
A história da Música Popular Brasileira foi marcada pela presença de inúmeros festivais, promovidos por emissoras de rádio, redes de televisão, teatros e movimentos estudantis. Esses festivais cumpriram (e ainda o fazem na atualidade) a função de revelar intérpretes, compositores e instrumentistas ao grande público.
Os mais antigos festivais foram os de música para o carnaval nos anos 1930, patrocinados pela Prefeitura do Rio de Janeiro ou por empresas comerciais, jornais e revistas. Somente no final dos anos 1950, os festivais de música popular para o chamado período “meio de ano” começaram a aparecer.
A segunda metade da década de 1960, em especial, foi marcada pela consagração de artistas que passaram a figurar entre os grandes nomes da MPB, tais como Elis Regina, Edu Lobo, Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento e Gilberto Gil, entre tantos outros.
O Festival Nacional de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Excelsior de São Paulo, teve sua primeira edição em 1965 e sua segunda edição em 1966, e apresentou como respectivas vencedoras as canções “Arrastão” (Edu Lobo e Vinicius de Moraes), interpretada por Elis Regina, e “Porta-estandarte” (Geraldo Vandré e Fernando Lona), interpretada por Airto Moreira e Tuca.
O Festival da Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record de São Paulo, teve quatro edições, em 1966, 1967, 1968 e 1969, com as seguintes vencedoras:
1966: “A banda” (Chico Buarque) empatada com “Disparada” (Téo de Barros e Geraldo Vandré), a primeira interpretada por Nara Leão e a segunda por Jair Rodrigues;
1967: “Ponteio” (Edu Lobo e Capinam), interpretada por Edu Lobo e Marília Medalha. Vale ainda ressaltar que, nessa edição, a segunda, terceira e quarta colocações foram respectivamente para as canções “Domingo no parque” (Gilberto Gil), interpretada por Gil e Os Mutantes, “Roda viva” (Chico Buarque), interpretada pelo autor e pelo MPB-4, e “Alegria, alegria” (Caetano Veloso), interpretada pelo compositor e pelo grupo argentino Beat Boys;
1968: “São São Paulo meu amor” (Tom Zé), interpretada por Tom Zé, Canto 4 e Os Brasões, na votação do júri especial, e “Benvinda” (Chico Buarque), interpretada por Chico Buarque e MPB 4, na votação do júri popular;
1969: “Sinal fechado” (Paulinho da Viola), interpretada pelo autor.
O Festival Internacional da Canção (FIC), em sua fase nacional, teve sua primeira edição realizada no Maracanãzinho, Rio de Janeiro, e foi inicialmente promovido pela TV-Rio (I FIC) e em seguida pela TV Globo (demais edições). No total, foram sete edições realizadas entre os anos de 1966 e 1972. Canções como “Sabiá” (Chico Buarque e Tom Jobim) e “Fio maravilha” (Jorge Ben, hoje Jorge Benjor), premiadas com o primeiro lugar, passaram a fazer parte dos clássicos da MPB. O II FIC revelou ainda Milton Nascimento como Melhor Intérprete, com “Travessia”, sua composição em parceria com Fernando Brant, que recebeu a segunda colocação. Outro fato importante de ser lembrado foi a antológica participação de Caetano Veloso no III FIC, com sua composição “É proibido proibir”. A música foi vaiada pela platéia levando Caetano a discursar ao público: “Vocês não estão entendendo nada.” A canção foi desclassificada. Segundo o historiador Jairo Severiano, a canção “Andança”, de Danilo Caymmi, Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, foi uma das mais aplaudidas pelo público nessa terceira edição do FIC. A música, interpretada por Beth Carvalho e o conjunto Golden Boys, obteve a terceira colocação. Nesse dia, o público vaiou a grande vencedora, “Sabiá”, em favor de “Caminhando (Pra não dizer que não falei de flores)”, de Geraldo Vandré, que acabou levando a segunda colocação, interpretada pelo autor e o Quarteto Livre (nas eliminatórias, Vandré apresentou-se sozinho ao violão). Para Jairo Severiano “o VII FIC (realizado em 1972) foi o último do ciclo dos festivais, encerrando assim uma fase auspiciosa da MPB na televisão, com grande proveito para ambas as partes” (“A canção no tempo” vol.2, p.174, Editora 34).
A partir de 1967, em plena época dos festivais de MPB transmitidos pelas redes de televisão, o Museu da Imagem e do Som (MIS) fez voltar os concursos para escolher as melhores músicas produzidas para o carnaval. O primeiro, intitulado I Concurso de Música para o Carnaval, foi presidido por Ricardo Cravo Albin, então diretor do MIS, e dele saiu vencedor “Máscara negra” (Zé Keti e P. Filho), em 1967. Houve apenas mais duas edições, transmitidas do Maracanãzinho, Rio de Janeiro.
O ano de 1968 ainda foi marcado pelo I Festival Universitário de Música Popular Brasileira, promovido pela TV Tupi, que teve entre os candidatos o jovem estudante do quarto ano de química da UFRJ, Ivan Guimarães Lins, que concorreu com sua parceria com Waldemar Correia dos Santos “Até o amanhecer”, interpretada por ninguém menos que Cyro Monteiro. Esse festival lançaria também nomes como Aldir Blanc e Sílvio da Silva Júnior, entre muitos outros.
Ainda em 1968 foi realizada a I Bienal do Samba, promovida pela TV Record de São Paulo, que teve como primeira colocada a composição “Lapinha” (Baden Powell e Paulo César Pinheiro), defendida por Elis Regina. Caetano Veloso foi impedido de participar dessa Bienal por utilizar guitarras elétricas para acompanhar sua composição. Nessa primeira Bienal do Samba, foram desclassificados pioneiros como Pixinguinha e Donga, além de compositores do porte de Adoniran Barbosa, Herivelto Martins e muitos outros.
Festivais de âmbito regional também acontecem com freqüência, como o I Festival Nordestino da Música Popular, promovido em 1969 pelos Diários e Emissoras Associados do Nordeste, e o Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul, que teve sua primeira edição em 1971. Ambos os festivais foram registrados em disco.
Em 1975, foi realizado o Festival da Nova Música Brasileira – Abertura, que trouxe entre as 12 finalistas a canção “Fato consumado”, composta e interpretada pelo então novato Djavan.
Em 1979, a TV Tupi realizou o Festival 79 de Música Popular, que projetou artistas como Oswaldo Montenegro, que teve sua composição “Bandolins” colocada em terceiro lugar. Nesse mesmo ano, o programa “Flávio Cavalcanti” promoveu o 1º Festival dos Estudantes, conferindo o primeiro lugar à canção “Eu demônio, eu poeta”, de Fátima de Figueiredo, Sara Benchimol (ambas alunas da Academia de Balett Nino Giovanetti) e Ricardo Marques (aluno da Academia Militar de Agulhas Negras). Quem interpretou a canção foi Maria Odete e o festival foi registrado em LP lançado pela WEA (o que é comum nos festivais de uma forma geral).
A TV Globo promoveu na década de 1980 o MPB-80, conferindo o primeiro lugar à canção “Agonia” (Mongol), interpretada por Oswaldo Montenegro, que recebeu o prêmio de Melhor Intérprete na quarta eliminatória. Nesse mesmo festival, Eduardo Dusek ganhou projeção nacional quando defendeu sua composição “Nostradamus”. No ano seguinte, o MPB-81 conferiu a primeira colocação à canção “Purpurina” (Jerônimo Jardim), interpretada por Lucinha Lins. Esse resultado provocou vaias da platéia, que tinha como favorita “Planeta água” (Guilherme Arantes). Em 1982, foi realizado o MPB-82, no qual Eduardo Dusek foi desclassificado ao apresentar a música “Barrados no baile”, de sua autoria, no lugar da música que havia inscrito como concorrente, “Valdirene, a paranormal”, também de sua autoria.
Em 1985, também pela TV Globo, foi realizado o “Festivais dos Festivais”, evento que revelou a cantora Leila Pinheiro, intérprete da canção “Verde” (Eduardo Gudin e Costa Netto), que recebeu a terceira colocação. O primeiro lugar ficou com “Escrito nas estrelas” (Arnaldo Black e Carlos Rennó), defendida por Tetê Espíndola, que pela primeira vez interpretava, em público, uma canção de amor.
Na década de 1990, festivais de âmbito nacional foram promovidos por empresas privadas como o “FestValda” e o “Prêmio Visa”, entre outros. Porém, esses festivais não tiveram a mesma repercussão dos da década de 1960 e início da de 1970.
Em 2000, a TV Globo promoveu o Festival da Música Brasileira, no qual nomes conhecidos como Toninho Horta e Zé Renato figuravam ao lado de desconhecidos, concorrendo pelo prêmio de melhor canção.
Com o advento da internet, muitos concursos, mostras e premiações passaram a ser realizados “on line”, como o Festival Nova Música, promovido pelo site http://www.novamusica.com.br.
BIBLIOGRAFIA CRÍTICA:
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.
COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.