
A palavra frevo foi publicada pela primeira vez no dia 9 de fevereiro de 1907, numa nota do extinto Jornal Pequeno, de Recife, que se referia a um ensaio do clube Empalhadores do Feitosa, do bairro do Hipódromo e que foi descoberta pelo pesquisador Evandro Rabello. Uma das músicas do repertório chamava-se “O Frevo”. A palavra é uma expressão popular mais antiga e vem de ferver e, por corruptela, frever, sinônimo de festa animada, quente. Segundo alguns estudiosos, o vocábulo teria sido lançado pelo escritor Osvaldo de Almeida, que utilizava os pseudônimos Paulo Tadeu e Pierrot. Naquele período, frevo ainda não designava um gênero musical, mas sim folia. Um exemplo disso é uma nota no Jornal do Commercio, do Recife, em 2 de fevereiro de 1921: “Todo mundo comprava alguma coisa para os três dias de momo, dando a entender que o frevo vai ser colossal”; ou outra do mesmo jornal, em 31 janeiro de 1935: “Realizou-se ontem em Campo Grande mais um ensaio do Maracatu Estrela Brilhante. O frevo foi bem concorrido”. Enquanto gênero musical, não é folclore, ao contrário do que muitos supõem. É na verdade um gênero de música popular. Para Edson Carneiro, etnólogo e folclorista, é preciso distinguir o frevo-música do frevo-passo de dança. Em Pernambuco essa distinção é tão clara e marcante que não se chama a dança de frevo e sim de passo. Ainda segundo Edson Carneiro, “o frevo deriva de formas musicais do começo do século XX, tais como a habanera e o maxixe, músicas semi-eruditas, ou que, pelo menos, fogem à técnica do povo. A própria textura do frevo-música não é popular, por ser complexa. E o fato de ser necessária a presença de banda, com instrumentos caros — trombone, tuba, saxofone — anula o caráter de manifestação folclórica, uma vez que o povo não tem largo acesso a instrumentos caros. Inicialmente o frevo era tocado pelos cordões carnavalescos do Recife como os Lenhadores, Pés Dourados e outros cordões rivais. Quando tais grupos se encontravam era comum acontecerem pancadarias. Surgiram então grupos de capoeiras profissionais contratados para disciplinar os desfiles. Os capoeiras giravam à frente dos blocos, criando uma coreografia própria para os cordões. As sombrinhas que passaram a caracterizar os desfilantes seriam mais uma arma de defesa na obra da pancadaria. No princípio o frevo não tinha letra, em função dos improvisos em altos e baixos , as paradas instantâneas, ao som estridente dos clarins, pistons, clarinetes e outros instrumentos de sopro. Em seus primórdios o frevo era somente a música do desfile quase marcial pelas ruas do Recife, arrastando as multidões. Por volta de 1905, a marcha pernambucana, depois chamada de marcha-frevo, evoluiu para o que passou a se chamar frevo-de-rua. Com a concorrência das marchas e sambas carnavalescos divulgados pelo rádio a partir da década de 1930, passou a surgir a necessidade de se colocar letra nos frevos, derivando então para uma nova forma, o frevo-canção. Segundo Paulo Cavalcanti, “Torna-se evidente que o frevo com letra, ou seja, o frevo-canção, resultou de fontes espontâneas, sobretudo da necessidade de fazer sobreviver a música pernambucana, na concorrência das melodias carnavalescas. Mesmo porque, nas ruas, o frevo era eminentemente viril, masculino, somente homem aguentando o repuxo e a efervescência do passo, enquanto nos salões, por sua natureza, a dança não podia apresentar a mesma impetuosidade de ação coletiva, espraiante”. Entre os principais divulgadores e sistematizadores do frevo, seja em seu estilo de rua — o frevo-de-rua, seja em seu estilo de salão, estão, no século XX, compositores como Nelson Ferreira, Capiba, Levino Ferreira, os Irmãos Valença, João Santiago, Jonas Cordeiro e outros. Muitos frevos tornaram-se clássicos da MPB, ultrapassando as fronteiras regionais, como foram os casos de “Hino dos Batutas de São José”, de João Santiago, “Evocação nº1”, de Nelson Ferreira, “Foi um sonho que durou 3 dias”, dos Irmãos Valença, “De chapéu de Sol aberto”, “Amanhã eu chego lá”, “É frevo meu bem”, as três composições de Capiba e muitos outros. Os blocos surgiram a partir de 1915: Apois fum!, Bloco das Flores, Batutas da Boa Vista (1920), Madeiras do Rosarinho e Inocentes do Rosarinho (ambos em 1926) e Batutas de São José (1932). Alguns deles criados por Felinto e Raul Moraes. Segundo Valdermar de Oliveira, a origem dos blocos está ligada aos pastoris e também aos grupos que gostavam de fazer serenatas e vinham também às ruas em dias de carnaval (sic). Eram criados então os frevos-de-bloco, sem nenhum metal, conduzidos por instrumentos de pau e corda. Os blocos são influenciados – inclusive com sua dança que em nada lembra o passo do frevo – pelos pastoris. Tornado verdadeira instituição, como definiu Antônio Carlos Nóbrega, seja na “ferveção” do frevo-de-rua, seja nas composições do frevo-canção ou na nostalgia do frevo-de-bloco, o frevo, passou a ser expoente primeiro no carnaval de Recife, tendo seu apogeu, como música radiofônica de meados dos anos 1950 até o fim dos 1960. Nessa época, as gravações desse tipo de música era lançado pela Gravadora Rozenblit, que começara a atura em 1953, (vindo a fechar em meados dos anos 1980). Antes, os frevos eram gravados no Rio de Janeiro. A partir da Rozenblit foi que Capiba e Nelson Ferreira tiveram grande parte de sua obra registrada em vinil, e que o cantor Claudionor Germano se tornou grande ídolo do frevo. Com a falência da Rozenblit, o gênero ficou um tanto esquecidoe. Em 1969, Caetano Veloso gravou “Atrás do Trio Elétrico”. A música suscitou discussões em Recife. Os especialistas questionavam se aquilo era frevo e se cabia ao frevo alguma modernização. A questão foi respondida afirmativamente por diversos compositores como Carlos Fernando e J.Michiles, que compuseram frevos-canção com temática contemporânea e trejeitos pop. A par dos clássicos frevos pernambucanas, o gênero inspirou vários compositores e cantores fora de Pernambuco, como Gilberto Gil, Chico Buarque e Edu Lobo (“Frevo Diabo”); Gilberto Gil “Frevo Rasgado”, parceria com Bruno Ferreira e Caetano Veloso (“Atrás do Trio elétrico”). Muitos estudiosos se debruçam sobre o ritmo, e livros foram publicados sobre o frevo, entre eles, “História Social do Frevo”, do jornalista Rui Duarte e “Do Frevo ao Manguebeat”, lançado em novembro 2000, na cidade de Recife, pelo jornalista e estudioso do assunto José Teles, que saiu pela Editora 34. O lançamento do livro foi destaque na cidade, tendo lançamento na Galeria Joana D’Arc, contando com show de artistas pernambucanos cujo trabalho revitaliza o gênero, como Silvério Pessoa, ex-Cascabulho. Na virada do século XX para XXI, diversos artistas gravaram frevos, revitalizando o gênero, como compositor, cantor e pesquisador Antônio Nóbrega, que intensificou sua atenção para o ritmo, passando a gravar frevos consagrados e a trabalhar na divulgação do ritmo no Brasil e no exterior, alem de outros como Silvério Pessoa e o instrumentista Spoc, que criou a Spoc Frevo Orquestra. Em fevereiro de 2007, tendo em vista a data 9 de fevereiro como o marco do surgimento da designação – frevo- ao ritmo que se tornou ícone da música pernambucana, diversos artistas comemoraram a oficialização do dia nacional do frevo, com eventos em celebração aos 100 anos do ritmo. Nessa ocasião, a gravadora Biscoito Fino lançou a coletânea “100 anos de frevo – É de perder o sapato”, uma coletânea com dois CDs, da qual participaram vários artistas consagrados da MPB, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Alceu Valença, Maria Bethânia, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo, Silvério Pessoa, Geraldo Azevedo e Chico Buarque, entre outros. O álbum contou com a execussão instrumental da Spokfrevo Orquestra, trazendo um repertório que vai do clássico a sucessos inquestionáveis do gênero. As faixas abrangem: “Frevo nº 1” (Antônio Maria) na voz de Maria Bethânia; “Energia” (Lula Queiroz) na voz de Lenine; Valores do Passado (Edgard Moraes) na voz de Maria Rita; “Homem de Meia Noite (Carlos Fernando / Alceu Valença) na voz de Alceu Valença; “De Chapéu de Sol Aberto” (Capiba) na voz de Vanessa da Mata; “Tempo Folião” (Carlos Fernando / Geraldo Azevedo) na voz de Geraldo Azevedo; “Frevo Rasgado” (Gilberto Gil / Bruno Ferreira) na voz de Elba Ramalho; “Me Segura se Não eu Caio” (J. Michiles) na voz de Ney matogrosso; “0 Último Regresso (Getúlio Cavalcanti) na voz de Luiz Melodia; Frevo Diabo (Edu Lobo / Chico Buarque) na voz de Edu Lobo; “Atrás do Trio Elétrico” (Caetano Veloso) na voz de Silvério Pessoa; Frevo nº3 (Antônio Maria) na voz de Geraldo Maia; “Bom Danado” (Luiz Bandeira / Ernani Seve) na voz de Lula Queiroga;” Madeira que Cupim não Rói (Capiba) na voz de Claudionor Germano; “Evocação nº1 (Nelson Ferreira) na voz de Antônio Nóbrega; “Aurora de Amor” (Romero Amorim / Maurício Cavalcanti) na voz de Lígia Miranda, Lula Queiroga, Rosana Simpson e Vanessa Oliveira. Nesse mesmo ano, a Prefeitura de Recife apresentou uma série de projetos e ações para comemorar o Centenário do Frevo. No total, cerca de 25 projetos e ações.Pensando no frevo como uma manifestação cultural importante, o Projeto 100 Anos do Frevo, além de realizar comemorações festivas dá o tratamento ao ritmo nos seus diversos aspectos: preservação e difusão, estudo, apoio aos compositores, intérpretes e às agremiações carnavalescas, visando divulgar e contribuir para a preservação do ritmo como símbolo do Carnaval de Pernambuco. Entre os projetos, que foram programados para durar o ano inteiro: a edição e publicação do livro “Centenário do Frevo”
pela Prefeitura de Recife, com o patrocínio da Petrobrás, contando com a reprodução de textos de Ariano Suassuna, Mário de Andrade , João Cabral de Melo Neto, Jorge de Lima, Tárik de Souza, Chico Anísio, Antônio Maria,entre outros, sobre o frevo; o DVD da Spok Frevo Orquestra e de CDs de J. Michiles, Claudionor Germano, Maestro Ademir Araújo e de Nonô Germano; cerimônia de lançamento do espaço “Paço do frevo”; homenagens a personalidades que contribuiram para a divulgação e preservação do frevo; realização do tradicional “Arrastão do dia do frevo” sob o comando do Antonio Nóbrega; com a apresentação de diversos blocos líricos e orquestras itinerantes e com a apoteose no Marco Zero, num grande show de lançamento do CD Duplo “100 Anos do Frevo- É de perder o sapato”, em parceria com a Biscoito Fino e com participação dos artistas incluídos na gravação; show com a Banda Troça, formada com músicos e cantores que surgiram na virada dos anos 1900/2000 em Pernambuco, interpretando frevos, entre eles, Maciel Salú, Ortinho, Edilza, Pedro Quental, Lula Queiroga, Silvério Pessoa, Roger Man , Canibal, Siba, Fred 04 e Spok. Também como parte dos projetos, a Prefeitura de Recife entregou, no dia 1º de dezembro de 2006, ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), toda a documentação necessária para a inclusão do Frevo como forma de expressão entre os registros de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Um dos projetos realizados pela Prefeitura de Recife foi também “Todos os ritmos musicais homenageando o Frevo” – Shows de cantores e bandas locais, fazendo uma releitura do frevo durante as sextas-feiras de janeiro e março, na Praça do Arsenal, no Bairro do Recife. Cada cantor ou banda apresentou cinco músicas do seu repertório, em ritmo de frevo, e interpretou mais cinco composições tipicamente de frevo. Entre os grupos: Forró: Maciel Salú, Arlindo dos 8 Baixos, Forró Rabecado; MPB com regional: Carolina Pinheiro, Geraldo Maia, Tonino Arcoverde; Jazz: C4 Instrumental, A Roda, Treminhã; Blues: Pedro Quental, Beto Kaiser; Rock ou Pop: Volver, Carfax, Rádio de Outono, Parafusa, Mula Manca e a Triste Figura, Samba: Mônica Feijó e Choro Brasil; Swing ou ‘Mangue’:Bonsucesso Samba Clube e Mombojó, Ortinho, Negroove, Eddie, Brega:Academia da Berlinda, Victor Camarote e banda Arquibancada; Rock’n’Roll:Má Companhia, com participação de Lula Côrtes e Eletrônica com regional: (Eta Carinae). Também, como parte dos projetos, o Concurso de Música Carnavalesca Pernambucana 2006/2007 teve a maior premiação da sua história. Os quinze compositores vencedores, sendo três colocações para cada categoria (frevo-canção, frevo de rua, frevo de bloco, maracatu e caboclinho), além de prêmio em dinheiro, tiveram garantida a participação de um CD, com direção musical do Mestro Nenéu Liberalquino e participação da Orquestra de Frevo da Banda Sinfônica Cidade do Recife, a ser lançado em janeiro de 2007. A prensagem ocorreu durante os meses de comemorações do Centenário do Frevo. Veja-se a lista dos vencedores: Frevo -de-rua: 1. Recifoleando – João Roberto de Santana Alves.
2. Esporão de Galo- Rannieri Ricardo F. de Oliveira. 3. Rasgando a Seda – José Vasconcelos de Oliveira (Zé da Flauta). Frevo-canção:1. Moleque Centenário – José Michillis; 2. No Pino do Meio Dia – Roberto Cruz; 3. Majestade do Século – Júnior José Vieira; Frevo-de-bloco: 1. Inocentes – Elias Carvalho de Assunção; 2. Alegria Centenária – Getúlio Cavalcanti; 3. Que Felicidade! – Nelson Luiz Gusmão. Ainda como parte das comemorativas, Prefeitura do Recife realizou Seminário aberto ao público, com o objetivo de promover discussões e provocar na sociedade civil o sentimento de pertença do frevo, como elemento significativo na formação das nossas identidades culturais e também o curso História do Frevo aberto ao público, sobre a origem, dança e música do Frevo, alem de concurso de ensaios sobre o frevo, com premiação para os dez melhores trabalhos e recuperação e digitalização de pelo menos 100 (cem) partituras de frevo de compositores pernambucanos (algumas destas partituras estão arquivadas no MAMAM), disponibilizando-as para download gratuito através do site da Prefeitura, acrescidas da criação de selo comemorativo pela empresa de Correios e Telégrafos, em parceria com a Prefeitura do Recife, alusivo aos 100 Anos do Frevo, para circulação nacional e comercialização convencional nas agências de todo o país. Nesse ano, a Mangueira, escola de samba do grupo especial do Rio de Janeiro, escolheu o Frevo com o tema de seu enredo para o desfile de 2008. Em 2008, foi publicado pela Editora Timbro, o livro “Frevo-100 Anos de Folia” de autoria de Camilo Cassoli (Paulista), Luiz Augusto Falcão (Alagoano) e Rodrigo Aguiar (gaúcho). O livro, de autores não pernambucanos, registra a paixão pelo frevo espalhada por todo o Brasil e não tendo preocupação acadêmica, segundo declaração dos autores, apresenta uma coletânea de imagens sobre o ritmo, como peças dos fotógrafos franceses Pierre Verger e Marcel Gautherot datadas das décadas de 1950 (Verger) e 1960 (Gautherot), sobre a cena musical pernambucana, além de reproduções de Portinari, Vicente do Rego Monteiro, Heitor dos Prazeres, Lula Cardoso Ayres, entre outros, com destaque para uma imagem pouco conhecida de Carmem Miranda que, no lugar do famoso turbante de frutas, exibe uma cascata de sombrinhas coloridas na cabeça, em franca homenagem ao frevo. Além de imagens, o livro registra textos de diversos autores como Mário de Andrade, Clarice Lispector, Antônio Maria, Gilberto Freyre, José Lins do Rego e Caetano Veloso e também comentários e especialistas como Rita de Cássia de Araújo, Valdemar de Oliveira e Leonardo Dantas Silva. Em acrscimo, o livro retoma a polêmica sobre a marchinha “O teu cabelo não nega”, que o carioca Lamartine Babo teria adaptado do frevo “Mulata” dos irmãos pernambucanos Raul e João Valença, sem dar crédito inicialmente.