Violonista. Compositor.
Nasceu em Varre-Sai, distrito de Itaperuna. Aos três meses de idade, foi com a família para o Rio de Janeiro. Morou nos bairros de Vila Isabel e São Cristóvão, Zona Norte da cidade, onde passou toda a sua infância. Filho do sapateiro e músico amador Lilo de Aquino e de Adelina, recebeu o nome em homenagem ao britânico Robert Stephenson Smyth Baden Powell, o fundador do escotismo. Filho mais novo do casal, teve dois irmãos: Jackson, que morreu ainda bebê, e Vera. Começou sua vida musical brincando com o violino do pai, sendo, mais tarde, presenteado com um violão. Apesar de canhoto, tocava o instrumento como destro. Teve sólida formação violonística, e, desde criança, era possível perceber seu talento para a música. Seu primeiro professor de violão foi Meira (Jayme Florence), então violonista do regional de Benedito Lacerda, com quem começou seus estudos, aos oito anos de idade. Teve ainda influências de Garoto e Dilermando Reis. Por volta dos 12 anos, ingressou na Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro. Sua primeira apresentação pública foi aos nove anos de idade, no programa “Papel carbono” (Rádio Nacional), de Renato Murce, no qual recebeu o Prêmio de Melhor Violão Solo, por sua interpretação da música “Magoado”, de Dilermando Reis. Em seguida, apresentou-se em outros programas populares da época, como “Programa do guri” e “Calouros do Ary”, comandado por Ary Barroso. Conheceu muitos músicos famosos, apresentados por Meira, entre eles Pixinguinha. Aos 13 anos, tocava em bailes nos subúrbios cariocas e shows, como solista ou acompanhando cantores. Em 1950, Renato Murce reuniu calouros talentosos no show “Arraia miúda”, apresentado no Teatro João Caetano(RJ). Nesse show, apresentaram-se, também, Claudette Soares e Alaíde Costa, em uma temporada de três meses, com grande sucesso. Renato Murce também promoveu excursões pelo interior do país, no período das férias escolares, impulsionando a carreira de quem seria um dos maiores violonistas brasileiros. Mais tarde, estudou, também, com Moacir Santos. Segundo ele mesmo, em entrevista ao jornal O Globo, em março de 2000, “Moacir me passava exercícios de composição em cima dos sete modos gregos (…). Foram esses exercícios que viriam a se tornar mais tarde os afro-sambas.” Casou-se com Heloísa Setta, em março de 1963, tendo como padrinho o parceiro Vinicius de Moraes. No fim de 1965, separou-se de Heloísa, começando namoro com Tereza Drummond, com quem viveu até 1969. Em 1970, conheceu Márcia Siqueira Toledo, então com 16 anos de idade, com quem começou a viver. Em 1975, casou-se com Sílvia Eugênia, com quem teve dois filhos, Philippe Baden Powell e Louis Marcel Powell. No fim dos anos 1990, separou-se de Sílvia, passando a viver com Elizabeth Amorim do Carmo. Por diversas vezes, internou-se para desintoxicar-se do abuso do álcool. Morreu na manhã do dia 26 de setembro, do ano de 2000, na Clínica Sorocaba, no bairro de Botafogo(RJ), onde estava internado desde o dia 24 de agosto. O corpo foi velado na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. O enterro foi realizado às 11h do dia 27 de setembro no Cemitério de São João Baptista, em Botafogo(RJ).
Aos 15 anos de idade, com autorização do Juizado de Menores, iniciou sua carreira profissional nos inferninhos da zona carioca. Aos 18 anos, passou a integrar o trio do pianista Ed Lincoln, tocando jazz na Boate Plaza, em Copacabana.
Em 1956, já era conhecido na noite carioca e fazia algumas gravações como substituto. Nesse mesmo ano, gravou, convidado por Altamiro Carrilho, o disco “Turma da gafieira nº 2”. Nessa gravação conheceu Sivuca, com quem formou um duo. Chegou a tocar na Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional, sendo o violonista preferido do maestro Guerra Peixe.
No decorrer de sua carreira, acompanhou diversos cantores e cantoras, tais como: Alaíde Costa, Lúcio Alves, Ângela Maria, Ivon Curi, Silvinha Telles, Maysa Matarazzo, Dóris Monteiro, Claudette Soares, Elis Regina e Elizeth Cardoso, entre outros.
Seu primeiro grande sucesso como compositor foi “Samba triste”, composto em 1956, em parceria com Billy Blanco e lançado alguns anos depois na voz de Lúcio Alves.
Em 1959, gravou seu primeiro LP, “Apresentando Baden Powell e seu violão”, pela Philips. Nessa época, conheceu seu parceiro de grandes sucessos, Vinicius de Moraes: “Era 1959, conhecia Vinicius só de nome, ele e Tom já eram nomes bem fortes. Uma noite, Vinicius apareceu no Arpège, em Copacabana, boate de Valdir Calmon, em que eu só tocava boleros com um conjunto e depois vinha o show principal”, declarou ao jornal “O Globo”, em março de 2000. Já segundo Vinicius, em encarte do disco “Baden Powell”, da série da Abril Cultural “Música popular brasileira”, eles se conheceram no início de 1962, quando foi assistir a uma apresentação de Tom Jobim na boate Arpège: “Quando o conjunto retomou as danças, vi alguém se aproximar dos músicos e, dentro em pouco, a sala se enchia de sons de improviso de jazz em guitarra elétrica. Era Baden e ele estava com a cachorra, fazendo misérias no instrumento.”
Suas composições foram, mais tarde, consagradas, também, nas vozes de Elizeth Cardoso, Nara Leão e Elis Regina, entre outras.
Seu primeiro trabalho como arranjador foi para o LP de Alaíde Costa, “Alaíde, jóia moderna”, lançado pela RCA Victor em 1960, disco que incluiu sua composição “Samba de nós dois”, em parceria com Billy Blanco.
Em 1961, lançou o LP “Um violão na madrugada”.
No ano seguinte, compôs um sucesso em parceria com Vinicius de Moraes, “Samba em prelúdio”, lançado pela jovem dupla Geraldo Vandré e Ana Lúcia, em 1963. Esse samba-canção, segundo os críticos Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello (“A canção no tempo – vol. 2” pp. 1968/1969), foi composto em condições curiosas, quando os autores trancaram-se no apartamento de Vinicius, no Parque Guinle(RJ), lá ficando por quase três meses, “tempo em que consumiram 20 caixas de uísque e compuseram 25 canções, o que deu uma média de 0,8 caixa por canção”. Também em 1962, uma outra parceria, “Deixa”, alcançou grande sucesso.
Ainda na década de 1960, realizou diversas viagens à Europa, apresentando-se em Paris, no Olympia, e na Alemanha, no Berlin Jazz Festival, evento que originou o LP “Berlin Jazz Festival”, lançado em 1967 pela Saba, ao lado dos guitarristas Jim Hall e Barney Kessel.
Lançou diversos LPs pela gravadora francesa Barclay, incluindo “O mundo musical de Baden Powell”, em 1964, que recebeu, em Paris, o Disco de Ouro.
Em 1965, obteve o segundo lugar no Festival da Música Popular Brasileira, da TV Excelsior, de São Paulo, com “A valsa do amor que não vem” (c/ Vinicius de Moraes), interpretada por Elizeth Cardoso.
No ano seguinte, participou da segunda edição desse festival, dessa vez promovido pela TV Record, de São Paulo, com a música “Cidade vazia”, em parceria com Lula Freire, classificada em quarto lugar com a interpretação do, então, novato Milton Nascimento, naquela altura absolutamente desconhecido. Ainda em 1966, sua composição “Samba da bênção” (c/ Vinicius de Moraes) fez parte da trilha do filme francês “Um homem, uma mulher”, do diretor Claude Lelouch, o que gerou uma pequena batalha dos autores pelos seus direitos autorais e, especialmente, pela inclusão dos nomes de ambos nos créditos do filme.
Apresentou-se, nos Estados Unidos, ao lado de grandes instrumentistas, como Stan Getz, de quem se tornou grande amigo.
No Brasil, ao lado de Vinicius de Moraes, compôs músicas que se tornaram clássicos da MPB, como “Formosa”, “Apelo”, sucesso do ano de 1966, na voz de Sílvio Aleixo, além dos afro-sambas (músicas influenciadas pelo candomblé e cantos de terreiros, conhecidos em sua passagem de seis meses pela Bahia), como “Berimbau”, sucesso de 1964, e “Canto de Ossanha”, sucesso de 1966, na voz de Elis Regina, entre outros.
Em 1968, em nova viagem à França, compôs a trilha sonora para o filme “Le grabuje”, dirigido por Edouard Lunz. Nesse mesmo ano, foi convidado pelo cineasta e homem da música francesa, Pierre Barrouh, para ser o âncora do documentário musical “Saravah”, gravado no Rio, com as presenças de Paulinho da Viola e João da Bahiana, além das cantoras Maria Bethânia e Marcia. A trilha sonora do filme foi doada, em 2001, ao Instituto Cultural Cravo Albin.
Outro parceiro constante em sua carreira foi Paulo César Pinheiro, com quem compôs “Lapinha”, primeira colocada na I Bienal do Samba, evento promovido em 1968, pela TV Record, de São Paulo, interpretada por Elis Regina. Com esse parceiro, concorreu, também, na fase nacional do IV Festival Internacional da Canção, com a música “Sermão”, e obteve a primeira colocação da sétima edição desse mesmo evento, em 1972, com “Diálogo”, música que empatou com “Fio Maravilha” de Jorge Ben (hoje Jorge Benjor).
Ainda na década de 1970, conquistou o mercado fonográfico do Japão, país onde realizou diversas turnês e gravou inúmeros discos.
Nos anos 1980, depois de morar em diversas ocasiões na França, viveu por quatro anos na Alemanha, em Baden-Baden.
Em 1982, apresentou-se na Igreja Santa Maria Majore, em Roma, para o Sínodo dos Bispos. De volta ao Brasil, continuou realizando shows nacionais e internacionais.
Em 1992, realizou show em Salvador, onde apresentou seus filhos Philippe e Louis Marcel como músicos profissionais, ao piano e violão, respectivamente.
Em 1995, voltou a morar na Europa, fixando residência na França e, em seguida, excursionando pela Europa. Nesse mesmo ano ganhou, no Brasil, o XV Prêmio Shell para a Música Brasileira, pelo conjunto de sua obra.
No final dos anos 1990, voltou definitivamente ao Brasil, onde se converteu ao Centro Evangélico Unido (CEU). Por esse motivo, ao cantar “Samba da bênção”, trocou o tradicional “saravá” por “bênção”.
Cantores da nova geração, como Ed Motta e Bebel Gilberto, passaram a incluir suas músicas em discos e shows.
Em 1997, o saxofonista Cacau de Queiroz gravou, no CD “Brasil do ferro e corda”, as canções “O sertão e o mar” e “Trois amis à Paris”, parcerias de ambos.
Em 1999, apresentou-se, ao lado de Carlos Lyra, Miúcha e Toquinho, no show “Vivendo Vinicius”, que resultou no CD lançado pela BMG.
Em 2000, gravou seu último disco, “Lembranças”, contendo quatro novos choros, e apresentou-se em espaço localizado na Barra da Tijuca (RJ), com lotações esgotadas. O disco, produzido por Fernando Faro para o selo Trama, foi lançado nesse mesmo ano, logo após a sua morte.
Em 2001, foi homenageado no projeto “Sempre Baden”, realizado na Sala Baden Powell(RJ), com shows de Guilherme Vergueiro e Elza Soares; Paulo Moura, Yamandú Costa e Armandinho; Miele (contando histórias sobre o violonista); Victor Biglione e Mestre Zé Paulo; Os Cariocas, Dôdo Ferreira e Wanda Sá; Quarteto Maogani e Miúcha; Leny Andrade; Caixa Preta e Rogê; Ithamara Koorax; Rogê, Mônica Salmaso e Paulo Belinatti; e Emílio Santiago. Também nesse ano, Pierre Barouh realizou, em Montreal, no Canadá, um show em sua homenagem, com a participação de seus filhos, também músicos, Philippe Baden Powell e Louis Marcel Powell.
Em 2003, a Universal Music lançou a caixa “Baden Powell”, produzida por Tárik de Souza e Carlos Alberto Sion, com 13 discos gravados pelo violonista para os selos Elenco, Forma e Philips, entre 1959 e 1972. Nesse mesmo ano, a Universal Music lançou o CD duplo “O universo musical de Baden Powell”, contendo faixas de discos lançados na França para os selos Barclay e Festival, como “Samba triste” (c/ Billy Blanco) e “Berimbau” (c/ Vinicius de Moraes), entre outras, além de um folheto de 32 páginas. Também em 2003, foi publicada a biografia “Baden Powell, o último estilista do violão brasileiro no século XX”, de autoria do também violonista Genésio Nogueira. Ainda nesse ano, a Universal Music lançou o DVD “Velho amigo”, documentário dirigido pelo francês Jean-Claude Guiter que segue os últimos três anos da vida do violonista e contem também algumas imagens do documentário francês “Saravah”, feito por Pierre Barouh, em 1968, sobre a música brasileira no Rio de Janeiro.
Em 2004, foi lançado “Baden Powell – Livro de Partituras”, de Alain Magalhães.
Em 2007, ano em que celebraria seu 70º aniversário de nascimento, foi homenageado com uma exposição de capas de LPs e fotos, e ainda uma série de shows de cantores e instrumentistas no teatro que leva seu nome, localizado no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro. Entre os artistas, o filho e também violonista Marcel Baden Powell, além de Emílio Santiago, Pery Ribeiro, Sueli Costa, Claudia Telles, Marianna Leporace e outros. Antes dos shows, foram exibidos o documentário “Sarava” e um filme caseiro feito no dia de seu aniversário de 50 anos. Nesse mesmo ano, a cantora Marianna Leporace lançou o CD “Marianna Leporace canta Baden Powell”.
Em 2010, foi homenageado no Instituto Cultural Cravo Albin com o evento “10 anos sem Baden”, com show de Marcel Powell e placa no “Mural da Fama”.
Em 2011, numa parceria do Instituto Cultural Cravo Albin com o selo Discobertas, foi lançado o box “100 Anos de Música Popular Brasileira”, contendo quatro CDs duplos, com áudio restaurado por Marcelo Fróes da coleção de oito LPs da série homônima produzida por Ricardo Cravo Albin, em 1975, com gravações raras dos programas radiofônicos “MPB 100 ao vivo” realizadas no auditório da Rádio MEC, em 1974 e 1975. O compositor participou do volume 6 da caixa, com suas canções “Última forma” (c/ Paulo César Pinheiro), na voz de Pery Ribeiro, “Canto de Ossanha” (c/ Vinicius de Moraes), na voz de Rosana Toledo, e “Consolação” (c/ Vinicius de Moraes), na voz de Pery Ribeiro.
Em 2017, o Festival Villa-Lobos fez 55 anos e homenageou Baden Powell. A 55ª edição do Festival Villa-Lobos trouxe 30 concertos, shows, workshops e sessões de cinema. A celebração também homenageou os 80 anos de Baden Powell, e ocorreu no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. O concerto reuniu a Orquestra Cesgranrio, conduzida pelo maestro Eder Paolozzi, e o violonista Yamandú Costa. Shows em Salvador também celebraram os 80 anos do músico. O show “80 Bênçãos – Baden Powell” reuniu grandes intérpretes da cena musical brasileira, com a participação de quatro aclamados intérpretes da atual cena musical brasileira. Fabiana Cozza, premiada como Melhor Cantora de Samba na 23º edição do Prêmio da Música Brasileira, e Marcel Powell, filho de Baden Powell, o guitarrista e violonista Victor Biglione e Amilton Godoy, músico fundador do Zimbo Trio. As homenagens percorreram a sua trajetória musical, com repertório que passou por canções como Refém da Solidão, Violão Vadio, Deixa, Consolação e outras. O projeto também visitou os Afro-sambas, um marco na trajetória e de suas parcerias com Vinicius de Moraes.
(Tributo:) Marianna Leporace
com Mauricio Einhorn
ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.
AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008; 2ª ed. Esteio Editora, 2009.
CASTRO, Ruy. Chega de saudade. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
COSTA, Cecília. Ricardo Cravo Albin: Uma vida em imagem e som. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2018.
DREYFUS, Dominique. O violão vadio de Baden Powell. São Paulo: Ed. 34, 1999.
SEVERIANO, Jairo e HOMEM DE MELLO, Zuza. A canção no tempo vol. 2. São Paulo: Ed. 34, 1998.