
Cantora. Atriz. Compositora. Cineasta. Escritora.
Sua mãe era a cantora Nícia Silva de Abreu, que estava radicada na Europa quando de seu nascimento. Veio ao Brasil com apenas quatro anos, para ser batizada no Rio de Janeiro. Em 1914, com os contratos profissionais escasseando devido à Primeira Guerra Mundial, sua mãe decidiu fixar-se definitivamente no Rio, onde dedicou-se ao ensino do canto. Começou a estudar com a própria mãe. Sobressaiu como soprano-ligeiro. Em 1933 casou-se com o já famoso tenor Vicente Celestino, de quem ficou viúva em 1968.
Pioneira como roteirista, atriz e diretora de cinema no Brasil. Começou sua carreira cantando em festas de caridade e em concertos de ópera. Em 1920, participou, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, das seguintes óperas: “Os Contos de Hoffmann”, de Offenbach, “O Barbeiro de Sevilha”, de Rossini e “Lakmé”, de Delibes. Foi nesta época que conheceu o futuro marido, Vicente Celestino.
Em 1930 gravou o primeiro disco pela Odeon interpretando as toadas “A baiana tem cocada”, de Ari Kerner e V. de Castro e “Tenha medo do bicho”, de José Luiz da Costa e Osvaldo Santiago. No mesmo ano gravou em dueto com Francisco Alves a valsa canção “Se estou sonhando”, de J. Burke, com versão de Osvaldo Santiago. Começou no teatro musicado, em 1933 participando da opereta “A canção brasileira”, de Luís Iglésias, Miguel Santos e Henrique Vogeler, montada no Teatro Recreio, no Rio de Janeiro. Cantou ao lado de Vicente Celestino, com quem casou cinco meses após a estréia da peça, tendo sido o casamento realizado no próprio palco, com enorme repercussão popular. A partir de então, passou a trabalhar em parceria com o marido, compondo, escrevendo para o teatro musicado e o cinema. Ainda em 1933, escreveu um dos atos da opereta “A princesa maltrapilha”, montada ainda no mesmo ano.
Em 1935, estrelou o filme de Oduvaldo Viana, “Bonequinha de seda”, inspirado na valsa de mesmo nome, de sua autoria e grande sucesso na voz de Vicente Celetino. Também no mesmo ano, compôs a opereta “Aleluia”, levada à cena quatro anos depois no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro. Também em 1935, gravou com Vicente Celestino a toada canção “ouvindo-te”, de Vicente Celestino. Em 1936 gravou a valsa “Bonequinha de luxo”, composta em parceria com Narbal Fontes e o fox trote “I love you”, de L. Evans, com versão sua e de Francisco Araujo.
Em 1937, estreou como diretora de cinema, com o filme “Alegria”, que não obteve grande repercussão. Em 1938 gravou com Vicente Celestino, de autoria da dupla, o tango “Irapuru”. Em 1942, foi parceira, de Ary Barroso colocando letra na canção “Mestiça”. Fez também a letra de “Ouvindo-te”, sucesso de Vicente Celestino. Durante este período excursionou pelo Brasil, junto de seu marido Vicente atuando em uma companhia de operetas.
Em 1946, escreveu o roteiro e dirigiu o filme “O Ébrio”, inspirado em canção do mesmo nome, grande sucesso na voz de Celestino, em 1937. O filme, que arrebatou o público e tornou-se recorde de bilheteria, trazia o próprio Vicente Celestino no papel-título. Em 1948 escreveu o roteiro e dirigiu o filme “Pinguinho de gente”. Em 1950, compôs a opereta “A patativa”, junto com Vicente Celestino e Ercole Varetto e escreveu, com Luís Iglésias, o libreto de “Olhos de veludo”, com música de Vicente Celestino.
Em 1951, lançou no cinema outro filme inspirado em música de sucesso composta e gravada pelo marido: “Coração materno”. O filme obteve, assim como “O Ébrio”, grande sucesso. Escreveu também muitos livros infantis e romances, além de uma biografia de seu marido: “A Vida de Vicente Celestino”. Em 1958, o jornal O Globo publicou a seguinte nota: “Gilda de Abreu e Vicente Celestino, que se conheceram, noivaram e casaram durante as apresentações da “A canção brasileira”, no palco do Teatro Recreio, vão festejar as suas bodas de prata numa estação de rádio, a Nacional, no próximo dia 23 de setembro”. Poucos dias depois, o mesmo jornal destacava a festa realizada pelas Bodas de Prata do casal registrando a seguinte notícia: “Abrilhantada pelos alunos da professora Nícia Silva, da Escola Nacional de Música e mãe de Gilda de Abreu, e pelo coro orfeônico do Corpo de Bombeiros, realizou-se ontem na Igreja da Candelária, a missa em ação de graças pelas bodas de prata do casal Vicente Celestino. Oficiou-a dom Hélder Câmara, que, numa prática cheia de afeto e carinho, disse que, sendo Deus um grande artista, é, sem dúvida, o maior empresário de Vicente e Gilda. Entre os presentes anotamos os nomes de Paschoal Carlos Magno, deputados Rubens Berardo e Carvalho Neto, e Henriete Morineau”, conclouiu o registro do acontecimento o jornal O Globo. Em 1959, no LP “Minha serenata”, lançado por Vicente Celestino pela RCA Victor, participou da faixa “Valsa da Viúva Alegre”, de Vicente Celestino e Franz Lehar. Em 1960, sua canção “Aleluia”, com Francisco Mignone, foi registrada por ela e o marido, Vicente Celestino, no LP “Alma e Coração”, lançado por Vicente Celestino na gravadora RCA Victor. Em 1963 lançou pela Mocambo o bolero mambo “Desespero”, de William Duba e Edson Menezes e o samba “Mais do que eu”, de Vera Falcão e Nelson Ferreira. Publicou também o livro “Minha vida com Vicente Celestino”.
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