
Grupamento de pessoas que cantam e dançam. Segundo Câmara Cascudo, o rancho prima pela variedade de vestimentas vistosas, e a sua música é o violão, a viola, o cavaquinho, o ganzá, o prato e às vezes a flauta. Cantam os seus pastores e pastoras, por toda a rua, chulas próprias da ocasião. Nos ranchos, além de pastoras, há balizas, porta-machados, porta-bandeiras, mestres-salas e ainda um ou dois personagens, que lutam com a figura principal, que dá nome ao rancho. Os ranchos carnavalescos surgiram por volta de 1872 e diferenciavam-se das grandes sociedades pela origem marcadamente popular. Sua criação sofreu influência nordestina, que se caracterizou por incorporar ao Carnaval elementos de procissões religiosas de tradição negra e de manifestações folclóricas típicas do Dia de Reis. Em 1899, Chiquinha Gonzaga compôs, a pedido dos foliões do cordão Rosa de Ouro, a célebre marcha “Ô abre alas”, que foi a primeira música feita no Brasil especialmente para animar o carnaval. A marcha adaptou-se a essa função, a ponto de consagrar-se num modelo denominado marcha-rancho. Quando o baiano Hilário Jovino Ferreira chegou ao Rio de Janeiro, já encontrou em funcionamento um rancho, o “Dois de Ouro”, ao qual aderiu. Pouco depois, Hilário fundou e organizou o “Rei de Ouros”, tornando-se o organizador de uma manifestação carnavalesca – que com uma estrutura característica iria perdurar por quase um século. Era tradição dos ranchos visitar pessoas importantes, de maneira que estes não saíam sem passar na casa da Tia Ciata e de outras tias (assim eram chamadas as baianas mais velhas, que exerciam certa liderança na comunidade). O rancho era um préstito carnavalesco que usava marchas e maxixes como música, tocadas por uma orquestra de sopro e cordas. Dessas orquestras saíram muitos músicos de qualidade como, por exemplo, boa parte dos integrantes do conjunto os “Oito Batutas”. Deve-se notar que esses baianos pertenciam a uma camada da classe média, tendo em vista que a Tia Ciata possuía uma pequena empresa com 10 ou 15 pessoas que vendiam os doces feitos por ela. Os pais de João da Baiana tinham até uma quitanda. Os baianos tiveram uma grande influência nos ranchos, até a fundação do Ameno Resedá – o “rancho que foi escola”, em 1908. Possuindo uma organização grandiosa com fantasias ricas, um coro de qualidade, uma orquestra bem estruturada, esse rancho introduziu no Carnaval a novidade do enredo, que até então não existia: na apresentação desses cortejos, um participante vinha fantasiado de Sócrates, outro de Czar da Rússia, etc. Ligados a esses ranchos havia músicos como Pixinguinha, que pertencia às “Filhas da Jardineira”, e Ernesto Nazareth, vinculado ao “Ameno Resedá”. Os ranchos entraram em declínio paralelamente à ascensão das escolas de samba. Esse nome, aliás, surgiu quando um grupo de foliões – que se reunia nas imediações da Praça Onze – resolveu tomar de empréstimo o nome da Escola Normal que ficava nas proximidades, fundando assim a escola de samba Deixa Falar, que por sinal desfilava com os ranchos. O desaparecimento do Rancho Ameno Resedá em 1941 marcou definitivamente o término de uma fase de esplendor. Os ranchos desfilaram no palco principal dos desfiles carnavalescos cariocas até meados da década de 70 do século XX. Nas décadas posteriores, e por mais vinte anos no máximo, os ranchos passaram ao palco secundário, o da Avenida Rio Branco, até não mais desfilarem a partir de meados dos anos 1990. Fizeram-se no Rio vários movimentos de intelectuais para tentar salvar os ranchos, o mais vigoroso dos quais foi promovido pela cronista Eneida dentro do Conselho Superior de MPB do MIS. Em 1988, o rancho Azulões de Santa Cruz apresentou-se com seus destaques principais no show de despedida do cantor Sílvio Caldas no Teatro João Caetano (por duas semanas), com roteiro e direção de R. C. Albin. Terá sido então a derradeira apresentação em teatro de um rancho carnavalesco na cidade do Rio de Janeiro.