros discos tropicalistas de Gilberto Gil (com arranjos assinados pelo maestro Rogério Duprat) e de Caetano Veloso (com arranjos assinados pelos maestros Damiano Cozzella, Sandino Hohagen e Júlio Medaglia, todos ligados à música de vanguarda). O título da canção manifesto do movimento, “Tropicália” (Caetano Veloso), gravada por Caetano nesse LP, foi sugerido pelo produtor de cinema Luís Carlos Barreto, numa remissão a uma instalação assinada pelo artista plástico Hélio Oiticica. Em 1968, foi lançado o disco emblemático do movimento, “Tropicália ou panis et circensis”, que incluiu canções de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Capinam e Tom Zé, interpretadas pelos autores, com arranjos do maestro Rogério Duprat. O LP contou, ainda, com a participação de Gal Costa, Nara Leão e o conjunto Os Mutantes. Nesse mesmo ano, Caetano Veloso participou do III Festival Internacional da Canção (Rede Globo) com sua música “É proibido proibir”. Vaiado pela platéia, reagiu com um discurso de cunho estético e político. (“…Essa é a juventude que quer tomar o poder? Se vocês forem em política como são em estética, estamos perdidos…”). Ainda em 1968, os tropicalistas participaram de várias edições do programa “Discoteca do Chacrinha”. Apresentaram-se, também nesse ano, na casa noturna Sucata (RJ). O cenário do show incluiu uma bandeira com a inscrição “Seja marginal, seja herói”, obra assinada por Hélio Oiticica, que provocou a interrupção das apresentações pela censura federal. Caetano Veloso e Gilberto Gil comandaram, também em 1968, o programa “Divino maravilhoso”, transmitido pela TV Tupi, com a participação de todos os artistas envolvidos com o movimento e de convidados como Jorge Ben, Paulinho da Viola e Jards Macalé. Após algumas edições, foi interrompido, em conseqüência do Ato Institucional nº 5. No dia 27 de dezembro de 1968, Caetano e Gil foram presos pela ditadura militar. No ano seguinte, seguiram para o exílio, em Londres, só retornando ao Brasil em 1972. O repertório do movimento incluiu, além das já citadas, canções como “Superbacana” (Caetano Veloso), “Soy loco por ti América (Gilberto Gil e Capinam), “Marginália 2” (Gilberto Gil e Torquato Neto), “Panis et circensis” (Gilberto Gil e Caetano Veloso), “Miserere nobis” (Gilberto Gil e Capinam), “Lindonéia” (Gilberto Gil e Caetano Veloso), “Parque industrial” (Tom Zé), “Geléia geral (Gilberto Gil e Torquato Neto), “Baby” (Caetano Veloso), “Enquanto seu lobo não vem” (Caetano Veloso), “Mamãe, coragem” (Caetano Veloso e Torquato Neto), “Bat macumba” (Gilberto Gil e Caetano Veloso), “Saudosismo”, “Não identificado” (Caetano Veloso), “Divino, maravilhoso” (Gilberto Gil e Caetano Veloso), “2001” (Rita Lee e Tom Zé), “São São Paulo” (Tom Zé), entre outras. Em 1997, Caetano Veloso lançou o livro “Verdade tropical”, pela Companhia das Letras, no qual apresenta depoimento pessoal sobre o movimento. Em 2017 completou 50 anos de história. Na ocasião foram realizados diversos shows, musicais e exposições. Pedro Luís, Céu, o grupo Pato Fu e Tom Zé (um dos arquitetos do movimento) subiram ao palco para duas apresentações no Centro Cultural Banco do Brasil na cidade do Rio de Janeiro. Também neste ano foram programados encontros poético-musicais que ressaltaram sua importância no cancioneiro contemporâneo. Alguns desses encontros ocorreram no primeiro andar da casa onde morou Guilherme Araújo, empresário e produtor musical de artistas do movimento, e também considerado co-criador do Tropicalismo. Por vontade do próprio Guilherme, após sua morte a casa foi transformada em gabinete de leitura, funcionando também como Centro Cultural. Na noite de estréia do projeto “50 anos da Tropicália”, sob coordenação, curadoria e produção do jornalista Rafael Millon e do poeta Paulo Sabino, a cantora Mãeana, o músico e compositor Bem Gil, e o poeta Jorge Salomão se apresentaram. Em outras edições do evento, apresentaram-se os cantores e compositores Lila e Matheus VK junto com o ator e poeta Eber Inácio, as cantoras, Juliana Linhares, Júlia Vargas, Duda Brack, o músico e compositor Mihay, o poeta e compositor Salgado Maranhão, o violonista Hélio Moulin, e outros.
BIBLIOGRAFIA CRÍTICA:
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.
COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.
FUSCALDO, Chris. Discobiografia Mutante: Álbuns que revolucionaram a música brasileira. Rio de Janeiro: Editora Garota FM Books, 2018. 2ª ed. Idem, 2020.
VELOSO, Caetano. Verdade tropical. São Paulo: Companhia das Letras,1997.