A música de Cartola é pura elegância. Ou seja, se elegância e classe pudessem ser medidas em traje inglês formal, à cartola do Cartola só faltariam mesmo a luva e o “smoking”.
Nem é pra menos. Cartola de Mangueira é o verdadeiro príncipe do samba urbano carioca. Príncipe no esgrimir versos para suas músicas – afinal, quem fez versos como “as rosas não falam/ simplesmente as rosas exalam o perfume/ que roubam de ti” —, é poeta com P maiúsculo. Príncipe na maneira discreta e sem firulas com que fazia sambas - espontâneos e naturais, como se estivesse degustando uma dose de “scotch” 12 anos, na intimidade de uma birosca.
Príncipe, finalmente, no trato pessoal. Quem o conheceu tão bem como eu, terá sido testemunha de um dos convívios mais amáveis e ternos que a MPB produziu.
Cartola, o nosso Agenor de Oliveira, nascido no Rio há mais de 90 anos atrás, tinha a delicadeza de um Pixinguinha, a elegância natural de um Ataulfo Alves e a dignidade de um mestre-sala — daquele do samba do Aldir Blanc.
Quando convidei Cartola em 1975 para gravar todo um programa de meia hora na Rádio MEC sobre sua vida e obra para a série “MPB-100” — depois editada em oito elepês, que resumiram a história da música popular – ele me respondeu: “Claro que eu vou, mas você não acha que há gente melhor que eu por aí?” “Então me diga quem!”, devolvi, fazendo-lhe uma provocação. Cartola não se fez de rogado e desfilou uma relação de mais de 20 nomes que começavam com Nélson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Herivelto Martins e terminavam com Martinho da Vila, Paulinho da Viola e Candeia.
Uma outra vez, visitando-lhe no barraco ao sopé do morro da Mangueira, encontrei-o sentado numa cadeira, pernas cruzadas, atracado ao violão, de onde saíam maviosos acordes. Ao lado, numa tosca mesinha, um copo de cerveja. A impressão que me ficou daquele homem simples, modestamente vestido e com a camisa entreaberta no tórax magro, era a de um fidalgo. Por quê? Sei lá. E como é que vou explicar essas pessoas tão mágicas e raras? Cartola – era ele polidíssimo e discretamente afável, como convém a um príncipe – quase que sussurrou para Zica: “Capricha aí, Zica, no molho de ferrugem da carne assada, que hoje temos convidado muito especial.”
Assim era Cartola. O modesto ex-pedreiro, depois desempregado, depois lavador de carro, depois contínuo do gabinete do Ministério da Indústria – ali no prédio da “Noite”, na Praça Mauá, onde o conheci fardado, abrindo portas —, mas sempre com a tal elegância de um mestre-sala. Assim era Cartola, que fundou a Mangueira e que lhe escolheu as cores verde e rosa (repudiadas durante anos pelo preconceito burguês, até que um costureiro francês as usou numa coleção).
Ricardo Cravo Albin
16
FEV
Aniversariantes
Arnaud Rodrigues (9 anos)
Benedito Lacerda (61 anos)
Felipe Azevedo (55 anos)
Lalão (6 anos)
Livardo Alves (17 anos)
Marta Mendonça (79 anos)
Márcio Thadeu (57 anos)
Porfírio Costa (106 anos)
Tarcísio Costa (56 anos)
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