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Nome Artístico
Lupicínio Rodrigues
Nome verdadeiro
Lupicínio Rodrigues
Data de nascimento
16/9/1914
Local de nascimento
Porto Alegre, RS
Data de morte
27/8/1974
Local de morte
Porto Alegre, RS
Dados biográficos

Compositor. Cantor.

Nasceu no bairro portoalegrense da Ilhota, na Travessa Batista, nº 97. Primeiro filho homem do casal Francisco Rodrigues e Dona Abigail, que tiveram ao todo 18 filhos. O pai, um funcionário da Escola de Comércio, atualmente Faculdade de Economia, batizou o filho com o nome de um herói da Grande Guerra: Lupicínio. Apesar de pobre, passou a infância sem grandes privações. O pai queria que ele se tornasse um doutor e, quando o menino fez cinco anos, resolveu levá-lo à escola para aprender a ler. Depois de pouco tempo freqüentando a escolinha, a professora aconselhou Seu Francisco a trazê-lo só quando tivesse sete anos: “…Até agora não quis saber de prestar atenção à aula. Só quer saber de brigar na classe e cantarolar…”. O pai acabou compreendendo que o menino ainda era muito pequeno para ser forçado a estudar. O pequeno Lupi, como era chamado, passou a “freqüentar” o campinho de várzea para jogar bola com os outros “guris”. Foi daí que veio a paixão pelo futebol que o fez tornar-se um fervoroso torcedor do Grêmio, clube portoalegrense para o qual, anos depois, acabou compondo o hino oficial. Aos sete anos, finalmente, foi matriculado no curso primário do Colégio São Sebastião, de Irmãos Maristas, que ficava na Rua do Arvoredo, hoje Fernando Machado. De sua primeira escola, guardou a lembrança carinhosa dos professores de música, Irmão Stanislau e Irmão Alfredo. Como sua família era pobre, mesmo estudando, necessitou aprender um ofício. Quando estava com 12 anos, o pai conseguiu colocá-lo como aprendiz nas oficinas da Companhia Carris Portoalegrense, que administrava os bondes e, posteriormente, na firma Micheletto. Já nessa época, compunha música para os blocos carnavalescos de seu bairro. Quando adolescente, passou a freqüentar o bar de Seu Belarmino, onde ficava com os amigos bebendo e cantando até altas horas. O pai, preocupado com o “talento” boêmio do filho, resolveu apresentá-lo como “voluntário” ao exército.

Em 1931, passou a ser o soldado 417 do 7º Batalhão de Caçadores de Porto Alegre. No quartel, foi cantor de um conjunto musical de soldados e continuava compondo para os blocos carnavalescos. Chegou a vencer um concurso com uma marchinha chamada “Carnaval”, feita para o Cordão Carnavalesco Prediletos. Dois anos depois, era promovido a cabo e transferido para a cidade de Santa Maria. Quando deu baixa no exército, em 1935, Seu Chico conseguiu-lhe um emprego de bedel na Faculdade de Direito. Apesar de ter tido uma grande paixão na juventude, a jovem Iná, não chegou a se casar, pois a moça não aceitava sua vida boêmia. Romperam o noivado com grande mágoa um do outro. O próprio compositor admitiria que esse fracasso amoroso na juventude teria sido fonte de inspiração de muitos sambas seus.

Em 1939, depois de rompido o noivado com Iná, decidiu passar uma temporada no Rio de Janeiro. Passou a freqüentar a boêmia da Lapa carioca, convivendo com artistas e com a malandragem de então. Entre os companheiros de noitadas no legendário Café Nice estavam Kid Pepe, Germano Augusto, Wilson Batista, Ataulfo Alves, entre outros. Foi naquele reduto boêmio que ficou conhecendo Francisco Alves, que se tornou um de seus principais intérpretes.

Em 1947, aposentou-se da Faculdade de Direito de Porto Alegre por motivo de doença. Nessa época, resolveu abrir uma churrascaria, a Jardim da Saudade ou Galpão do Lupi, a primeira de uma série de restaurantes e bares que iria abrir nos anos seguintes.

Casou-se somente em 1949, com Cerenita Quevedo Azevedo, que conheceu ainda criança, e não via há mais de 15 anos. Com ela teve um filho, Lupicínio Rodrigues Filho. Na verdade, já havia sido casado com uma moça chamada Juraci, que no leito de morte lhe pediu que se casasse para legalizar a situação da filha que tiveram, Tereza. Cerenita acabou adotando a menina, que mais tarde daria cinco netos ao casal. Anos depois comprou uma chácara no bairro Cavalhada, onde passou seus últimos anos de vida com a família. Foi fundador e representante da Sbacem no Rio Grande do Sul, por 28 anos. Faleceu em Porto Alegre, a 27 de agosto de 1974, cercado pela admiração geral.

Dados artísticos

Iniciou sua carreira de compositor fazendo marchinhas para os blocos carnavalescos de sua cidade natal. Em 1930, venceu um concurso com a marchinha intitulada “Carnaval”, que compusera três anos antes, e que foi executada pelo Cordão Carnavalesco Prediletos. Um ano depois, venceria outro concurso com a mesma música, executada agora pelo Rancho Seco. Em 1932, podia ser encontrado cantando num bar da Praça Garibaldi, em Porto Alegre, com um grupo chamado Conjunto Catão. Tinha 18 anos, estava no exército, mas apesar da rigidez do quartel, arrumava tempo para compor suas músicas e cantar. Nessa época foi visto por Noel Rosa, em visita à capital gaúcha, e que teria afirmado: “Esse garoto é bom, esse garoto vai longe!” Em 1935, incentivado pelos amigos, participou de um concurso promovido pela Prefeitura de Porto Alegre, em comemoração ao Centenário da Revolução Farroupilha. Inscreveu uma parceria com Alcides Gonçalves, cantor da Rádio Farroupilha, intitulada “Triste história”. Apesar de concorrer com nomes famosos, venceu e arrebatou 2:000$000. Viu em Alcides que era, além de cantor, pianista e violonista, uma ótima parceria.
Em 1936, teve suas primerias músicas gravadas por Alcides Gerardi na Victor, o samba “Pergunte a meus tamancos” e o samba-canção “Triste história”, parcerias com Alcides Gonçalves. Dois anos depois, obteve seu primeiro grande sucesso com o samba “Se acaso você chegasse”, parceria com Felisberto Martins e gravado na Victor por Cyro Monteiro. Um fato que fez seus sambas serem divulgados foi o de Porto Alegre receber muitos navios, pois os marinheiros freqüentavam a boêmia do centro da capital gaúcha, onde os bares tocavam muitas de suas músicas. Assim, os jovens marinheiros, quando embarcavam, levavam para outros centros aqueles sucessos ouvidos nos dancings de Porto Alegre. Uma dessas músicas acabou nos escritórios da RCA Victor, e seus executivos acabaram recebendo uma carta do sul esclarecendo que se tratava de um samba de Lupicínio Rodrigues. Era “Se acaso você chegasse”, samba com o qual finalmente passou a ter projeção nacional. Em 1939, teve mais um samba gravado por Cyro Monteiro, “Enquanto a cidade dormia”, com Felisberto Martins. No ano seguinte, o samba “Briga de amor”, com Felisberto Martins, foi lançado pela Victor por Cyro Monteiro em disco que entretanto, somente foi lançado cinco anos depois pela gravadora Victor.
Em 1942, seu samba “Carteiro”, com Felisberto Martins foi gravado na Odeon por Odete Amaral. No ano seguinte, na Odeon, Morais Neto gravou o samba “Eu é que não presto” e Moreira da Silva o samba “Cigano”, parcerias com Felisberto Martins. Em 1944, o cantor e compositor gaúcho Caco Velho gravou o samba “Briga de gato”, com Felisberto Martins. Mais dois sambas com Felisberto Martins foram registrados, “Meu pecado”, por Moreira da Silva e “Basta”, por Orlando Silva, que gravou no ano seguinte o samba “Brasa”, também parceria com Felisberto Martins. Ainda em 1945, outro samba com o mesmo parceiro foi gravado na Odeon, “Malvado”, na voz de Ataulfo Alves e suas pastoras. Teve ainda a marcha “Verão no Brasil”, parceria com Denis Brean, gravada por Rubens Peniche na Continental e, na mesma gravadora teve o samba “Que baixo”, gravado por Caco Velho, sambista também nascido em Porto Alegre e também seu parceiro no samba.
Em 1947, Francisco Alves fez a primeira gravação do samba-canção “Nervos de aço”, que se tornaria um clássico de seu repertório e da própria música popular brasileira. Nesse ano, Orlando Silva gravou a canção “Zé Ponte”, com Felisberto Martins e o Quarteto Quitandinha, na Continental, fez a primeira gravação da toada “Felicidade”.
No ano seguinte, Francisco Alves lançou o samba “Esses moços (Pobres moços)”, que se tornaria também um clássico da MPB e presença constante no repertório da chamada música romântica e que era um composição inteiramente sua feita ao saber que o grande amigo e parceiro Hamilton Chaves iria se casar. Também nesse ano, obteve novo grande sucesso gravao por Francisco Alves com o samba-canção “Quem há de dizer”, com Felisberto Martins, diretor artístico da Odeon. A partir de Felisberto Martins, passou a dar parceria com mais frequencia a alguns colegas como forma de divulgar seus sambas no Rio de Janeiro. Na verdade, essa era uma prática comum na época, principalmente para compositores que viviam longe dos grandes centros de difusão cultural, Rio e São Paulo.
Em 1949, Francisco Alves gravou na Odeon o samba-canção “Cadeira vazia”, outro clássico de seu repertório. Essa gravação, que saiu no selo do disco apenas com seu nome como compositor, provocou o afastamento de Alcides Gonçalves, que não se conformou com a atitude de omissão do parceiro, ainda que este dissesse não ter tido culpa, até porque era representante de uma sociedade de direitos autorais no Rio Grande do Sul. Apareceriam ainda algumas composições suas com Alcides Gonçalves. Ainda nesse ano, Isaura Garcia gravou o samba “Eu não sou louco”, parceria com Evaldo Rui, e Francisco Alves gravou na Odeon o samba-canção “Maria Rosa”, parceria com Alcides Gonçalves. O samba-canção “Migalhas”, parceria com Felisberto Martins foi gravado por Linda Batista na RCA Victor em 1950.
Em 1951, teve dois sambas-canção gravados por Linda Batista na RCA Victor, “Dona divergência”, com Felisberto Martins e “Vingança”, que se tornou um dos momentos marcantes da carreira da cantora e que chegou a causar vários suicídios, segundo a crônica policial da época. Com essa música consolidou seu estilo “dor-de-cotovelo”, que lhe deu grande projeção e que continuou a fazer dele um dos compositores mais gravados pelos ídolos da época.
No ano seguinte, gravou uma série de três discos pela gravadora Star, futura Copacabana, com seis composições suas, os sambas “Eu e meu coração”, “Sombras”, “Vingança”, “Eu não sou de reclamar”, “As aparências enganam”, “Eu é que não presto” e “Nunca” e o baião-xote “Felicidade”, gravado com as Três Marias. Ainda em 1952, João Dias gravou na Odeon o samba “Divórcio”; Luiz Gonzaga na RCA Victor as valsas “Jardim da saudade”, com Alcides Gonçalves e “Juca” e João Dias, na Odeon, a marcha “Meu figurino”, parceria com Felisberto Martins. Nesse ano, Linda Batista fez grande sucesso com o samba-canção “Foi assim” e sua irmã Dircinha Batista com o também samba-canção “Nunca…”, clássicos da carreira do compositor e também das cantoras que os lançaram. Em 1953, seu samba-canção “Castigo”, com Alcides Gonçalves, foi gravado por Gilberto Milfont na RCA Victor. Nesse ano, ele próprio gravou dois discos na gravadora Copacabana: os sambas “O morro está de luto” e “Tola”, de sua autoria; “Pregador de bolinha”, com Adaleron Barreto e Hamilton Chaves e “Já sofri demais”, de Nelson Lucena e Dinho.
Em 1954, seu samba-canção “Aves daninhas” recebeu uma gravação marcante de Nora Ney pela Continental tornando-se um dos sucessos do ano. Também nesse ano, o Trio de Ouro gravou na RCA Victor o samba “Boca fechada”. Na mesma época, Carlos Galhardo gravou na RCA Victor o samba-canção “Minha história”, com Rubens Santos e Marlene, na Continental a toada “Se é verdade”. No ano seguinte, teve outra composição gravada por Nora Ney na Continental, o samba “Dois tristonhos”. Nesse ano, João Dias gravou na Copacabana o samba-canção “Rainha do show”, parceria com David Nasser.
Sua toada “Cevando o amargo” foi gravada em 1956 por Carmélia Alves na Copacabana. Nesse ano, gravou pela Copacabna o LP “Roteiro de um boêmio” no qual cantou “Os beijos dela”, “Jardim da saudade”, “Aves daninhas”, “Nossa Senhora das Graças”, “Inah”, “Namorados e “Amor é um só”, de sua autoria e “Se acaso você chegasse”, com Felisberto Martins. Fez com David Nasser a marcha “Dominó” lançada em 1957  por Ângela Maria. Nesse ano, Dalva de Oliveira lançou pala Odeon o samba-canção “Há um Deus”, regravado meses depois por Maria Helena Andrade na gravadora pernambucana Mocambo. Ângela Maria gravou também o samba-canção “Amigo ciúme”, com Onofre Pontes.
Em 1958, teve o samba-canção “Calúnia”, com Rubens Santos gravado na RCA Victor por Linda Batista e o samba-canção “Vingança” regravado por Vicente Celestino, também na RCA Victor. Em 1959, compôs o “Hino oficial do Grêmio”, homenageando os 50 anos do clube de futebol gaúcho. Nesse ano, conheceu grande sucesso com os sambas-canção “Ela disse-me assim” e “Exemplo” gravados por Jamelão na Continental. Ainda nesse ano, Elza Soares regravou o samba  “Se acaso você chegasse”, que acabou sendo uma das mais importantes músicas do repertório dela, e que consolidou seu prestígio de cantora.
Em 1961, Jamelão gravou os sambas-canção “Foi assim” e “Meu natal”. Em 1963, seu samba-canção “Torre de Babel” foi gravado por Jamelão na Continental. No mesmo ano, teve quatro parcerias como o sambista Rubens Santos gravadas no LP “Assim é a vida”, lançado na Philips por Rubens Santos: “Você não sabe amar”; “Podes voltar”; “Minha história” e “Aposta”, além de “Conto das lágrimas”, só de sua autoria. Em 1966, teve três composições gravadas pela cantora gaúcha Mary Terezinha, então mulher de Texeirinha, os sambas-canção “Chamas”, com Hamilton Chaves, e “Só pedia a Deus”, e a “Valsa das rosas”, que deu título ao disco.
Em 1967, gravou um histórico depoimento para o MIS do Rio, que obteve repercussão na imprensa nacional. Em 1968, a RCA Victor reuniu no elepê “Encontro com Lupicínio Rodrigues”, seus grandes sucessos. No mesmo ano, quando o então diretor do MIS, R. C. Albin, convidado pelo governador Peraccchi Barcelos a fundar um museu congênere em Porto Alegre, foi por Albin indicado a ser o primeiro diretor da nova instituição, o que nunca acabou se concretizando, fato que acabou por causar forte mágoa no compositor. Em 1969, concorreu ao V Festival da Record com a canção “Primavera”, interpretada por Isaurinha Garcia, ficando entre as 10 finalistas. Nesse ano, Jamelão gravou “A vida é isso” no LP “Cuidado moço”, lançado pela RCA Victor.
Na década de 1970, recebeu homenagens de jovens artistas que redivulgaram e regravaram alguns de seus maiores sucessos. Em 1971, João Gilberto cantou “Quem há de dizer”, em programa da TV Tupi de São Paulo. No ano seguinte, Caetano Veloso apresentou “Volta”, que Gal Costa incluiu em seu elepê “Índia”, lançado pela Phillips. Nesse ano, o cantor Jamelão lançou pela Continental o LP “Jamelão interpreta Lupicínio Rodriguess”, com 12 canções do compositor gaúcho, entre as quais, “Homenagem”, “Nervos de aço”, “Ela disse-me assim”, “Vingança”, “Um favor” e “Sozinha”. Em 1973 Paulinho da Viola gravou “Nervos de aço”, no LP homônimo, pela Odeon, numa interpretação marcante. Nesse ano, Jamelão gravou “Meu barraco”, com Leduvy de Pina e “Loucura”. Também no mesmo ano, gravou aquele que seria seu último disco, “Dor de cotovelo”, com 13 canções de sua autoria entre as quais “Caixa de ódio”, “Dona do bar”, “Judiaria”, “Carlucia” e “Rosário de esperança”. Ainda no mesmo ano, concedeu entrevista ao Pasquim na qual afirmou, numa referência à matéria prima de suas composições que enfocavam a dor-de-cotovelo: “Tive muitas namoradas na minha vida. Umas me fizeram bem, outras me fizeram mal. As que me fizeram mal foram as que mais dinheiro me deram, porque as que me fizeram bem eu esqueci.”  Em 1974 Caetano incluiu “Felicidade”, em seu elepê “Temporada de verão ao vivo na Bahia”, gravado na Philips. Nesse ano, o cineasta Bruno Barreto escolheu “Esses moços” para ser o tema de seu filme “A estrela sobe”; Elis Regina regravou “Cadeira vazia” e Jamelão, “Coquetel de sofrimento” e “Se é verdade”. Em 1978, sua toada “Margarida” foi gravada pela dupla sertaneja Tião Carreiro e Pardinho.
Nos anos 1980, vieram novas homenagens. Cazuza gravou vários de suas músicas e Zizi Possi fez sucesso com “Nunca”. Em 1987, foi novamente homenageado por Jamelão no LP “Recantando mágoas – Lupi, a dor e eu” no qual o cantor mangueirense interpretou, entre outras, “Eu e meu coração”, “Volta”, “Rosário de esperança”, “Ex-filha de Maria” e “Pra São João decidir”. Em 1993, os sambas-canção “Nunca” e “Vingança” foram gravados pelo cantor Fagner no LP “Demais” da BMG Ariola.
Em 1994, o governo do Rio Grande do Sul instituiu o “Ano Lupi – Ano Cultural Lupicínio Rodrigues”, em comemoração aos 80 anos de seus nascimento. No ano seguinte, a Editora L&PM de Porto Alegre lançou “Foi assim”, coletânea de crônicas escritas por Lupicínio na década de 1960, para o “Jornal Última Hora” de Porto Alegre. A edição foi organizada por Lupicínio Rodrigues Filho. Numa dessas crônicas ele  lembraria de sua primeira música: “Vinte anos depois, quando eu fazia parte de uma comissão que julgava músicas carnavalescas, me apareceu novamente a marchinha, desta vez cantada pelo grupo Democratas e como sendo de autoria de outros dois compositores. Eu não falei nada aos outros membros da comissão e a música novamente venceu. Deixei os meninos receberem o prêmio e até convidei-os para tomarem uma cerveja comigo.”
Em 1996, a gravadora Revivendo editou uma caixa com quatro CDs, que reúne 88 músicas do compositor, “Eu e o meu coração”, vol. 1; “Minha história”, vol. 2; “Felicidade”, vol. 3 e “Há um Deus”, vol. 4. No mesmo ano, seu parceiro Rubens Santos organizou o show “Lupicínio às pampas” em sua homenagem que, depois de ser apresentado no Rio de Janeiro, excursionou na  Argentina reunindo Luis Melodia, Paulo Moura, Adriana Calcanhoto, entre outros. Em 1997, a Editora Globo lançou o fascículo e o CD “Lupicínio Rodrigues”, da coleção MPB Compositores nº 23. Em 2003, foi homenageado pelo cantor Noite Ilustrada com o CD “Noite Ilustrada canta Lupicínio Rodrigues”, pelo selo Atração Fonográfica, com os sambas canção “Nervos de aço”; “Ela disse-me assim”; “Paciência (Vou brigar com ela)”; “Nunca”; “Vingança”; “Volta” e “Sozinha”, todas apenas de sua autoria, além de “Meu barraco”, com Leduvy de Pina; “Castigo”; “Quem há de dizer” e “Cadeira Vazia”, com Alcides Gonçalves, e “Se acaso você chegasse” e “Brasa”, com Felisberto Martins. Deixou o CDs inédito: “Noite Ilustrada canta Ataulfo Alves – Ao mestre com carinho”.
Em 2004, por ocasião dos seus 90 anos de nascimento e dos 30 anos de morte foi homenageado no CCBB no Rio de Janeiro com uma série de shows nos quais suas obras foram interpretadas por Zé Renatoi, Ryta de Cássia, Soraya Ravenele, Cláudio Botelho, Luís Felipe, Hamilton de Holanda, Paulo Sérgio Santos, Elza Maria, Alfredo Del-Penho, Lucinha Lins, Jorge Moreno, Zé Paulo Becker, Carlos Malta e Márcio Bahia. No mêsmo período, a rede de TV gaúcha RBS o homenageou com o especial “Esses moços” no qual suas composições foram interpretadas por artistas gaúchos como Vitor Ramil, Nei Lisboa, Sérgio Moah, Thedy Corrêa e Bebeto Alves. Em 2007, foi homenageado com o CD “Lupicínio volta” gravado pela cantora Eduarda Fadini pelo selo Lumiar Discos com as músicas “Nunca”, “Um Favor”, “Nervos de Aço”, “Ela Disse-me Assim”, “Aves Daninhas”, “Esses Moços (Pobres Moços)”, “Felicidade”, “Exemplo”, “Vingança” e “Volta”, todas de sua autoria, além de “Você Não Sabe”, com Rubens Santos, e “Briga de amor” e “Basta”, com Felisberto Martins. Em 2010, foi homenageado com o espetáculo “Lupicínio,uma paixão”, show apresentado por Chico Caruso e Eduarda Fadini no Teatro Café Pequeno sendo acompanhados pelos músicos Roberto Bahalno piano e arranjos; Aroeira, no saxofone, e Thiago Thomé e Gustavo Pereira que se revezaram noviolão, cavaquinho e percussão. O espetáculo foi divido em duas partes. Na primeira foram apresentados os clássicos sambas-canção de dor de cotovelo como “Vingança” e “Esses moços”. Já a segunda parte apresenta uma face mais alegre do compositor com músicas como “Se acaso você chegasse”, “Verão do Brasil” e “Meu figurino”. No mesmo ano, começou a ser rodado pelo cineasta Maurice Carlos Capovilla o longa metragem “Nervos de aço” baseado na letra do samba-canção do compositor. Segundo reportagem do jornal O Globo sobre o filme: “O músico experimental Arrigo Barnabé encabeça um elenco  formado por cantores e instrumentistas selecionados pelo diretor de “O profeta da fome” (1969). Nas telas, a trupe integra uma banda envolvida numa história de traições, dores de cotovelo e amores fatais ambientados durante cinco noites: quatro de ensaio e uma quinta na qual se realiza um show carregado de canções de Lupicínio em seu repertório”. Segundo o diretor: “Se você desce uma estrada como a Belém-Brasília, de cabo a rabo, só se ouvem duas coisas: Luiz Gonzaga e Lupicínio. Um é para arrastar o pé. O outro é para ficar com o coração ardendo. O curioso de Lupicínio é que suas letras, muito narrativas, tem personagens fortes”. Ainda em 2010, seu samba-canção “Felicidade”, foi gravado, em dueto de acordeom e violão, por Dominguinhos e Yamandu Costa, no CD “Lado B”, do selo Biscoito Fino. Em 2011, foi lançado pelo selo Discobertas em convênio com o ICCA – Instituto Cultural Cravo Albin a caixa “100 anos de música popular brasileira” com a reedição em 4 CDs duplos dos oito LPs lançados com as gravações dos programas realizados pelo radialista e produtor Ricardo Cravo Albin na Rádio MEC em 1974 e 1975. No volume 3 estão incluídos seus sambas-canção “Se acaso você chegasse”, com Felisberto Martins, na interpretação de Marlene, e “Vingança”, na voz de Cauby Peixoto. No mesmo ano, recebeu mais duas homenagens. A primeira foi o show “Loopcínio”, apresentado no espaço Caixa Cultural, no Rio de Janeiro, pela dupla de cantores Thedy e Sacha, que também gravaram um CD com repertório do compositor gaúcho. A segunda homenagem foi o lançamento em São Paulo, no Cine Áurea, do DVD “Caixa de ódio”, gravado pelo cantor Arrigo Barnabé. Em 2014, diferentes projetos foram desenvolvidos em torno de seu nome e de sua obra por conta do centenário de nascimento. Em Porto Alegre, foi encenado o musical “Lupi, o Musical – Uma Vida em Estado de Paixão”, de Artur José Pinto e Mathias Behrends. No cinema, foi filmado por Maurice Capovilla o longa metragem “Nervos de aço”, inspirado em suas composições. Também no cinema, o samba-canção “Esses moços” fez parte da trilha sonora do filme “A Despedida”, de Marcelo Galvão. Por conta também de seu nascimento, a cantora Elza Soares levou a diferentes palcos pelo Brasil, como o Teatro Rival, no Rio de Janeiro, e Teatro Sesc, em São Paulo, o show “Elza canta e chora Lupicínio”, apenas com obras do compositor. Já a prefeitura de Porto Alegre, desenvolveu o projeto “Lupi 100 Anos de Amor e Dor”, com a inauguração de uma estátua em bronze no Centro Municipal de Cultura, do bairro de Ilhota, onde o compositor nasceu. Também foi lançado pela Universal Music o CD “Lupicínio Rodrigues – 100 Anos” com 16 composições suas em diferentes vozes: “Foi assim”, com Chico Buarque e Maria Bethânia, “Nervos De Aço”, por Paulinho da Viola, “Volta “, por Gal Costa, “Esses Moços (Pobres Moços)”, na voz de Gilberto Gil, “Cadeira Vazia”, na de Elis Regina, “Exemplo”, nas de Angela Maria e Cauby Peixoto, “Felicidade (Felicidade Foi Embora)/Luar do Sertão”, na criação de Caetano Veloso, “Loucura”, interpretada por Maria Bethânia, “Meu Pecado”, por Moreira da Silva, “Nunca”, por Beth Carvalho, “Há um Deus”, por Dalva de Oliveira, “Se Acaso Você Chegasse”, na voz que o consagrou, Elza Soares, “Maria Rosa”, cantada por Elis Regina, “Vingança”, por Dóris Monteiro, “Castigo”, por Elizeth Cardoso, e “Um Favor”, por Gal Costa. Ainda nesse ano, foi tema da reportagem “E a dor se une ao cotovelo”, escrito pelo jornalista e crítico musical Tárik de Souza para a revista “Carta Capital”, que afirma sobre ele: “Intuitivo absoluto, artesão sonoro munido apenas de uma caixa de fósforos, Lupicínio teve a musicalidade avalizada por regravações de Paulo Moura, Zé Menezes, Joel Nascimento, Bocato, Lea Freire e o Milewski Swing Quartet, do violonista polonês Jerry Milewski”. Também em 2014, foi homenageado no show “Sarau para Lupicínio” realizado no Caixa Cultural, centro do Rio de Janeiro, sob o comando dos irmãos Nina, Guto e Grazie, acompanhandos por Luis Barcelos, no bandolim, Rafael Mallmith, no violão, e Anderson Balbueno, no pandeiro, todos gaúchos, que reviveram clássicos da dor de cotovelo além de comosições menos conhecidas e de tons mais regionalistas. O espetáculo contou ainda com as participações especiais dos também gaúchos Yamandú Costa, em gravação de áudio, e Bebe Kramer, além do carioca Marcos Sacramento e o francês Nicolas Krassik. Em 2015, foi homenageado pela cantora Gal Costa no espetáculo “Gal Canta Lupicínio”, que estreou em Porto Alegre segundo depois para o Rio de Janeiro e outras capitais e no qual a cantora interpreta composições como “Esses moços (Pobre Moços)”, “Felicidade” e “Vingança”, entre outras. No mesmo ano, foi homenageado pela cantora gaúcha Adriana Calcanhotto que gravou 16 de suas composições no  CD/DVD “Loucura”, lançado pela Sony Music, com as seguintes composições: “Ela disse-me assim”; “Loucura”; “Vingança”; “Nervos de aço”; “Esses moços”; “Volta”; “Nunca”; “Judiaria”; “Felicidade”; “Hino do Grêmio” e “Homenagem”, todas só dele, além de “Castigo”, “Cadeira vazia”, e “Quem há de dizer”com Alcides Gonçalves; “Se acaso você chegasse”, com Felisberto Martins; “Cevando o amargo”, com Piratini, e “Cenário de Mangueira”, com Henrique de Almeida.

Em outubro de 2022 o documentário “Lupicínio Rodrigues – Confissões de um Sofredor”, dirigido por Alfredo Manevy, foi apresentado na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. No filme foram colocados depoimentos de Zuza Homem de Mello, Jards Macalé, Gilberto Gil, Jamelão, Elza Soares, Linda Batista, Cazuza, Nelson Coelho de Castro e Tânia Carvalho, além de  filhos e netos do compositor gaúcho.

Durante a filmagem do documentário foi descoberto que a música “Se Acaso Você Chegasse”, estava na trilha sonora do filme norte-americano “Dançarina Loura” (“Lady Let’s Dance” no original), do diretor Frank Woodruff, lançado em 1944. O filme chegou a concorrer ao oscar de melhor trilha sonora sem que Lupicínio tenha sido citado nos créditos do filme. De acordo com as pesquisas para o documentário, Lupicínio assistiu ao filme com a sua composição e gostou da inclusão da música no filme.

Em março de 2023 a família do compositor mandou carta à academia solicitando o devido crédito ao compositor com o seguinte texto:

“À Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (Academy of Motion Picture Arts and Sciences),

Esta carta é endereçada à prestigiosa Academia de Artes e Ciências Cinematográficas que, há noventa e cinco anos, atribui o Oscar aos melhores do cinema, e que tem feito um grande esforço de valorização dos afro-descendentes.

Nós encaminhamos à Academia este pedido de reconhecimento da indicação ao Oscar de um compositor-afro-brasileiro, Lupicínio Rodrigues, que conforme reconhecem especialistas e está bem documentado no filme Lupicínio Rodrigues, Confissões de um Sofredor (2022), dirigido por Alfredo Manevy para o Canal Curta!, é o autor da música Se Acaso você Chegasse, integrante da trilha sonora no filme norte-americano Lady Let ‘s Dance, dirigido por Frank Woodroof, estrelado por Belita e lançado em 1944 no Estados Unidos.

Em que pese a música de Lupicínio constar na trilha sonora, o nome do compositor foi subtraído tanto dos créditos do filme, como da indicação ao prêmio de melhor trilha de filme musical (Music – Score of a musical picture), no ano de 1945.

Esta carta é uma iniciativa da família Rodrigues, encabeçada por Lupicínio Rodrigues Filho, filho, herdeiro e curador da obra do compositor Lupicínio Rodrigues e por outros parentes e descendentes do artista. Poderá também ser assinada por admiradores do artistas no Brasil e no mundo.

Nascido em Porto Alegre em 16 de setembro de 1914 e falecido em 27 de agosto de 1974 . Lupicínio Rodrigues foi um dos maiores compositores musicais de todos os tempos com centenas de composições gravadas no Brasil e no mundo.

No documentário longa-metragem no Brasil, Lupicínio Rodrigues, Confissões de um Sofredor, recém lançado no Brasil, foi revelado que o compositor Lupicínio Rodrigues, autor da obra Se Acaso você Chegasse, produzida e gravada aqui no Brasil, teve a música indicada ao Oscar, mas não teve o reconhecimento da Academia, seja como autor da obra, seja da titularidade como compositor na trilha sonora da obra cinematográfica.

É motivo de incompreensão para nós que a contribuição do compositor Lupicínio Rodrigues segue, em pleno ano de 2023, passados mais de setenta e sete anos, sem o devido reconhecimento desta prestigiosa organização de Hollywood referente à autoria e participação na trilha sonora indicada ao Oscar, mesmo sendo um direito inalienável e irrenunciável.

A indicação de trilha sonora ao Oscar é motivo de orgulho para nós brasileiros, por toda a importância que a obra de Lupicínio Rodrigues tem para a música brasileira e pela sua importância internacional, dado que Lupicínio tinha apenas 32 anos quando foi avisado por amigos que uma música sua estava em cartaz num filme de Hollywood num cinema da cidade de Porto Alegre. Lupicínio trabalhava como Bedel numa universidade justamente porque não recebia renda suficiente de suas composições.

O próprio Lupicínio soube por acaso na época que sua música era parte do filme, e mais tarde inúmeros historiadores já confirmaram a música no filme. Infelizmente, na época, a canção não foi creditada pelos produtores da obra, o que levou o Oscar ao equívoco. Sabemos que créditos e direito autoral eram, naquele tempo, objeto de falhas no devido reconhecimento, por diversos meios e motivos.

Destacamos também a luta da sociedade nos dias de hoje contra o racismo no Brasil e nos EUA. Não devemos permitir a invisibilidade de um artista em qualquer tempo, época ou fase. A contribuição de artistas negros, sobretudo e especialmente um artista negro do hemisfério sul como Lupicínio Rodrigues.

Pedimos, portanto, o reconhecimento, por parte da Academia, do compositor Lupicínio Rodrigues como parte da trilha musical indicada ao Oscar no filme Lady Let ‘s Dance. Isso fará jus a Lupicínio como artista brasileiro a ser indicado a mais alta premiação do cinema americano.

A internacionalização de sua obra é um direito que merece respeito, honra e civilidade. É sempre oportuno corrigir erros cometidos em épocas passadas, como legado para o futuro.

Orgulhamo-nos de nossa família ser afro-descendente de uma época muito dificil para a história humana que foi a escravidão. Somos orgulhosos de nossa contribuição cultural, artística para o Brasil e para o mundo.

Esclarecemos que não queremos qualquer retorno financeiro, mas apenas o reconhecimento moral e simbólico, inequívoco e perpétuo.

Diante dos fatos inequívocos e provas solidárias, o exposto acima conduz sem dúvida alguma ao mérito e ao justo reconhecimento do autor a qualquer tempo.

Temos a certeza de que a comunidade cinematográfica e a Academia compreenderão a justeza deste pedido e terão a sensibilidade para conceder este justo reconhecimento a este grande compositor, mestre de nossa música, Lupicínio Rodrigues e nosso querido ancestral.

 

Cordialmente,

 

Lupicínio Rodrigues Filho e família Rodrigues.”

 

 

Discografias
2001 WEA Enciclopédia Musical Brasileira

Coletânea

1978 Som Livre LP Homenagem a Lupicínio Rodrigues
1974 SOM solp LP Lupicínio Rodrigues
1974 Philips LP Lupicínio Rodrigues

(na Interpretação de Caetano, Elis, Gal e Gil)

1973 Rosicler/Chantecler LP Dor de cotovelo
1956 Copacabana LP Roteiro de um boêmio
1953 Copacabana 78 O morro está de luto/Tola
1953 Copacabana 78 Pregador de bolinha/Já sofri demais
1952 Star 78 As aparências enganam/Eu é que não presto
1952 Star 78 Eu e meu coração/Sombras
1952 Star 78 Nunca/Felicidade

(c/as Três Marias)

1952 Star 78 Vingança/Eu não sou de reclamar
Obras
A dança do sapo
A lua
Amigo ciúme (c/ Onofre Pontes)
Amor é um só
Aposta (c/ Rubens Santos)
Aquele molambo (c/ Rubens Santos)
As aparências enganam
Aves daninhas
Basta (c/ Felisberto Martins)
Beijo fatal
Bobo eu não sou
Boca fechada
Boneca de doce
Brasa (c/ Felisberto Martins)
Briga de amor (c/ Felisberto Martins)
Briga de gato (c/ Felisberto Martins)
Cadeira vazia (c/ Alcides Gonçalves)
Caixa de ódio
Calúnia (c/ Rubens Santos)
Carteiro (c/ Felisberto Martins)
Castigo (c/ Alcides Gonçalves)
Cenário de Mangueira (c/ Henrique de Almeida)
Cevando o amargo (c/ Piratini)
Chamas (c/ Hamilton Chaves)
Cigano (c/ Felisberto Martins)
Coisas minhas
Contando os dias
Conto de lágrimas
Distante de ti (c/ L. Collantes)
Divórcio
Dois tristonhos
Dominó (c/ Davi Nasser)
Dona divergência (c/ Felisberto Martins)
Ela disse-me assim Vai embora
Enquanto a cidade dormia (c/ Felisberto Martins)
Esses moços (Pobres moços)
Esta eu conheço (c/ Rubens Santos)
Eu e o meu coração
Eu não sou louco (c/ Evaldo Rui)
Eu sei
Eu é que não presto (c/ Felisberto Martins)
Ex-filha de Maria
Exemplo
Feiticeira (c/ Felisberto Martins)
Felicidade
Foi assim )
Fuga
Garçom
Gaudério (c/ Luís Meneses)
Hino oficial do Grêmio
Homenagem
Homenagem à sambista
Há um Deus
Iná
Jardim da saudade (c/ Alcides Gonçalves)
Juca
Judiaria
Mais um trago (c/ Rubens Santos)
Maluca
Malvado (c/ Felisberto Martins)
Margarida
Maria Rosa (c/ Alcides Gonçalves)
Meu figurino (c/ Felisberto Martins)
Meu pecado (c/ Felisberto Martins)
Migalhas
Minha companheira (c/ Leo Conti)
Minha história (c/ Rubens Santos)
Minha ignorância
Na hora de pagar (c/ Arlindo Sousa)
Namorados
Nervos de aço
Nossa Senhora das Graças
Nunca
Não conte pra niguém (c/ Rubens Santos)
Não deu outra coisa (c/ Rubens Santos)
Não sou de reclamar
O morro está de luto
O mundo é assim (c/ Henrique de Almeida e Rubens Santos)
O relógio lá de casa (c/ Felisberto Martins)
Os beijos dela
Os óculos do vovô
Palhaço não
Perdido na multidão (c/ Rubens Santos)
Pergunte aos meus tamancos (c/ Alcides Gonçalves)
Podes voltar (c/ Rubens Santos)
Ponta de lança
Pra São João decidir (c/ Francisco Alves)
Pregador de bolinha (c/ M. Barreto e Hamilton Chaves)
Primavera (c/ Hamilton Chaves)
Prova de amor
Quando eu for bem velhinho (c/ Felisberto Martins)
Que baixo (c/ Caco Velho)
Que espanhola (c/ Rubens Santos)
Quem há de dizer (c/ Alcides Gonçalves)
Quem é aquele pão (c/ Rubens Santos)
Rainha do show (c/ Davi Nasser)
Rancho da Mangueira (c/ Rubens Santos)
Recado não aceito
Roda de samba (c/ Hamilton Chaves)
Se acaso você chegasse (c/ Felisberto Martins)
Se é verdade
Sempre eu (c/ Felisberto Martins)
Seu doutor (c/ Leo Conti)
Sombras
Sozinha
Só pedia a Deus
Taberna
Tola
Torre de Babel
Trabalho (c/ Felisberto Martins)
Triste história (c/ Alcides Gonçalves)
Triste regresso cansaço
Valsa das rosas
Verão do Brasil (c/ Denis Brean)
Vingança
Você não sabe (c/ Rubens Santos)
Volta
Vou brigar com ela Paciência
Zé Pontes (c/ Felisberto Martins)
Bibliografia Crítica

ALBIN, Ricardo Cravo. Dicionário Houaiss Ilustrado Música Popular Brasileira – Criação e Supervisão Geral Ricardo Cravo Albin. Rio de Janeiro: Instituto Antônio Houaiss, Instituto Cultural Cravo Albin e Editora Paracatu, 2006.

ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB – A História de nossa música popular de sua origem até hoje. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

AMARAL, Euclides. Alguns Aspectos da MPB. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2008. 2ª ed. Esteio Editora, 2010. 3ª ed. EAS Editora, 2014.

AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.

CARDOSO, Sylvio Tullio. Dicionário Biográfico da música Popular. Rio de Janeiro: Edição do autor, 1965.

DIAS, Rosa M. “Lupicínio e a dor-de-cotovelo”. Leviatã, 1994.

FUSCALDO, Chris. Discobiografia Mutante: Álbuns que revolucionaram a música brasileira. Rio de Janeiro: Editora Garota FM Books, 2018. 2ª ed. Idem, 2020.

MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.

RODRIGUES, Lupicínio. “Foi assim – o cronista Lupicínio conta as histórias das suas músicas”, organizada por Lupicínio Rodrigues Filho. Porto Alegre: L&PM, 1995.

SEVERIANO, Jairo e MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo. Volume1. São Paulo: Editora: 34, 1999.

VASCONCELOS, Ari. Panorama da música popular brasileira – volume 2. Rio de Janeiro: Martins, 1965.

Crítica

Vinícius de Moraes emitiu uma verdade cristalina sobre os poetas e o ato poético: “todo poeta só é grande se sofrer” (versos de “Eu não Existo sem Você”, 1957). Nesse contexto, Lupicínio Rodrigues terá sido o maior dentre todos os poetas do cancioneiro. Porque ninguém exibiu – com tal opulência – os sofrimentos e as dores-de-cotovelo como o gaúcho baixinho, de voz mansa e olhos indecifráveis (uma estranha mistura de mel, sensualidade e carência afetiva).

Exageros à parte, se o bom Lupi não for nosso maior poeta, com certeza será o que melhor destilou os amores desfeitos e as dores-de-cotovelo na história do samba-canção e da boêmia neste país.

Um belo livro escrito por Rosa Maria Dias, “Lupicínio e a dor-de-cotovelo”, analisa a metalinguagem da fossa, do cabaré e das paixões desenfreadas contidas na obra do compositor. Quase todas as músicas do Lupi estão lá dissecadas, analisadas, investigadas. Logo na introdução do livreto, na verdade um pequeno ensaio sobre a poética lupiciana, uma citação do próprio poeta mata a cobra e mostra o pau: “Uma pessoa prestando atenção /Vê que as rimas dos versos / Que eu faço / Trazem pedaços do meu coração”. (samba “Ponta de lança”).

No longo depoimento que Lupicínio prestou para o MIS (1968), ele lembrou que o melhor de sua vida – isto é, o mais triste – estava em suas músicas, cada música sendo uma página de sua biografia.

Isso significa uma coisa muito simples: o poeta só entendia a vida na fogueira das paixões, todas transcritas para suas canções.

Quando visitei Porto Alegre, para ali instalar o MIS do Rio Grande do Sul (1969), o então governador (um simpático coronel chamado Perachi Barcellos) perguntou-me o que fazer à noite. “ – Quero rever meu amigo Lupicínio” – prontamente respondi. A solicitude do poder fez disparar pela noite da cidade uns dois ou três carros da polícia à procura do poeta. Debalde. No dia seguinte, o Lupi me procurou no hotel e, ao indagar a ele o porquê do seu sumiço na noite anterior, ele se saiu apenas com um muxoxo: “ – Mas tu nem imaginas, a polícia andou me procurando, e, logo eu, sem qualquer culpa…”. Engoli em seco e mudei rapidamente de assunto.

Ricardo Cravo Albin