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Nome Artístico
Elizeth Cardoso
Nome verdadeiro
Elizeth Cardoso Valdez
Data de nascimento
16/7/1920
Local de nascimento
Rio de Janeiro, RJ
Data de morte
7/5/1990
Local de morte
Rio de Janeiro, RJ
Dados biográficos

Cantora.

Nasceu na Rua Ceará nº 5, na Estação de São Francisco Xavier, próxima ao morro de Mangueira. Seu pai, Jaime Moreira Cardoso, era seresteiro e tocava violão. Sua mãe, Maria José Pilar, gostava de cantar. A família em geral, principalmente seu Tio Pedro, participava da vida musical da cidade, freqüentando as sociedades dançantes da época, convivendo com grandes músicos em reuniões na casa de Tia Ciata. De uma família de 6 irmãos, além dela, Jaimira, Enedina, Nininha, Diva e Antônio, costumava organizar teatrinhos para a criançada, onde podia cantar o repertório de Vicente Celestino. Nessa época, morou no bairro carioca de Jacarepaguá. Ainda menina, costumava freqüentar a famosa casa de Tia Ciata.

Com apenas 5 anos, subiu no palco da antológica Sociedade Familiar Dançante Kananga do Japão e pediu para o pianista acompanhá-la na marchinha “Zizinha”. Em 1930, aos dez anos, começou a trabalhar para ajudar a família. Foi balconista, peleteira, saponeteira e cabeleireira. No aniversário de seus 16 anos, a família se reuniu na casa de uma tia da adolescente, a Tia Ivone. Nessa época, sua família morava numa casa de cômodos na Rua do rezende 87, no centro do Rio, onde morava a tia Ivone com seu marido. Para a festa, foram convidados vários amigos músicos: Pixinguinha, Dilermando Reis, Jacob do Bandolim, na época com apenas 18 anos, entre outros. Tio Pedro, o marido de Ivone falou então para Jacob: “Olha aí, Jacob, a minha sobrinha aí, a Elizeth, sabe cantar algumas coisas. Que tal vocês ouvirem e organizarem um acompanhamento para ela?” Meio sem graça, a jovem Elizeth encantou a todos com sua voz. Jacob então a convidou para um teste na Rádio Guanabara, que foi o trampolim para sua carreira.

Declarada namoradeira, em depoimento ao MIS, contou suas proezas amorosas. Mesmo tendo a vigilância constante de Seu Jaime, pai extremamente zeloso com a honra de sua filha, namorou muito, mesmo contra a sua vontade, inclusive o famoso craque de futebol Leônidas da Silva. Por volta de 1938, adotou uma menina, Tereza Carmela, a quem criou como filha por toda a vida. Em 1939, casou-se com Ari Valdez, o Tatuzinho, comediante e músico cavaquinista, com quem teve seu único filho legítimo, Paulo César Valdez. O casamento durou pouco, pois Tatuzinho, segundo ela própria, tinha problemas mentais. Era uma ótima pessoa, mas tinha “um parafuso a menos”, segundo o amigo e violonista Luís Bittencourt.

Entre seus grandes romances destacam-se os nomes do maestro Dedé, Evaldo Rui e Paulo Rosa. Costumava fazer suas viagens de trem, pois tinha medo de avião. Frequentadora assídua do Bola Preta, chegou a ser, por vários anos, madrinha do famoso clube carnavalesco do centro da cidade do Rio.

Em 1954, sofreu duro golpe: Evaldo Rui suicidou-se. A imprensa explorou o envolvimento amoroso dela com o compositor, apesar dos familiares de Evaldo insistirem que ela nada teve a ver com o fim inusitado do namorado. No final de 1954, sofreu intervenção cirúrgica, por causa de uma crise de apendicite aguda. Em 1966, viveu uma polêmica com o cantor Cyro Monteiro, que, depois de gravar um LP a seu lado, programou alguns shows que ela não aceitou, por causa dos baixos cachês. O cantor ficou mais magoado quando, na capa do LP, viu que sua foto era menor que a dela. Esse incidente ainda atiçou a rivalidade entre ela e Elis, iniciada com sua participação no programa Bossaudade da Record. Elis acabou recebendo um carão da cantora, quando interveio em favor de Cyro Monteiro: “Se você não quer me respeitar como cantora, não precisa respeitar. Mas exijo que me respeite como mulher. Tenho idade para ser sua mãe.”

Em 1969, por causa do sepultamento de sua mãe, não pode receber das mãos do então governador Negrão de Lima, o prêmio Estácio de Sá, em cerimônia na Sala Cecília Meirelles. Recebeu a estatueta oito dias depois, num jantar supervisionado pelo diretor R. C. Albin e promovido pelo MIS em uma churrascaria carioca. Nessa ocasião, foi dado o seu nome ao estúdio do MIS, onde se gravavam os depoimentos para a posteridade. Em 1987, quando estava em uma excursão no Japão, os médicos japoneses diagnosticaram um câncer no estômago, que obrigou a cantora a uma cirurgia. Apesar disso, a doença ainda a acompanharia durante os três últimos anos de vida. A cantora faleceu às 12h28 do dia 7 de maio de 1990, na Clínica Bambina, no bairro carioca de Botafogo. Foi velada no Teatro João Caetano, onde compareceram milhares de fãs. Foi sepultada, ao som de um surdo portelense, no Cemitério da Ordem do Carmo, no bairro carioca do Caju.

Dados artísticos

Iniciou na Rádio Guanabara, por intermédio de Jacob do Bandolim, fazendo seu teste no “Programa suburbano” ao lado de Aracy de Almeida, Vicente Celestino, Moreira da Silva, Noel Rosa e Marília Batista. Na semana seguinte foi contratada para se apresentar no mesmo “Programa Suburbano”, com um cachê de 10 mil réis por programa, acompanhada pelo próprio Jacob do Bandolim, com quem manteve uma amizade de mais de 60 anos. Transferiu-se em seguida para a Rádio Educadora, onde atuou no programa “Samba e outras coisas”, apresentado pelos irmãos Marília e Henrique Batista. Depois da Educadora passou a atuar na Rádio Transmissora, participando do programa “Rádio Novidades” cantando pela primeira vez acompanhada por uma orquestra, a do maestro Fon-Fon.  Foi em seguida para a Rádio Mayrink Veiga, onde trabalhou ao lado do jovem Dorival Caymmi. A partir de 1939, passou a fazer shows em circos, clubes e cinemas. Foi nesta época que criou um quadro com Grande Otelo, que tornou-se sucesso por mais de 10 anos: “Boneca de piche”, nome de uma composição de Ary Barroso e Luís Iglésias. Seu talento como cantora e passista, contribuiu para que ela recebesse um convite para atuar na Companhia de Teatro de Pedro Gonçalves e De Chocolat. Foi lá que conheceu o gaúchoTatuzinho (Ari Valdez), com quem se casou. O casamento durou pouco tempo, apesar de Elizeth estar grávida de seu primeiro e único filho. Depois de separada, passou a atuar como taxi-girl” no famoso Dancing Avenida. A gravidez, porém, obrigou-a a parar de trabalhar por uns tempos. Foram tempos difíceis, sem recursos financeiros que lhe dessem sustento. Logo que pode voltar, aceitou convite de Grande Otelo para atuar no Circo Olimecha. Em 1945, foi para São Paulo, onde trabalhou no Salão Verde do Edifício Martinelli e no programa “Pescando Humoristas”, da Rádio Cruzeiro do Sul. De volta ao Rio de Janeiro em 1946, trabalhou como “crooner” da Orquestra de Dedé, no Dancing Avenida. Em 1948, foi contratada pela Rádio Mauá para atuar no programa “Alvorada da Alegria”. Logo em seguida, transferiu-se para a Rádio Guanabara.

Por intermédio de Ataulfo Alves, gravou seu primeiro disco em 1949, pela Star cantando com acompanhamento da orquestra de Acir Alves os sambas “Braços vazios”, de Acir Alves e Edgard G. Alves e “Mensageiro da saudade”, de Ataulfo Alves e José Batista. O primeiro sucesso veio com o segundo disco, lançado pela Todamérica, gravadora na qual ingressou em 1950, que trazia os sambas “Canção de amor”, de Chocolate e Elano de Paula e “Complexo”, de Wilson Batista. Com o êxito de “Canção de amor”, recebeu convite para trabalhar na Rádio Tupi carioca. Em 1951, participou do primeiro programa da recém inaugurada TV Tupi do Rio de Janeiro, cantando, por sugestão de Almirante, o sucesso “Canção de amor”. No mesmo ano, fez sua estréia no cinema, cantando a mesma música no filme “Coração materno”, de Gilda de Abreu. Nesse ano, gravou com acompanhamento de Cópia e sua orquestra os sambas “Dá-me tuas mãos”, de Erasmo Silva e Jorge de Castro e “O amor é uma canção”, de José Maria de Abreu e Jair Amorim e com acompanhamento da Orquestra Melódica os sambas “Se eu pudesse”, de José Maria de Abreu e Jair Amorim; “Quem diria?”, de Alberto Ribeiro e José Maria de Abreu e “Falsos beijos”, de Oscar Bellandi e Cícero Nunes e o bolero “É sempre assim”, de Luiz Antônio e Jota Jr.

Gravou em 1952, os sambas “Maus tratos”, de Bororó e Dino Ferreira; “Nosso amor, nossa comédia”, de Erasmo Silva e Adolar Costa; “Eu não posso dizer”, de Mário Lago; “Teu ciúme”, de Lourival Faissal e Chocolate; “Caixa postal zero-zero”, de Oscar Bellandi e Luiz de França e o bolero “Amor, amor”, de Pedro Caetano e Portinho. Nesse ano, atuou no filme “O Rei do samba”, de Luís de Barros. Ainda nesse ano, atuou no filme “É Fogo na Roupa”, com direção de Watson Macedo, no qual interpretou o samba-canção “Ingratidão”, de Almanir Greco e Rutinaldo. Em 1953, lançou com sucesso o samba “Alguém como tu”, de José Maria de Abreu e Jair Amorim. Gravou também o beguine “Nem resta a saudade”, de Norival Reis e Irani de Oliveira; o bolero “Fantasia”, de Naja, e os sambas “Graças a Deus”, de Carioca e “Amor que morreu”, de Nelson Cavaquinho, Roldão Lima e Gilberto Teixeira. Também em 1953, participou do show “Feitiço da Vila”, na boate Casablanca, no Rio de Janeiro. O show, de grande sucesso, foi apresentado também, no ano seguinte, na boate Esplanada, em São Paulo. Em 1954, assinou contrato com a Rádio e TV Record paulistas, onde fez programas exclusivos. No mesmo ano, transferiu-se da Rádio Tupi para a TV Rio. Depois da morte de Evaldo Rui, excursionou ao Uruguai, apresentando-se na Rádio Carve e numa boate local. De volta ao Brasil, voltou a atuar na Rádio Record e participou da histórica gravação da “Sinfonia do Rio de Janeiro”, de Tom Jobim e Billy Blanco, com arranjos de Radamés Gnattali, ao lado de Dick Farney, Emilinha Borba e Gilberto Milfont. Nessa época, participou do jantar em homenagem a Carmen Miranda, em visita ao Brasil. O produtor Aloysio de Oliveira declarou que Carmen Miranda ao voltar para os EUA disse: “Conheci no Rio de Janeiro uma mulata que canta pra chuchu. Chama-se Elizeth Cardoso”. Ainda em 1954, realizou um show de muito sucesso com Sílvio Caldas, na boate Oásis de São Paulo. Ainda nesse ano, gravou os sambas “Pra que voltar”, de João Moreira da Silva; “Ao Deus dará”, de Haroldo Barbosa e Bidu Reis; “A moça do retrato”, de Wilton Franco e Jorge Roberto e “Tormento”, de Carioca e Jeanete Adib. Lançou seu primeiro LP em 1955 pela Continental com o título de “Canção à meia-luz” interpretando oito músicas: “Canção da volta”, de Ismael Netto e Antônio Maria; “Nunca mais”, de Dorival Caymmi; “Memórias”, de Hianto de Almeida e Evaldo Rui; “Só você…nada mais”, de Paulo Soledade; “Linda flor”, de Henrique Vogeler, Marques Porto e Luiz Peixoto; “Se o tempo entendesse”, de Mário Rossi e Marino Pinto; “Caminha”, de Evaldo Rui e Rolando Candiano e “Pra que me iludir?”, de Norival Reis e Radamés Gnatalli. Ainda nesse ano, lançou um último disco pela Todamérica em 78 rpm com os sambas “Subúrbio”, de Luiz Antônio e “Não quero você”, de Jorge Duarte e Carlos Santana Lima. Também em 1955, foi capa da “Revista da música popular” merecendo na ocasião o seguinte comentário de Fernando Lobo: “Outra estrela que vence pela calma e pela suavidade de seus movimentos. Nada de faixas, nada de coroas, nada de calças em última moda e blusas com coqueiros do Havaí. Elizeth Cardoso é uma cantora de classe e sabe melhor de sua arte que muitas que por aí andam”.

Em 1956, trabalhou no filme “Carnaval em lá maior”, de Adhemar Gonzaga. Foi contratada pela Copacabana e lançou o LP “Fim de noite” no qual interpretou entre outras “Culpe-me”, de Herivelto Martins; “Segredo”, de Marino Pinto e Herivelto Martins; “Último desejo”, de Noel Rosa; “Negro telefone”, de Herivelto Martins e David Nasser; “No rancho fundo”, de Ary Barroso e Lamartine Babo; “Prece ao vento”, de Fernando Luiz, Gilvan Chaves e Alcyr Pires Vermelho e “O amor é fado”, de Mirabeau e Don Madrid. No ano seguinte, gravou o LP “Noturno”, faixa título da dupla Evaldo Rui e Custódio Mesquita que compôs também “Promessa”. Constaram ainda desse disco músicas como “Risque” e “Na baixa do sapateiro”, de Ary Barroso; “Olhos verdes”, de Vicente Paiva; “Molambo”, de Jayme Florence e Augusto Mesquita e “Se todos fossem iguais a você”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Também em 1957, homenageou os compositores Fernando Lobo e Herivelto Martins com os discos “Música e poesia de Fernando Lobo” e “Um compositor em dois tempos – Jubileu de prata de Herivelto Martins”. Ainda nesse ano, foi escolhida pela revista Radiolândia como a “melhor cantora do ano” segundo votação realizada por um júri de 17 jornalistas e publicitários. Em 1958, gravou dois LPs pela gravadora Copacabana, “Naturalmente” e “Retrato da noite”. No primeiro, cantou “Fui procurar distração”, de Tito Madi; “É luxo só”, de Ary Barroso e Luiz Peixoto; “Suas mãos”, de Pernambuco e Antônio Maria; “Onde estará meu amor”, de Lina Pesce; “Na cadência do samba”, de Luiz Bandeira; “Pedestal”, de Marília Batista; “Jogada no mundo”, de Ary Barroso e “E nada mais”, de César Siqueira e Maria Rita. No LP “Retrato da noite” traçou um perfil de canções usualmente executadas em shows nas noites cariocas da época como “Madame Fulano de Tal (Aliança), de Dias da Cruz e Cyro Monteiro; “E a chuva parou”, de Ribamar, Esdras Pereira da Silva e Victor Freire; “Bom dia, tristeza”, de Adoniran Barbosa e Vinícius de Moraes; “Prece”, de Marino Pinto e Vadico; “Sou igual a você”, de Nazareno de Brito e Alcyr Pires Vermelho e “Conselho inútil”, de Miguel Gustavo. Ainda no mesmo ano, lançou pelo selo Festa o antológico LP “Canção do amor demais”, com músicas de Tom Jobim e Vinícius de Morais, considerado o marco da bossa-nova, por causa de sua interpretação e do acompanhamento de João Gilberto ao violão em “Chega de saudade” e “Outra vez”. Fazem parte também desse disco “Caminho de pedra”; “Janelas abertas”; “Eu não existo sem você”; “Estrada branca” e “Canção do amor demais”. Também em 1958, participou dos filmes “Na corda bamba”, de Eurides Ramos; “Com a mão na massa”, de Luís de Barros e “Pista de grama”, de Haroldo Costa.

Em 1959, gravou “Manhã de carnaval” e “Samba de Orfeu”, para o filme “Orfeu do Carnaval”, de Marcel Camus. Nesse ano, lançou pela Copacabana o LP “Magnífica”, apenas com composições de Marino Pinto com diferentes parceiros como: “Música do céu” e “Que dizer?”, com Aluísio Pinto; “Cidade do interior” e “Herança”, com Mário Rossi; “Só”, com Vadico; “Madrugada”, com Candinho e “Velhos tempos”, com Carlos Lyra. No mesmo ano, atuou no filme “Garota enxuta”, direção de Darcy Evangelista. Também em 1959, fez a a bertura do show do cantor norte americano Nat King Cole, no Maracanãzinho, inteiramente lotado, segundo notícias da época. Em 1960, estreou o programa “Nossa Elizeth”, na TV Continental do Rio de Janeiro, ao lado do violonista Baden Powell. Ainda em 1960, foi contratada pela Rádio Nacional, onde participou do programa “Cantando pelos Caminhos”. Gravou, no mesmo ano, o LP “A Meiga Elizeth”, um dos mais vendidos de sua carreira, no qual interpretou canções como “Vai querer”, de Fernando Lobo e Hianto de Almeida; “Projeção”, de Luiz Reis e Haroldo Barbosa; “A noite do meu bem”, de Dolores Duran; “Tome continha de você”, de Edson Borges e Dolores Duran; “Canção de nós dois”, de Vinícius de Moraes e “Notícia de jornal”, de Luiz Reis e Haroldo Barbosa. Também desse ano é o LP  “Sax e voz”, junto com Moacir Silva, disco no qual interpretou “Quem sou eu?”, de Dias da Cruz e Cyro Monteiro; “Achados e perdidos”, de Miguel Gustavo; “O amor e a rosa” e “A canção dos seus olhos”, de Pernambuco e Antônio Maria; “Mulata assanhada”, de Ataulfo Alves, um de seus grandes sucessos e “É fácil dizer adeus” e “Onde andará minha saudade?”, de Tito Madi.

Em 1961, gravou com o mesmo Moacyr Silva o LP “Sax e voz nº 2” cantando “Percentagem de amor”, de Dunga; “Vem hoje” e  “Os teus encantos”, de Antônio Maria e Moacyr Silva; “Samba triste”, de Baden Powell e Billy Blanco; “Palhaçada”, de Luiz Reis e Haroldo Barbosa e “Guacira”, de Joracy Camargo e Hekel Tavares. No mesmo ano, recebeu da revistaRadiolândia o troféu Disco de Ouro, escolhida como a cantora do ano. O prêmio foi recebido em cerimônia ocorrida no auditório do jornal O Globo. Em 1962, lançou “A meiga Elizeth volume 2”, com destaque para “Revelação”, de Marino Pinto e Pernambuco; “Ninguém sabe de nós”, de Antônio Maria e Moacyr Silva; “Meu amanhã”, de Roberto Menescal e Aloysio de Oliveira; “Vagalumeando”, de Paulo Roberto e “Esmola”, de João Roberto Kelly.

Gravou em 1963 o LP “Elizeth interpreta Vinícius”, que teve grande repercussão e no qual estavam incluídas “Pela luz dos olhos teus”; “Lembre-se”, com Moacyr Santos; “Valsa sem nome”, com Baden Powell; “Sempre a esperar”, com Vadico e “Ai de quem ama”, com Nilo Queiroz. Nesse ano, lançou mais três LPs: “Grandes momentos com Elizeth Cardoso”; “A meiga Elizeth nº 3” e “A meiga Elizeth nº 4”, discos nos quais cantou canções como “Olhar só por olhar”, de Tito Madi; “Deixa a nega gingar”, de Luiz Cláudio; “Rimas de ninguém”, de Vera Brasil; “Festa de nós dois”, de Ribamar; “Lado bonito de um mal”, de Billy Blanco; “Existe alguém”, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia; “Quando vier o sol”, de Fernando Lobo; “Canção de amor”, de Elano de Paula e Chocolate e “O amor é uma canção” e “Se eu pudesse”, de Jair Amorim e José Maria de Abreu.

Em 12 de outubro de 1964, em espetáculo no Teatro Municipal de São Paulo, com orquestra sob a regência de Diogo Pacheco, interpretou “Bachianas brasileiras nº 5” de Villa-Lobos. Em nota, o jornal O Globo assim relatou sua apresentação no Teatro Municipal de São Paulo: “Elizeth Cardoso, intérprete da canção popular, vai cantar no próximo dia 12, no Teatro Municipal de São Paulo, a ária da “Bacchiana brasileira nº 5”, de Villa-Lobos, de difícil interpretação e que foi gravada, inicialmente, por Bidu Sayão. O recital se repetiu no Teatro Municipal do Rio, no mesmo ano, com muitos elogios da crítica. Nesse ano, lançou o LP “A meiga Elizeth nº 5”, com as músicas “Saudade esperança”, de Jota Júnior e Alcyr Pires Vermelho; “Poema em paz”, de Armando Cavalcanti e Victor Freire; “Deixa chover”, de Dunga; “Até as lágrimas”, de Benil Santos e Raul Sampaio; “Canção que nasceu do amor”, de Clóvis Mello e Rildo Hora e “Alma em serenata”, de Marino Pinto e Paulo Valdez.

Em março de 1965, participou do espetáculo “Rosa de ouro”, que rendeu o LP “Elizeth sobe o morro”, um dos grandes LPs da discografia brasileira. Esse LP marcou também a estréia de Nelson Cavaquinho em gravações. Foi também o disco que trouxe a primeira composição gravada de Paulinho da Viola. Muitos bambas do samba ainda participaram da gravação: Nelson Sargento, Elton Medeiros, Raul Marques, Buci Moreira e outros. Nesse disco cantou entre outros sambas “Vou partir”, de Jair Costa e Nelson Cavaquinho; “Malvadeza Durão”, de Zé Kéti; “A flor e o espinho”, de Alcides Caminha, Guilherme de Brito e Nelson Cavaquinho; “Sim”, de Oswaldo Martins e Cartola; “Ele deixou”, de Jair Costa e Nelson Sargento e “Luz negra”, de Amâncio Cardoso e Nelson Cavaquinho. Também em 1965, gravou o LP “Quatrocentos anos de samba”, homenagem ao quarto centenário da cidade do Rio de Janeiro, disco no qual interpretou sambas como a música título e “Coisas mortas”, de Luiz Antônio; “O meu pecado”, de Zé Keti; “Retrato do morro”, de Nonato Buzar e Hamilcar Pereira; “Coisas do amor”, de Dunga e “Vedete de fogão”, de Pernambuco. No mesmo ano, estreou o programa “Bossaudade” na TV Record de São Paulo, que esteve no ar durante dois anos, sempre com grande sucesso, além de realizar o show “Vinícius, poesia e canção”, no teatro Municipal de São Paulo. Em 1966, esteve no Senegal, participando do Festival de Arte Negra. Nesse ano, lançou os LPs “Muito Elizeth” e “A bossa eterna de Elizeth e Ciro – Elizeth Cardoso e Cyro Monteiro. No primeiro desses discos gravou “Mundo melhor” e “Lamento”, de Vinícius de Moraes e Pixinguinha; “Sem mais adeus” e “Saudade de amar”, de Francis Hime e Vinícius de Moraes; “Apelo”, de Baden Powell e Vinícius de Moraes; “Acho que é você”, de Paulo Valdez e H. Bello de Carvalho; “Pra machucar meu coração”, de Ary Barroso e “Amor de carnaval”, de Gilberto Gil. O outro LP, “A bossa eterna de Elizeth e Cyro”, gravado em dueto com o cantor Cyro Monteiro, cantou “Melancolia”, de Denis Brean; “Franqueza”, de Oswaldo Guilherme e Denis Brean e um pot-pourri com músicas como “Fui louco”, de Alcebíades Barcelos e “Até amanhã”, de Noel Rosa, além de outros dois pot-pourris e o samba “Tem que rebolar”, de José Batista e Magno de Oliveira, cantados em dueto com Cyro Monteiro.

Em 1967, lançou um LP com a participação de Cartola, Pixinguinha, Clementina de Jesus e Codó, produzido por Hermínio Bello de Carvalho, intitulado “A Enluarada Elizeth” no qual cantou “Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barro e “Isso é que é viver”, de Pixinguinha e H. Bello de Carvalho, com participação de Pixinguinha; “Demais”, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira e uma seleção de sambas da Mangueira com as participações de Cartola e Clementina de Jesus. Em fevereiro de 1968, realizou um show histórico no Teatro João Caetano do Rio de Janeiro, com o objetivo de levantar fundos para o Museu da Imagem e do Som. Idealizado pelo Conselho Superior de Música Popular, criado na gestão de Ricardo Cravo Albin, o show reuniu em uma casa lotada, ela, Jacob do Bandolim e o Zimbo Trio, sob a direção de Hermínio Bello de Carvalho. Foi, sem dúvida, um dos espetáculos mais elogiados pela crítica da história da MPB. O show foi gravado e posteriormente lançado em dois discos, ambos produzidos pessoalmente pelo próprio diretor do MIS, Ricardo Cravo Albin, discos que também receberam elogios e que foram enviados pelo diretor do MIS para muitos exilados políticos, entre os quais o antropólogo Darcy Ribeiro. No primeiro constaram canções como “É luxo só”, de Ary Barroso e Luiz Peixoto; “Cidade vazia”, de Luiz Fernando Freire e Baden Powell; “Derradeira primavera” e “Estrada branca”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes e “Tem dó”, de Baden Powell e Vinícius de Moraes interpretadas com o Zimbo Trio e “Mulata assanhada”, de Ataulfo Alves; “Jamais”, de Luiz Bittencourt e Jacob do Bandolim; “Feitio de oração”, de Vadico e Noel Rosa e “Barracão”, de Oldemar Magalhães e Luiz Antônio, gravadas com Jacob do Bandolim e Conjunto Época de Ouro.

No segundo disco, gravou com Jacob do Bandolim e Época de Ouro as músicas “Feitiço da Vila”, de Vadico e Noel Rosa e “Chão de estrelas”, de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa; com Jacob do Bandolim cantou “Meiga presença”, de Otávio de Morais e Paulo Valdez e com o Zimbo Trio, “Mundo melhor”, de Vinícius de Moraes e Pixinguinha e com Jacob do Bandolim e Zimbo Trio, “Carolina”, de Chico Buarque e “Até amanhã”, de Noel Rosa.

Logo depois do sucesso do espetáculo, realizou excursão pela América Latina apresentando-se no México, Guatemala, Venezuela, Colômbia, Bolívia,  Chile,  Argentina, Paraguai e Uruguai com o Zimbo Trio.  Depois de sua volta ao Brasil, a Copacabana lançou o LP “Momento de amor”. Em agosto de 1968, estreou o show “Do fundo do azul do mundo”, no Teatro Toneleros do Rio. No início de 1969, o MIS outorgou-lhe o prêmio Estácio de Sá, por seus serviços à MPB durante o ano de 1968. Ainda em 1969, realizou show na boate Sucata, que rendeu o LP “Elizeth e Zimbo Trio balançam na Sucata”.

Logo depois, a convite da OEA, participou do Festival Interamericano de Música Popular, em Buenos Aires. No início dos anos 1970, fez vários shows pelo Brasil, inclusive um promovido por Albino Pinheiro que angariou fundos para o compositor João da Baiana, então com 84 anos, se aposentar. Em abril de 1970, fez excursão aos EUA, ao lado do Zimbo Trio. Uma semana depois, para constrangimento dos amigos, participou de um show no Marcanã em comemoração dos 6 anos do golpe militar de 1964. O fato rendeu-lhe grandes aborrecimentos, pois a intelectualidade e a classe artística não perdoaram sua atitude. Durante sua excursão aos EUA, a Copacabana lançou o LP “Falou e disse”, que trazia pela primeira vez uma música de João Nogueira, “Corrente de aço”. Do mesmo LP constavam “Refém da solidão”; “É de lei” e “Carta de poeta”, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro e “Foi um rio que passou em minha vida”, de Paulinho da Viola  No mesmo ano, saiu o LP “A bossa eterna de Elizeth e Cyro – volume 2”. Também em 1970 lançou o LP “É de manhã – Elizeth Cardoso e Zimbo Trio” interpretando “Travessia”, de Milton Nascimento; “Eu disse adeus”, de Erasmo Carlos e Roberto Carlos; “O conde”, de Jair Amorim e Evaldo Gouveia; “De manhã”, de Caetano Veloso e “Ilusão à toa”, de Johnny Alf, entre outras. Lançou ainda o LP “Elizeth no Bola Preta com a Banda do Sodré”.

Gravou com Sílvio Caldas em 1971 os LPs “Elizeth Cardoso e Sílvio Caldas”, volumes 1 e 2, discos nos quais cantaram clássicos como “Chão de estrelas”, de Sílvio Caldas e Orestes Barbosa; “Serra da Boa Esperança”, de Lamartine Babo; “Tristezas não pagam dívidas”, de Ismael Silva; “Modinha”, de Sérgio Bittencourt; “Fita amarela”, de Noel Rosa; “Foi uma pedra que rolou”, de Pedro Caetano e “Tudo foi surpresa”, de Peterpan e Valzinho. No ano seguinte, lançou o LP “Preciso aprender a ser só”, música título de Paulo Sergio Valle e Marcos Valle dupla que compôs para o mesmo disco a música “Elizeth” em sua homenagem. Fizeram parte do disco também “O pranto desse mundo”, de H. Bello de Carvalho e Paulinho da Viola; “ABC da vida”, de Luiz Reis e Haroldo Barbosa; “Olha quem chega”, de Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro e “Naquela mesa”, de Sérgio Bittencourt que contou com a participação do autor.

Em 1973, estreou o programa “Sambão” na TV Record de São Paulo. Em 1974, foi tema do enredo da Escola de Samba Unidos de Lucas, que obteve o 2º lugar no 2º grupo do desfile com o enredo “Mulata maior, a Divina” com versos que diziam: “Arrasta, mulata/ Sua sandália de ouro/ Levanta poeira no asfalto/ Mulata maior, meu tesouro”. Nesse ano, lançou dois LPs “Feito em casa” e “Mulata maior”. No primeiro cantou “Peso dos anos”, de Walter Rosa e Candeia; “Antes, durante e depois”, de Paulo Valdez e Paulo César Pinheiro; “Igual à flor”, de Nelzinho e Délcio Carvalho e “Batido na palma da mão”, de Otacílio e Ari do Cavaco. Já no disco “Mulata maior” gravou “Quando eu me chamar saudade”, de Guilherme de Brito e Nelson Cavaquinho; “Vai ser tão fácil”, de Ivor Lancellotti; “Pra quê, afinal?”, de Adelson Carvalho e Mauro Duarte; “Justiça”, de Eduardo Gudin e Paulo César Pinheiro; “Serenou”, de Délcio Carvalho e “Tatuagem”, de Ruy Guerra e Chico Buarque. Fez parte do disco o samba-enredo “Mulata maior – a Divina”, de Joãozinho Empolgação, Pedro Paulo e Zeca Melodia na interpretação de Carlão Elegante.

No início de 1975, embarcou para a França, onde participou do Midem, Mercado Internacional de Discos e Editoras musicais, realizado em Cannes. Foi a única artista brasileira convidada pessoalmente pelo diretor do festival, Bernard Chévy. Em 1976, apresentou o programa “Brasil Som 7”, na TV Tupi de São Paulo. Nesse ano, lançou LP que trazia apenas seu nome como título e do qual constaram músicas como “De partida”, de João Bosco e Aldir Blanc; “Entenda a rosa”, de João Nogueira; “Minha verdade”, de Ivone Lara e Délcio Carvalho e “Canção do velho cais”, de Candinho e Paulo César Pinheiro. Continuou realizando shows no Rio e São Paulo, até finalmente embarcar para o Japão em setembro de 1977, para uma série de shows. Nesse ano, o Museu da Imagem e do Som lançou o LP “Fragmentos inéditos do histórico recital realizado no Teatro João Caetano em 1968” com a participação do Zimbo Trio, Jacob do Bandolim e conjunto Época de Ouro. Nesse disco, apareceu cantando “Canção de amor”, de Elano de Paula e Chocolate e “Ginga Muxique”, de H. Bello de Carvalho e Maurício Tapajós, com o Zimbo Trio e “Chega de saudade”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes e “Inocência”, de Luiz Bitencourt e Jacob do Bandolim, com Jacob do Bandolim, entre outras.

Lançou em 1978 o LP “A Cantadeira do amor” no qual interpretou “Deixa”, de Baden Powell e Vinícius de Moraes; “Sem você”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes; “Quem foi?”, de Jorge Tavares e Nestor de Holanda Cavalcanti; “Acontece”, de Cartola; “Fim de semana em Paquetá”, de Alberto Ribeiro e João de Barro; “Século do progresso”, de Noel Rosa; “Mancada”, de Gilberto Gil e “Até pensei”, de Chico Buarque de Holanda. Também nesse ano a Global Records/Copacabana lançou o LP “Live in Japan” com músicas gravadas durante os shows no Japão. Estão presentes, entre outras, as músicas “Barracão”, de Luiz Antônio; “Na cadência do samba”, de Luiz Bandeira; “Apelo”, de Baden Powell e Vinícius de Moraes; “A noite do meu bem”, de Dolores Duran e “Manhã de carnaval”, de Antônio Maria e Luiz Bonfá.

Em 1979, lançou o LP “O inverno do meu tempo”, pela Som Livre, no qual interpretou “Queixa”, de Baden Powell e Vinícius de Moraes; “No tempo dos quintais”, de Paulinho Tapajós e Sivuca; “Mar de vermelho e branco”, de Haroldo Costa e Sílvio César; a música título de Roberto Nascimento e Cartola e “Mulata faceira”, de João Nogueira e Paulo César Pinheiro que contou com a participação especial de João Nogueira. Nesse ano, realizou espetáculo com a Camerata Carioca, numa produção de Hermínio Bello de Carvalho e com direção de Radamés Gnattali. Em 1980, percorreu o Brasil no Projeto Pixinguinha da Funarte. Em dezembro do mesmo ano, estreou o espetáculo “Vida de artista”, no Teatro João Caetano, RJ, que rendeu o LP “Elizethíssima”, lançado pela Som Livre no ano seguinte com canções do show como “Número um”, de Benedito Lacerda e Mário Lago; “Vem”, de Arthur Oliveira e Cartola; “Poema dos olhos da amada”, de Vinícius de Moraes e Jacob do Bandolim; “Doce de coco”, de H. Bello de Carvalho e Jacob do Bandolim e “Se eu morrer amnhã”, de Garcia Júnior e Jorge Martins. Em 1981, participou dos Projetos Seis e Meia e Pixinguinha. Em 1982, gravou “Outra vez Elizeth” LP no qual cantou entre outras canções “Velha poeira”, de Élton Medeiros, Luiz Moura e Paulo César Pinheiro; “O nosso olhar”, de Sérgio Ricardo; “Três por quatro”, de H. Bello de Carvalho e João de Aquino; “Cidade assassina”, de Wilson Moreira e Nei Lopes e “Prezado amigo”, de Sérgio Cabral e Rildo Hora. Nesse ano, a Victor lançou um álbum duplo com gravações realizadas dois anos antes durante as apresentaçõies no Japão. Fazem parte desses discos interpretações para “Herança”, de Francis Hime e Paulo César Pinheiro; “O amor acontece”, de Flávio Cavalcanti e Celso Cavalcânti; “Velho amor”, de César Costa Filho e Aldir Blanc; “Amor de carnaval”, de Gilberto Gil; “Vou por aí”, de Baden Powell e Aloysio de Oliveira; “Preciso aprender a ser só”, de Paulo Sérgio Valle e Marcos Valle e “Samba da cabrocha bamba”, de Martinho da Vila. Também de 1982 é o disco “Elizeth Cardoso recital” com músicas já gravadas anteriormente por ela e o espetáculo “Reencontro” no Rio de Janeiro.

Em 1983, realizou espetáculo com a Oquestra de Câmara do Recife e, em seguida, o show “Uma rosa pra Pixinguinha”, com a Camerata Carioca, na Funarte do Rio de Janeiro. Este show rendeu-lhe um LP, que foi lançado meses depois pela Funarte: “Uma rosa para Pixinguinha. Elizeth Cardoso, Radamés Gnatalli e Camerata Carioca”. Nesse disco interpretou “Ingênuo”, de Benedito Lacerda, Paulo César Pinheiro e Pixinguinha; “Patrão, prenda seu gado”, de Donga, Pixinguinha e João da Bahiana; “Carinhoso”, de Pixinguinha e João de Barro e “Samba fúnebre” e Mundo melhor”, de Pixinguinha e Vinícius de Moraes.

Em 1984, fez o espetáculo “Leva meu samba”, promovido pela Funarte, em homenagem ao compositor Ataulfo Alves, nos 15 anos de sua morte. O mesmo espetáculo percorreu o Nordeste e, depois, foi apresentado em São Paulo, onde foi gravado e lançado pela Eldorado no LP “Leva meu samba – Elizeth Cardoso e Ataulfo Alves Jr com interpretações de sambas de Ataulfo Alves como “Ó seu Oscar”, com Wilson Batista; “Fim de comédia”; “Errei sim”; “Errei, erramos”; “A saudade dela” e “O meu pranto ninguém vê”, esta última, parceria com Zé da Zilda. Em 1986, estreou no Scala do Rio o espetáculo comemorativo de seus 50 anos de carreira, intitulado “Luz e esplendor”. No mesmo ano, lançou um disco com o título do show pela Arca Som no qual interpretou “Faxineira das canções”, de Joyce; “Operário padrão”, de César Brunetti; “Calmaria e vendaval”; “Complexo”, de Milton de Oliveira e Wilson Batista e “Felicidade segundo eu”, de Dona Ivone Lara e Nei Lopes.

Em 1987, voltou ao Japão para uma série de shows, ao lado de Altamiro Carrilho, do Zimbo Trio e do conjunto Choro Carioca. Foi nesta viagem que descobriu que estava com câncer. No ano seguinte, participou da gravação de um disco em homenagem a Herivelto Martins. O disco, “Que Rei sou eu?”, somente foi  lançado pela Funarte em 1993. Ainda em 1988, foi ovacionada na entrega do 1º Prêmio Sharp de Música, no Rio de Janeiro. Participou também, na mesma época, do projeto “Som do meio-dia”. Em 1989, apresentou-se no Projeto Seis e Meia ao lado do violonista Raphael Rabello, no Teatro João Caetano do Rio. No mesmo ano, realizou suas últimas gravações: “Ari amoroso”, com composições românticas de Ary Barroso, LP brinde de uma fábrica de móveis e “Todo sentimento – Elizeth Cardoso e Raphael Rabelo”, LP lançado em 1991 pela Sony Music. Nesse disco com Raphael Rabelo interpretaram músicas como “Todo o sentimento”, de Chico Buarque e Cristóvão Bastos; “Modinha”, de Tom Jobim e Vinícius de Morais; “Violão”, de Vitório Júnior e Wilson Ferreira e “Consolação”, de Baden Powell e Vinícius de Moraes.

Em 1994, o jornalista Sérgio Cabral lançou uma biografia da cantora intitulada “Elisete Cardoso, uma vida”. Gravou mais de 40 LPs no Brasil, ao longo de sua carreira, além de vários outros no exterior em países como Portugal, Uruguai, Venezuela, Argentina e México. Em 2000, ano em que se comemoraram os 80 anos de seu nascimento, teve um site inaugurado na internet: http://www.elizethcardoso.com.br. Em 2003, a Som Livre lançou a coletâne “Inesquecível” com 14 composições clássicas de seu repertório. Nesse ano, o selo Biscoito Fino lançou uma caixa com cinco CDs reunindo uma compilação de discos gravados por ela.

Destacou-se como intérprete de sambas, tornando-se responsável pela consagração de inúmeros sambistas esquecidos na década de 1960. Uma das grandes estrelas de nossa música popular,  chamada carinhosamente de “A Divina”, título criado por Haroldo Costa, teve vários outros apelidos: “A Magnífica”, criado por Mister Eco, “Enluarada”, criado por Hermínio Bello de Carvalho, “Mulata maior”, “Lady do samba”, “A noiva do samba-canção”, além de “Machado de Assis da seresta”. Em 2010, por ocasião dos 20 anos de seu falecimento foi tema de longa reportagem na revista “O Prelo”, dirigida pelo acadêmico Arnaldo Niskier. Na reportagem o jornalista Gabriel Tardelli assim se referiu à cantora: “Musa do samba, do samba-canção, da Bossa Nova, Elizeth foi, antes de tudo, uma autêntica representante da música nacional”. Ainda no mesmo ano, foi tema de extensa crônica assinada no jornal O Globo pelo jornalista e pesquisador João Máximo e intitulada “Divina para sempre” na qual afirmou: “Elizeth foi escolhida (para gravar o LP “Canção do amor demais”) porque era o máximo. A cantora do samba-canção… Todo mundo dizia: “Meu Deus, essa mulher não existe!” Eu me lembro que, no carro, o sujeito ligava o rádio e, quando ouvia a voz de Elizeth, todo mundo ficava contente.” A lembrança de Antonio Carlos Jobim, em entrevista um ano antes de sua morte, esclarece muito: que Elizeth Cardoso, e não Dolores Duran, foi a primeira escolha dele e Vinicius de Moraes para o antológico disco em que se ouve pela primeira vez o violão de João Gilberto; que, pelo clima das canções, modinheiras e camerísticas, a cantora do samba-canção seria a intérprete ideal: e que a voz que deixava todo mundo contente era a que mais e melhor falava às almas românticas de toda uma geração”. Ainda pelas comemorações dos 90 anos de nascimento da cantora foi feita uma homenagem pelo Instituto Moreira Salles, no qual foi montada uma exposição de fotos, uma projeção de vídeo com programas dela na televisão e um show com a cantora Áurea Martins acompanhada pelo violonista Bilinho Teixeira, interpretando  14 composições do repertório da “Divina”. Em 2011, foi homenageada pela cantora Rosa Passos, que lançou o CD “É luxo só” com uma releitura do repertório consagrado pela “Divina”, como também era conhecida a cantora. Nesse CD estão presentes, entre outras, “Acontece” e “As rosas não falam”, de Cartola; “Diz que fui por aí”, de Zé Keti e Hortênsio Rocha; “Três apitos” e “Último desejo”, de Noel Rosa; “Saia do caminho”, de Custódio Mesquita; “Olhos verdes”, de Vicente Paiva, e “É luxo só”, de Ary Barroso e Luiz Peixoto.

Em 2018, foi homenageada no musical “Elizeth, a Divina”, que estreou no Teatro Maison de France, no Rio de Janeiro, com direção de Sulei Guerra e direção musical de Tony Lucchesi, com a atriz Isabella Bicalho interpretando a cantora. No espetáculo foram apresentadas 24 canções cantadas e tocadas ao vivo.

Discografias
1991 Sony Music LP Ary Amoroso

Na contra-capa, texto de Hermínio Bello de Carvalho

1991 Sony Music/Columbia LP Todo sentimento

Na contra-capa, poema de Chico Buarque

1989 Copacabana/FUNARTE LP Elizeth Cardoso

Este disco faz parte da coleção "Brazilian Popular Music..", organizada pela Funarte, em parceria com o Ministério das Relações Exteriores. Na contra-capa texto de Roberto D. M. Parreira e Luis Sérgio Bilheri Nogueira

1989 RCA Victor LP Elizeth Cardoso - Jacob do Bandolim - Zimbo Trio e Conj. Época de Ouro

Na contra-capa, texto de Hermínio Bello de Carvalho

1986 Arca Som LP Luz e Esplendor

Foi anexado ao disco, um programa de show feito por Elizeth Cardoso em Brasília e em São Paulo. Encarte com texto de Hermínio Bello de Carvalho

1984 Eldorado LP Leva meu samba-Elizeth Cardoso e Ataulfo Júnior
1983 Funarte LP Elizeth - Uma rosa para Pixinguinha

Texto de Erico de Freitas e histórico das músicas

1982 Som Livre LP Outra vez Elizeth
1982 Victor LP Recital
1981 Sigla/Som Livre LP Elizethíssima

Gravado ao vivo no teatro João Caetano. Na contra-capa, texto de Hermínio Bello de Carvalho

1980 Copacabana LP Elizeth Cardoso nº 1

O disco faz parte da série Colagem, uma seleção dos maiores sucessos dos contratos da Gravadora Copacabana

1980 Copacabana LP Elizeth Cardoso nº 2

Disco da série Colagem, uma seleção dos maiores sucessos dos contratados da gravadora Copacabana

1980 Copacabana LP Elizeth Cardoso nº 3

Disco da série Colagem, uma seleção dos maiores sucessos dos contratados da Gravadora Copacabana

1979 Som livre LP O inverno do meu tempo

Na contra-capa, texto de Artur da Távola

1978 Copacabana LP A cantadeira do amor
1978 Global Records/Copacabana LP Live in Japan
1977 Copacabana Compacto simples Elizeth Cardoso
1977 Museu da Imagem e do Som LP Elizeth Cardoso, Jacob do Bandolim, Zimbo Trio e Época de Ouro
1976 Copacabana LP Elizeth Cardoso
1975 Copacabana LP Bossaudade - A bossa eterna

Na contra-capa, texto de Denis Brean

1975 Continental LP Elizeth Cardoso

Série destaque Nº2

1974 Fontana LP Edição histórica - VOL. 3
1974 Copacabana LP Elizeth / Feito em casa
1974 Copacabana LP Mulata maior

Na contra-capa, texto de Adelzon Alves

1972 TAL LP Elizeth Cardoso
1972 Copacabana LP Preciso aprender a ser só

Na capa interna, texto de Edna Savaget.

1971 LATINO LP Elizeth Cardoso
1971 Copacabana LP Elizeth Cardoso - Disco de ouro
1971 Copacabana LP Elizeth Cardoso e Silvio Caldas

Na capa interna, texto de Emilio Vitale

1971 Copacabana LP Elizeth Cardoso e Silvio Caldas - Vol. II

Na capa interna, texto de Emílio Vitale

1970 Copacabana LP A bossa eterna de Elizeth e Ciro - Nº 2 - Elizeth Cardoso e Cyro Monteiro
1970 Copacabana LP Elizeth no Bola Preta com a Banda do Sodré

Na contra-capa, texto de Albino Pinheiro

1970 Som LP Elizeth, a exclusiva
1970 Copacabana LP Falou e disse

Na contra-capa, texto de Otávio de Moraes

1970 Copacabana LP É de manhã - Elizeth Cardoso e Zimbo Trio
1969 Copacabana LP Elizeth e Zimbo Trio na Sucata
1968 Museu da Imagem e do Som LP Ao vivo no Teatro João Caetano - Volume I - Elizeth Cardoso, Zimbo Trio e Jacob do Bandolim

Na contra-capa,texto de Ricardo Cravo Albin

1968 Museu da Imagem e do Som LP Ao vivo no Teatro João Caetano - Volume II - Elizeth Cardoso, Zimbo Trio e Jacob do Bandolim

Na contra-capa, texto de Ricardo Cravo Albin

1968 Copacabana LP Momento de amor

Na contra-capa, texto de Sergio Porto

1967 Copacabana LP A enluarada Elizeth
1966 Copacabana LP A bossa eterna de Elizeth e Cyro, Elizeth Cardoso e Cyro Monteiro
1966 Copacabana LP Muito Elizeth

Na contra-capa, texto de Hermínio Bello de Carvalho

1965 Copacabana LP Elizeth sobe o morro

Na contra-capa texto de Hermínio Bello de Carvalho

1965 Copacabana LP Quatrocentos anos de samba

Na capa interna, texto de Nonato Buzar

1964 Copacabana LP A meiga Elizeth Vol.5

Na contra-capa texto de Sérgio Lôbo

1963 Copacabana LP A meiga Elizeth Nº.3

Na contra-capa texto de Mister Eco

1963 Copacabana LP A meiga Elizeth Nº.4

Na contra-capa texto de Everardo Guilhon

1963 Continental LP Elizeth canta seus maiores sucessos
1963 Copacabana LP Elizeth interpreta Vinícius

Na contra-capa texto de Vinícius de Moraes

1963 Copacabana 78 Eu quero amar/Se vale a pena
1963 Copacabana LP Grandes momentos com Elizeth Cardoso

Na contra- capa texto assinado por "um fã irresistível"

1963 Copacabana 78 Mulher carioca/Menino travesso
1963 Copacabana 78 Seu José/Não pense em mim
1962 Copacabana LP A miega Elizeth Nº.2
1962 Copacabana 78 Briguei/Seja lá o que Deus quiser
1962 Copacabana 78 Canção da manhã feliz/Na cadência do samba
1962 Copacabana 78 Moeda quebrada/Ninguém sabe de nós
1961 Copacabana 78 Balão apagado/Notícia de jornal
1961 Copacabana 78 Deixa andar/Nosso momentos
1961 Copacabana 78 Deixa andar/Vaga-lumeando
1961 Copacabana 78 Nossos momentos/Tentação do inconveniente
1961 Copacabana 78 Palhaçada./Samba triste
1961 Copacabana LP Sax - Voz - Nº.2
1960 Copacabana 78 A canção dos seus olhos/Ri
1960 Copacabana LP A meiga Elizeth
1960 Copacabana 78 Cheiro de saudade/Até quando
1960 Copacabana 78 Mulata assanhado
1960 Copacabana 78 O amor e a rosa/Bebeco e Doca
1960 Copacabana LP Sax - Voz

Na contra capa, texto de Moacyr Silva

1960 Copacabana 78 Velhos tempos/Cidade do interior
1960 Copacabana 78 Vem hoje/Guacira
1959 Copacabana 78 E daí?/Sozinha
1959 Copacabana LP Magnífica
1958 Festa LP Canção do amor demais
1958 Copacabana 78 Madame Fulano de Tal/Conselho inútil
1958 Copacabana 78 Na cadência do samba/Praça sete
1958 Copacabana LP Naturalmente
1958 Copacabana LP Retrato da noite

Na contra-capa, texto de Ricardo Galeno

1958 Copacabana 78 É luxo só/Por acaso
1957 Copacabana 78 Aconteceu no Uruguai/Tem jeito, sanfona
1957 Copacabana 78 Chove lá fora/Nunca é tarde
1957 Copacabana LP Música e poesia de Fernando Lobo
1957 Copacabana LP Noturno
1957 Copacabana LP Um compositor em dois tempos - Jubileu de prata de Herivelto Martins
1956 Copacabana 78 Amor oculto/Velhas memórias
1956 Continental 78 Canção da volta/Linda flor
1956 Copacabana LP Fim de noite
1956 Copacabana 78 Na madrugada/O amor é fado
1955 Todamérica 78 A moça do retrato/Tormento
1955 Continental 78 Amanhã será tarde/Não tenho lar
1955 Continental LP 10 pol Canções à meia luz
1955 Todamérica 78 Subúrbio/Não quero você
1955 Continental 78 Águas passantes/Velha praça
1954 Todamérica 78 Brigas de amor/Vida vazia
1954 Continental 78 Ocultei/Zanguei com meu amor
1954 Todamérica 78 Pra que voltar?/Ao Deus-dará
1954 Todamérica 78 Seresteiro/Palhaço
1954 Continental 78 Só você, mais nada/Caminha
1953 Todamérica 78 Ai, ai, Janot./Amor que morreu
1953 Todamérica 78 Alguém como tu/Nem resta a saudade
1953 Todamérica 78 Fantasia/Graças a Deus
1952 Todamérica 78 Amor, amor/Caixa postal zero zero
1952 Todamérica 78 As palavras não dizem tudo/Venho de longe
1952 Todamérica 78 Eu não posso dizer/Teu ciúme
1952 Todamérica 78 Ingratidão/O homem do passado
1952 Todamérica 78 Nosso amor, nossa comédia/Maus tratos
1951 Copacabana 78 Cantiga de Natal/31 de dezembro
1951 Todamérica 78 Dá-me tuas mãos/O amor é uma canção
1951 Todamérica 78 Se eu pudesse/Quem diria?
1951 Todamérica 78 É sempre assim/Falsos beijos
1950 Star 78 Braços vazios/Mensageiro da saudade
1950 Todamérica 78 Complexo/Canção de amor
1950 Todamérica 78 Vem para os braços meus/A mentira acaba
Shows
Elizeth e Camerata Carioca, direção de Radamés Gnattali.
Elizeth e Zimbo Trio balançam na Sucata, boate Sucata, Rio de Janeiro.
Feitiço da Vila, boate Casablanca, Rio de Janeiro.
Leva meu samba, homenagem a Ataulfo Alves. Funarte, Rio de Janeiro.
Luz e esplendor (50 anos de vida artística), Scala, Rio de Janeiro.
Projeto Pixinguinha, várias cidades brasileiras.
Rosa de ouro.
Seis e meia, ao lado de Raphael Rabello, Teatro João Caetano, Rio de Janeiro.
Show ao lado de Sílvio Caldas, boate Oásis, São Paulo.
Show em prol do MIS ao lado de Jacob do Bandolim e Zimbo Trio.
Teatro Municipal de São Paulo - "Bachianas Brasileiras nº 5".
Uma rosa para Pixinguinha, com Camerata Carioca, Funarte, Rio de Janeiro.
Vinícius, poesia e canção, Teatro Municipal de São Paulo.
Bibliografia Crítica

AGUIAR, Ronaldo Conde. As Divas do Rádio Nacional – Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2010.

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB – A História de nossa música popular de sua origem até hoje. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

ALBIN, Ricardo Cravo.MPB – A História de um século. Rio de Janeiro: Funarte, 1998.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.

AMARAL, Euclides. O Guitarrista Victor Biglione & a MPB. Rio de Janeiro: Edições Baleia Azul, 2009. 2ª ed. Esteio Editora, 2011. 3ª ed. EAS Editora, 2014.

AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.

CABRAL, Sérgio. Elisete Cardoso – Uma vida. Rio de Janeiro: Lumiar, 1994.

CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário biográfico da música popular. Rio de Janeiro; Edição do autor, 1965.

COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.

EPAMINONDAS, Antônio. Brasil brasileirinho. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1982.

MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.

SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Vol 1. São Paulo: Editora 34, 1997.

VASCONCELOS, Ary. Panorama da música popular brasileira. Rio de Janeiro: Martins, 1965.

Crítica

Essa mania que as pessoas têm de sempre escolher o superlativo de tudo, o melhor disso, a melhor daquilo, pode causar muitos embaraços. Quando não, constrangimentos. Ou – o pior – até injustiças cortantes. Ainda há pouco, num programa de tevê, recusei-me a responder quem era a maior cantora da MPB. Aí, a entrevistadora lascou a pergunta pérfida: “Elis Regina, Gal Costa, Ângela ou Dalva?” Minha resposta foi outra pergunta: “E onde fica Elizeth Cardoso?” Na simples indagação, a esperta repórter obteve a resposta, dada quase sem consentimento. Portanto, fanzoquismo à parte e sem querer meter minha colher nesse campo minado de arapucas, ou dualidades, quero daqui saudar Elizeth Cardoso, cujos 12 anos de morte foram muito falados.

E inicio com uma afirmação bombástica, a de que nunca ouvi uma cantora que juntasse com precisão três itens básicos – emoção, voz e equilíbrio – para entoar qualquer canção. Que poderia ir de um “É luxo só (feita por Ary Barroso expressamente para ela) até um “lied” de amor mais sofisticado como os deslumbrantes “Melodia sentimental” (de Villa- Lobos, versos de Dora Vasconcellos) ou “Estrada branca” (de Tom e Vinícius).

“Uma prima-dona desse porte deveria ser insuportável” – poderia pensar alguém menos informado sobre os segredos da MPB. Não, não era. Elizeth era exigente – mas na medida certa – com ela mesma. Mas nunca ultrapassava os limites do bom senso ou mesmo da boa educação – e até da dignidade – para obter aquilo que quisesse. Lembro-me que, quando meti na cabeça que tinha de transformar em elepê o belo recital do João Caetano, em que ela atuou para o MIS ao lado do Jacob do Bandolim e do Zimbo Trio, Elizeth não queria que eu produzisse o disco por uma simples razão. Ela havia errado duas palavrinhas de uma das letras. Docemente me telefonou e disse: “Você vai gravar um outro show meu e pronto. Aí pode editar um elepê meu pelo Museu.” Dois dias depois visitei-a em casa só para convencê-la a não privar a posteridade daquele momento magnífico em emoção e garra. Ela observa a paixão com que eu argumentava e pontificou: “Vou deixar sair o disco porque essa insistência toda não é para ir pro bolso de ninguém. Mas que eu errei, eu errei. Edite logo essa bobagem e deixe de chorumelas.”

Essa bobagem, a que Elizeth se referia, acabaria virando um dos elepês duplos mais eloqüentes de toda a era do vinil. Meses depois, quando mandei os discos para muitos exilados no exterior, Elizeth recebeu um telefonema de Darcy Ribeiro. Da Europa, Darcy lhe disse, quase em lágrimas, que o Brasil estava enfiado nas suas veias através daquele som.

Elizeth me contou o episódio indisfarçavelmente feliz, mas acrescentou com olhar maroto: “É que ele não percebeu os meus erros na letra. Cruz-credo!” Assim era a divina Elizeth, nobre como amiga e fidalga como cantora.

Não sei, com toda sinceridade, se há como apontar substitutas para Elizeth Cardoso nesses tempos vertiginosos.

Cadê aquela voz redonda e cálida, vinda sutilmente de sua mulatice? Cadê a emissão na precisão das notas? Cadê a maciez nos graves e nos agudos? Cadê aquele porte de rainha, tão natural e espontâneo?

Não e não! Não ouso — mais de décadas depois de sua morte – fazer qualquer comparação com qualquer outra cantora de agora.

Quem sabe nos próximos 10? Ainda assim duvido muito…

Ricardo Cravo Albin