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Nome Artístico
Belchior
Nome verdadeiro
Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernades
Data de nascimento
26/10/1946
Local de nascimento
Sobral, CE
Data de morte
29/4/2017
Local de morte
Santa Cruz, RS
Dados biográficos

Compositor. Cantor.

Seu pai tocava flauta e saxofone e sua mãe cantava em coro de igreja. Tinha tios poetas e boêmios. Ainda criança recebeu influência dos cantores de rádio Ângela Maria, Cauby Peixoto e Nora Ney. Estudou piano e música coral, sendo também programador da rádio da sua cidade natal. Em 1962, mudou-se para Fortaleza onde estudou Filosofia e Humanidades. Começou a estudar Medicina, mas abandonou o curso no quarto ano, em 1971, para dedicar-se à carreira artística.

No final do ano de 2006 o cantor e compositor afastou-se do cenário artístico nacional, após dividir palco com a banda Los Hermanos. Depois fez uma rápida e última aparição pública no ano de 2009, em um show de Tom Zé, na Capital Federal, Brasília. Logo após transferiu-se para o Uruguai e posteriormente para Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Nesse período de afastamento, o artista sempre teve ao seu lado a companheira Edna Prometeu, com a qual se relacionava desde 2005. Depois de ter saído do Uruguai, procurado pela polícia local por dívidas de hospedagens em hoteís, voltou, em 2013, para a cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul, onde passou a morar a partir do ano 2000, hospedando-se em diversos locais,  tais como em casas de amigos, admiradores, na Ecovila Karaguatá, uma comunidade sustentável no meio do mato, e até mesmo em um Mosteiro de Monjas Beneditinas, o Santíssima Trindade. No ano de 2017 faleceu em Santa Cruz do Sul (RS), em decorrência do rompimento da artéria aorta. O então Governador do Ceará, Camilo Santana, decretou luto oficial de três dias, providenciando o traslado do corpo, garantindo, assim, o desejo do cantor de ser sepultado no Estado do Ceará. Foi velado no Anfiteatro ao ar livre do Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza, atraindo mais de 8.000 mil fãs e amigos. O corpo foi sepultado no Cemitério Parque da Luz, em um subúrbio ao sul da cidade. A imprensa de todo o país dedicou-lhe farto obituário.

Em 2022 a filha de Belchior, Isabela Meneghelli Belchior, foi condenada a 9 anos de prisão pela morte do metalúrgico Leizer Buchwieser dos Santos. O assassinato aconteceu em meio a uma tentativa de extorsão por conta do suposto crime de pedofilia de Leizer. Na ocasião, ela teve a companhia dos irmãos Bruno e Thiago Rodrigues.

Dados artísticos

Um dos membros do chamado Pessoal do Ceará, que inclui Fagner, Ednardo, Rodger, Cirino e outros. Começou sua carreira apresentando-se em festivais de música no Nordeste, entre 1965 e 1970.

Em 1971 increveu-se no IV Festival Universitário e ganhou o primeiro lugar com a música “Hora do almoço”, interpretada por Jorge Melo e Jorge Teles. Na mesma época, conheceu o cantor e compositor Sérgio Ricardo, que escolheu a música “Mucuripe”, feita em parceria com o também cearense Fagner, para fazer parte do disco “Bolso do Pasquim”, jornal alternativo daqueles anos.

Em 1972, começou a obter o reconhecimento nacional a partir da gravação de “Mucuripe” pela cantora Elis Regina. Em seguida, transferiu-se para São Paulo, onde compôs trilhas sonoras para filmes de curtas-metragens. Na mesma época apresentou shows em praças públicas e fez aparições em programas de televisão. Em 1974 lançou seu primeiro disco, “A palo seco”, cuja música título tornou-se sucesso nacional. Nesse mesmo ano faria sucesso novamente com a canção “Paralelas”, regravada em 1976 pelo cantor Erasmo Carlos no LP “Banda dos contentes” e pela cantora Vanusa. A música “Paralelas” tornou-se um dos grandes hits do final dos anos 1970.

Em 1975, o cantor Roberto Carlos regravou a música “Velas do Mucuripe”. No mesmo ano lançou pela PolyGram o LP “Alucinação”, que vendeu 30 mil cópias em apenas um mês, graças a sucessos como “Apenas um rapaz latino-americano”, “Velha roupa colorida”, “A palo seco” e, principalmente, “Como nossos pais”.

Em 1978, lançou o LP “Todos os sentidos”. Na mesma época realizou um show com a cantora Simone no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, visto por mais de 100 mil pessoas. Em 1979, voltou a fazer sucesso com a canção “Medo de avião”, de sua autoria, que é título do LP lançado pela Warner naquele ano. Em 1982 lançou, também pela Warner, o LP “Paraíso”, no qual abriu espaço para os então jovens artistas Guilherme Arantes, Ednardo Nunes, Jorge Mautner e Arnaldo Antunes. Em 1983 fundou a sua própria gravadora e produtora, a Paraíso Discos. No ano seguinte realizou na “Mamute”, casa de shows que já não mais existe, o show “Cenas do próximo capítulo”, com o qual percorreu todo o país. No LP lançado no mesmo ano, comemorou 10 anos de sucesso com a regravação de “Velha roupa colorida” e “A palo seco”. Em 1988 lançou pela PolyGram o LP “O elogio da loucura”, lançado no Teatro João Caetano, com recordes de público. Em 1997, tornou-se sócio da gravadora Cameratti. Em 1999, lançou pela BMG o álbum duplo “Auto-retrato” no qual 25 de suas composições receberam novo tratamento e arranjos feitos, dentre outros, por Rogério Duprat, André Abujamra, Ruriá Duprat e Sérgio Zurawski. Como intérprete, não gravou apenas composições próprias, mas também alheias, como “Romaria”, de Renato Teixeira, e o disco “Vício elegante”, no qual cantou apenas sucessos de outros compositores. Como compositor, teve várias de suas músicas gravadas por outros intérpretes, especialmente Elis Regina, que registrou as músicas “Apenas um rapaz latino-americano”, “Como nossos pais”, “Velha roupa colorida” e “Mucuripe”. Os Engenheiros do Hawaii gravaram “Alucinação”. Wanderléa gravou “Paralelas” e Jair Rodrigues “Galos, noites e quintais”. Além desses, Erasmo Carlos, Ney Matogrosso, Ednardo e Jessé também gravaram suas composições. A partir de 2001 continuou percorrendo o país, apresentando shows de boa aceitação por parte do público.

Em 2002, gravou com Amelinha e Ednardo o CD “Pessoal do Ceará”, produzido por Robertinho do Recife, com duas músicas inéditas: o coco-repente “Mote, Tom e Radar”, de Ednardo e “Bossa em palavrões”, de sua autoria. O restante do CD é composto por obras antigas compostas por ele e por Ednardo.

Em 2017, após sua morte, a cantora Lúcia Menezes, sua amiga pessoal, a qual chegou a defender a música “Espacial” aos 12 anos no “IV Festival da Música Popular do Ceará” (em 1968), apresentou ao jornal O Globo cinco músicas inéditas do compositor: “Cateretê”, “Caravele”, “Pindorama”, “Espacial” e uma sem título, além de “Rosa dos ventos”, feita para a própria cantora e não gravada.

Em 2017, dois dias após a morte do cantor, várias de suas canções e discos tiveram um “boom” de audiência. As faixas “Apenas Um Rapaz Latino Americano”, “Como Nossos Pais”, “Alucinação”, “Sujeito de Sorte”, “Velha Roupa Colorida” e “A Palo Seco” entraram para Top 200 do Spotify, no Brasil. Somadas essas quatro faixas, foram mais de 266 mil reproduções. O álbum “Alucinação”, o primeiro de sua carreira, foi o mais acessado de sua discografia.

A cantora Daíra gravou o CD “Amar e mudar as coisas”, em edição do selo Porangareté, com releituras de sua obra, com produção de Rodrigo Garcia e título extraído de verso da letra “Alucinação” (Belchior, 1976), que também é uma das músicas do repertório.  O álbum também incluiu “Coração Selvagem” (Belchior, 1977), e “Princesa do meu Lugar” (Belchior, 1980), dentre outras.

Também logo após sua morte, uma polêmica sobre seu paradeiro e os registros de sua biografia tomou conta das colunas sociais. Segundo sua irmã, esse registro seria ofensivo e feriria a imagem de Belchior. Uma nova biografia foi produzida a partir de uma entrevista com o cantor em 2005, onde seus depoimentos foram inseridos no livro.

Em 2018, um ano após sua morte, o cantor Belchior recebeu diversas homenagens. Entre elas, o box intitulado “Tudo outra Vez”, com seis discos remasterizados, no qual constam os discos “Belchior” (1974), “Coração selvagem” (1977), “Todos os sentidos” (1978), “Belchior ou era uma vez um homem e seu tempo” (1979), “Objeto direto” (1980) e “Paraíso” (1982), além  da inédita “Como se fosse Pecado”, que ficou guardada por 40 anos. Essa versão foi censurada na década de 70.

Em 2019 o documentário “O Coração Selvagem”, começou a ser filmado sob a direção de Marcus Fernando e roteiro de Juliana Magalhães Antunes. Ainda em 2019, o rapper Emicida lançou a canção AmarElo, com a participação de Majur e Pablo Vittar. Na canção, Emicida usou e popularizou os versos “Ano passado eu morri/Mas esse ano eu não morro”, da música “Sujeito de sorte”.

No mesmo ano de 2019, o musical “Belchior: Ano Passado Eu Morri, Mas Esse Ano Eu Não Morro” estreou no Teatro João Caetano na cidade do Rio de Janeiro. O roteiro do espetáculo se baseou em uma retrospectiva de sua vida e obra, interpretados pelo ator e cantor Pablo Paleologo e Bruno Suzano. A banda que acompanhou o musical foi formada por Cacá Franklin (percussão), Dudu Dias (baixo), Emília B. Rodrigues (bateria), Mônica Ávila (sax/flauta), Nelsinho Freitas (teclado) e Rico Farias (violão/guitarra). A direção musical foi assinada por Pedro Camare, e a organização de textos retirados de entrevistas de Belchior, pela pesquisadora Claudia Pinto.

Em 2021, foi lançada a biografia “Viver é melhor que sonhar: os últimos caminhos de Belchior”, escrito por Chris Fuscaldo e Marcelo Bortoloti. O livro foi lançado pela Sonora Editora e percorreu os últimos passos de Belchior após a sua retirada da cena artística brasileira. Ainda em 2021, durante a pandemia, a cantora Ana Cañas fez uma “live” em homenagem a Belchior que gerou um álbum da cantora com músicas do compositor.

Em abril de 2022, já com o nome definitivo “Belchior – apenas um coração selvagem”, o documentário sobre o compositor teve a sua primeira exibição no festival  “É Tudo Verdade – Festival Internacional de documentários”. O longa-metragem explorou a trajetória musical de Belchior desde o seu ingresso na Faculdade de Medicina até sua decisão de abandonar o curso para dedicar-se à arte. Também trouxe cenas de suas parcerias com a cantora Elis Regina, o cantor Fagner e outros artistas brasileiros. Ao final, o filme retratou os últimos anos de sua vida, em que o músico viveu recluso e envolto a polêmicas.

Em 2024 teve a música “Sujeito de sorte” incluída na trilha sonora da série “Justiça 2”, veiculada na plataforma Globoplay.

 

 

Discografias
2002 CD Pessoal do Ceará
1999 CD Antologia Lírica-Produzido especialmente para a Casa de Cultura de Sobral - CE
1999 Paraíso/GPA/Velas CD Auto-retrato-CD 1-Pequeno perfil de um cidadão comum. CD 2-Pequeno mapa do tempo
1996 Paraíso/GPA/Velas CD Vício elegante
1995 Polygram Acústico - Um Concerto Bárbaro
1994 Polygram Minha História
1993 Warner Geração Pop
1993 Polygram Personalidades
1992 Contradança - Acústico
1991 Movie Play CD Divina Comédia Humana
1991 Warner Projeto Fanzine
1990 Som Livre Belchior Antologia
1988 PolyGram LP Elogio da loucura
1987 PolyGram LP Melodrama
1986 Continental LP Dez anos de sucesso
1984 Paraíso/Odeon LP Cenas do próximo capítulo
1982 Warner LP Paraíso
1980 Warner LP Objeto direto
1979 Warner Era uma vez um homem e seu tempo/Medo de avião
1978 Warner Todos os sentidos
1976 PolyGram Alucinação
1974 Continental LP A palo seco
Obras
A palo seco
Aguapé (Epígrafe de Castro Alves)
Alucinação
Amor de perdição (c/ Francisco Casaverde)
Amor e crime (c/ Francisco Casaverde)
Antes do fim
Apenas um rapaz latino americano
Arte final (c/ Jorge Mello e Gracco)
Até a manhã
Até mais ver
Baihuno (c/ Francisco Casaverde)
Balada de madame Frigidaire
Balada do amor (c/ Francisco Casaverde)
Bebelo
Beijo molhado (Tele-canção da novela brasileira)
Bel-prazer
Bela
Bossa em palavrões
Brasileiamente linda
Brincando com a vida
Brotinho de bambu
Bucaneira (c/ Gracco e Caio Silvio)
Canção de gesta de um trovador eletrônico (c/ Jorge Mello)
Caravele
Carisma
Caso comum de trânsito
Cateretê
Cemitério
Clamor no deserto
Comentário a respeito de John
Como nossos pais
Como o diabo gosta
Como se fosse pecado
Conheço o meu lugar
Coração selvagem
Corpos terrestres
Cuidar do homem
Dandy
De primeira grandeza
Depois das seis
Divina comédia humana
Do mar, do céu, do campo
E que tudo o mais vá para o céu (c/ Jorge Mautner)
Elegia obcena
Em resposta a carta de fã
Espacial
Espacial
Extra cool (c/ Gracco)
Fotografia 3x4
Galos, noites e quintais
Humano hum
Jornal blues (c/ Gracco)
Jóia de jade (c/ Dominguinhos)
Kitsch metropolitanus (c/ Jorge Mello)
Lamento de um marginal bem sucedido
Lira dos vinte anos (c/ Francisco Casaverde)
Luar zen (c/ Gracco)
Medo de avião
Medo de avião II (c/ Gilberto Gil)
Meu cordial brasileiro (c/ Toquinho)
Monólogo das grandezas do Brasil
Mote e glosa
Mucuripe (c/ Fagner)
Máquina I
Máquina II
Na hora do almoço
Nada como viver (c/ Fausto Nilo)
No maior jazz (c/ Gracco)
Notícia da terra civilizada (c/ Jorge Mello)
Num pais feliz (c/ Jorge Mello)
Não leve flores
O negócio é o seguinte (c/ Jorge Mello)
Objeto direto
Ondas tropicais (c/ Caio Silvio)
Onde jaz meu coração
Os derradeiros moicanos (c/ Moraes Moreira)
Os profissionais
Paralelas
Paraíso
Passeio
Pequeno mapa do tempo
Pequeno perfil de um cidadão comum (c/ Toquinho)
Peças e sinais
Pindorama
Ploft (c/ Jorge Mello)
Populus
Quinhentos anos de quê/ (c/ Eduardo Larbanois)
Recitanda (c/ Gracco)
Retórica sentimental
Rock-romance de um robô goliando (c/ Jorge Mello)
Rodagem
S. A (c/ João Mourão)
Se você tivesse aparecido (c/ Gracco)
Seixo rolando (c/ Palhinha Cruz do Valle)
Senhor dono da casa
Sensual (c/ Tuca)
Sujeito de sorte
Tambor tantã (c/ Gracco)
Ter ou não ter
Tocando por música (c/ Jorge Mello)
Todo sujo de batom
Tudo outra vez
Velha roupa colorida
Viva la dolcezza (c/ Gracco)
Voz da América
Vício elegante (c/ Ricardo Bacelar)
Ypê
Shows
Belchior e Simone. Teatro João Caetano, RJ.
Cenas do próximo capítulo. Casa de shows Mamute.
Elogio da loucura. Teatro João Caetano, RJ.
Bibliografia Crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.

AMARAL, Euclides. O Guitarrista Victor Biglione & a MPB. Rio de Janeiro: Edições Baleia Azul, 2009. 2ª ed. Esteio Editora, 2011.3ª ed. EAS Editora, 2014.

MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.

RIBAS, Carlos Dei, OLIVEIRA, Domingos Moura de, GOMES, João Bosco. “A UNIVERSALIDADE DA CEU – Histórias da Casa do Estudante Universitário”. Rio de Janeiro: Edição dos Autores, 2016.